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Ano 33 | Setembro 2025 | Edição 425 From the Top Paulo Solti, Stellantis GWM MOSTRA A FÁBRICA E MATA AS DÚVIDAS Cobertura especial de 30 páginas revela como a fabricante chinesa começa a produzir três carros para valer no Brasil RECORDE DE CONCESSIONÁRIAS Elas já são mais de 8 mil no País BOA NOTÍCIA A FORNECEDOR Volkswagen e Iveco vão comprar mais

» ÍNDICE Setembro 2025 | AutoData Setor de distribuição alcança o maior número de marcas de veículos concessionárias da história, com mais de 8 mil revendas abertas no País Fabricante japonesa confirma investimentos de R$ 11,5 bilhões no País que vão quase que dobrar capacidade de produção em Sorocaba General Motors anuncia que montará kits SKD do seu veículo elétrico chinês na unidade de produção da Comexport, em fábrica que foi da Troller/Ford Utilitário fabricado na Argentina sobre a base da picape Hilux começou a ser importado para o mercado brasileiro em versão para passageiros Marca lançou o 208 e o 2008 com sistema de propulsão híbrido leve MHEV da Stellantis, o mesmo que já equipa os Fiat Pulse e Fastback As duas fabricantes premiam os melhores fornecedores com troféus e a informação que as compras de componentes vão crescer este ano Todos os aportes e destinação de recursos em programas anunciados por fabricantes de veículos leves e pesados no País FENABRAVE O MAIOR CONGRESSO TOYOTA NOVA FÁBRICA EM CONSTRUÇÃO CHEVROLET SPARK MONTAGEM NO CEARÁ TOYOTA HIACE NOVA VAN NO BRASIL PEUGEOT DOIS NOVOS HÍBRIDOS FLEX MHEV PRÊMIOS VOLKSWAGEN E IVECO INVESTIMENTOS R$ 119 BILHÕES DE 2022 A 2032 18 22 66 70 74 88 78 8 FROM THE TOP Paulo Solti, vice-presidente de peças e serviços da Stellantis América do Sul, fala dos investimentos e do potencial de sua área. GENTE & NEGÓCIOS Notícias da indústria automotiva e movimentações de executivos pela cobertura da Agência AutoData. 92 6 98 LENTES FIM DE PAPO Os bastidores do setor automotivo. E as cutucadas nos vespeiros que ninguém cutuca. As frases e os números mais relevantes e irrelevantes do mês, escolhidos a dedo pela nossa redação. POER P30 ESTRATÉGIA COMERCIAL A FÁBRICA REDE/ CONCESSIONÁRIOS HAVAL H9 PLANO BRASIL 36 52 42 58 26 48 ESPECIAL GWM NO BRASIL 34 GRUPO ABG 46 ADIENT 72 GERDAU 82 BOSAL 86 FORD Divulgação/GWM

