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8 » LENTES Junho 2018 | AutoData Arquivo Pessoal O QUE DIZER, ENTÃO? É útil, e principalmente agradável, voltar ao passado para recordar a história, por mais que, como no caso, ela se apresente como ficção – e que ficção! Automóvel, Wheels no original em inglês, obra de Arthur Hailey, é de 1971, e meu exemplar, da décima- quinta edição publicada pela Editora Nova Fronteira, foi comprado em 1984. É razoável situar suas descrições no período de 1968 a 1970. A indústria de veículos, como mais uma vez se comprova, não é de hoje que reconhece as virtudes do futuro, do combate efetivo à poluição do ar gerada pelos motores de combustão interna movidos a combustíveis fósseis até à subquestão dos motores limpos – mas sempre como obra do futuro. Para uma indústria que planeja com década de antecedência a de automóveis adora uma boa procrastinaçãozinha na forma de arrancar o último centavo de lucro possível de cada investimento mesmo que à custa do atraso e de prejuízos para a sociedade. O QUE DIZER, ENTÃO? 2 Acompanhe o excerto de diálogo de dois executivos com um grupo de jornalistas, na página 64: “Com o tempo – interveio Elroy Braithwaite [chefe de Adam Trenton] – acreditamos que terá de haver um progresso nas baterias, com bastante energia armazenada em pequenas dimensões. E o que é mais, há um grande potencial pra veículos elétricos no trânsito do centro da cidade. Mas tomando por base tudo o que sabemos, pode-se prever que isso não vai acontecer antes da década de 80. “E pra quem pensa que carros elétricos hão de impedir a poluição do ar – acrescentou Adam [gerente chefe de planejamento de produto] – existe um fator que muita gente esquece. Seja qual for o tipo de baterias usado, elas precisam ser carregadas de novo. Assim, como centenas de milhares de carros ligados em fontes de eletricidade, vai haver a necessidade de um número muito maior de centrais de energia, cada qual gerando a sua própria poluição do ar. Uma vez que as usinas elétricas são geralmente construídas nos subúrbios, o que vai acontecer é que a gente acaba tirando a neblina das cidades e transferindo-a para lá.” O QUE DIZER, ENTÃO? 3 Em 438 páginas de texto Hailey fala sobre motores a vapor, que era como a indústria da época se referia à idéia da célula de combustível, discute o menor peso e a maior eficiência junto com o baixo custo, acena com veículos híbridos e elétricos. Promete novos materiais, aços mais leves que absorveriam a força de impactos – isto há 47 anos. E também descreve computadores embutidos nos painéis que fazem das frenagens uma ação regenerativa de energia. É, em síntese, uma conversa atualíssima, parece um papo de hoje em dia com qualquer executivo razoavelmente bem informado da indústria de veículos. O QUE DIZER, ENTÃO? 4 E daí? Quase cinquenta anos depois híbridos e elétricos até parecem mais próximos – mas o quanto, afinal, para acesso decente de parte da maior parcela da população brasileira economicamente ativa? Mais: o que dizer, então, dos autônomos?

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