Ano 33 | Outubro 2025 | Edição 426 BREQUE INDESEJADO PERSPECTIVAS Juro alto freia a economia e desacelera desempenho da indústria automotiva este ano e contagia 2026 From the Top Uallace Moreira, MDIC
» ÍNDICE Outubro 2025 | AutoData GENTE & NEGÓCIOS Notícias da indústria automotiva e movimentações de executivos pela cobertura da Agência AutoData. 106 114 FIM DE PAPO As frases e os números mais relevantes e irrelevantes do mês, escolhidos a dedo pela nossa redação. HONDA STELLANTIS HYUNDAI VOLKSWAGEN CAMINHÕES ÔNIBUS IVECO VWCO BALANÇO MOVER GEOPOLÍTICA AUTOPEÇAS MOTOS TENDÊNCIAS ARGENTINA MACROECONOMIA VEÍCULOS LEVES NISSAN MERCEDES-BENZ VOLVO MÁQUINAS 42 34 20 38 28 50 44 54 62 60 64 61 65 66 80 82 72 81 83 84 Secretário de Desenvolvimento Industrial do MDIC faz balanço do Programa Mover e do projeto de reindustrialização do governo para o País FROM THE TOP UALLACE MOREIRA 10 Chinesa começa a montar carros importados semimontados antes de terminar prédios em Camaçari Tabelas atualizadas com todos os aportes de fabricantes de veículos leves e pesados no País Temporal desmonta telhado da fábrica de motores de Porto Feliz e fabricante perde produção Fabricante investe R$ 1,6 bilhão em Manaus para produzir 1,6 milhão de motos por ano Filosa monta equipe de liderança com mais integrantes que trabalharam com ele no Brasil INAUGURAÇÃO BYD NA BAHIA INVESTIMENTOS PARA ONDE VÃO EVENTO EXTREMO TOYOTA AO VENTO INVESTIMENTO MOTO HONDA SOB NOVA DIREÇÃO STELLANTIS 94 98 88 92 106 48 BORGWARNER 78 FRASLE 6 LENTES Números da economia, bastidores do setor automotivo e as cutucadas nos vespeiros que ninguém cutuca.
» EDITORIAL AutoData | Outubro 2025 Diretor de Redação Leandro Alves Conselho Editorial Isidore Nahoum, Leandro Alves, Márcio Stéfani, Pedro Stéfani, Vicente Alessi, filho Redação Pedro Kutney, editor Colaboraram nesta edição Aline Chaves, André Barros, Caio Bednarski, Lucia Camargo Nunes, Mário Curcio, Rúbia Evangelinellis, Soraia Abreu Pedrozo Projeto gráfico/arte Romeu Bassi Neto Fotografia DR/divulgação Capa Imagem gerada por IA/Gemini Comercial e publicidade tel. PABX 11 3202 2727: André Martins, Luiz Giadas e Rosa Damiano Assinaturas/atendimento ao cliente tel. PABX 11 3202 2727 Departamento administrativo e financeiro Isidore Nahoum, conselheiro, Thelma Melkunas, Hidelbrando C de Oliveira, Vanessa Vianna ISN 1415-7756 AutoData é publicação da AutoData Editora e Eventos Ltda., Av. Guido Caloi, 1000, bloco 5, 4º andar, sala 434, 05802-140, Jardim São Luís, São Paulo, SP, Brasil. É proibida a reprodução sem prévia autorização mas permitida a citação desde que identificada a fonte. Jornalista responsável Leandro Alves, MTb 30 411/SP autodata.com.br AutoDataEditora autodata-editora autodataseminarios autodataseminarios Por Pedro Kutney, editor Juro, juro, juro... Juro. Esta é a palavra mais citada na grande maioria das noventa páginas editoriais desta edição de AutoData – dentro e fora da tradicional edição especial Perspectivas que todos os anos costumamos publicar neste outubro. Pois a estratosférica – e absurda para muitos aqui ouvidos – taxa de juro praticada no País, de 15% básicos estipulados pelo Banco Central que se transformam em algo de 25% a 30% para o consumidor final, ativou um indesejado breque na economia e, por consequência, contaminou as perspectivas da indústria automotiva, que foram revisadas para baixo este ano com contágio já escalado para 2026. Ainda há esperança de crescimento, mas menor do que nos últimos anos, com evolução de produção, vendas domésticas e exportações de veículos em ritmo contido ou mesmo negativo para o ano que vem. A justificativa para o desempenho ruim? Juro, juro e mais juro. Independente do governo e vassalo do mercado o Banco Central com sua injustificável Selic de 15% ao ano – segundo maior juro real do planeta –, persegue uma miragem: meta de inflação de 3% ao ano, algo impossível em um país em desenvolvimento com muitas demandas reprimidas de consumo ao longo de anos – inclusive por carros –, e que tem a possibilidade de suprir essas demandas com aumento de renda trazido por taxas de desemprego que sugerem, pela primeira vez na história, o pleno emprego. O juro escandalosamente elevado está, sim, trazendo a inflação para baixo, mas ainda longe da meta e com custo elevadíssimo para a economia, especialmente para o setor produtivo do País, que a esta altura certamente prefere colocar seu dinheiro para dormir no banco em vez de investir em máquinas e pessoal para produzir mais. Todos os economistas ouvidos nesta edição avaliam que o BC vai baixar a taxa básica de juros, mas as estimativas indicam a Selic ainda em patamar muito alto ao fim de 2026, na casa dos 12%, o que significa que o crescimento de todos os setores produtivos continuará restrito, com crescimento do PIB projetado na média de 2,2% este ano e 1,8% no próximo – bem menos do que os 2,9% e 3,4% dos últimos dois anos. Economistas que previram – ou torceram por – crescimento muito menor em 2023 e 2024 e erraram por muito, este ano devem estar felizes por estarem perto de acertar a aposta, com a ajuda de juros infelizes.
