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15 AutoData | Fevereiro 2021 ramda Europa. Aprópria Stellantis é uma reorganização mundial, não sabemos o que acontecerá. A Ford trará portfólio de maior agregado e nós, como distribui- dores, apoiaremos. A Ford alega que no caso da rede está discutindo individualmente, utilizando o desempenho como umcritério dosmais relevantes. Como a Caoa se encaixará nesse cenário? Correia: Sempre tivemos um desempe- nho muito bom com a Ford. Não conhe - ço os critérios deles, mas acredito que somos um dos maiores distribuidores. Acredito que ficaremos, a Caoa tem todo o Litoral de São Paulo, por exem- plo, somos um player grande. A Caoa nasceu como Ford e vamos continuar a apoiá-los. Os senhores fizeram carreira na Ford, com Camaçari e EcoSport como des- taques. Dava para imaginar que tudo aquilo que ajudaram a construir estaria abandonado agora? Correia: É algo que não se imagina, mas não podemos esquecer que já se pas- saram vinte anos. Nesse tempo todo o mercado muda substancialmente, tudo muda. A velocidade mudou, o modelo de negócios tem que ser outro. Alfonso: Não, mas sempre se entende também que não é uma impossibilida- de. A Ford já tinha fechado fábricas na Austrália e na Europa, e viveu muitos altos e baixos aqui. Eu mesmo entrei na Ford no começo dos anos 80, como estagiário, e logo depois veio uma crise, e já estava preparado para ser mandado embora. Acabei ficando nem sei como. No fim dos anos 80 a Ford estava em colapso aqui, houve a Autolatina, so- breviveu, mas depois quase morreu de novo. Passamos várias e várias vezes pela beira do precipício. Camaçari deu super certo, mas foi um ciclo de dez anos. Quando a empresa é centenária fica mais difícil se renovar, tem que se discutir com a direção, tudo demora... não é uma crítica, é uma realidade, nós passamos por isso. Como gestores sa- bemos que chega um momento em que você se vê diante de uma situação dessas, de tomar uma decisão difícil. As empresas têm que investir bilhões em novas tecnologias, renovar o negócio, o motor a combustão interna está datado e o carro elétrico é totalmente diferente em termos estruturais. Jamais criticaria a decisão da Ford, porque eu já vivi essa situação limite. Às vezes é melhor parar, proteger o nome e a marca, e talvez vol - tar depois, o que não me surpreenderia. Fico triste, é claro, pelos colegas, tem muita gente que conhecemos, que fez carreira junto, é muito dolorido. A comu- nidade no entorno sofre. Correia: Existem ciclos de tecnologia e de mercado, e eles estão cada vez mais curtos. E o Brasil é um dos paí- ses que mais têm marcas produzindo localmente. A indústria sempre foi de- senhada para fábricas de grandes vo- lumes e com desenvolvimento vertical, cada um faz o seu. Nós aqui, na Caoa, chegamos à conclusão de que a nossa fábrica tem que ser de alta complexi- dade com baixo volume por unidade. Hoje fazemos em uma única linha cinco SUVs de três plataformas, e mais dois veículos comerciais na mesma fábrica. É ummodelo de compartilhamento. Ele não está vindo só para o consumidor, ele vem para dentro da indústria também, e não só em termos de desenvolvimen- to e componentes mas em centros de produção também. Com isso se reduz a necessidade de investimento. Era o que Marchionne propunha. Fora disso será difícil sobreviver. Conhecendo Camaçari tão bemquanto os senhores conhecem: trazer uma nova marca para o Brasil, já produzindo ali, não seria uma alternativa interessante? Correia: Toda vez que a Ford dá umpas - so respinga na gente, porque somos um grande distribuidor da marca. Mas não temos nenhuma conversa com eles a esse respeito. De qualquer forma imagi- ne trazer uma marca nova para produzir
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