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60 Maio 2022 | AutoData INDÚSTRIA » ÓRFÃOS DA FORD automotivo e queremos atrair uma empresa de automóveis. Mas estamos abertos para buscar quem queira usar total ou parcial- mente a área do complexo de Camaçari. Oferecemos todas as condições como tam- bém a nossa infraestrutura e mão de obra qualificada para os fornecedores sistemistas produzirem peças e componentes para a produção de veículos”. FIM DOS INCENTIVOS Será difícil retomar a produção do polo baiano, especialmente porque hoje não existemmais os incentivos fiscais federais do RegimeNordeste, criado nos anos 1990, que foramdecisivos para atrair a Ford para a Bahia. Durante vinte anos, de 2001 a 2021, a empresa aproveitou descontos tributários que zeravam o IPI dos carros produzidos lá, compensando os custos adicionais lo- gísticos para trazer componentes de for- necedores instalados no Sudeste. Os benefícios foram renovados em2009 e no ano passado novamente prorroga- dos por mais cinco anos, até 2025, mas ainda assim a Ford desistiu da operação. A empresa não quis mais investir no País onde acumulava prejuízos – e desta vez a concessão dos incentivos fiscais tinha como contrapartida o investimento mínimo de 10% dos descontos tributários recebidos. A Ford preferiu fechar a fábrica e colo- cou fim à operação baiana após produzir mais de 3milhões de unidades demodelos como Fiesta, Ka e EcoSport. Segundo o governo da Bahia pagou ao Estado inde- nização de R$ 2,1 bilhões por incentivos estaduais acumulados. PERDA DIFÍCIL DE REPARAR Sem incentivos e com todos os ovos colocados namesma cesta da Ford o polo automotivo de Camaçari desapareceu junto com a empresa-mãe. O fechamento da fábrica provocou o êxodo de todos as 26 fornecedores que operavam dentro da li- nha de montagem, incluindo grandes sis- temistas como DHL, Krupp Automotive, Valeo, Visteon, DowAutomotive, Soldecia, Faurecia e Tenneco, que funcionavam ex- clusivamente para fornecer componentes e serviços para a produção de carros. O presidente do Sindicato dos Meta- lúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim, acom - panhou o desligamento dos 10 mil fun- cionários do Complexo Automotivo Ford, incluindo empregados da fabricante e dos sistemistas. Ele decreta: “É inviável con- seguir um fabricante de automóveis para assumir o lugar da Ford na Bahia: é quase impossível atrair um novo fabricante”. O economista João Paulo Caetano, co- ordenador de contas regionais e finanças públicas da SEI, Superintendência de Estu- dos Econômicos e Sociais da Bahia, destaca que o fim da produção de automóveis em 2021 causou impacto negativo da ordem de R$ 7 bilhões no PIB do Estado. Em 2002, segundo dados da SEI, a Bahia registrou PIB de R$ 58 bilhões. Em 2012, primeiro ano cheio após o início da operação da Ford, a diversificação das atividades econômicas quase triplicou o PIB baiano para R$ 182 bilhões. Em 2021, o valor atingiu a marca de R$ 260 bilhões, isto porque os maiores impactos da retra- ção econômica estadual ainda não foram sentidos, a maioria dos demitidos da Ford e seus fornecedores ainda permanece em Camaçari, gastando suas indenizações no comércio da região. O Estado calcula que deixou de arreca- dar R$ 280 milhões em impostos durante 2021 após o encerramento da produção

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