6 LENTES Outubro 2025 | AutoData Por Vicente Alessi, filho Sugestões, críticas, comentários, ofensas e assemelhados para esta coluna podem ser dirigidos para o e-mail vi@autodata.com.br É BOM SABER Trata-se de tendência global pela diversificação e o Brasil a acompanha: nos últimos sete anos substituiu 12% de suas reservas em dólar por ouro. Mas não apenas: também por yuan, a moeda da China, que já soma 5,3% das reservas totais e que fica apenas atrás do próprio dólar. A participação do ouro neste balaio cresceu 400% e a do euro baixou para 5,2%. Fontes citam que em 1989 o dólar detinha 89% das reservas internacionais do País, participação hoje reduzida para 78%, diz o Banco Central. No mesmo período as reservas em ouro passaram a somar 3,5%, gerados por aquele crescimento de 400%. É BOM SABER 2 Trata-se de tendência. A prevalência da moeda estadunidense nas reservas dos bancos centrais mundo afora caiu de 65%, registrada em 2015, para 46% hoje – seu menor nível desde 1995. Duas são as causas apontadas: a deterioração dos princípios fiscais da economia dos Estados Unidos e a fragmentação crescente do cenário geopolítico. Faz sentido: lá a dívida pública é estimada em pelo menos 120% de seu PIB e o país não tem superávits primários desde 2007. Ou seja: a solvência do governo é uma incógnita. TAMBÉM É BOM SABER Em 7 de outubro o Banco Mundial anunciou, em relatório, que sua expectativa para o crescimento da economia brasileira, este ano, é de 2,4%. Este índice supera a média esperada para a América Latina e Caribe, 2,3%, e também as expectativas do Banco Central do Brasil, 2%, do mercado financeiro, 2,16%, e do Ministério da Fazenda, 2,3%. O relatório enfatiza o destaque regional representado pelo Brasil e expõe que esta projeção é de estabilidade diante de uma desaceleração global. E projeta leve queda para 2026, para 2,2%. Razões gerais: queda nos preços das commodities, baixo nível de investimento, juros altos e preços controlados. Geração IA/Gemini
7 AutoData | Outubro 2025 SABER É SEMPRE BOM 2 Diz o relatório da OMPI que os pontos fortes brasileiros são sofisticação empresarial, capital humano e pesquisa. Os dez países líderes em inovação são Suíça, Suécia, Estados Unidos, Coreia do Sul, Singapura, Reino Unido, Finlândia, Holanda, Dinamarca e China. NADA COMO SABER De acordo com dados do relatório Educação em Resumo, produzido pela OCDE, Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, divulgado no início de setembro, o Brasil detém a quarta maior proporção de jovens, de 18 a 24 anos, que não trabalham nem estudam, 24%. A média dos países integrantes da OCDE é de 14%. Os dados são referentes a 2024. Colômbia, Costa Rica e África do Sul superam o resultado brasileiro, com 27%, 31% e 48%, respectivamente. Na outra ponta Islândia e Holanda são os países com menor proporção, 5%. NADA COMO SABER 2 Para 38,7% da população brasileira ocupada – ou seja, inserida no mercado de trabalho – não são oferecidos direitos básicos como segurodesemprego, licença médica e aposentadoria. Segundo pesquisa do IBGE é a informalidade que marca estas relações de trabalho. A maior taxa de informalidade está no Maranhão, 56,2%. Geração IA/Gemini SERIA MELHOR NEM SABER O Instituto Sou da Paz divulgou resultado de pesquisa realizada em dezesseis estados e no Distrito Federal sobre o esclarecimento de homicídios registrados em 2023: apenas 36% foram esclarecidos até o fim do ano passado. O melhor índice de solução aconteceu no Distrito Federal, 96%, e o pior é o da Bahia, 13%. O resultado referente a São Paulo piorou com relação a 2022: caiu de 40% para 31%. SABER É SEMPRE BOM IGI, ou Índice Global de Inovação, é o nome do ranking da OMPI, Organização Mundial da Propriedade Intelectual. Todo ano analisa oitenta indicadores, insumos de inovação e resultados de inovação. No meio de 139 países o Brasil obteve o quinquagésimo-segundo lugar, segunda queda consecutiva. Com relação à América Latina e Caribe ocupa o segundo lugar de 21 economias, ultrapassado que foi pelo Chile. Dentre os 36 países de renda média-alta ocupa a quinta colocação, depois de China, Malásia, Turquia e Tailândia
o SUV mais premiado do país o motor 1.0 turbo mais forte do Brasil(1) novo painel digital de 10” novo openR link de 10.1” com espelhamento sem fio de smartphone 13 sistemas avançados de assistência de direção RENAULT KARDIAN descubra
renault.com.br Renault recomenda (1) afirmação de motor mais forte do Brasil, baseado na unidade Newton metro, com base no Sistema Internacional de Unidade.
10 FROM THE TOP » UALLACE MOREIRA LIMA, MDIC Outubro 2025 | AutoData Mover a neoindustrialização Fundamental. Este é, sinteticamente, o papel da indústria automotiva no processo de neoindustrialização do País, da retomada de estímulos ao setor industrial como motor do crescimento econômico e do avanço tecnológico. Esta visão desenvolvimentista voltou a dominar as ações do governo em anos recentes e os formuladores das políticas que sustentam o plano NIB, Nova Indústria Brasil, estão abrigados no MDIC, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Um dos desenvolvimentistas incumbidos de liderar a costura das políticas de reindustrialização é Uallace Moreira Lima, secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do Ministério, que com sua equipe esteve à frente das discussões e negociações para a elaboração e regulamentação do Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, que direciona incentivos e metas para o desenvolvimento da indústria automotiva no País. “É uma das políticas mais exitosas e uma das vitrines do NIB, que já estimulou anúncios de R$ 180 bilhões em investimentos do setor automotivo no País”, exalta o secretário. Com longa carreira dedicada ao estudo do desenvolvimento econômico Lima hoje está na linha de frente da construção de políticas públicas para o setor industrial e é um dos principais articuladores das regulamentações do Mover. Nesta entrevista o secretário fala da evolução do programa e das perspectivas da indústria automotiva no País. Qual sua avaliação sobre a evolução do Mover nos quase dois anos de vigência do programa? O Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, é uma das prioridades para o desenvolvimento tecnológico do País. Hoje é uma das políticas mais exitosas do governo, uma das vitrines do [plano] Nova Indústria Brasil. Orçado em R$ 19,3 bilhões de créditos tributários [para financiar projetos da indústria] de 2024 a 2028, é um programa que já estimulou o anúncio de R$ 180 bilhões em investimentos. Temos atualmente 248 empresas com projetos habilitados, especialmente vinculados à exploração de todas as rotas tecnológicas no processo de descarbonização do setor automotivo. As normas do chamado IPI Verde foram publicadas mais de um ano depois da aprovação do Mover pelo Congresso. Por que houve a demora? Entrevista a André Barros e Pedro Kutney Clique aqui para assistir à versão em videocast desta entrevista
11 AutoData | Outubro 2025 Foto: Júlio César Silva/Divulgação MDIC
