371-2020-10
9 AutoData | Outubro 2020 DINHEIRO PAGA TRANSPARÊNCIA 2 Diz a nota, também, querer a companhia “promover o esclarecimento da verdade sobre as violações dos direitos humanos naquela época”. Na prática o acordo evita ações judiciais futuras sobre a amizade da empresa com órgãos de repressão. HiltrudWerner, que integra o conselho de administração da Volkswagen para Integridade e Assuntos Jurídicos, lamenta “as violações que ocorreram no passado”. Da bufunfa toda R$ 16,8 serão destinados à associação dos trabalhadores vitimados pela Volkswagen, a Associação Henrich Plagge, principalmente para ex-trabalhadores e/ou sucessores. DINHEIRO PAGA TRANSPARÊNCIA 3 A Volkswagen reconhece, na nota, corretamente, que “é a primeira empresa estrangeira a enfrentar seu passado de forma transparente durante a ditadura militar no Brasil”. Mas não admite que foi forçada a essa atitude pelo desenvolvimento das audiências do GT 13 da Comissão Nacional da Verdade em São Paulo. Em 2016, recorda a nota, a Volkswagen contratou estudo com o historiador Christopher Kopper, da Universidade de Bielefeld (ver Lentes na edição 336 de AutoData, de agosto de 2017), que “concluiu que houve cooperação dos agentes de segurança da Volkswagen do Brasil e o antigo regime militar, mas não foram encontradas evidências claras de que essa cooperação foi institucionalizada na empresa”. Ou seja: o trabalho identificou a colaboração da empresa com órgãos de repressão da ditadura apenas, e tão somente, no andar de baixo, no nível da segurança industrial, responsabilidade do coronel Rudge, e não conseguiu tornar evidente o envolvimento dos níveis gerencial e de diretoria por não haver encontrado nenhum papel nesse sentido. Também em nota o pessoal da Associação Heinrich Plagge aplaude “acordo inédito com a Volkswagen [que] promove justiça”. Cita de passagem a Comissão da Verdade e ignora o GT 3, âmbito no qual, afinal, suas demandas encontraram eco. Agradece aos integrantes dos ministérios públicos que atuaram no caso e, mais uma vez, admite que “a negociação foi desencadeada para evitar a judicialização do conflito”. DINHEIRO PAGA TRANSPARÊNCIA 4 Essa opinião não é unânime: em nota grupo coordenado por Sebastião Neto, secretário executivo daquele GT 13, Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical da Comissão Nacional da Verdade, 2013-2014, e também coordenador do IIEP, Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas (www.iiepmemoriaoperaria.wordpress.com ), lembra que o Caso Volkswagen tem origem nas audiências da Comissão da Verdade em São Paulo – Rubens Paiva, resgata a lembrança de que o trabalho de pesquisa e de sistematização da legislação internacional sobre o tema foi realizado pelo IIEP e adverte: “O acordo firmado está aquém do que foi negociado nos últimos cinco anos e corre o risco de rebaixar o parâmetro das reparações que serão exigidas em novas iniciativas de responsabilização de empresas que cometeram graves violações de direitos humanos na ditadura”. Também observa que o valor a ser transferido para a Associação Plagge terá o caráter de doação, “como uma benevolência da Volkswagen”. De acordo com esse grupo outra questão pertinente trata da retratação e do pedido de desculpas da empresa à sociedade: “A empresa quer fazer uma retratação rasa e distorcida, em que trabalhará a cumplicidade com a ditadura como desvio de conduta de alguns funcionários e não uma cooperação sistemática e orgânica com a repressão”. FOGUETÓRIO E que grande foguetório, naquela empresa especializada em consórcios da avenida Doutor José Maria Whitaker, na franja da Zona Sul de São Paulo, mais pro fim da quarta-feira, 2 de setembro, saudou a demissão do CEO e de mais alguns chegados! A happy hour da sexta- feira chegou mais cedo e as churrascadas de sábado foram antecipadas.
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NjI0NzM=