» EDITORIAL AutoData | Setembro 2025 Diretor de Redação Leandro Alves Conselho Editorial Isidore Nahoum, Leandro Alves, Márcio Stéfani, Pedro Stéfani, Vicente Alessi, filho Redação Pedro Kutney, editor Colaboraram nesta edição André Barros, Caio Bednarski, Soraia Abreu Pedrozo Projeto gráfico/ arte Romeu Bassi Neto Fotografia DR/divulgação Capa Foto Divulgação/GWM Comercial e publicidade tel. PABX 11 3202 2727: André Martins, Luiz Giadas e Rosa Damiano Assinaturas/atendimento ao cliente tel. PABX 11 3202 2727 Departamento administrativo e financeiro Isidore Nahoum, conselheiro, Thelma Melkunas, Hidelbrando C de Oliveira, Vanessa Vianna ISN 1415-7756 AutoData é publicação da AutoData Editora e Eventos Ltda., Av. Guido Caloi, 1000, bloco 5, 4º andar, sala 434, 05802-140, Jardim São Luís, São Paulo, SP, Brasil. É proibida a reprodução sem prévia autorização mas permitida a citação desde que identificada a fonte. Jornalista responsável Leandro Alves, MTb 30 411/SP autodata.com.br AutoDataEditora autodata-editora autodataseminarios autodataseminarios Por Pedro Kutney, editor Boas notícias apesar dos problemas Envenenado pelos juros altos do Banco Central independente do governo e vassalo da Faria Lima o mercado doméstico de veículos parou de crescer e será difícil atingir os números projetados no início de 2025. Ainda assim o setor automotivo nacional tem boas notícias a dar, como comprova esta edição de AutoData. Apesar dos problemas causados pelos maiores juros do planeta ao menos por enquanto os investimentos estão mantidos e estão acontecendo, uma vez que a crença compartilhada pelas empresas é de que o Brasil ainda vale a pena. A GWM acredita nisso. Tema da capa desta edição e de cobertura especial de 30 páginas, projeto da fabricante chinesa para se instalar no Brasil demorou cerca de uma década para ser concebido e foi iniciado há apenas três anos, com a compra de uma fábrica desativada que renasceu somente agora, como parte de um vistoso investimento de R$ 10 bilhões no período 2022-2032. E a empresa já começou a produzir dizendo que talvez seja necessário construir outra fábrica para acomodar suas ambições. Neste sentido não é de se estranhar que o número de concessionárias abertas e de marcas à venda no País nunca foi tão grande: são mais de 8 mil revendas autorizadas em operação, em número acrescido, principalmente, pela chegada de fabricantes com origem na China ao mercado brasileiro. A força econômica dilatada do setor de distribuição esteve representada no maior Congresso & Expo Fenabrave já realizado, como demonstra reportagem desta edição. Em outra reportagem também relata confiança no crescimento a Toyota – exatamente na qual o fundador da GWM diz ter se inspirado. Pois a sempre tímida fabricante japonesa está fazendo o maior investimento de sua história de quase 70 anos no Brasil, de R$ 11,5 bilhões até 2030, construindo mais uma fábrica em Sorocaba, SP, onde já opera uma linha de produção. O novo arranjo já está em construção e vai quase que dobrar a capacidade de produção da empresa por aqui. Também há boas notícias para os fornecedores da Volkswagen e da Iveco no Brasil: ambas premiaram as empresas da cadeia de suprimentos e estão aumentando substancialmente seus orçamentos de compras. E por quê? O Brasil ainda parece valer a pena.