12 FROM THE TOP » UALLACE MOREIRA LIMA, MDIC Outubro 2025 | AutoData O IPI Verde demandou um diálogo mais amplo e um pouco mais longo. Mas não foi difícil, foi mais aprofundado, pois houve um cuidado muito grande. Uma preocupação do vice-presidente [e ministro do Desenvolvimento] Geraldo Alckmin era de não elevar a carga tributária. E esses cálculos de impacto tomaram tempo, para que pudéssemos fazer um escalonamento tributário [do IPI] levando em conta eficiência energética, potência, reciclabilidade, fonte de energia e nível de segurança, para apresentar ao setor produtivo e para a sociedade uma política que estimula carros mais sustentáveis, desestimula carros que emitem muito CO2 e, ao mesmo tempo, promove justiça distributiva. Ainda restam publicar algumas regulamentações do Mover. Quando devem sair esses últimos seis decretos e portarias? Faltam publicar seis portarias [com regulamentações de metas e incentivos] de eficiência energética para veículos leves, de reciclagem antecipada, de rotulagem de conteúdo local, de fiscalização e auditoria, de inventário e pegada de carbono [para estabelecer a medição de emissões do berço ao túmulo] e adequação das resoluções dos programas prioritários [de investimentos em instituições de pesquisa e desenvolvimento]. Tudo está bem encaminhado. Nosso propósito é até o fim do ano publicar tudo para fechar o ciclo das doze portarias. A medição de emissões de CO2 do poço à roda, que leva em conta desde a produção e distribuição dos combustíveis até o seu uso nos veículos, é considerada um avanço nas políticas “Q uando se fortalece o ecossistema de inovação o País eleva sua produtividade e a liderança tecnológica. É importante que a gente também faça transformações radicais para ter tecnologias capazes de influenciar o mundo.” Eu considero que não demorou. Tudo foi amplamente discutido com todos os representantes do setor produtivo e do governo. Esse debate foi importante porque o IPI Verde é a base do Imposto Seletivo [que incidirá sobre os veículos a partir de 2027] na reforma tributária e precisávamos deixar isso muito bem configurado, inclusive porque o Brasil traz dentro do Mover um aspecto revolucionário, pois é o único país no mundo que já incorpora a métrica [de emissões de CO2] do poço à roda [como um dos critérios para calibrar a tributação sobre veículos]. Isto é algo extremamente novo, embute justiça distributiva para o sistema tributário, o que demandou tempo de diálogo com o setor produtivo e o Ministério da Fazenda, com simulação para saber se o impacto fiscal seria neutro, porque nós não elevamos a carga tributária. De todas as regulamentações que foram negociadas com a indústria automotiva qual delas o senhor considera que foi mais difícil de encontrar consenso?
13 AutoData | Outubro 2025 emprega mais de 1,2 milhão de pessoas direta ou indiretamente. E temos capacidades internas de construir, com setor de autopeças e montadoras, bem como um ecossistema de inovação com centros de pesquisa e mão-de-obra qualificada. Então, quando se pensa no processo de neoindustrialização, na retomada do protagonismo da indústria no crescimento econômico, a indústria automotiva é fundamental, porque puxa uma longa cadeia produtiva de pneus, borracha, aço, vidro, plástico... A indústria automotiva tem mais de 100 anos no Brasil e já produziu mais de 100 milhões de veículos, mas sempre dependeu de incentivos. Por que este setor precisa de tantos estímulos? Não só este mas qualquer setor produtivo depende de políticas públicas. É quimera achar que a indústria no mundo não precisa de subsídio. O Fundo Monetário Internacional publicou um estudo mostrando que 73% das medidas de incentivo, de subsídio e de conteúdo local estão concentrados nos Estados Unidos, na Europa e na China. Portan- “ Qualquer setor produtivo precisa de políticas públicas. É quimera achar que a indústria no mundo não precisa de subsídio. O Fundo Monetário Internacional publicou um estudo recente mostrando que 73% das medidas de incentivo, de subsídio e de conteúdo local estão concentrados nos Estados Unidos, na Europa e na China. O mundo inteiro adota essas políticas e o Brasil não pode abdicar disso.” de descarbonização e favorece o uso de biocombustíveis. Mas por que esta medição ainda não está fixada na etiquetagem veicular do Inmetro? O Inmetro está amadurecendo estudos técnicos para fazer a publicação mais concreta e cuidadosa, com a possibilidade de fazer estudo comparativo [de fontes energéticas]. Estamos dialogando com eles, apresentamos os critérios do Mover. O Brasil tem tecnologia com biocombustíveis que já descarboniza quando se considera [emissões] do poço à roda. Esta inovação traz disrupção que demanda um processo de maturação do conhecimento, de análise, de revisão, para que possamos chegar à métrica perfeita. Qual o papel e a importância da indústria automotiva na neoindustrialização do Brasil? O Brasil tem hoje o oitavo maior parque produtivo de veículos do mundo. É um setor estratégico para a indústria brasileira e para o projeto de reindustrialização Nova Indústria Brasil, porque representa 20% da indústria de transformação e
14 FROM THE TOP » UALLACE MOREIRA LIMA, MDIC Outubro 2025 | AutoData to não existe investimento privado se não houver suporte público. O setor automotivo da China, por exemplo, não avançou pelo princípio do livre mercado, mas apoiado por políticas de subsídios, incentivos, cotas e proibição de importações de componentes para SKD e CKD, porque eles queriam ter fábricas e não montadoras de partes importadas. O mundo inteiro adota essas políticas e o Brasil não pode abdicar disto. Na sua opinião o Mover exige das empresas contrapartidas equivalentes aos incentivos recebidos? As políticas industriais precisam trazer benefícios à sociedade, incentivos devem ter contrapartidas. Por isto no Mover os benefícios dependem de agregação de valor, verticalização e adensamento da cadeia produtiva, investimento em P&D, acesso ao mercado externo e diversificação de exportações, nível de eficiência energética e de reciclabilidade, com punição para o não cumprindo dos requisitos que é a desabilitação ao programa e devolução dos recursos recebidos. Muito se fala que a indústria automotiva instalada no País precisa exportar mais para ocupar sua elevada capacidade ociosa. Muitas fabricantes dizem que a falta de competitividade está ligada a um sistema tributário que gera resíduos difíceis de recuperar, infraestrutura logística deficiente e baixa quantidade de acordos econômicos. O que tem feito o governo para minimizar estes entraves? Hoje a produção da indústria automotiva depende, em média, em torno de 80% do mercado interno. Exporta muito pouco e quando a economia local desacelera a indústria entra em crise. Mas alguns grandes passos já foram dados para melhorar nossa competitividade. O sistema tributário brasileiro atual pune não só o setor automotivo como toda a indústria, mas a reforma tributária, que entra em vigor a partir de 2027, vai estimular exportações e reduzir custos. Também é extremamente importante melhorar a logística e o novo PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], com investimentos previstos de R$ 1,7 trilhão, tem essa perspectiva. Com relação a acordos internacionais de comércio, depois de vários anos, está avançando o acordo do Mercosul com a União Europeia e outros estão sendo assinados neste governo, porque o presidente Lula tem buscado ampliar os laços comerciais com vários mercados. Essas ações são suficientes para dar competitividade às exportações? É importante buscar o livre comércio e novos mercados mas existem barreiras: os países desenvolvidos que adotam políticas industriais também lançam mão de subsídios, incentivos e proteções, “ Quando se pensa no processo de neoindustrialização, na retomada do protagonismo da indústria no crescimento econômico, a indústria automotiva é fundamental porque puxa uma longa cadeia produtiva.”
