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45 AutoData | Fevereiro 2022 da operação. É o item que tem o segundo maior peso no valor da tarifa, só perdendo para mão de obra, ou salários. Ainda segundo a NTU se for compu- tado o custo do reajuste do diesel dos últimos doze meses o impacto sobre o valor médio da tarifa chega a 18,8%, afirma Otávio Cunha, seu presidente executivo: “As empresas não sabem mais como li- dar com esses aumentos recorrentes do diesel, que inevitavelmente terão de ser repassados para as tarifas”. Os incessantes aumentos do diesel já começam a chegar às catracas. Confor- me a NTU quarenta cidades brasileiras já reajustaram o preço das passagens e dezenas estudam os novos valores a serem aplicados durante o primeiro tri- mestre do ano, quando usualmente são renovados os contratos de concessão. A entidade indica que se for mantida a prática adotada na maioria dos municí - pios, de transferir ao passageiro a respon- sabilidade de custear sozinho o transporte coletivo, os reajustes deste ano, alimen- tados pelas altas sistemáticas do diesel, podem resultar em aumento de até 50% na tarifa de cada cidade, equivalente a R$ 2 na média nacional. Para evitar esse reajuste, também se- gundo as contas da NTU, os governos estaduais e municipais teriam de aportar no sistema R$ 1 bilhão 670 milhões por mês. A associação se coloca contra os au- mentos no preço do transporte público, porque, entende, eles afugentam ainda mais os passageiros, reduzindo a deman- da pelo serviço e as receitas do setor, o que aprofunda os prejuízos, pondera Cunha: “As empresas não conseguirão ab- sorver mais esse peso e muito menos o cidadão de baixa renda, que representa o maior usuário de ônibus no Brasil. O resultado será uma nova retração no vo - lume de passageiros”. A associação propõe que o reequi- líbrio econômico-financeiro do setor só será alcançado com um novo marco legal definitivo, que introduza uma nova políti - ca tarifária subsidiada pelos municípios, estados e governo federal, para cobrir o custo do serviço independentemente da tarifa cobrada do passageiro. A associação também propõe a apli- cação de preços diferenciados para os insumos do setor, nos quais se inclui o diesel. APLICATIVOS NA BERLINDA Os igualmente elevados reajustes da gasolina e etanol têm menos influência nos custos do transporte coletivo de pas- sageiros, mas estão afetando diretamente os ganhos dos motoristas de aplicativos, que encontraram em plataformas como Uber e 99 a única alternativa de renda após a perda do emprego formal. Nenhuma das duas maiores platafor- mas de transporte individual se manifesta sobre a situação, mas motoristas relatam que os ganhos caíram até 70%, e não só pelo reajuste dos combustíveis: também houve aumento do porcentual cobrado pelos aplicativos em cada corrida. Com isso muitos estão preferindo de- sistir da atividade e os que ficam aplicam atitudes que implicam o cancelamen- to dos chamados, ao não aceitar ir até pontos de embarque distantes – não há reembolso do trecho de deslocamento até o passageiro. Ao que tudo indica os aumentos dos combustíveis continuarão em 2022 e po- dem até piorar devido a fatores externos e internos. Do lado de fora das fronteiras brasi- leiras a cotação do petróleo pode subir ainda mais caso a Rússia, um dos maiores produtores do mundo, entre em conflito armado com a Ucrânia. No campo doméstico a taxa de câm- bio pode pressionar ainda mais os pre- ços, forçada por instabilidades políticas típicas de um ano eleitoral que promete uma disputa polarizada pela Presidência da República. Tudo isso é combustível para alimentar preços, e custos, cada vez mais altos.

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