6 LENTES Agosto 2025 | AutoData Por Vicente Alessi, filho Sugestões, críticas, comentários, ofensas e assemelhados para esta coluna podem ser dirigidos para o e-mail vi@autodata.com.br VOCÊ SABIA? O crescimento na quantidade de mestres, na vida acadêmica brasileira, é uma das metas já atingidas pelo PNE, Plano Nacional de Educação, instituído em 2024. O ritmo, contudo, é lento, reconhece o presidente da SBPC, a prestigiosa Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento da Ciência, Renato Janine Ribeiro: formava-se 35 mil mestres por ano em 2005 e hoje este número chega a 60 mil. Mesmo assim quem tem mestrado, no Brasil, não ultrapassa o 1% da população de 25 a 34 anos, de acordo com relatório distribuído pela OCDE, Organização para o Desenvolvimento e a Cooperação Econômica. VOCÊ SABIA? No conjunto dos 41 países analisados o Brasil ocupa o modestíssimo trigésimo-nono lugar no item Formação de Mestres e Indonésia e África do Sul fecham o ranking. Na média dos países ricos e emergentes 16% de cidadãos naquela faixa etária são compostos por mestres. Na França o porcentual é 26%, no Reino Unido 17%, na Alemanha 15% e nos Estados Unidos 11%. VOCÊ SABIA? 2 Medido pelo IBGE o PIB do segundo trimestre do ano não cresceu além de 0,4%, sucedendo taxa de 1,3% pesquisada e medida no primeiro trimestre. Com taxa de juros exercida de 15% a economia do País, desta forma, ainda caiu menos do que as melhores expectativas do chamado mercado, que elegeu taxas negativas em suas projeções. No período o setor de serviços cresceu 0,6% e a indústria 0,5%. O agro caiu 0,1%. VOCÊ SABIA? 2 O consumo das famílias cresceu 0,5%, mantendo tendência do trimestre passado, que teve alta de 1%. O consumo do governo andou 0,6% para trás assim como os investimentos, queda de 2,2%, interrompendo ascensão de seis trimestres consecutivos. É SEMPRE BOM SABER 5,6% foi a taxa de desemprego aferida pela PNAD do IBGE referente ao trimestre encerrado em junho, a menor da série histórica, iniciada em 2012. A taxa do trimestre anterior foi 5,8%. Isto significa que no último dia de junho o País mantinha desocupadas 6 milhões 118 mil pessoas, o menor contingente desde o último trimestre de 2013. E o número de ocupados tornou-se novo recorde: 102,4 milhões de brasileiros empregados. É SEMPRE BOM SABER 2 Mais boas notícias sobre emprego: também evoluiu, diante da última pesquisa, a massa salarial paga a trabalhadores, R$ 352,3 bilhões, alta de 6,4% diante do mesmo período do ano anterior. Outro recorde aferido foi o de carteiras profissionais assinadas: 39,1 milhões. Mais: a cidade de São Paulo registrou o menor índice de desemprego desde o início da pesquisa do IBGE, com 5,4% da mão-de-obra ativa em busca de emprego, ou 371 mil pessoas – num universo pouco maior do que 6,5 milhões. Na Capital o salário médio cresceu 1,56% com relação ao aferido no primeiro trimestre do ano, para R$ 5 mil 323.

7 AutoData | Agosto 2025 2025 Prêmio Autodata Imagem meramente ilustrativa. Consulte o representante da sua região para saber mais sobre os modelos e suas con gurações. Desacelere. Seu bem maior é a vida. @marcopolo-sa marcopolo.com.br @marcopolo.s.a A Marcopolo e a Volare são marcas finalistas em diferentes categorias do Prêmio AutoData 2025, uma das premiações mais importantes da indústria automotiva brasileira. Esses reconhecimentos reforçam o nosso compromisso com a inovação sustentável, a descarbonização das cidades e a transformação do futuro da mobilidade. MARCOPOLO E VOLARE ENTRE OS MELHORES DO SETOR AUTOMOTIVO Somos finalistas do Vamos juntos reconhecer as soluções que transformam o futuro da mobilidade? Vote e faça parte desse movimento. Marcopolo: - Cadeia Automotiva Ampliada Volare: - Inovação Tecnológica e ESG - Veículo Ônibus. Concorreremos EM TRÊS CATEGORIAS:

