Ano 34 | Dezembro 2025 | Edição 428 A CHINA CHEGOU Fabricantes chinesas multiplicam presença no País em voo solo ou com parceiros já instalados, com muita importação, alguma montagem e nenhuma produção até agora From the Top Ariel Montenegro Renault Geely SALÃO DO AUTOMÓVEL Recomeço menor com domínio chinês PARCERIAS CHINESAS Renault-Geely, Caoa-Changan, Comexport-GM/Saic, Stellantis-Leapmotor
» ÍNDICE Dezembro 2025 | AutoData 8 78 FROM THE TOP OS INVESTIMENTOS Ariel Montenegro, presidente da Renault Geely no Brasil, conta os próximos passos das empresas sócias no mercado brasileiro. Tabelas atualizadas mostram onde estão sendo aplicados os ciclos bilionários dos fabricantes de veículos. GENTE & NEGÓCIOS Notícias da indústria automotiva e movimentações de executivos pela cobertura da Agência AutoData. 82 88 FIM DE PAPO As frases e os números mais relevantes e irrelevantes do mês, escolhidos a dedo pela nossa redação. Maior exposição do gênero da América Latina voltou ao Anhembi em formato econômico com invasão de marcas chinesas Grupo brasileiro assina acordo com mais uma fabricante da China, continua com a Chery e para de produzir Hyundai Chinesa inicia produção em Iracemápolis ainda com partes importadas desmontadas para aproveitar isenção de imposto Empresa deixou de produzir no País mas continua a desenvolver projetos globais de veículos no Campo de Provas de Tatuí Representantes de entidades e fabricantes de veículos e autopeças debateram o futuro do setor sob horizonte volátil Novas sócias no Brasil anunciam investimento de R$ 3,8 bilhões para produzir carros em conjunto na fábrica do Paraná Empresa de comércio exterior começa a montar SUVs elétricos importados da GM-SAIC da China e promete investir mais SUV compacto com versões híbridas começa a ser vendido mas entregas só começam em fevereiro, com motor importado Veículos da marca chinesa serão montados na fábrica de Goiana, PE, e grupo planeja lançar seis modelos híbridos em 2026 Fabricante chinês inaugura operação comercial no País com importação de quatro caminhões e estuda instalar fábrica Fabricante exporta cem ônibus mais potentes, de 450 e 480 cv, para subir até as minas do Chile na Cordilheira dos Andes RETOMADA DIFERENTE SALÃO DO AUTOMÓVEL EVENTO AUTODATA PERSPECTIVAS 2026 NOVA SOCIEDADE RENAULT GEELY 30 18 38 MAIS UM CHINÊS JAC CAMINHÕES NO BRASIL USANDO A COTA GWM MONTA H6 EM CKD CHINESES DA GM NO CEARÁ COMEXPORT INVESTE PLANEJAMENTO COM CHINESA STELLANTIS E LEAPMOTOR PRÉ-LANÇAMENTO TOYOTA YARIS CROSS MAIS POTÊNCIA PARA EXPORTAR ÔNIBUS MERCEDES-BENZ MAIS UM SÓCIO DA CHINA CAOA CHANGAN 62 56 52 48 66 74 42 ENGENHARIA GLOBAL FORD DESENVOLVE NO BRASIL 72 16 WHB 28 FRAS-LE Divulgação/RX Salão do Automóvel 2025
» EDITORIAL AutoData | Dezembro 2025 Diretor de Redação Leandro Alves Conselho Editorial Isidore Nahoum, Leandro Alves, Márcio Stéfani, Pedro Stéfani, Vicente Alessi, filho Redação Pedro Kutney, editor Colaboraram nesta edição André Barros, Caio Bednarski, Lucia Camargo Nunes, Soraia Abreu Pedrozo Projeto gráfico/arte Romeu Bassi Neto Fotografia DR/divulgação Capa Imagem gerada por IA Gemini Comercial e publicidade tel. PABX 11 3202 2727: André Martins, Luiz Giadas e Rosa Damiano Assinaturas/atendimento ao cliente tel. PABX 11 3202 2727 Departamento administrativo e financeiro Isidore Nahoum, conselheiro, Thelma Melkunas, Hidelbrando C de Oliveira, Vanessa Vianna ISN 1415-7756 AutoData é publicação da AutoData Editora e Eventos Ltda., Av. Guido Caloi, 1000, bloco 5, 4º andar, sala 434, 05802-140, Jardim São Luís, São Paulo, SP, Brasil. É proibida a reprodução sem prévia autorização mas permitida a citação desde que identificada a fonte. Jornalista responsável Leandro Alves, MTb 30 411/SP autodata.com.br AutoDataEditora autodata-editora autodataseminarios autodataseminarios Por Leandro Alves, diretor de redação A China aqui Esta última edição de AutoData em 2025 demonstra que o futuro da indústria automotiva brasileira passa pela China. Trata-se de realidade que pode ser interpretada como oportunidade ou ameaça para as fabricantes aqui instaladas há décadas mas, para nós, observadores da história automotiva nacional, representa mais uma evolução natural dos negócios. Diversas reportagens neste dezembro evidenciam que, afinal, independente da forma como essas empresas chegam ao País, há um ambiente favorável que incentiva e atrai estes novos negócios, induzindo a transformação desta indústria para o bem ou para o mal. A importação é o primeiro passo e no Salão do Automóvel, que retornou após sete anos, metade das marcas expositoras eram chinesas. Algumas novatas como a Changan, que se associou ao Grupo Caoa, a Leapmotor, sócia da poderosa Stellantis, e a Geely, que comprou 26% da Renault do Brasil, anunciaram a intenção de produzir aqui. Nas próximas páginas você conhecerá um novo Haval H6, ainda importado da China, mas concebido quase que exclusivamente para brasileiros. A centenária General Motors, assim como todas as outras, aproveitam alguns incentivos, como a isenção tributária pelo Regime do Nordeste ou cotas isentas de importação para kits de conjuntos pré-fabricados, e encomendou à Comexport, estabelecida no Ceará, a montagem do elétrico compacto Spark, além da intenção montar os mesmos kits chineses do SUV Captiva em Horizonte, no ano que vem. A verdade é que o Brasil possui um ambiente propício à expansão de empresas com origem na China no continente sul-americano. O programa Mover e o Nova Indústria Brasil são políticas que incentivam o desenvolvimento e produção dos Veículos de Nova Energia, NEV. E os chineses estão na vanguarda dos NEV. Por todas as análises que esta e as edições anteriores de AutoData ofereceram este ano temos a certeza de que, em 2026, estas páginas continuarão a retratar uma transformação profunda da indústria e dos seus negócios, pois está no horizonte a chegada de novos empreendimentos chineses ao mercado brasileiro. Por ora vamos desacelerar, recarregar as baterias para voltar em 2026 com energia e disposição e mostrar tudo isto a você, nobre leitor. Boas festas e até lá.
