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37 AutoData | Março 2022 Dorothea Werneck em 2012 Divulgação/Agência MG “Os níveis de produção eram insupor- táveis. Muitas empresas de autopeças de pequeno porte faliramou foramvendidas”, acrescenta Paulo Butori, conselheiro do Sindipeças e seu presidente a partir de 1994. “Tínhamos o diagnóstico da Booz- -Allen e encontramos na Câmara Setorial espaço para apresentar o que precisáva- mos para poder desenvolver o setor.” Os importados ainda não incomoda- vam os fabricantes locais, pois havia um imposto proibitivo de 85%, que caiu gra- dualmente para níveis ainda protecionistas de 60% em 1991 e de 50% em 1992, dando aos estrangeiros a tímida participação de 4,2% do mercado naquele ano. O PRIMEIRO ACORDO Após o seminário de dois dias em Brasília o setor conseguiu fechar seu pri- nacional de veículos, criando as bases para seu futuro. “Trata-se de saber se queremos, ou não, uma indústria automobilística no País.” Assim Dorothea Werneck, em 25 de março de 1992, abriu os dois dias de trabalhos da Câmara Setorial Automotiva, que desenhou a primeira política industrial direcionada ao setor automotivo desde os anos 50. A então secretária de política econômica do Ministério da Fazenda, mais tarde ministra da Indústria e Comércio, encabeçava a representação do governo no encontro que reuniu em Brasília, DF, sete sindicatos de trabalhadores e treze entidades patronais, incluindo Anfavea e Sindipeças. A indagação da ex-ministra fazia sen- tido. A indústria estava presa em círculo vicioso de alto potencial destrutivo de empresas e empregos. O mercado es- tava limitado por preços muito elevados, inflação fora de controle, falta de finan - ciamento e impostos nos níveis mais altos da história: a participação dos tributos, na época, somando IPI, ICMS e PIS, variava de 34,5% em um carro commotor 1.0 a 44,1% para modelos a gasolina acima de 100 cv. A produção de 1 milhão de unidades, em 1989, havia declinado para 960 mil em 1991, quando o país desceu da nona para a décima-segunda posição no ranking global de produção de veículos – logo atrás da China, na décima-primeira na- quela época. A expectativa de vendas era de apenas 500 mil unidades ao mercado interno em 1992, baixa significativa sobre as 771 mil de 1991. As exportações não pas- savam de 200 mil nos dois últimos anos. “Se continuasse nesse ritmo por mais dois ou três anos a indústria provavelmente acabaria. A prioridade era criar mercado para sustentar o setor, pois naquela época carros eram muito caros, inacessíveis à classe média”, recorda Letícia Costa, sócia diretora da Prada Assessoria e na época consultora da Booz-Allen&Hamilton, que em 1990 elaborou o estudo Estratégia Se- torial para Indústria Automobilística, que serviu de base para as políticas desenha- das na Câmara Setorial.

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