14 FROM THE TOP » PABLO DI SI Agosto 2025 | AutoData Você trafega bastante no eixo Brasil- -Estados Unidos. Como membro de conselhos administrativos como avalia que as corporações devem agir diante das tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos? Se você reage agora já é tarde demais. Nos conselhos em que eu participo começamos muito antes a conversar sobre diversificar o risco geopolítico. Por exemplo: nos conselhos em que trabalhei nos Estados Unidos, e também na Volkswagen, planejamos reduzir o risco de trazer componentes da China e colocar fornecedores adicionais no México, nos Estados Unidos ou no Canadá. Mas isso leva tempo, demora dois, três anos. Qualquer conselho de administração precisa fazer essas discussões com muito tempo se antecipando às tendências. Todos nós já sabíamos que o senhor Trump, dois, três anos atrás, tinha a possibilidade de ganhar a eleição. Algumas empresas avaliaram que essa probabilidade era muito baixa e não fizeram nada. Outras acreditaram e criaram planos de contingência. O que acontece é que quem não se preparou sofrerá nos próximos três ou quatro anos, porque o Trump está fazendo exatamente o que ele disse, não está surpreendendo ninguém. A América Latina tem experimentado uma invasão de veículos chineses. Trata- -se de falta de competitividade dos produtos feitos no Brasil e na Argentina ou não há como competir com os chineses? Primeiro, a indústria automotiva chinesa evoluiu muito nos últimos dez anos. Eles estão, em alguns produtos, em algumas tecnologias, muito na frente até nos Estados Unidos, em termos tecnológicos, de dirigibilidade, de eficiência. Este é um ponto. O outro é que o Brasil e a Argentina têm uma carga tributária sobre indústria automotiva de 40% a 50%. Então o fabricante nacional paga uma carga tributária que o importador não paga. Mas se todo mundo só importasse veículos não existiria indústria nacional. Qualquer uma das grandes empresas mundiais poderia deixar de produzir no Brasil para importar carros. Aí não haveria empregos, nem consumidores, nem desenvolvimento de tecnologia. Não sou a favor de protecionismo, mas, para fazer uma analogia com o futebol, se vamos jogar no mesmo campo eu não gostaria de ter quinze jogadores de um lado contra onze do outro. Precisamos ter as mesmas regras, não vamos abrir espaço para empurrar 100 mil veículos e continuar a receber navios, pois isso vai acabar com o mercado. É necessário um senso de jogo justo, porque caso contrário todas as montadoras fecharão as fábricas no País e só importarão. É isso que o Brasil quer? Acho que não. “ O carro não é um celular, não é um laptop, pois tem o objetivo de transportar pessoas do ponto A ao B. Se o veículo não cumprir com este seu objetivo básico não adianta ter a melhor tecnologia.”
RkJQdWJsaXNoZXIy NjI0NzM=