8 FROM THE TOP » ARIEL MONTENEGRO, RENAULT GEELY Dezembro 2025 | AutoData Señor Renault agora também adota a Geely O engenheiro mecânico Ariel Montenegro pode ser considerado um Señor Renault, tão estreita é a ligação deste argentino com a companhia, que já faz parte de 20 dos seus 39 anos. Ele começou como aprendiz na fábrica de Córdoba, em 2005, mesmo ano em que ingressou no curso de engenharia mecânica. Do chão-de-fábrica na Argentina, onde chegou a gerente de desempenho industrial, iniciou carreira executiva de rápida ascensão a partir de 2018, quando foi expatriado ao Brasil como secretário executivo da Renault Américas. Um ano depois já estava na matriz, na França, como secretário executivo de vendas e marketing e, já em 2020, foi nomeado diretor executivo do escritório do CEO mundial do Grupo Renault. Em 2022 Montenegro foi nomeado presidente da Renault Colômbia, em seu primeiro posto como principal executivo do grupo em um país. E logo veio o segundo: este ano ele foi o escolhido para ser o presidente – o mais jovem da história – da empresa no Brasil. E Montenegro chegou na crista da onda, bem no fim do ciclo de investimento de R$ 4 bilhões, ainda a tempo de lançar o Boreal, segundo modelo global que acelera o processo de transformação da Renault no Brasil e no mundo, em migração de produtos populares para modelos de maior valor agregado e rentabilidade. Também coube a ele ser o presidente de uma nova corporação, a Renault Geely do Brasil, sociedade comercial e industrial das duas companhias no País selada em novembro, com anúncio de um novo plano de investimento de R$ 3,8 bilhões que inclui compartilhamento de tecnologias e produção de novos veículos de ambas na fábrica brasileira. Assim Montenegro chegou com o pé em baixo no acelerador, como tem sido em sua carreira. A Renault encerra este ano, no Brasil, um ciclo de investimento de R$ 4 bilhões que envolveu a adoção da plataforma RGMP na fábrica do Paraná, com o lançamento de dois SUVs, Kardian e Boreal, que têm mais elementos da marca Renault e maior valor agregado. O plano é se afastar dos modelos mais baratos da Dacia? Muitos consumidores brasileiros foram felizes com seus Logan, Sandero e Stepway. São produtos que ofereciam custo competitivo combinado com acessibilidade, espaço e confiabilidade. A Dacia continua sendo uma das marcas mais vendidas na Europa, em um mercado que é bem desafiador. O carro mais vendido nos últimos cinco anos no varejo na Europa é um Dacia. É uma boa escolha, como também é a Renault. Estamos capitalizando a herança [da Dacia] que Entrevista a André Barros Clique aqui para assistir à versão em videocast desta entrevista
9 AutoData | Dezembro 2025 Divulgação/Renault
10 FROM THE TOP » ARIEL MONTENEGRO, RENAULT GEELY Dezembro 2025 | AutoData presença neste território. Assim o Boreal tem a missão de ser um produto muito mais premium para a marca no mercado brasileiro, reconectando com as raízes da marca Renault global. Ele é um Renault com todas as letras, em todos os aspectos e ângulos, em toda sua tecnologia, todo o seu conteúdo, em um segmento bem disputado. Portanto é um produto muito importante nessa nova era da Renault e também para preparar o terreno para os que vêm depois. Estou muito confiante e contente com o trabalho feito pela equipe no desenvolvimento do carro, na capacidade de oferecer nesta fatia do mercado um carro que será referência do seu segmento. Como o Boreal reintroduz a Renault no segmento de médios com mais força? É um produto que tem as mais modernas tecnologias, a mais recente arquitetura eletrônica, está no mais avançado nível de engenharia do Grupo Renault no mundo. É o primeiro carro vendido no Brasil integrado ao sistema Google, que é um grande parceiro da Renault em outros produtos. Pela primeira vez o Google Automotive Service foi integrado “ O Boreal é um Renault com todas as letras, tem as mais modernas tecnologias, a mais recente arquitetura eletrônica, está no mais avançado nível de engenharia do grupo no mundo, será uma referência do seu segmento. Por isto é muito importante nessa nova era da Renault no Brasil e no mundo.” construiu o DNA da Renault [no Brasil], de carros centrados no consumidor, na família, com espaço caloroso, que agora também é moderno e tecnológico. Isto começou com o Kardian e tem uma expressão muito mais acelerada com o Boreal. Sem despreciar ou menosprezar o que foi o passado da Renault no Brasil, que coleciona muitas histórias de sucesso, com o Boreal estamos acelerando a transformação da marca no País, com uma proposta mais premium, com a tecnologia, o desempenho e a modernidade que o Boreal vai oferecer ao cliente brasileiro. O Boreal é mais importante do que o Kardian no plano de transformação da Renault no mercado brasileiro? O Kardian entrou em um segmento de B-SUVs compactos no qual a Renault já estava presente com os B-hatches como Sandero e Stepway e o SUV Duster. O Kardian entrou no meio disso. Com o Boreal a ambição é maior porque entramos em um território para renovar e reconquistar clientes que tínhamos lá atrás com Scènic, Mégane e Fluence. Faz alguns anos que não tínhamos
11 AutoData | Dezembro 2025 local com competitividade porque estamos enfrentando neste segmento, por causa dos benefícios às importações dos últimos anos, atores que têm conteúdo local muito inferior. Em uma estratégia de longo prazo fortaleceremos o relacionamento com fornecedores locais porque dependemos deles para ser competitivos, tanto no mercado doméstico como para exportar. Nosso compromisso não é só para o mercado brasileiro: é utilizar a base industrial que temos para fornecer aos mercados da América Latina, por isso precisamos de competitividade e precisamos de fornecimento local. Quando começam as exportações do Boreal e para quais mercados? Começaremos a exportar o Boreal no início de 2026. Já temos pedidos de nove mercados. Mas o carro está começando, estamos no processo de vender o veículo para diversos países. Pretendemos manter nosso histórico de exportar quase 30 % do volume da produção no Brasil. Em porcentagem a Renault é uma das fabricantes no País que mais exportou nos últimos dez anos. O Kardian foi lançado em 2024 como primeiro modelo da transformação da Renault no Brasil e mercados fora da Europa. Mas as vendas estão demorando a decolar no mercado brasileiro... Nessa nova era da Renault nosso foco não está só no volume, mas no valor agregado. Esta foi a