372-2020-11
7 AutoData | Novembro 2020 SE A MODA PEGA 1 São historicamente raras manifestações de empresas contra benefícios concedidos a concorrentes, inclusive no setor de veículos. Normalmente as discordâncias, e suas respectivas discussões, ficavam restritas àquela hoje gigantesca mesa de reuniões da diretoria da Anfavea, e raramente chegavam ao mundo dos não iniciados. Vencia a posição quem dispunha de maior apoio, a papelama seguia para arquivo rarefeito, e quem perdia só reclamava ao bispo, em confissão. Pois outro dia, também na última semana de outubro, a Toyota declarou publicamente, por meio de seu site, contrariedade com encaminhamento, e votação, ocorridos no Congresso Nacional, da prorrogação da concessão de benefícios e incentivos federais, por mais cinco anos, a indústrias automotivas localizadas na Região Centro-oeste. Tudo isso em texto assinado por Roberto Matarazzo Braun, seu diretor de Assuntos Governamentais. A mais antiga na região é a Mitsubishi, e a mais jovem a Caoa Montadora. SE A MODA PEGA 2 Trata-se da MP 987/2020, que foi à sanção do presidente da República. Recorda Braun que, “assim, um incentivo que era para durar inicialmente por dez anos já está em vigor há duas décadas e agora, a dois meses do seu término, pode ser novamente estendido por mais cinco anos”. Mais: ele propõe a ideia de que a medida, se sancionada, “afeta diretamente a previsibilidade das empresas localizadas em outras regiões do Brasil, impactando diretamente os investimentos já realizados e afastando os novos”. E vai mais fundo: “Trata-se de um jogo de soma com resultado negativo, uma vez que gera alguns empregos automotivos na região incentivada mas fecha empresas e destrói empregos e renda nas outras regiões do Brasil, comprometendo o presente e o futuro”. SE A MODA PEGA 3 Roberto Matarazzo Braun acredita que “a extensão desse benefício federal é questionável, considerando que o prazo de vigência já teria sido suficiente para a recuperação de investimentos realizados e a extensão do prazo por mais cinco anos dificilmente atrairá novas montadoras, com atração de investimentos e geração de empregos expressivos para a região”. E está convencido de que “o incentivo regional traz um desequilíbrio no cenário de competição na medida em que pode ser utilizado para redução de preços e aumento de volumes de vendas não previstos no plano de negócios original. (...) A falta de previsibilidade traz muitas incertezas para os planos de negócios das empresas. (...) Trata-se de mais um caso de ausência de estabilidade das regras, ou seja, risco regulatório, com repercussão internacional (...)”. SE A MODA PEGA 4 É no último parágrafo que Braun visita fígados alheios: “Hoje a indústria automotiva carece de uma política igualitária para todas as empresas. Entretanto, até o momento, a previsibilidade parece cada vez mais distante. Os ganhos de curto prazo são parciais, e apenas para alguns. Os de longo prazo, no entanto, ficam cada vez mais distantes e prejudicam a todos”. Ele conclui: “A previsibilidade, esta sim, permite a atração de novos investimentos, geração de empregos e renda em longo prazo (...)”. Pergunta que faria a Roberto Matarazzo Braun: no caso “política igualitária para todas as empresas” seria sinônimo com mais palavras de previsibilidade?
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