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9 AutoData | Agosto 2021 Divulgação/Mercedes-Benz SÓ CALMON QUERIA A MICHELIN 3 Claro: a trinca aqui presente também estava muito pouco interessada em dividir o butim, o mercado, com mais uma concorrente, e principalmente quando Calmon não conseguiu esconder que havia incentivos na jogada. Raras vezes nós, jornalistas, acompanhamos um caso similar, quando um ministro de Estado descaradamente apoiava uma empresa privada como o fez Calmon de Sá e um cartel recusava novo sócio, poderoso sócio, de maneira tão pública. SÓ CALMON QUERIA A MICHELIN 4 Dizia Manoel Garcia Filho, diretor da Goodyear e presidente da Anip em 1977, quando o entrevistei pela Folha de S. Paulo em sua edição de 30 de outubro – ele que fora, representando a Vemag, o primeiro presidente da Anfavea por dois mandatos, de 1956 a 1960 –, que o País não requeria nova fábrica de pneus à medida que as associadas da Anip não só atendiam ao mercado interno como ainda exportavam e, em off the record, considerava “absolutamente imorais” os incentivos que o governo pretendia oferecer: “Como baiano Calmon pode até entender de cacau. Mas seguramente jamais viu um pneu na vida”. SÓ CALMON QUERIA A MICHELIN 5 Tudo acabou numa certa pizza, com a Michelin aceitando produzir, por uns tantos anos avante, apenas pneus para caminhões e ônibus e cedendo a primazia do filé às outras. A título de ilustração recorde- se que também a Fiat, já instalada em Betim, MG, desde julho do ano anterior à entrevista, não era apreciada pelas antigas donas do mercado, Ford, General Motors e Volkswagen, que fizeram o diabo para tornar inviável sua vida produtiva no Brasil – mas sempre debaixo dos tais dezoito véus: ninguém, da indústria de veículos, daria a cara a bater, publicamente, arguindo razões contra a livre concorrência.

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