proposta com o Kardian. Lançamos um carro muito atrativo em comportamento dinâmico, com tecnologias, sistemas de assistência à condução, conforto interior, que levou a marca a um novo patamar. O resultado “ Fortaleceremos o relacionamento com fornecedores porque dependemos deles para ser competitivos, tanto no mercado doméstico como para exportar. Nosso compromisso não é só para o mercado brasileiro: é utilizar a base industrial que temos para fornecer aos mercados da América Latina. Pretendemos manter nosso histórico de exportar quase 30 % do volume da produção no Brasil.” no Brasil desde a concepção do veículo. Em matéria de segurança o novo SUV tem 24 ADAS [sistemas avançados de assistência aso motorista]. Qual o índice de nacionalização do Boreal neste início de produção? Temos presença bem importante de nossos fornecedores em nossa produção no Paraná. O Boreal é fruto do trabalho de mais de dois anos, não só dos engenheiros da Renault mas, também, dos nossos parceiros, com mais de setenta fornecedores envolvidos. A taxa de localização já está perto de 70%, como resultado deste trabalho conjunto. A ambição de crescimento de conteúdo local sempre está colocada, porque nos protege de flutuações do câmbio. Nosso objetivo é desenvolver a cadeia de valor
12 FROM THE TOP » ARIEL MONTENEGRO, RENAULT GEELY Dezembro 2025 | AutoData de vendas é uma consequência deste plano. Estamos no caminho a vender de 20 mil a 25 mil unidades este ano, mais a exportação, que já soma mais de 17 mil carros embarcados. Então o Kardian está jogando no território de jogo que nós definimos para ele, com uma proposta de valor e na construção de imagem da marca. Esta construção de imagem e mais valor agregado compensam a produção de volumes menores? Não podemos esquecer que esta é uma indústria de volume: a cadeia de valor, os fornecedores e nós vivemos disto. Mas isto se constrói com marca forte, com imagem, com orgulho de ter um Renault. Isto traz volume. A produção do Boreal trouxe investimentos e mudanças na fábrica de São José dos Pinhais? Sim. Foi interessante o desafio de colocar em produção um carro com esse nível de tecnologia em matéria de conectividade, ecossistema de multimídia integrado ao Google, sistemas de assistências à condução. Isso trouxe muitos investimentos. Dentro dos R$ 2,1 bilhões que foram investidos em pesquisa, desenvolvimento e materiais para fazer o Boreal boa parte foi aplicada na modernização e na conectividade da fábrica, bancos de ensaio, tecnologia, em toda a produção desde a carroceria até a auditoria de qualidade no fim do processo. O novo produto também trouxe um desafio para nossos trabalhadores: as competências tiveram de subir, com treinamento e melhoria das qualificações para produzir este carro que hoje é referência de qualidade no Grupo Renault. Qual é o ritmo de produção da fábrica? Estamos operando quase na capacidade total em dois turnos. No plano global que busca ampliar a participação da Renault em mercados fora da Europa estão planejados, até 2027, oito novos carros. Kardian e Boreal são dois destes. Está programado mais algum modelo deste plano para ser fabricado no Brasil ou importado para cá? Sim, tem um novo Renault chegando e vocês vão poder ver no Salão do Automóvel, mas o estande é pequeno e há mais por vir além do que estará lá. [Nota da Redação: dias depois desta entrevista a Renault expôs no Salão do Automóvel de São Paulo, de 22 a 30 de novembro, o SUV híbrido de grande porte Koleos, produzido na Coreia do Sul em parceria com a chinesa Geely, que será importado para o mercado brasileiro a partir do primeiro semestre de 2026. “ Dos R$ 2,1 bilhões que foram investidos em pesquisa, desenvolvimento e materiais para fazer o Boreal boa parte foi aplicada na modernização e na conectividade da fábrica, em toda a linha de produção.”
13 AutoData | Dezembro 2025
14 FROM THE TOP » ARIEL MONTENEGRO, RENAULT GEELY Dezembro 2025 | AutoData Também foi apresentado o protótipo da picape média-compacta Niagara, prevista para ser produzida na Argentina no segundo semestre de 2026. Ambos os modelos estão incluídos no plano internacional de lançamentos]. O International Game Plan está trazendo bons resultados para a companhia? Sim, está. Este ano as vendas nos mercados internacionais [fora da Europa] crescem quase 20%. Apuramos crescimento de 200% na Coreia do Sul e de quase 20% na América Latina. Isso acontece graças à renovação de produtos focados em valor, com soluções que atendem todos os públicos: 100% elétrico, híbridos, motores a combustão mais eficientes... A Renault, com seu International Game Plan, coloca produtos em todos os segmentos, graças à tecnologia própria e a parcerias. Teremos um Renault forte em cada segmento. Sobre a picape que deriva do conceito Niagara: quando chega no mercado nacional? Não posso falar quando, mas o projeto está avançando. O concept car Niagara já deu alguns sinais sobre o que pode ser feito sobre a plataforma RGMP, desde o [SUV compacto] Kardian até as dimensões de uma picape. O [SUV médio] Boreal também integra esta família e traz muito conteúdo tecnológico para o segmento C. E a Niagara vai ter alguns dos ingredientes que estamos vendo agora no Boreal sobre a mesma plataforma. A Renault está desenvolvendo o sistema de propulsão híbrido flex. Quando chega ao mercado o primeiro modelo? “ Após a sociedade na Coreia do Sul e na Horse a terceira parceria das duas empresas agora é no Brasil, em que a Geely entra como acionista da Renault e passamos a ser a Renault Geely do Brasil. Esta união nos permite alavancar capacidades industriais e comerciais e compartilhar tecnologias.” Estamos trabalhando em soluções de eletrificação mas não falamos ainda exatamente quando lançaremos aqui. Na Europa a Renault vende 50% dos seus carros com sistemas híbridos, e começou há apenas quatro anos. Então nossa tecnologia híbrida tem competitividade de custo e tem eficiência energética. É nisto que estamos trabalhando para trazer ao mercado brasileiro. O que a operação brasileira atualmente representa para o Grupo Renault? Gera lucratividade? Quando falamos especificamente da marca Renault a França lidera e o Brasil está no segundo lugar, à frente da Turquia por diferença de poucos carros. Portanto é um mercado relevante para a marca mais importante do grupo. A América Latina como um todo também é bem importante e o território brasileiro é onde temos mais expectativas de crescimento.