15 AutoData | Outubro 2025
16 FROM THE TOP » UALLACE MOREIRA LIMA, MDIC Outubro 2025 | AutoData que distorcem o comércio internacional. Então veja que a competitividade não se dá apenas com base no nível de produtividade de um país: há outros elementos e é importante que o Brasil fique atento a esse processo. Há, ainda, um outro ponto a se considerar, que é fortalecer a inovação. O investimento em P&D como proporção do PIB no Brasil é 1,1%. Nos países da OCDE é de 2,4 %, em média. Nos Estados Unidos é de 2,8%. Nos países asiáticos a média chega a 3,5%, a Coreia investe 4,1% do PIB. Quando se fortalece o ecossistema de inovação o país eleva sua produtividade e a liderança tecnológica, não sendo apenas um seguidor. É importante que a gente também faça transformações radicais para ter tecnologias capazes de influenciar o mundo. O mercado nacional de veículos começou a andar de lado principalmente por causa da alta dos juros. O MDIC teme que essa situação comprometa os investimentos da indústria? Nos preocupamos muito com isto porque este é um setor de bens de consumo duráveis, que depende fundamentalmente de crédito. O ponto é que a política de juros do Brasil é irracional, está prejudicando a atividade produtiva, ao mesmo tempo em que temos deflação [em agosto]. Se a inflação está caindo e a Selic é mantida em 15% o juro real está aumentando. Com isto, hoje, é mais rentável comprar ativos financeiros do que fazer investimento produtivo. Esta crítica precisa ser feita, [porque a política de juro] torna inviáveis os investimentos do setor, condena a indústria, o emprego produtivo de alta renda e o crescimen- “ O Mover é uma das políticas mais exitosas do governo, uma das vitrines do [plano] Nova Indústria Brasil. O programa já estimulou o anúncio de R$ 180 bilhões em investimentos. Temos atualmente 248 projetos habilitados, especialmente vinculados à exploração de todas as rotas tecnológicas no processo de descarbonização.” to econômico. Pensando neste cenário o governo lançou recentemente uma linha de crédito de R$ 12 bilhões, com taxa de 9,75% ao ano, para o setor de máquinas equipamentos. Recentemente também lançamos o Programa Carro Sustentável, reduzimos o IPI a zero de carros Chevrolet, da General Motors, da Hyundai, da Volkswagen, da Stellantis [Fiat] e da Renault. É também uma forma de estimular o mercado. Nós continuamos estudando outros instrumentos para estimular o mercado e minimizar o impacto da taxa de juros. O governo adota a política de equilíbrio fiscal mas só que os juros não dependem só disto. Nesse sentido manter o juro elevado é uma irracionalidade sem tamanho porque aumenta o gasto público: 1 ponto porcentual de Selic equivale a R$ 55
17 AutoData | Outubro 2025 do setor automotivo já tiveram projetos aprovados. Também temos no BNDES a linha Mais Inovação, de R$ 108 bilhões, com taxa negativa [abaixo da inflação] em torno de 4,7% ao ano, para quem quiser investir em inovação. São ferramentas para estimular todas as rotas tecnológicas e verticalizar a cadeia produtiva. Em um horizonte de um a dois anos à frente como o senhor projeta o desenvolvimento da cadeia automotiva do Brasil? Temos alguns desafios. Primeiro: precisamos manter o crescimento econômico. O governo do presidente Lula conseguiu fazer a economia brasileira voltar a crescer acima de 3%, com a taxa de desemprego de 5,8%. Manter esse ritmo é fundamental para sustentar o consumo do setor automotivo. Outro desafio é estimular a exportação, principalmente, nesse curto prazo, para a América Latina, onde perdemos mercado para veículos chineses. O terceiro ponto é o investimento em infraestrutura da cadeia de abastecimento dos carros eletrificados. O Brasil tem dimensão territorial muito grande e por isto o híbrido será a primeira opção de eletrificação. Nesse sentido também é necessário estimular a tecnologia genuinamente nacional dos biocombustíveis, que promove descarbonização até maior do que um carro elétrico quando se faz a mensuração do poço à roda. Além de tudo isto é essencial que as políticas industriais tenham caráter de Estado, não de governo, porque se houver interrupção ao mudar o governo se rompe com o princípio da previsibilidade que o setor produtivo tanto precisa para fazer investimentos. bilhões a mais em gastos com serviço da dívida pública. Os fabricantes da China que estão chegando ao Brasil trarão mais desenvolvimento ao setor ou vieram só para explorar o mercado? Todo investimento é bem-vindo mas não podemos aceitar que o Brasil se torne uma “maquila” só com montadoras de CKD e SKD. Por isto, no Mover, quanto maior for o nível de agregação de valor e verticalização no País maior o benefício tributário. O que nós queremos é empresas que façam transformação tecnológica, que invistam em pesquisa e desenvolvimento, que inovem aqui, e não para transformar o Brasil em um mercado para desovar excesso de capacidade produtiva. Atualmente a indústria automotiva importa muitos componentes que não são produzidos no País, ainda não produz a maior parte dos sistemas para veículos eletrificados, como as baterias. O MDIC adota incentivos suficientes para adensar esta cadeia produtiva? O Mover prevê incentivos [créditos tributários] para a habilitação de qualquer investimento vinculado ao adensamento da cadeia produtiva, seja para carros híbridos ou 100% elétricos, ou para o desenvolvimento de baterias. E para além do Mover nós criamos diversos instrumentos de crédito, como o Plano Mais Produção, do BNDES, uma linha de financiamento de R$ 643 bilhões para quem quiser investir no Brasil. Recentemente abrimos o edital BNDES- -Finep para atrair centros de pesquisa e desenvolvimento. Algumas empresas
