AD 349
8 » LENTES Outubro 2018 | AutoData Colaboraram André Barros, Leandro Alves, Márcio Stéfani, Marcos Rozen OPORTUNISMO Diz, gente do setor automotivo, que o jogo duro do governo argentino com o FMI, encenando resistência a utilizar as ferramentas de, digamos, estabilização econômica vinculadas à concessão do empréstimo para tirar o país da insolvência, é um jogo seu, clássico, que em várias situações prejudicou negociações com o Brasil. Um exemplo recente envolve as tratativas sobre o flex: querem mantê-lo em US$ 1,50 por US$ 1 enquanto a posição brasileira, fruto de acordos anteriores, é rumar para o livre comércio. E também exigem que seja incluída, no projeto definitivo do Rota 2030, linha especial de financiamento para veículos que produzem... lá. OPORTUNISMO 2 Há mais. Para estender o acordo bilateral a Argentina quer incluir, por exemplo, a contabilização dos investimentos realizados, lá, pelas empresas fabricantes de veículos nos critérios de P&D do Rota 2030. Quer, também, que os veículos que produzem disponham de linhas específicas de tomada de dinheiro no... BNDES. Estas exigências florescem à sombra de calote que empresas fabricantes argentinas deram em empresas fabricantes brasileiras e que foi pago pelo sistema SCE, de seguro, criado pelo governo brasileiro, que agora cobra a dívida na Justiça. Lembra, gente do setor automotivo, que no passado o Brasil negociou acordo de cotas de veículos com o México e que a Argentina pediu para si adoção da mesma metodologia no comércio com aquele país depois das negociações brasileiras... concluídas. OPORTUNISMO 3 Essa gente do setor automotivo tem a convicção de que os regimes do Nordeste e do Centro-oeste, pelas suas características de mecanismos de desenvolvimento regional, não deveriam ser incluídos em políticas setoriais. Acredita que incentivos em P&D são fundamentais para não permitir a perda do capital intelectual nessa área, e que o Rota é essencial diante da competição representada por China e Estados Unidos – no Brasil há uma demanda própria que se assemelha à de países de características assemelhadas, como África do Sul e Índia. POR DOZE MESES O presidente Pablo Di Si, da VW, nem sempre esconde o que pensa. Ficou inconformado pela posição atrás da Fiat no resultado das vendas de agosto: “Sou competitivo, não gosto de perder”, ele admitiu. “Os italianos ficaram em segundo lugar, é verdade, mas a que preço? Não vou vender carro a preço de banana”. Di Si disse que houve grande volume de veículos vendidos pela Fiat com generosos descontos: “Fizeram isto um mês, deu certo, mas ninguém tem bolso para fazer isto por doze meses”. COISA DE CRENTE Assessorias de imprensa dos tempos contemporâneos distribuem seus press releases como se fossem partículas de poeira tocadas pelo vento, daquelas que entram pelas frinchas das janelas e se alojam nas dobras dos colarinhos. Como entender que uma dessas envie material sobre obra de nome Lições da Bíblia para o Sucesso no Trabalho: como os Ensinamentos Bíblicos Podem Ajudar Você a Vencer Todos os Desafios Profissionais para uma editora especializada em economia do setor automotivo? Diz o release, imaginem, que os autores “conseguiram extrair o melhor da Bíblia sobre o mundo dos negócios, (...) com dicas para cada semana do ano”. COISA DE CRENTE 2 É fácil entender: essa assessoria de imprensa não tem o menor critério na distribuição dos press releases de seus clientes – para seus donos os clientes são todos iguais. E esta é uma maneira muito irresponsável de tratá-los. Aprendi que cada um merece atendimento específico, e que sua mensagem tem que ser enviada a quem a ela dê valor editorial. Mais ou menos assim: release que tem a bíblia como tema não deveria ser enviado para jornalistas especializados em economia do setor automotivo – principalmente quando essa editora, como AutoData, atende aos princípios da laicidade. Ou seja: essa assessoria, que deve acreditar na inutilidade de seu próprio trabalho, certamente pensa pouco nos seus clientes.
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