15 AutoData | Dezembro 2025 conjuntas em desenvolvimento e produzimos veículos das marcas dos dois grupos na fábrica de Busan. A segunda é a sociedade na Horse Powertrain, hoje um dos maiores fabricantes mundiais de motores a combustão e sistemas híbridos, de propriedade da Renault, da Geely e da Aramco [estatal petrolífera da Arábia Saudita]. Todos os motores utilizados hoje pela Renault e pela Geely são da Horse. Esta parceria nos permite ter escala para continuar investindo na transição energética, não só em carros elétricos mas, também, em soluções de combustão mais eficientes, híbridos e combustíveis sintéticos. E a terceira parceria das duas empresas agora é no Brasil, em que a Geely entra como acionista da Renault do Brasil e passamos a ser a Renault Geely do Brasil. Esta união nos permite alavancar capacidades industriais e comerciais, pois podemos utilizar todo o ecossistema já consolidado da Renault no País para as duas marcas, que são complementares com diferentes tecnologias para atender demandas e interesses de clientes distintos. Vamos falar mais sobre isto no evento do dia 18 [de novembro], mas posso adiantar que esta parceria nos permitirá produzir carros de zero e baixas emissões no complexo industrial de São José dos Pinais, para as duas marcas. [Nota da Redação: após esta entrevista, em 18 de novembro Renault e Geely anunciaram investimento conjunto de R$ 3,8 bilhões para produzir veículos das duas marcas na fábrica de São José dos Pinhais, PR. Leia reportagem nesta edição.] O que restou da Aliança Renault-Nissan? Na América Latina ainda existem projetos conjuntos? A Aliança existe. Houve uma mudança nos últimos dois anos na participação acionária da Renault na Nissan, que foi sendo reduzida para se equilibrar com a participação que a Nissan tinha na Renault. Hoje não somos mais um mesmo grupo econômico devido a esta redução de participação, mas compartilhamos tecnologias e projetos. Recentemente a Geely adquiriu 26,4% da Renault do Brasil. E o senhor foi nomeado presidente desta nova corporação. O que vai mudar? O que estão planejando fazer juntos? É importante recapitular que tudo isso está se desenrolando desde o começo deste ano [quando foi anunciada a parceria comercial das duas empresas no mercado brasileiro, com uso pela Geely de recursos logísticos e de rede de concessionários da Renault]. São duas empresas que sabem e gostam de trabalhar em parcerias. A Renault fez isso durante toda a sua história, a mais recente com a Nissan, que já dura mais de trinta anos. A Geely é um grupo muito mais recente mas também trabalha muito com aquisições e parcerias [a companhia de capital chinês privado é dona das marcas de veículos Geely, Volvo, Polestar, Zeekr, Lynk & Co, Farizon, Lotus e London Electric Vehicle Company, antiga Manganese, fabricante dos táxis pretos de Londres]. Com eles já temos duas iniciativas consolidadas: a primeira foi a parceria na Coreia do Sul, onde a Geely também entrou no capital da Renault, temos plataformas
16 WHB Automotive faz uma mensagem de agradecimento aos parceiros em 2025 e enseja boas oportunidades para o próximo ano A o concluirmos mais um ciclo, registramos com orgulho e senso de responsabilidade a trajetória construída ao longo de 2025. Este foi um ano marcado por desafios relevantes, decisões estratégicas e avanços consistentes, possíveis graças ao compromisso de toda a cadeia automotiva brasileira — um setor que se mantém resiliente, em evolução constante e preparado para atender às demandas de um ambiente competitivo e dinâmico. Acelerando o futuro da mobilidade
17 consolidarmos bases importantes para o crescimento sustentável. À medida que avançamos para um novo ano, renovamos nosso compromisso com investimentos em tecnologia, governança, eficiência industrial e desenvolvimento de pessoas. Estamos preparados para expandir oportunidades, fortalecer relações com o mercado e contribuir, de maneira ainda mais efetiva, para um setor automotivo vibrante, inovador e alinhado às exigências globais de competitividade e sustentabilidade. A todas as pessoas e organizações que fazem parte da nossa trajetória, registramos nossa sincera gratidão. Que 2026 seja um período de novas conquistas, projetos relevantes, parcerias fortalecidas e avanços que impulsionem todo o ecossistema da mobilidade. A WHB Automotive expressa seu reconhecimento a cada cliente, parceiro e fornecedor que contribuiu para mais um período de resultados sólidos. O alinhamento em torno de qualidade, eficiência e competitividade permitiu que novos projetos fossem viabilizados, processos fossem aperfeiçoados e entregas fossem realizadas com excelência. Reforçamos a convicção de que o futuro da mobilidade se desenvolve por meio da colaboração estratégica, da inovação contínua e de uma visão de longo prazo. Agradecemos, de forma especial, aos nossos colaboradores — profissionais que sustentam diariamente os padrões de desempenho e confiabilidade que caracterizam a WHB. Sua competência técnica, disciplina operacional e dedicação à melhoria contínua foram determinantes para superarmos desafios, acelerarmos ganhos de produtividade e
18 Dezembro 2025 | AutoData EVENTO AUTODATA » CONGRESSO PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS 2026 O Congresso AutoData Perspectivas e Tendências 2026 reuniu algumas das principais lideranças do setor automotivo brasileiro para traçar um panorama dos desafios e oportunidades que se apresentam para o próximo ano. O consenso de entidades setoriais, fabricantes de veículos, fornecedores de autopeças e representantes do governo aponta Por Lúcia Camargo Nunes Indústria automotiva traça seus planos diante de horizonte volátil Evento reuniu principais lideranças do setor para discutir expectativas de mercado e tendências para o ano que vem: produção local e eletrificação fazem parte das apostas principais da indústria. para cenário de crescimento moderado, marcado por entraves macroeconômicos, mas também por avanços em eletrificação e produção local. Igor Calvet, presidente executivo da Anfavea, e Cláudio Sahad, presidente do Sindipeças, abriram o evento e apresentaram um panorama que equilibrou preocupações imediatas com oportunidades. Fotos: Bruna Nishihata/AutoData.
