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6 LENTES Fevereiro 2021 | AutoData Por Vicente Alessi, filho Sugestões, críticas, comentários, ofensas e assemelhados para esta coluna podem ser dirigidos para o e-mail vi@autodata.com.br MAIS UMA HISTÓRIA DAQUELAS A natureza, assim como anjos da guarda, deve, de vez em quando, se manifestar indignada com certos andores que humanos decidem carregar e interferem para evitar a queda. Diria que sob certos aspectos minha observação é, até, recorrente, mas no mês passado a Anfavea escapou de boa: desde o início foi muito discreta com seu eventual interesse em comprar, por meio de processo de importação conjunta e privada, 33 milhões de doses de vacina contra a covid-19. Como a entidade evitou se comprometer publicamente com a operação, como escrito pelo editor André Barros na edição da quarta-feira, 27 de janeiro, da Agência AutoData de Notícias, ficou limpa na encrenca. Mas o assunto ainda renderá histórias, mais daquelas histórias sobre como são feitas as coisas por aqui. Quem levantou a história foi o jornalista Luiz Nassif, da Agência GGN. O governo, via o presidente da República e o seu ministro da Economia, deu o sinal verde para o negócio. MAIS UMA HISTÓRIA DAQUELAS 2 Quem se envolveu no negócio, apresentado a justificativa patriótica de ser o setor privado ajudando o País, foram Paulo Skaf, ainda presidente do sistema Fiesp-Ciesp, e Fábio Spina, da Gerdau. O ponto de contato, conta Nassif, teria sido o “representante comercial da família do presidente”, o filho Flávio, também citado por Lauro Jardim na sua coluna em O Globo. Conta Nassif que “os organizadores conseguiram envolver um sem número de empresas e de organizações sérias. As que perceberam mais cedo a jogada pularam fora. As que se mantiveram terão que se explicar futuramente às autoridades, pois certamente a jogada será alvo de investigações”. A questão toda, ou “o grande mistério em questão”, seria: com quem ficariam os US$ 594 milhões que seriam pagos a mais? A AstraZeneca foi descartada diante de sua negativa, “peremptória”, quanto a ter algum envolvimento com a operação e com a possibilidade de venda de vacinas para o setor privado: os organizadores do negócio pagariam US$ 5 por dose para a empresa farmacêutica e cobrariam US$ 23 das empresas e entidades patrocinadoras. MAIS UMA HISTÓRIA DAQUELAS 3 Mas como isso aconteceria se a AstraZeneca não vende vacina para particulares? Pondera Nassif: “Se não havia a hipótese de a AstraZeneca vender por fora, e se o comunicado de Paulo Guedes e Bolsonaro era taxativo, tanto com relação ao número de doses quanto ao preço, alguém ficaria com a diferença. Se não era a AstraZeneca obviamente seriam os organizadores”. E onde obter as tais 33 milhões de vacinas? E aí surge o fundo Black Rock, dono de 8% de ações da farmacêutica, e a história de que receberia doses de vacinas para ser negociadas como retorno por ter financiado as pesquisas. Quando o escândalo estourou a Black Rock garantiu que não sabia que história era essa. Aparentemente a arquitetura do negócio implicava o desvio das tais 33 milhões de doses da cota do governo com a AstraZeneca, metade indo para o SUS, como doação, e a outra metade sobrando nas mãos privadas. Quem deu o ôuquei governamental para isso tudo: a Controladoria Geral da União e a Advocacia Geral da União.
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