381-2021-09
8 LENTES Setembro 2021 | AutoData DÁ OU DESCE Dizem os conhecedores do universo General Motors, lá e cá, que a nomeação de Santiago Chamorro para cuidar de Brasil e região foi muito bem recebida, por executivos da companhia e funcionários, por concessionários e por fornecedores. Pelos desejos destes todos o novo presidente até já tem êxito garantido porque deixou muitos amigos quando rumou para Detroit em 2013, sucedido exatamente por Carlos Zarlenga. O que esse rol de gente ainda não compreende é a saída de Zarlenga: ficaram todos realmente surpresos. Para tentar compreender a atitude do ex-presidente há uma tese que corre por aí: pela proximidade com a chefona Mary Barra Chamorro chega com todos os poderes e com uma missão explicitíssima: ou dá lucro ou fecha. O DOUTOR Eu o conheci como Carlos Alberto, o doutor Carlos Alberto, médico cirurgião e concessionário Ford na Paraíba, que chegava a São Paulo para assumir a herança forte da Ibirapuera Veículos, cuja concessão, dos cunhados Alencar Burti e Renato Ferrari, a Ford denunciara e suspendera: não os queria mais a seu serviço. E a oferecera justamente para o doutor, que chegava cercado da aureola de vendedor vencedor, uma fera. A área da revenda, e suas instalações, eram de propriedade da dupla com parentesco, e foram muito bem alugadas ao doutor, que tinha outros planos: já vislumbrava muitas mudanças naquele extenso quarteirão da avenida Ibirapuera. Ao longo do tempo o doutor decidiu comprar a área e a dupla ora não concordava com o preço, ora não concordava com a forma de pagamento. O DOUTOR 2 Naquela época, 1991, acredito, Burti e Ferrari viviam vida associativa como presidente da Fenabrave e como líder da Comissão Jurídica da associação – Ferrari fora seu presidente anos antes. Eu era seu diretor superintendente. Exatamente o apego à vida associativa os distanciara da Ibirapuera Veículos pois, aparentemente, a Ford desejava para si a totalidade de suas fidelidades. Ainda detinham a concessão de duas pequenas revendas, caminhões e tratores, no Interior, e uma de motos na Capital. Mas os tempos eram difíceis, bicudos, de instabilidade econômica e inflação de cachorro grande, e sua principal fonte de renda familiar era, sem dúvida, o que recebiam do doutor a título da locação da antiga Ibirapuera. Mas o doutor queria comprar e os dois não se sentiam prontos para a venda, cujos termos não lhes adocicava o bico. O DOUTOR 3 Várias vezes Carlos Alberto os visitou na própria Fenabrave, na rua Itápolis, e foi embora com sinais de desgosto, pois mais uma vez uma reunião considerada definitiva esbarrava em alguma minúcia de última hora e não se fechava o negócio. Foi quando vi o doutor em ação pela primeira vez: simplesmente parou de pagar o aluguel. Alencar e Renato sempre tiveram muito respeito por dinheiro, mas suas famílias não exatamente exerciam vidas modestas, que suas outras atividades estavam longe de cobrir. E o doutor se recusou a conversar com os dois por meses até que, atendendo pedidos de amigos comuns, voltou a sentar-se com eles: a negociação, depois disso, fluiu o suficiente para que o doutor fosse chamado de O Rei da Ibirapuera. Para Burti e para Ferrari foi destinado imenso terreno de esquina, hoje dotado de torre empresarial de sua propriedade e de seus herdeiros. Um final feliz, mas esta já é uma outra história. Por Vicente Alessi, filho Sugestões, críticas, comentários, ofensas e assemelhados para esta coluna podem ser dirigidos para o e-mail vi@autodata.com.br
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NjI0NzM=