19 AutoData | Dezembro 2025 Igor Rocha, da Fiesp Igor Calvet, (na tela), da Anfavea, e Cláudio Sahad (centro), do Sindipeças A taxa de juros nas alturas continuará a ser o principal obstáculo limitador do crescimento do setor em 2026. Embora já esteja precificada a queda da inflação e a consequente flexibilização da política monetária a redução gradual da Selic a partir do primeiro trimestre, com cortes iniciais de 0,25 ponto porcentual, a taxa deverá permanecer elevada, na faixa de 12% ao ano. “A pergunta não é quando os investimentos programados pela indústria deslancharão”, afirmou Calvet. “É até quando nós teremos os investimentos vigentes.” Os aportes já anunciados por fabricantes de veículos, superiores a R$ 140 bilhões, continuam a ser aplicados em renovação de portfólio de produtos e novas tecnologias para transição energética, mas não em aumento da capacidade produtiva, pois existe ociosidade agravada com a chegada de montadoras com origem na China. SÓ PRODUÇÃO É BEM-VINDA A vinda de novos competidores não é necessariamente vista com maus olhos, desde que sigam critérios específicos. Sahad foi direto: “Empresas estrangeiras, seja lá de onde forem, que venham para o Brasil, que queiram produzir aqui, utilizando a cadeia de fornecimento brasileira, são sempre bem-vindas. Empresas que queiram vir para cá para importar, fazer CKD, nós repudiamos”. Calvet reforçou a importância da produção local: “Eu defendo a produção no País. Eu sou presidente da associação dos fabricantes, não dos importadores, e neste momento da nossa história o que tem sido visto é um processo robusto de importações sem contrapartida em produção. É contra isto, e não sobre a origem deste capital, que tenho lutado nos últimos meses”. Para as montadoras chinesas o desafio é diferente do que enfrentam em seu mercado doméstico. Na China estas empresas são altamente verticalizadas, com produção própria de componentes e sistemas, devido aos volumes massivos de produção. No Brasil, com escala menor, esta verticalização será inviável, forçando-as a desenvolver fornecedores locais se quiserem produzir sem depender de importações. BATALHA PELOS EX-TARIFÁRIOS Uma frente de atuação do Sindipeças com apoio da Anfavea é a revisão das regras de concessão de ex-tarifários, que praticamente isenta do imposto componentes importados sem similar nacional. Atualmente há mais de 9 mil itens contemplados com esta vantagem fiscal, muitas vezes de forma questionável e sem projetos de produção local. O principal ponto de preocupação é que os ex-tarifários estão sendo concedidos para conjuntos completos de
20 Dezembro 2025 | AutoData EVENTO AUTODATA » CONGRESSO PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS 2026 componentes, mesmo quando apenas alguns itens não têm similar nacional, permitindo que peças que poderiam ser produzidas localmente sejam importadas com benefícios fiscais. “Os ex-tarifários têm de ter um prazo de validade. Alguns foram concedidos há décadas. Que estímulo vai dar para desenvolver um fornecedor local? Zero”, questionou Sahad. O presidente do Sindipeças esteve recentemente no Japão com fabricantes de autopeças de segundo e terceiro níveis de fornecimento [tier 2 e tier 3] com proposta para que se use o Brasil como base de produção para aproveitar a matriz energética limpa, reduzir emissões de carbono e ganhar competitividade para exportação: “Eles não têm de construir e se adaptar às regras do País, à cultura, desenvolver cadeia de clientes. Isso já está lá. Eles têm de levar tecnologia, máquinas, processos e algumas pessoas para gerenciar isto”. Do lado brasileiro as empresas teriam uma subida de nível tecnológico com muito mais rapidez e custo menor: “As montadoras poderão nacionalizar componentes que hoje elas importam e aumentar o índice de localização”. LIDERANÇA EM DESCARBONIZAÇÃO O País leva vantagem mundial por ter maior previsibilidade e facilidade para levar adiante a transição energética automotiva, destacou Calvet: “O Brasil sempre foi visto como um país da imprevisibilidade, da instabilidade. Hoje no mundo, talvez, seja o mais previsível e o mais estável”. Sahad reforçou esta percepção: “O [presidente dos Estados Unidos Donald] Trump começou a mudar todo o regramento para elétricos. Na Europa eles não sabem se continuarão, de fato, só com elétricos, se vão para combustão, se ficam nos híbridos. Uma dúvida total”. O presidente da Anfavea lembrou que o Brasil já tem a menor pegada de carbono do setor automotivo global: “Conseguimos fabricar veículos e autopeças com a menor pegada de carbono. Temos matriz elétrica 90% renovável e matriz energétiBruno Plattek de Araújo, do BNDES Adcley Souza, da Assobens, Mauro Saddi, da Assobrav, Marcelo Cyrino, da Fenabrave, e Márcio Stéfani, de AutoData (da esq. para a dir.)
21 AutoData | Dezembro 2025 ca 50% renovável. Quando vamos para o uso do veículo, seja ele leve ou pesado, o consumo também é menos intensivo em emissões de CO2 do que no resto do mundo, por causa do amplo uso de biocombustíveis”. PIB CRESCE 1,9% EM 2026 A economia brasileira deverá registrar em 2026 mais um ano de crescimento, que só não será maior por causa dos juros altos, possíveis novas tarifas e redução da demanda global, segundo avaliou em sua apresentação o economista chefe da Fiesp, Igor Rocha. A entidade que reúne o setor industrial de São Paulo projeta que o PIB deve subir 1,9% na comparação com 2025, depois de crescer 2,4% este ano, puxado por setores menos sensíveis às altas taxas de juros, principalmente o agronegócio e a indústria extrativa. Mas Rocha já prevê que a estimativa pode ser superada ao longo do ano: “Não é que o PIB brasileiro possa crescer 4% no ano que vem, mas chegar a 2,2% ou 2,3% é totalmente factível”. A taxa de desemprego é um fator que deverá ajudar no crescimento do País em 2026, pois está em 5,6%, menor nível histórico, e deverá seguir neste patamar. Outro ponto destacado foi o bom desempenho da moeda brasileira na comparação com outros países emergentes, sendo a terceira que mais valorizou até setembro de 2025. Para 2026 a expectativa da Fiesp é que o dólar estabilize na casa dos R$ 5,50, enquanto a taxa Selic será cortada a cada reunião do Copom para encerrar o ano em 12,25%, com inflação anual medida pelo IPCA em 4,2%. BNDES AUMENTA RECURSOS AO SETOR Ao mesmo tempo em que se discute o alto custo financeiro da taxa de juros o BNDES voltou a ocupar posição central no financiamento da indústria automotiva brasileira com taxas subsidiadas, consolidando desde 2023 volume de recur-