20 Outubro 2025 | AutoData PERSPECTIVAS 2026 » MACROECONOMIA Por Rúbia Evangelinellis Persistência do juro elevado demais contrai a economia e transmite desaceleração para 2026, mas PIB segue positivo com pleno emprego, renda aumentada e possíveis incentivos ao consumo em ano eleitoral Após encerrar os três últimos anos com crescimento consecutivo em patamares cada vez mais elevados, superando as projeções do mercado, a economia brasileira segue resistente, deve manter trajetória de crescimento, ainda que em patamar mais comedido. Desta vez economistas preveem que o PIB, outra vez, consiga driblar os juros altos e os efeitos externos, encerrando o ano com taxa de expansão em torno de 2% – pela primeira vez em três anos mais perto das previsões dos economistas. Economia perde fôlego mas resiste Freepik Dentre os fatores que impulsionam a atividade econômica está a agropecuária, a indústria extrativista e o setor de serviços. Outro aspecto positivo é o baixo desemprego, que recuou para 5,6% no trimestre encerrado em agosto, repetindo o menor nível da série histórica da PNAD Contínua, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, iniciada em 2012 pelo IBGE. Mas a previsão é de que a economia, atacada pela taxa de juro extremamente elevada, desacelere neste segundo semestre. Ainda assim o ano deve encerrar
21 AutoData | Outubro 2025 com saldo positivo. O IBGE já apontou a desaceleração do PIB no segundo trimestre, período que registrou alta de apenas 0,4%, bem baixo do 1,3% contabilizado de janeiro a março. Embora o mercado de trabalho e o rendimento das famílias tenham apresentado melhora significativa a taxa Selic em 15%, no maior nível desde julho de 2006, atua como instrumento de retração de consumo, dos investimentos produtivos, dos financiamentos e provoca o aumento do endividamento e da inadimplência. PROJEÇÕES CONTRAÍDAS O Boletim Focus, do Banco Central, que retrata sobretudo as projeções de instituições financeiras, aponta que o mercado mantém, nas últimas semanas, a estimativa de crescimento do PIB em 2,16% para 2025 e de 1,8% para 2026. Já para a inflação medida pelo IPCA o relatório projeta 4,8% este ano e recuo para 4,28% no próximo. Para o câmbio a aposta é de R$ 5,45 e R$ 5,43 por dólar, no fechamento dos anos citados, em projeção que vem caindo a favor do real ao longo deste ano. O ponto duro da análise é visto na previsão da Selic: de 15% em dezembro e de ainda altos 12,25% para o encerramento de 2026. Vale destacar que o BC também prepara o relatório Firmus, ainda em fase piloto, com periodicidade trimestral. O objetivo é captar a percepção de empresas não financeiras sobre os negócios e a economia. Haroldo da Silva, vice-presidente do Corecon SP, Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo, acredita que é um levantamento importante e espera que se torne tão relevante quanto o Focus, -3,5 -3,3 1,3 1,8 1,2 -3,9 4,6 2,9 2,9 3,4 2,2* 1,8* 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025* 2026* PIB em desaceleração (%) * Projeções Focus/BC out/2024 | Fonte: IBGE
22 Outubro 2025 | AutoData PERSPECTIVAS 2026 » MACROECONOMIA para retratar expectativas além dos vícios do setor financeiro. Sobre as projeções Haroldo Silva alerta para um possível impacto na economia em razão das tensões ocorridas no cenário internacional, especialmente por causa de disputas geopolíticas que se desdobram em disputas comerciais, como o tarifaço aplicado pelos Estados Unidos a diversos países e com mais força ao Brasil. O economista avalia que a balança comercial brasileira poderá será afetada por um outro fator: “A desaceleração do Projeções macroeconômicas do mercado Fonte: Relatório de Mercado Focus/BC 13/out/2025 // *IBGE PIB (%) Dólar (R$) Inflação IGP-M (%) Dívida pública líquida (% PIB) Balança comercial (US$ bi) Inflação IPCA (%) Taxa média anual de desemprego (%)* Juro Selic (% aa) Conta corrente externa (US$ bi) Investimento Estrangeiro Direto (US$ bi) 1,80 5,50 4,20 70,80 65,72 4,28 6,80 12,25 -65,35 70,00 2,16 5,45 0,95 65,76 62,00 4,72 5,60 15,00 -69,00 70,00 2026 2025 crescimento da economia chinesa não chega a ser um desastre mas pode provocar avalanche de produtos chineses em outros países, incluindo o Brasil”. Com relação aos juros globais ele prevê que permaneçam em alta em razão das pressões inflacionárias experimentadas no mundo. SELIC DRENA PRODUÇÃO No Brasil Silva observa que a inflação caminha para um nível de controle, embora permaneça acima da meta “muito ambiciosa” de 3% para o padrão histórico de organização e de indexação da economia brasileira. O economista defende ainda a retomada dos estoques reguladores por parte do governo, para manter a oferta de alimentos essenciais, como arroz, feijão e batata, e evitar o impacto sobre os preços. Silva considera o patamar atual da Selic, de 15%, fator que institui restrição monetária “apertadíssima”, que inibe o setor produtivo e o consumo. O economista observa que o juro alto torna mais atraente a compra de título público – o que é possível para a menor parcela da população – e encarece o custo financeiro do crédito, do capital de giro, a economia e os produtos: “Existe uma drenagem de toda atividade produtiva para o setor financeiro e isso é extremamente concentrador de renda, pois pune aqueles que dependem de crédito e pagam mais pelos produtos, que são a maioria dos brasileiros”. Em linhas gerais o economista do Corecon prevê que o PIB cresça de 2% a 2,2% em 2025 e 2% em 2026 – ano eleitoral e de economia “resfriada”. A Selic, por sua vez, deve recuar um pouco a partir do fechamento de 2025, para 14,75% e 12,5% ao longo de 2026. Seguindo o mesmo comparativo o dólar deverá flutuar de R$ 5,40 reais em 2025 a R$ 5,50 em 2026, enquanto a inflação fica em 4,7% este ano e 4,1% no próximo. INDÚSTRIA PERDE FÔLEGO A indústria de transformação está longe de crescer significativamente e se ressente do impacto provocado pela alta dos juros.
