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63 AutoData | Maio 2022 avam no suporte à produção. Entravam na planta mais de 6 mil pessoas por dia”. Marques, hoje, é o atual presidente do TID-Brasil, Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento. Ele calcula que nos últimos três anos algo em torno de R$ 10 bilhões deixaramde ser movimentados na economia local, valor que inclui a soma de salários, benefícios, impostos e recursos que deixaram de circular no comércio e em serviços da cidade e região: “Isso se reflete no comércio e nos fornecedores: alguns não conseguiram sobreviver, princi- palmente aqueles mais ligados ao negócio de caminhões e com pouca participação em outras montadoras. Isso sem falar nas empresas terceirizadas de serviços que atuavam lá dentro”. DIFICULDADES DE RECOLOCAÇÃO Jaciel Costa, o metalúrgico que inicia este texto lamentando a demolição de todas as instalações da Ford, é um raro exemplo de final feliz dentre os desem - pregados da empresa, mas não sem antes passar cerca de dois anos desempregado, após dois cancelamentos de contratações já acertadas em duas empresas diferen- tes, em março de 2020 e novamente em março de 2021, por causa da pandemia de covid-19. Hoje Costa faz parte do grupo de qui- nhentos trabalhadores demitidos da Ford que conseguiram emprego na vizinha fá- brica de caminhões e ônibus da Merce- des-Benz, de acordo com estatística do sindicato. Em junho do ano passado ele e outros trezentos operários assinaram con- tratos de trabalho temporário na empresa, recentemente renovado por mais um ano. Os demais ex-empregados da Ford, no entanto, ainda batalhampor vagas no setor ou trabalhamemoutras áreas, conta Rafa- el Marques: “Sobroumuita precarização da mão de obra, pois número importante de trabalhadores da Ford está trabalhando na informalidade e com aplicativos de trans- porte e entrega, pelo fato de a pandemia ter agravado a situação do fechamento da fábrica e, consequentemente, ter contri- buído com o empobrecimento da cidade”. “Tive paciência e persistência. Consegui passar por esse período porquemoro com minha mãe emeu irmão. Na Mercedes tra- balho na mesma área, como operador lo- gístico, e meu salário aumentou 30%. Mas nem todo mundo teve a mesma sorte”, pondera Costa. “Teve gente que acabou gastando o dinheiro e não conseguiu se manter na pandemia, e outros tantos não conseguiram se recolocar na área.” Marques não sabe mensurar o impacto na cadeia de suprimentos regional após o fechamento da fábrica da Ford, porque boa parte dos fornecedores não estava no ABC, a montadora tinha fornecedores em várias partes do País e do Exterior: “O Fiesta tinha muitas peças importadas, metade dos componentes vinha de fora, porque também é produzido em outros países e a Ford priorizava o fornecimento global. Na época a logística e o frete marítimo tinham bons preços, o dólar não estava nesse patamar”. Já os caminhões Cargo tinham índice maior de nacionalização, até porque o Bra- sil era o único país onde a Ford produzia a linha, com um sistema modularizado de fornecedores externos. Suas cabines eram estampadas e pintadas em Pouso Alegre, MG, pela Flamma, divisão da Ae- thra que comprou a unidade da Usiminas em 2013. Os motores vinhamda Cummins,

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