22 Dezembro 2025 | AutoData EVENTO AUTODATA » CONGRESSO PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS 2026 sos que já supera R$ 10 bilhões, mais do que o dobro dos três anos anteriores. Bruno Plattek de Araújo, gerente do Departamento de Indústrias Intensivas em Tecnologia e Conectividade do banco, apresentou este desempenho durante o congresso. Os investimentos estão fortemente alinhados com a política de neoindustrialização do governo federal. Do valor total aprovado pelo menos R$ 2 bilhões estão destinados especificamente a projetos de modelos híbridos, bem como o desenvolvimento de novos veículos e máquinas agrícolas a etanol. “Estamos muito em contato com as empresas. Além da Volkswagen outras estão fazendo financiamento pelo Programa Mais Inovação para desenvolvimento de tecnologias híbridas, ligadas à descarbonização.” O BNDES lançou chamada para centros de P&D que recebeu mais de R$ 1 bilhão em propostas do setor. Mantém ativo o FNDIT, Fundo Nacional de Desenvolvimento Industrial e Tecnológico, vinculado ao Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, que gerencia cerca de R$ 600 milhões anuais para projetos de P&D automotivo com recursos não reembolsáveis. Também oferece linhas de crédito para a produção de componentes para veículos elétricos, especialmente baterias. “Aprendemos com os principais industriais, com o Sindipeças e com a Anfavea, que o futuro, aqui, passa pelo uso da bioeletrificação. É o carro elétrico que também usa biocombustível.” Já o financiamento de veículos pesados a juros subsidiados via Finame, historicamente um dos grandes atrativos do BNDES que chegou a responder por 70% das vendas, hoje tem penetração limitada com taxas de mercado baseadas na TLP, taxa de longo prazo. CRESCIMENTO MODERADO Embora o efeito direto da redução lenta e gradual da taxa Selic nos financiamentos seja pequeno o efeito psicológico do recuo dos juros atrai novamente o consumidor ao mercado, relatou Mauro Saddi, presidente da Assobrav, que reúne os concessionários Volkswagen. Ele projeta 2,6 milhões de veículos vendidos este ano e 2,7 milhões em 2026. Marcelo Cyrino, vice-presidente da Fenabrave, trouxe dados mais conservadores, revelando que a projeção inicial da entidade de crescimento do mercado em 2025, de 5%, foi revista para 3% e pode terminar em zero a zero. As principais causas desta frustração não são apenas econômicas, mas regulatórias: “A lei do marco das garantias não foi implementada de forma efetiva pelas financeiras e pelos Detran, o que impediu o aumento esperado nas aprovações de crédito”. Ciro Possobom, da Volkswagen Evandro Maggio, da Toyota
23 AutoData | Dezembro 2025 Outro ponto regulatório crítico mencionado por Cyrino é o Renave, Registro Nacional de Veículos em Estoque, obrigatório para seminovos, que hoje não é formalizado em 87% das vendas no Estado de São Paulo, o que cria ambiente propício para a lavagem de dinheiro e fraudes, cujos custos são precificados nos juros. No segmento de caminhões Adcley Souza, presidente da Assobens, dos revendedores Mercedes-Benz, afirmou que existe represamento de demanda nos extrapesados, empresários adiam a renovação de frota devido ao financiamento caro. Já o mercado de ônibus deve sofrer queda de aproximadamente 20% no ano que vem. O mercado de motocicletas foi destacado como um dos mais promissores, caminhando para ultrapassar 2 milhões de unidades. Cyrino lembrou que a moto ocupou espaços antes reservados aos automóveis. O setor é ainda mais sensível ao custo do financiamento, e a implementação do marco das garantias seria especialmente benéfica para as vendas de motocicletas, que têm a pior taxa de aprovação de crédito o mercado: apenas duas a três fichas são aprovadas a cada dez solicitações. VOLKSWAGEN PRODUZ ELETRIFICAÇÃO A resposta da Volkswagen diante da chegada de novos competidores ao mercado brasileiro, especialmente os vindos da China, é avançar e não recuar. Ciro Possobom, CEO da empresa no Brasil, disse durante o evento de AutoData que a empresa resolveu acelerar seus planos de investimento e adotar postura proativa. Esta resposta passa essencialmente pelo fortalecimento da produção local e pela eletrificação da linha de veículos. Atualmente mais de 80% das compras da montadora são realizadas localmente e a empresa pretende manter este nível: “O que eu aprendi como executivo é que tem de ter uma boa base de produção aqui para poder ser sustentável no longo prazo”. A partir de 2026 todo automóvel novo desenvolvido pela Volkswagen no Brasil terá alguma versão eletrificada, seja com tecnologia híbrida-leve, híbrida completa ou outras configurações. Possobom projeta crescimento moderado do mercado em 2026, de 3% a 4%, impulsionado pela esperada redução gradual dos juros no segundo semestre. TOYOTA FOCA NA RECUPERAÇÃO A fábrica da Toyota em Sorocaba, SP, retomará seu ritmo normal de produção até o início de março, segundo Evandro Maggio, presidente da fabricante no Brasil. Após a tormenta que derrubou as coberturas da unidade de motores em Porto Feliz, SP, a empresa passou a importar motores para montar os veículos híbridos Corolla e Corolla Cross, retomando parcialmente a produção desde novembro. Fernando Scatena, da Stellantis Leonardo Aredias (esq.), da Omoda Jaecoo, e Luiz Fernando Guidorzi, da GAC
24 Dezembro 2025 | AutoData EVENTO AUTODATA » CONGRESSO PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS 2026 “Em janeiro voltaremos a produzir os motores flex por aqui, assim como os SSV [de combustão interna]. Hoje os veículos estão sendo equipados com motores de fora. Tivemos ajuda das fábricas do Japão, da Indonésia, da Turquia e da Tailândia para moldar componentes e montar peças que pudessem ser usadas na produção deste motor.” O executivo contou também que fornecedores da Toyota no Japão estão exportando peças para a filial brasileira. A transferência de toda a produção da unidade de Indaiatuba, SP, para Sorocaba, SP, está mantida e o início da produção na nova fábrica ocorrerá no segundo semestre do ano que vem. STELLANTIS JOGA O JOGO CERTO Com R$ 32 bilhões aplicados no Brasil e na Argentina deste ano até 2030, sendo 93% do valor destinado à operação brasileira, a Stellantis realiza seu maior ciclo de investimentos da história na região. Fernando Scatena, CFO do grupo, apresentou a distribuição dos recursos: R$ 14 bilhões em Betim, MG, R$ 13 bilhões em Goiana, PE, R$ 3 bilhões em Porto Real, RJ, e R$ 2 bilhões em Córdoba, Argentina. “Nos últimos seis anos eles [fabricantes