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24 Outubro 2025 | AutoData PERSPECTIVAS 2026 » MACROECONOMIA Arquivo Pessoal Divulgação/Fiesp “ A desaceleração da economia chinesa não chega a ser um desastre mas pode provocar avalanche de produtos chineses em outros países como o Brasil.” Haroldo da Silva, Corecon SP “ A indústria geral e de transformação está caminhando bastante de lado, em patamar próximo de zero ou de crescimento de apenas 0,5%.” Igor Rocha, Fiesp Igor Rocha, economista chefe da Fiesp, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, observa que este ano o setor industrial está em fase de maior atenção: “A indústria geral e de transformação está caminhando bastante de lado, em patamar próximo de zero ou de crescimento de apenas 0,5%. Construção civil e indústria de transformação sentem o momento mais duro, desafiador. O que está pegando para o setor sobretudo são os juros, uma vez que não existem mecanismos para atenuar esse impacto”. Pelas suas contas o aperto monetário bate forte na indústria de transformação, em patamar 60% maior do que em outros setores da economia: “A indústria é um setor mais cíclico e, por isto, sofre muito no momento de reversão da economia, sem contar que tem ainda o impacto do custo Brasil”. Em relação às sobretaxas aplicadas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros Rocha prevê impacto potencial no PIB de 0,2 ponto porcentual neste ano e de 0,38 em 2026: “É ruim para alguns setores, como para a indústria de móveis e de máquinas agrícolas, mas quando se avalia no resultado agregado, considerando a média, representa um impacto relativamente contornável”. Rocha prevê para 2025 e 2026 PIB com altas de 2,4% e de 1,9%, respectivamente, com viés de alta; inflação de 4,83% e 4,3%;
25 AutoData | Outubro 2025 comerciais de países, especialmente dos Estados Unidos e da China: “Creio que a economia no mundo tende a desacelerar e a inflação a crescer. Problemas fiscais também devem aumentar, inclusive na Europa”. No ambiente doméstico Fernandez observa, no entanto, que os números estão em patamar “confortável”, tanto para a estimativa de alta do PIB quanto para a inflação, que desacelera “devagar”, ainda que acima da meta oficial de 3%, com teto de 4,5%, e câmbio mais acomodado. Na sua opinião o gargalo está nos gastos públicos, que jogam por terra o arcabouço fiscal do governo: “Vemos a dívida pública bruta do País subindo rapidamente para alcançar montante que representa 80% do PIB”. Em agosto este porcentual chegou a 77,5%, mesmo nível do mês anterior. Tereza Fernandez destaca outro gargalo proveniente da desaceleração do crédito, que recuou de uma expansão de 30% em outubro do ano passado para a média atual de 8%, devido ao alto endividamento das famílias e do aumento da inadimplência. Estes fatores, combinados com juros altos, devem tornar o crédito mais restritivo para a aquisição de veículos. Igor Rocha Rodrigo Nishida Haroldo Silva Tereza Fernandez Projeções economistas PIB 2025 2026 2025 2026 2025 2026 2025 2026 Inflação IPCA Dólar/R$ Selic 2,2% 2,0% 2,4% 1,9% 2,2% 1,7% 2,2% 2,0% 4,7% 4,1% 4,8% 4,3% 4,9% 4,8% 4,9% 4,4% 14,75% 12,50% 14,75% 12,25% 15,0% 13,50% 15,0% 12,50% 5,40 5,50 5,50 5,60 5,30 5,50 5,70 5,70 câmbio com pouca oscilação, encerrando os anos em R$ 5,50 e R$ 5,60, e Selic de 14,75% e de 12,25%. O economista observa que a economia brasileira está em processo de desaceleração nos últimos meses, mas não em um forte processo de queda, com base nos desempenhos registrados nos últimos anos. Para ele a melhora do cenário no setor produtivo é ter condições para que o juro de mercado caia: “A economia brasileira tem mostrado uma força bastante significativa para enfrentar momentos desafiadores como o atual”. ÁREA FISCAL PREOCUPA Tereza Fernandez, consultora econômica da Fenabrave, projeta crescimento do PIB de 2,2% este ano e na faixa de 1,4% a 1,7% para o próximo. A Selic deve se manter em 15% até dezembro e recuar gradativamente para 13% ou 13,5% no fechamento de 2026, enquanto a inflação permanece na faixa de 4,9% a 5,1% este ano e de 4,5% a 4,8% em 2026. Já o câmbio deve oscilar de R$ 5,20 a R$ 5,30 até dezembro e de R$ 5,00 a R$ 5,50 no fechamento do ano que vem. A economista ressalta a importância de se considerar possíveis impactos gerados a partir de disputas geopolíticas e
26 Outubro 2025 | AutoData PERSPECTIVAS 2026 » MACROECONOMIA INCENTIVOS EM ANO ELEITORAL Rodrigo Nishida, economista da consultoria 4intelligence, reforça a estimativa de crescimento da atividade econômica de 2,2% neste ano e de 2% em 2026: “Com as eleições no ano que vem creio em medidas que estimulem o consumo e que também devem favorecer incentivos sociais, como a já aprovada isenção de pagamento do imposto de renda para quem recebe até R$ 5 mil”. Para o economista a inflação deve ficar em 4,9% este ano e em 4,4% no próximo, a taxa Selic se mantém em 15% e recua a partir de março, terminando 2026 em 12,5%. O câmbio tende a encerrar este ano em torno de R$ 5,70 e repetir a dose em 2026. Arquivo Pessoal Arquivo Pessoal “ A economia no mundo tende a desacelerar e a inflação a crescer. Problemas fiscais também devem aumentar, inclusive na Europa.” Tereza Fernandez, Fenabrave “ Ainda entraremos em 2026 com a taxa elevada de juros, mas o BC deve começar a reduzir a Selic no início de março, com a inflação mais comportada.” Rodrigo Nishida, 4intelligence “Ainda entraremos em 2026 com a taxa elevada de juros, mas creio que o Banco Central comece reduzir a Selic no início de março, com a inflação mais comportada”, ele prevê. Com relação à indústria automotiva Nishida destaca o impacto da alta dos juros que, consequentemente, tem efeito direto sobre a concessão de novos financiamentos, que ficam mais caros e restritos, afetando também o preço dos produtos: “Ainda que a Selic recue os bancos enxergam a curva elevada, acima de 10%, para os próximos dois ou três anos. Isto reflete no financiamento, pois assim as parcelas ficam altas e pesadas para os consumidores”.
