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AutoData | Julho 2025 65 fazendo os governantes ouvirem com mais atenção as pressões do setor produtivo. A partir de 1994 o salto das importações de veículos fez crescer os temores e as gritas das mesmas empresas instaladas no Brasil que ainda hoje reclamam da invasão dos veículos chineses, que estariam prejudicando e até ameaçando a continuidade de investimentos e a própria atividade industrial. Esta não é uma chantagem nova ou original da indústria automotiva. O lobby poderoso de empresas ameaçando com a desindustrialização, redução de postos de trabalhos e quetais nos anos 1990 também soube aproveitar bem do câmbio favorável e do imposto de importação reduzido de 35% a 20%, em setembro de 1994. Todos, fabricantes e não fabricantes, importaram dezenas de milhares de veículos, até que o governo resolveu estancar a sangria das reservas internacionais e voltou a elevar substancialmente as tarifas, a partir de 1995, chegando ao ápice de 70% em março daquele ano. Foi quando governo e indústria sentaram para conversar. Para acalmar o setor produtivo o governo acenou com a redução de 90% da tarifa de importação de bens de capital. Além disso o Regime Automotivo autorizava, até 31 de dezembro de 1999, o desconto de 50% do imposto de importação vigente para aqueles que já produziam ou estavam em processo de instalação. A medida fomentou casos concretos de empresas que de fato se instalaram no País, mas houve quem usou o benefício e não concluiu o projeto prometido, como o importador da coreana Asia Motors, que tinha intenção de produzir na Bahia e, neste período, importou quantidade significativa de vans, que entraram no País gozando das isenções, mas jamais foi produzido um veículo nacional da Asia Motors e nem sequer foi iniciada a construção da fábrica – pouco anos depois a empresa foi incorporada pela Kia, do Grupo Hyundai, e nunca se chegou a entendimento para pagar os milhões de reais em impostos devidos pelo não cumprimento do acordo. Há, neste caso Kia, algo realmente incrível: os importadores conseguiram convencer os capas-pretas de Brasília, DF, a agendar a presença do presidente, Fernando Henrique Cardoso, à cerimônia da pedra fundamental, em Camaçari, marcada para um meio-dia de 36 graus C, ao ar livre no meio de dunas. O presidente sofreu: tirou o paletó do terno bege e deixou à mostra suas marcas de suor. Os capas-pretas pareciam baratas fulminadas com Flit. Incentivos extras como redução do IPI, isenção de IOF cambial, crédito presumido de IPI e isenções adicionais atreladas a desempenho exportador formavam o pacote atraente do Regime Automotivo, tanto para o investidor externo como para quem já estava por aqui. Uma das principais contrapartidas para usufruir de tantos benefícios era que as subsidiárias locais das multinacionais Além do pequeno Clio, a Renault trouxe para o Brasil a minivan Scénic, inaugurando um novo segmento no mercado nacional Projeto global, o Fiat Palio foi produzido no Brasil a partir de 1996 e inaugurou a fase dos modelos compactos com design mais arredondado Divulgação/Renault Divulgação/Fiat

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