com origem na China] deixaram de ser um player irrelevante, com menos de 1% das vendas, para uma fatia de quase 9% do mercado brasileiro. Mas, no mesmo período, a Stellantis também cresceu mais de 9 pontos porcentuais, demonstrando que está jogando o jogo certo.” A revolução da eletrificação já mostra números concretos no Brasil: os carros elétricos e híbridos representam atualmente 13% do mercado. A projeção é ambiciosa: “Até 2030 venderemos mais carros eletrificados do que carros puramente a combustão”. O grupo desenvolveu plano completo de eletrificação adaptado ao mercado brasileiro, com portfólio desde híbridos leves até os totalmente elétricos. Scatena concluiu: “Não tenham dúvidas de que os carros mais acessíveis continuarão a ser relevantes em nosso mercado”. CHINESAS ESTUDAM PRODUÇÃO Recém-chegadas ao País as marcas Omoda Jaecoo, por aqui desde abril, e GAC, desde maio, estimuladas pelo mercado de eletrificados em crescimento, não descartam a produção local. De acordo com Leonardo Aredias, diretor de pós-vendas e atendimento ao cliente da Omoda Jaecoo, “no ano que vem o plano é ter fábrica no Brasil, talvez no segundo semestre. Existem ideias na mesa, não sabemos se será CKD, SKD ou se fábrica própria. O mais importante é o compromisso com a produção local. É um passo natural para nós”. A meta da Omoda Jaecoo é chegar a noventa concessionárias no ano que vem e emplacar 50 mil unidades: “Hoje vendemos média de 1 mil carros por mês, somando 6 mil até o momento e, no ano que vem, a meta é chegar a 2,5 mil por mês. Em 2026 haverá três lançamentos, sendo dois deles de volume”. A GAC, por meio de seu diretor de marketing, Luiz Fernando Guidorzi, vê necessidade de, primeiro, alcançar volume para depois apostar na produção local: “O plano é ter fábrica no Brasil. Quando e se teremos espero que em breve possamos anunciar. Sempre pensaremos o que for melhor para a cadeia”. A GAC vendeu 3 mil carros no Brasil nos últimos três meses e estabeleceu parceRicardo Alouche, da VWCO
25 AutoData | Dezembro 2025 rias com a Unicamp, com a Universidade de Santa Maria e com o Senai para capacitar sua rede e estudar a localização da motorização flex. VWCO PROJETA CRESCIMENTO O mercado de caminhões em 2026 será maior do que as 110 mil unidades que deverão ser vendidas em 2025, apontou Ricardo Alouche, vice-presidente de marketing, vendas e pós-vendas da Volkswagen Caminhões e Ônibus: “Este ano o mercado fechará com queda de 8% na comparação com 2024, mas houve recuperação no segundo semestre e este viés de alta é importante para o ano que vem”. O incremento no ano que vem não será de dois dígitos mas, sim, um crescimento estável e sustentável: “Por causa dos juros altos, as grandes frotas estão adiando a sua renovação, mas isso pode nos ajudar no futuro, pois está se formando uma demanda reprimida e, quando os juros recuarem, tenho a certeza de que o crescimento será bastante intenso”. Atualmente a idade média da frota das grandes empresas está em torno de 9 anos. Sobre o mercado de ônibus, em 2026, Alouche vê cenário diferente das consultorias, que falam em recuo de 20%: “Pelo que sinto em conversas com nossos clientes acho que não vai cair tanto assim. As empresas precisam renovar suas frotas... E deve sair uma nova licitação do programa Caminho da Escola, que trará um volume adicional ao ano”. MOTOCICLETAS EM ALTA A indústria nacional de motocicletas deverá voltar a produzir 2 milhões de unidades em 2026, garantiu Marcos Bento, presidente da Abraciclo. A expectativa é que, ao contrário de 2011, ano que a produção superou a casa das 2 milhões e foi seguido de recuo, um cenário positivo será visto até 2030, com crescimento sustentável que poderá levar ao volume anual de 2,8 milhões. “Esperamos que nossas associadas continuem investindo em tecnologia e aumento de capacidade produtiva para acompanhar a demanda do mercado”, afirmou o dirigente. “Para 2026 entendemos que algumas oportunidades de negócios continuarão à mesa, como o crescimento do uso da motocicleta como ferramenta de trabalho e para diversos tipos de entregas.” As vendas domésticas estão estimadas em 2,1 milhões de motos já em 2025. ARGENTINA SURPREENDE Rodrigo Perez Graziano, recém-empossado presidente da Adefa, que reúne os fabricantes de veículos na Argentina, traçou panorama otimista para a indústria automotiva do país em sua primeira apresentação internacional. Rodrigo Perez Graziano, da Adefa Marcos Bento, da Abraciclo
26 Dezembro 2025 | AutoData EVENTO AUTODATA » CONGRESSO PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS 2026 Enquanto projeções iniciais apontavam para crescimento do mercado argentino de 14% a 15% a realidade se mostrou muito mais favorável, destacou Graziano: “Hoje estamos falando de um mercado de 620 mil a 630 mil unidades. É um crescimento de cerca de 50% com relação ao ano passado”. O desempenho foi impulsionado por medidas concretas do governo, como redução de impostos, normalização das importações, forte retorno do crédito automotivo com taxas menores e maior estabilidade cambial. O presidente da Adefa deixou claro que a competitividade é o principal desafio do setor, e destacou que o governo tem promovido novas tecnologias, permitindo a importação de até 50 mil veículos híbridos, plug-in e elétricos sem tarifas por ano. DESIGUALDADE REGULATÓRIA A presença de produtos com origem na Ásia é uma realidade no setor de autopeças. O que as empresas reclamam é da desigualdade de competição: os produtos que vêm de fora não têm a mesma qualidade do produzido localmente e, muitas vezes, não seguem as mesmas regras regulatórias. Lafaiete Oliveira, diretor geral da operação da Bridgestone no Brasil, e Ricardo Rodrigues, chefe da Aumovio no País, debateram o tema. Segundo Oliveira “os produtos têm de se equivaler tecnicamente para que possam concorrer de forma igual no mercado, os nossos pneus para veículos pesados, por exemplo, são desenvolvidos e produzidos para serem recapados pelo menos duas vezes, como exige a legislação brasileira, mas os pneus asiáticos não suportam nem a primeira recapagem e são vendidos no mercado de reposição sem cumprir esta norma”. Rodrigues concordou: “Toda empresa nova é bem-vinda ao Brasil mas precisamos que eles joguem o mesmo jogo que estamos jogando aqui. Que eles venham produzir localmente, que gerem empregos e sigam as mesmas regras que as empresas locais”. No caso da Bridgestone os efeitos negativos chegaram até a produção local de pneus agrícolas, que está parada atualmente. Além disto o tarifaço aplicado pelos Estados Unidos atingiu os negócios da empresa no País em 2025: “Investimos R$ 2 bilhões no Brasil nos últimos anos para produzir pneus de caminhões em duas fábricas e exportar para os Estados Unidos, porém com a taxação de 50% os pedidos ficaram suspensos. Agora este tipo de item deverá entrar na seção 232 e o imposto a ser pago cairá para 25%, o que ainda é alto, mas permitirá retomar a exportação”. Lafaiete Oliveira (esq.), da Bridgestone, e Ricardo Rodrigues, da Aumovio