27 AutoData | Outubro 2025 PNEUS DE USO MISTO NOVO INTERIOR MULTIMÍDIA 10” NOVA LINHA CITROËN AIRCROSS E C3 SAIBA MAIS Tem alguma dúvida? Entre em contato pelo WhatsApp 31 2123-2300 ou através do 0800 011 8088. Em dias úteis, das 08h às 20h. Acesse também nossos canais de comunicação: @citroenbrasil e www.citroen.com.br
28 Outubro 2025 | AutoData PERSPECTIVAS 2026 » GEOPOLÍTICA Por Pedro Kutney Brasil sofre menos na nova ordem mundial, por enquanto Na visão de especialistas o País ainda guarda distância segura de conflitos geopolíticos e econômicos globais, tarifaço de Trump tem custo reduzido, mas falta plano de inserção internacional com desenvolvimento nacional A única previsão acertada sobre a nova ordem mundial que se desenha para os próximos anos é que tudo ficou muito imprevisível. Também é certeza para a maioria dos especialistas em geopolítica que nada será como antes. O surgimento de uma nova potência econômica no mundo, a China, desequilibra a balança global que sempre pendeu em favor dos interesses políticos e comerciais dos Estados Unidos, gerando reação que afeta todos os países, Imagem gerada por IA/Gemini
29 AutoData | Outubro 2025 em maior ou menor grau, por meio de tarifas que interditam os negócios e os organismos multilaterais. Apesar de ter sido atingido pelas maiores tarifas impostas ao mundo pelo governo imperial de Donald Trump, graças à sua exposição relativamente baixa ao comércio internacional, o Brasil navega em águas mais calmas, ao menos por enquanto. Sérgio Vale, economista chefe da MB Associados e especialista em relações internacionais, concorda com a maioria dos analistas que o tarifaço deverá causar perda econômica mínima ao País, da ordem de apenas 0,1% do PIB este ano. “No fim das contas o cenário é mais positivo do que foi inicialmente imaginado.” Este impacto, inclusive, pode ser reduzido caso prosperem as negociações do governo brasileiro com os Estados Unidos, em canal aberto após o encontro na Assembleia Geral da ONU, no fim setembro, dos presidentes Luis Inácio Lula da Silva e Donald Trump, que dias depois fluiu para uma conversa por videoconferência dos dois e agora prosseguem nas mãos da diplomacia dos dois países. Vale reconhece que alguns setores exportadores que não foram incluídos na lista de isenções, como autopeças, aço, máquinas agrícolas e rodoviárias, por exemplo, são mais atingidos por perdas de receitas com vendas externas para os Estados Unidos e devem procurar outros mercados. Mas consequências econômicas mais amplas ainda são pequenas. “O que importa para a economia do País é o resultado agregado e aí vemos um impacto muito baixo”, afirma o economista. “Por enquanto a questão da guerra tarifária dos Estados Unidos com o mundo é menos relevante para o Brasil, que conta com algumas vantagens: não existem aqui conflitos geopolíticos de fronteiras, o País é autossuficiente em petróleo, existem ativos importantes como a grande extensão territorial, reservas minerais de terras raras e agropecuária forte, até a situação fiscal é melhor do que a de muitos países desenvolvidos que têm déficits maiores que seu próprio PIB.” No entanto o FMI, Fundo Monetário Internacional, em seu mais recente estudo sobre a economia global, avalia que o impacto das tarifas estadunidenses ainda não foi completamente sentido e que seus efeitos devem reduzir o crescimento econômico no ano que vem, inclusive nos Estados Unidos – a entidade estima que o PIB do país avançará 2,1% este ano e 2% em 2026, taxas abaixo dos 2,8% de 2024. Para o Brasil o FMI aumentou de 1,9% para 2,1% a projeção de expansão do PIB em 2025 – justamente porque o efeito do tarifaço é considerado baixo – e reduziu de 2,1% para 1,9% a expectativa para o próximo ano, por esperar consequências mais fortes da sobretaxação às exportações brasileiras. NOVA ORDEM MUNDIAL Embora seja difícil fazer previsões neste momento Vale observa que a instabilidade é o principal motor do mundo atual: “Não há sinal no horizonte de “ No fim das contas o cenário é mais positivo para o Brasil do que foi inicialmente imaginado.” Sérgio Vale, MB Associados Divulgação/MB Associados
30 Outubro 2025 | AutoData PERSPECTIVAS 2026 » GEOPOLÍTICA estabilidade nos próximos meses e até anos. Os Estados Unidos estão cada vez mais fechados, a Europa tem dificuldades crescentes de baixo crescimento e déficits fiscais, existem conflitos permanentes, enquanto a China amplia seu espaço na economia global”. Para Rubens Barbosa, ex-embaixador nos Estados Unidos e consultor em relações internacionais, o mundo passa por uma ruptura institucional: “É muito difícil prever o que vai acontecer, nós estamos no meio do turbilhão, mas é certo que tudo o que aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial, em 1945, tanto na área econômica como na política, acabou em janeiro deste ano com a posse do Trump na presidência dos Estados Unidos”. O diplomata aponta que está em curso já bastante avançado uma transformação global em que o liberalismo econômico, o livre comércio, está sendo substituído pelo protecionismo, com o fechamento das economias, em processo liderado pelos Estados Unidos mas replicado em quase todos os países. Toda a ordem internacional construída no pós-guerra está sendo desconstruída, com evidente enfraquecimento e esvaziamento de instituições multilaterais como ONU, Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, e OMC, Organização Mundial do Comércio. “Porque a ONU não é uma instituição independente, ela depende dos países associados. Como não há entendimento dos países nenhuma discussão avança para a prática”, assinala Barbosa. “Também houve desmonte da ordem econômica. Na OMC o mecanismo de solução de controvérsias já há quase dez anos não funciona, pois os Estados Unidos não nomeiam juízes.” Diante do esvaziamento do multilateralismo Barbosa avalia que um novo normal mundial está sendo construído: “A ordem anterior desapareceu e está em gestação uma nova ordem, ainda difícil de prever como será. Mas o mais