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18 FROM THE TOP » GRUPO DE ECONOMISTAS BRASILEIROS Abril 2021 | AutoData tra é esse: políticas públicas que não são baseadas em evidências falham. A Carta não chegou atrasada, chegou no momento crítico. A Carta aponta que no ritmo atual a vacinação em toda a população bra- sileira levará três anos. Por que o setor produtivo deve apostar nessa saída? Sandra Rios – Minha impressão é a de que passamos boa parte do ano passado achando que a pandemia iria embora por graça e obra do espírito santo, e que não eram necessárias me- didas mais efetivas. Nos atrasamos por causa do negacionismo e por uma falsa ideia de que não estávamos compran- do vacinas porque não havia recursos disponíveis. Isso é algo que procura- mos deixar claro na Carta: havia, sim, no orçamento recursos para compra de vacinas em número suficiente. Hoje em dia é forte o consenso de que a pande- mia não irá embora sem vacinação em massa e que a economia não voltará a crescer enquanto a pandemia não for embora. Portanto, é uma questão crucial. Dado que nos atrasamos, e aqui a Carta também faz menção à nossa diplomacia, que não esteve a serviço de buscar, de tornar mais ágil e aces- sível, a vacinação, nos resta negociar com países que por acaso tenham ex- cedentes de vacina, ou que já estejam avançados no processo, e pressionar para que países produtores também liberem as exportações. É evidente que nesse momento os países buscam dar prioridade ao abastecimento interno, e isso já aconteceu lá no início, com as máscaras e EPIs. Há um espaço impor- tante para a diplomacia, que não pode ter coloração ideológica, para buscar de maneira mais pragmática possível negociações para que tenhamos aces- so a mais vacinas. Segundo a Carta os custos com vaci- nas, R$ 22 bilhões, são “uma pequena fração dos R$ 327 bilhões desembol- sados nos programas de auxílio emer- gencial e manutenção do emprego no ano de 2020”. O Ministério da Economia não teria feito este cálculo? Thomas Conti – Pessoalmente acredi- to, e isso não está citado na Carta, que o próprio governo sistematicamente subestimou a gravidade da questão. No início da pandemia o ministro Paulo Guedes disse que com R$ 5 bilhões resolveria a questão da covid-19, e no fim do ano passado pessoas do minis - tério afirmaram que a pandemia estava acabando e que não haveria segunda onda. Não sei com base em que infor- mações essa perspectiva foi feita, não sei se dialogam com epidemiologis- tas, mas me parece que o problema e os riscos foram subestimados, talvez com base na ideia de que o vírus fosse passar por mágica ou imunidade de rebanho. “ A falta de ação, de retardamento da vacinação pelo governo, causa prejuízos significativos para a economia e para o próprio Estado em termos de arrecadação e de desempenho fiscal.”

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