27 AutoData | Dezembro 2025 DESAFIOS PARA MOTORES Se 2025 está sendo um ano desafiador 2026 também inspira cuidados para os fabricantes de motores, apesar do planejamento e da necessidade de manterem- -se resilientes. Cristian Malevic, diretor da unidade de negócios de energia e descarbonização da Tupy MWM, ressaltou que diante do cenário de dificuldades econômicas e juros nas alturas as renovações de frota ficam paralisadas e o ramo de peças de reposição cresce: “O custo do capital também torna desafiadora a aprovação de projetos internamente”. Antônio Almeida, diretor de vendas da Cummins, destacou que a exportação para o México e outros países da região se manteve: “No segmento de agricultura vimos recuperação. Apesar de ter sido um ano de altos e baixos, e da queda em caminhões, vemos resiliência nos nossos volumes”. Amauri Parizoto, diretor comercial da FPT Industrial para a América Latina, concordou que o cenário de 2025 foi bastante desafiador no segmento de caminhões, o que trouxe queda de 4% nas vendas: “A perspectiva é manter este nível no quarto trimestre. Não vemos recuperação por ora. E o mesmo vale para máquinas agrícolas”. O ano de 2026 marcará a entrada da Horse em novos mercados e motores a etanol acoplados a propulsores elétricos. Giuliano Eichmann, diretor de operações da fabricante de motores, transmissões e sistemas híbridos que pertence aos grupos Renault, Geely e Aramco, relatou que a empresa trabalha em conjunto com a WEG na evolução do Range Extender, sistema de tração 100% elétrica acoplado a um motor flex que trabalha como gerador de energia. A solução já foi apresentada em um ônibus Volare com capacidade de vinte a trinta ocupantes, a ser lançado no início do ano que vem. O produto é 100% nacional e, segundo Eichmann, tem grandes possibilidades de ser aplicado no País a diversos tipos de veículos. Cristian Malevic (primeiro à esq.), da Tupy MWM, Antônio Almeida, da Cummins, Amauri Parizoto, da FPT, e Giuliano Eichmann, da Horse
28 Movetech é o cérebro tecnológico da Frasle Mobility que posiciona o Brasil no mapa global da engenharia de fricção No universo da mobilidade, poucas empresas genuinamente brasileiras conseguem ostentar um centro de engenharia avançada com atuação global. A Frasle Mobility é uma das exceções — e o Movetech, em especial, desponta como um caso à parte. O que começou há mais de meio século como um setor dedicado à criação de novos produtos tornou-se, ao longo das últimas décadas, o maior polo de engenharia de materiais de fricção do hemisfério sul. Hoje, o Movetech é referência para montadoras, aftermarket e parceiros tecnológicos espalhados pelo mundo. À frente dessa engrenagem está Luciano Matozo, diretor de Engenharia, Inovação e Vendas OEM, que resume o espírito da área: “Movetech é onde transformamos conhecimento em soluções reais para a mobilidade global”. A fala não é exagero. São mais de 160 profissionais altamente especializados, distribuídos entre Brasil, EUA, México, Europa, Índia e China, trabalhando de maneira integrada na criação de novas formulações, componentes e tecnologias. O centro opera a partir de estruturas instaladas junto aos parques fabris espalhados pelo mundo, conectando equipes, laboratórios e processos em uma só malha. Além do Brasil, outros 4 laboratórios compõem o coração técnico do Movetech, equipados com ferramentas avançadas de simulação, testes e análise de materiais. Cada projeto nasce desse ecossistema e segue um fluxo colaborativo com outras áreas da companhia, garantindo agilidade e aplicação prática. A expansão da atuação também redesenha o papel da engenharia na empresa. O que antes era Orgulho brasileiro
29 cadeia. Mais recentemente, adotou a retirada do cobre metálico de pastilhas comerciais — movimento iniciado nos EUA e que deve se tornar padrão internacional. Entre os produtos que materializam essa cultura tecnológica e de inovação, uma vitrine se destaca: a linha Fras-le Ceramaxx, desenvolvida nos laboratórios do Movetech. Trata-se de uma família de pastilhas de cerâmica destinada a veículos que exigem frenagens de alta precisão, com conforto e durabilidade superiores. A tecnologia inclui placa antirruído multicamada, rasgo central para limpeza e plaqueta metálica padrão OEM com pintura eletrostática. São mais de 200 aplicações voltadas a modelos premium — e um exemplo direto de como o conhecimento acumulado se transforma em soluções de alto desempenho. Da criação de materiais à cooperação com o Instituto Hercílio Randon (IHR) e o Centro Tecnológico Randon (CTR), o Movetech reforça sua função estratégica dentro da Frasle Mobility: ser o propulsor de inovação capaz de conectar pesquisa, engenharia e mercado. Um legado de mais de 50 anos, que segue se renovando e ampliando fronteiras. focado exclusivamente em fricção, hoje abrange discos de freio, compósitos estruturais, componentes hidráulicos, polímeros e soluções completas para sistemas automotivos. A proximidade com clientes é outra peça central dessa evolução: o Movetech desenvolve projetos sob medida, fortalecendo parcerias de décadas com as maiores montadoras do mundo. Esse avanço ganha ainda mais peso quando colocado em perspectiva com desafios internacionais. Um exemplo emblemático é o desenvolvimento de soluções voltadas para a futura norma Euro 7, que redefine os limites de emissão e passa, pela primeira vez, a considerar particulados gerados pelos sistemas de freio. Antecipando a demanda, a Frasle Mobility intensificou pesquisas em novas formulações, nanotecnologia e processos sustentáveis. Em 2025, a infraestrutura ganha um reforço crucial: um dinamômetro específico para medição de partículas, instalado em Caxias do Sul, ampliando a capacidade de testar, comprovar e acelerar soluções para o mercado global. O compromisso com sustentabilidade não é novidade para a companhia. Nos anos 1990, muito antes da legislação brasileira proibir o amianto, a empresa já havia eliminado o material de sua
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