provável é a continuação do quadro atual. Mesmo que Trump perca as próximas eleições para um democrata os Estados Unidos continuarão com as sobretaxações como estratégia de contenção da China”. Do alto de sua experiência de mais de quarenta anos na diplomacia brasileira e outros quase vinte anos com consultor e conselheiro de instituições como Fiesp, Barbosa é bastante pessimista com relação à retomada de um mundo mais multilateral: “Em termos de comércio exterior, de organizações multilaterais, da ordem econômica e política internacional, ficará tudo como está. A ONU não se recuperará, a OMC não se recuperará. Essas tarifas podem até ser um pouco reduzidas, mas os Estados Unidos continuarão aplicando sobretaxas como política de Estado”. Para Sérgio Vale o mundo deve continuar vivendo sob trancos e solavancos do presidente estadunidense: “Trump causa muito impacto negativo, todo dia tem alguma medida, não é alguém que ajuda a economia global. É um cenário ruim e talvez o pior nem tenha acontecido ainda, “ A ordem anterior desapareceu e está em gestação uma nova ordem, ainda difícil de prever como será.” Rubens Barbosa, consultor Patrícia Caggegi/AutoData
31 AutoData | Outubro 2025 pois ele ainda tem mais de três anos de governo pela frente”. PIOR PARA ELES “Eu acho que essas medidas todas que Trump vem tomando prejudicarão mais os Estados Unidos a médio e longo prazo do que o mundo inteiro”, assinala Rubens Barbosa. E Sérgio Vale completa: “Certamente o empresariado estadunidense está cobrando e pressionando o presidente a rever posições que estão atrapalhando muito os negócios, mas o problema é que Trump não vai atrás de informações, que chegam até ele por pessoas com viés ideológico”. Para ambos os analistas a perda de dinheiro provocada por questões ideológicas é o único e mais forte fator que pode fazer o governo Trump mudar de opinião e posição – foi assim a retomada de diálogo com o governo brasileiro, influenciada por empresários brasileiros que investem e empregam no país, que informaram o presidente estadunidense sobre os prejuízos causados por tomar ações com base no que dizem figuras ideológicas como Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, que não produzem um clips sequer em lugar algum e influenciam por sansões ao Brasil que prejudicam os negócios nos Estados Unidos. BRASIL NO NOVO CENÁRIO Para Rubens Barbosa neste momento conturbado “o que precisamos começar a pensar e a discutir é onde é que entra o Brasil nesse novo cenário global”. O diplomata entende que falta ao País um plano de ação de médio e longo prazo. Ele exemplifica: “Há dois anos, quando a Índia comemorou 75 anos da independência, o primeiro ministro Narendra Modi fez um discurso criticando o colonialismo, tudo que eles passaram lá, e terminou dizendo que nos próximos 25 anos, quando comemorar 100 anos independente, o país tem o objetivo de ser um país plenamente desenvolvido. Eles colocam isto como meta. Qual é a do Brasil?”. A pergunta, na visão do embaixador, está há décadas sem resposta. Mesmo diante das intempéries globais Barbosa avalia que o País precisa desenhar seu futuro com maior assertividade, inclusive para superar seus problemas internos e ganhar força no cenário internacional. “A inserção externa econômica, comercial e política depende de transformações internas que envolvem estabilidade econômica e política, de segurança jurídica”, defende Barbosa. “O Brasil é um país gigantesco de grande interesse para o mundo, mas precisa de política externa forte, clara, que define o interesse brasileiro, sem alinhamentos automáticos com Estados Unidos, China ou com os BRICS. Mas para isto é necessário, primeiro, arrumar a casa. O País tem de começar a pensar em um plano de médio e longo prazo, o governo tem que fazer programas de Estado, com prazos para alcançar metas de crescimento de 4% ou 5%, sair desses voos de galinha de 2%, 1% ou zero. Este planejamento independe do cenário global instável.” Imagem gerada por IA/Gemini
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34 Outubro 2025 | AutoData PERSPECTIVAS 2026 » ARGENTINA Por Leandro Alves Eleições legislativas e escândalos no governo têm ligação direta com o desempenho da economia argentina – e do que acontecerá com o setor automotivo do maior cliente das exportações brasileiras de veículos e autopeças. Uma semana após a publicação desta edição da revista AutoData tudo pode mudar na Argentina. As eleições legislativas de meio de mandato presidencial, programadas para 27 de outubro, podem transformar o cenário político e mudar a política econômica do presidente Javier Milei. Especula-se uma revisão no sistema de câmbio, cuja flutuação e disparidade com a realidade influenciou aumento da taxa de juros. Somados à suposta fragilidade política de Milei o caldeirão argentino aumenta a pressão a cada dia e as incertezas só aumentam. Por causa deste cenário conturbado a indústria automotivo fica tecnicamente paralisada em seu planejamento futuro, o que afeta diretamente o setor no Brasil, que tem no mercado vizinho o seu maior cliente externo de veículos e autopeças. Tudo pode acontecer, inclusive nada, de acordo com Andrés Civetta, especialista da Abeceb, principal consultoria especializada em economia e indústria automotiva da Argentina: “A volatilidade é muito grande em todos os sentidos e o caminho só estará claro após as eleições de outubro”. Esse roteiro não é novo na política argentina: dependendo da composição da Câmara Legislativa as dificuldades para o executivo realizar as reformas aumentam. E no caso de Milei, com as denúncias de corrupção na sua equipe e do seu principal candidato a deputado federal, que renunciou, a já minoria no Congresso tende a diminuir, dificultando ainda mais a continuidade da sua política econômica e, quem sabe, até do seu próprio mandato, a depender dos desmembramentos das investigações em curso. Crise política breca crescimento no vizinho Pexels Freestock
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