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27 AutoData | Fevereiro 2021 zir automóveis de passageiros nos Estados Unidos – e no mundo –, concentrando es- forços nos produtos mais rentáveis como pick-ups e SUVs. Sob este prisma é quase óbvio, por- tanto, que a decisão de fechar as fábricas brasileiras foi tomada também com base no fato de que não é de hoje que a Ford vem dedicando seus esforços mundiais para o desenvolvimento, produção e co- mercialização de veículos commuito con- teúdo tecnológico e alto valor agregado. E já que estes veículos não são a es- pecialidade do Brasil e que existe hoje grande capacidade ociosa no mundo, ne- nhuma surpresa, portanto, em parar por aqui e continuar operando na Argentina e no Uruguai, cujas plantas são especia- lizadas justamente neste tipo específico de produto. FUNDO PERDIDO Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford América do Sul e ex-presidente da Anfavea, direto e pragmático, cansou de dizer e avisar, pelo menos desde o início da recessão de 2016/2017, que as monta- doras brasileiras convivem com prejuízo e carregam em razão disso endividamento muito alto, com praticamente todas as matrizes obrigadas a colocar dinheiro no Brasil para equilibrar as contas. Talvez até antecipando o que estava por vir Golfarb sempre foi muito claro nas declarações, como quando afirmou que “esta situação é insustentável. Começa- mos pedindo empréstimos para a matriz com o compromisso de pagar no futuro. Estamos solicitando agora investimentos a fundo perdido e não temos mais como defender isto”. Nunca é demais lembrar que as mon- tadoras deixaram de dar lucro no Brasil no início da década passada, logo após o recorde registrado em 2013. Já se vai longe, portanto, o tempo em que as mar- cas remetiam bilhões de dólares às suas matrizes, ao mesmo tempo em que re- cebiam investimentos muito menores, na casa dos milhões. Para se ter uma visão da situação finan - ceira atual do setor automotivo no Brasil o fluxo negativo das montadoras brasilei - ras já acumulou US$ 24 bilhões na última década, segundo balanço divulgado pela Anfavea. E somente o grupo das quatro mais tradicionais montadoras – FCA, GM, Volkswagen e Ford – tiveram um prejuízo acumulado de mais de R$ 22 bilhões na América do Sul de 2014 a 2017. A Ford, por sinal, foi a marca que amargou maiores perdas nesse período, R$ 11,9 bilhões. Esta situação negativa persistiu ao lon- go dos anos seguintes e, obviamente, foi potencializada pela crise provocada pela Covid-19. As principais consultorias do País estimam que somente em 2020 o prejuízo gerado em razão da parada da produção e da queda das vendas verificada ao longo do ano possa ter ficado em torno de R$ 40 bilhões. DECISÕES GLOBALIZADAS Além do aspecto financeiro negativo quando se analisa a decisão da Ford não se pode deixar de lado tambémo fato de que
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