8 FROM THE TOP » PAULO SOLTI, STELLANTIS Setembro 2025 | AutoData O negócio é circular Com passagens em cargos de liderança da Renault, Rede Midas, Volvo Car, Citroën e Grupo PSA, a maior parte dos mais de 27 anos da carreira de Paulo Solti na indústria automotiva foi dedicada à área de pós-vendas. Hoje, como vice-presidente da Stellantis responsável pelas operações de peças e serviços da maior fabricante na América do Sul, as atribuições de Solti vêm se ampliando, agregando negócios para muito além das oficinas das concessionárias. Está sob supervisão sua a incursão da fabricante no vasto mercado independente de reparação e reposição de peças, que no Brasil representa 80% do negócio de aftermarket e gira nada menos do que € 18 bilhões por ano. A ambição da Stellantis de abocanhar parte relevante deste faturamento cresceu com a aquisição da DPaschoal, uma gigante do aftermarket brasileiro da qual Solti também é o CEO e já prepara sua expansão. Em um negócio que Solti diz ser preciso ter uma visão de 360 graus, desde 2021 suas funções também avançaram para operações de economia circular, gerando novas receitas com a reutilização, remanufatura e reciclagem de materiais e componentes, até chegar ao ápice de uma contradição: enquanto a maioria dos executivos de uma montadora trabalha para montar e vender veículos, Solti comanda o processo oposto, para desmontá- -los e fazer disto um negócio rentável, que pode chegar à casa dos bilhões de reais, como ele conta na entrevista a seguir. A área de pós-venda sempre pareceu negligenciada pelos fabricantes de veículos. Hoje o aftermarket ganhou mais importância nos negócios das montadoras? Aftersales e aftermarket têm de ser diferenciados. Historicamente as montadoras sempre olharam para o aftersales [pós-venda], que é tudo aquilo ligado após a compra dos seus produtos, pensando na satisfação do cliente, em oferecer o melhor serviço, para que ele possa ter tranquilidade durante a utilização do seu carro. Na Stellantis também olhamos para o aftermarket, que inclui o aftersales, para oferecer uma boa experiência aos clientes nas nossas redes de oficinas. Com a aquisição da Norauto, na Argentina, e da DPaschoal, no Brasil, além da Eurorepar [já existente em ambos os mercados], nós entramos fortemente no mercado [independente de peças de reposição e reparação]. Ou seja: temos um olhar para toda a cadeia, todo o segmento de aftermarket. Para dar um número hoje o mercado de peças e serviços do Brasil está estimado em € 20 bilhões [por ano], e as montadoras atuam só em 20% do segmento, os 80% restantes são chamados de mercado independente. Por isto olhamos para o potencial desse Entrevista a Pedro Kutney Clique aqui para assistir à versão em videocast desta entrevista

9 AutoData | Setembro 2025 Divulgação/Stellantis

10 FROM THE TOP » PAULO SOLTI, STELLANTIS Setembro 2025 | AutoData tadoras]. Então, pesa, é um segmento importante e central para nós, não só pela experiência do cliente mas como um participante realmente forte deste mercado, que é muito grande no Brasil e na região. Com a aquisição das empresas como DPaschoal, Norauto e a própria Eurorepar – que já estava no grupo – cerca de metade do faturamento [de peças e serviços] vem do mercado independente e outra metade vem do pós-vendas da fabricante e suas marcas. Sua área de liderança está ligada às operações de economia circular da Stellantis, algo que representa grande potencial de geração de renda mas ainda é incipiente. Qual é a situação do Brasil e qual é o potencial desta área? Existem hoje 48 milhões de veículos circulando no Brasil e anualmente 2 milhões deles chegam ao seu fim de vida, seja pela idade ou por algum acidente. É um número importante de carros que poderiam ser reciclados ou ter um destino diferente, mais sustentável. Mas apenas 1,5% disso é destinado corretamente e já corresponde a um mercado potencial de R$ 2 bilhões. Então imagine quanto seria o faturamento se [o porcentual de reciclagem] fosse como no Japão, que é a referência máxima e recicla algo próximo a 90% [dos veículos sucateados]. Então de apenas 1,5% para 50% ou 60% existe potencial de crescimento muito grande deste negócio. Para isto é necessário olhar o ciclo de vida completo do nosso produto, da concepção, produção, até o fim da sua vida, com um destino correto. É algo que será muito importante no Brasil nos próximos anos. “T odas as nossas operações no aftermarket independente representam 50% do faturamento de peças e serviços da Stellantis. Nesse quadro a DPaschoal é importantíssima no nosso negócio, é a operação que tem o maior potencial de crescimento.” negócio e decidimos ser um dos players mais importantes. Hoje a Stellantis já é o maior distribuidor de peças da América Latina. Esta nunca foi a área mais glamorosa da indústria, porque o carro é um bem de desejo, tem glamour, e o pós-venda sempre veio como um complemento de serviço. Qual é a participação porcentual da área de pós-vendas no total dos negócios da Stellantis na América do Sul? E qual é o potencial desta participação que vai aumentar? Depende. Se eu falar para o meu chefe ele sempre vai dizer que é pouco. Se eu falar para os meus colaboradores eu diria sempre que é muito. Não posso divulgar os números precisos, mas nossa área é um forte contribuidor tanto no faturamento quanto na rentabilidade do negócio. Ainda mais agora que somos um grande player no aftermarket, temos acesso ao mercado [de peças e serviços] muito maior do que aqueles 20% [de participação média das mon-

