AD 341
21 AutoData | Fevereiro 2018 Dn Br/Shutterstock.com O maior imbróglio se concentra nos in- centivos em pesquisa e desenvolvimento, o que, para o dirigente, é algo “fundamental para o Brasil continuar a atrair investimen- tos”. O próprio Megale, entretanto, admite que o adiamento do Rota pode se estender por prazo maior, até para 2019, já em uma nova gestão do governo federal, ainda que reafirme acreditar no prazo atualmente in- formado pela presidência. E deu seu recado: “Todos os países que têm indústria automotiva forte precisam de uma política setorial”. O FLAUTISTA DE HAMELIN Mas, nos bastidores, o desâni- mo é grande. Não bastassem os adiamentos o ano começou com o que se costuma de chamar ducha de água fria – no caso, gelada: o ministro Marcos Pereira, principal articulador do Rota 2030 dentro do governo, pediu para sair logo após as celebrações de réveillon. Em sua car- ta de demissão, ao introduzir lista do que considerou como feitos de seu mandato, afirmou: “Embora não tenha sido possível en- tregar ao País, por fatores alheios à nossa vontade, uma política automotiva compa- tível com a grandeza e a importância desta cadeia produtiva, que emprega 1,6 milhão de pessoas, destaco uma pequena parte das realizações (...)”. Em outro trecho Marcos Pereira es- creveu, quase enigmático: “Popularidade não quer dizer absolutamente nada. (...) Há muitos aí que comovem multidões, mas a exemplo do conto O Flautista de Hamelin , encantam e arrastam milhares para o abismo”. A citação de Pereira ao conto de fadas é muito interessante, em particular porque a história original não é exatamente essa. No texto dos Irmãos Grimm o flautista se apresenta em Hamelin, na Alemanha, lo- cal em polvorosa devido a uma infestação por ratos. Em troca de promessa de bom pagamento usa sua música para hipnotizar os roedores, que o seguem até um rio além dos limites da localidade e morrem afoga- dos. Ao voltar, porém, não recebe nada do valor acordado e, como vingança, usa a flauta para hipnotizar todas as crianças da cidade, que o seguem até uma caverna e nunca mais são vistas. Não saberia o ex-ministro, bispo licen- ciado da Igreja Universal do Reino de Deus, o conteúdo legítimo do conto? Ou saberia e deixou a cargo de cada um que lesse sua carta – que ele mesmo publicou em sua página no Facebook – decidir por conta própria quem seriam os ratos, os habitantes da cidade e as crianças nessa história? O certo é que a saída de Pereira deixou transparecer uma batalha interna no gover- no federal, claramente configurada como a principal responsável pelos constantes adiamentos do Rota 2030: há uma nítida disputa MDIC x Fazenda, e no meio fica o setor automotivo quase que desesperada- mente tentando aparar as arestas. Nas semanas seguintes à saída de
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