11 AutoData | Setembro 2025 de peças remanufaturadas já olhando para esse mercado. O Centro de Desmontagem Veicular é parte dessa nossa estratégia. Ainda não existe qualquer tipo de incentivo para isto, mas se no futuro existir será um complemento à essa nossa atividade, que como todo negócio tem de ser rentável, tem de funcionar por suas próprias bases e dar resultado. Qual a capacidade do centro de desmontagem? Existem planos para inaugurar novos centros? A capacidade instalada é de 3 mil veículos por ano, em um turno. Podemos ir até 8 mil veículos por ano. Estamos na fase de entrada nesse mercado. Os primeiros três meses foram de organização e montagem do centro, que já começa com uma cadência bem interessante. Os resultados são muito positivos e acreditamos que isso vai escalar rapidamente. A abertura de outros centros em outros locais vai depender muito da evolução do mercado. Não há nada decidido ainda, mas tudo pode mudar em função da evolução do negócio. “ O mercado de peças e serviços do Brasil está estimado em € 20 bilhões [por ano] e as montadoras atuam só em 20% do segmento: os 80% restantes são chamados de mercado independente. Por isto olhamos para o potencial desse negócio e decidimos ser um dos players mais importantes. Hoje a Stellantis já é o maior distribuidor de peças da América Latina.” O Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, lançado pelo governo menos de dois anos atrás, tem metas e incentivos para a reciclabilidade dos veículos vendidos no Brasil. Esses objetivos e estímulos, na sua opinião, são exequíveis e estão adequados para promover o crescimento da cadeia de reciclagem no País? Começamos a olhar para esse mercado bem antes de qualquer discussão governamental. No Brasil as ações de reciclagem de materiais ainda estão começando. O Mover traz algumas ideias e parece estar indo em um bom caminho, mas ainda não tem nada muito concreto. A partir do momento que tiver algo concreto estaremos bem posicionados para fazer o que tem de ser feito. Recentemente a Stellantis inaugurou em Osasco, na Grande São Paulo, o primeiro centro de desmontagem veicular de um fabricante de veículos no Brasil. Quais são os objetivos operacionais e financeiros desta iniciativa? Desde 2021 promovemos ações de economia circular, lançamos uma linha

12 FROM THE TOP » PAULO SOLTI, STELLANTIS Setembro 2025 | AutoData Os veículos que vão para desmontagem são comprados pela Stellantis? Quem pode vender um carro velho para ser desmontado? Quais são os critérios? Basicamente desmontamos carros nossos e comprados do mercado, de todas as marcas. Uma das fontes é a nossa frota, os veículos de engenharia usados em testes. Mas antes definimos se é um carro que pode ser desmontado, se está em condição para isso, se já tem peças definitivas que podem ser retiradas e revendidas. Outra fonte é a compra de veículos sinistrados [acidentados] em leilões de locadoras e outras frotas. Esse segmento gera volume de carros batidos que são base para nossa operação. Mas quem quiser me vender um carro eu posso avaliar e comprar sem problema nenhum se ele estiver regularizado. Eu recebo a oferta e calculo se vale a pena, porque para desmontagem existe um valor máximo a ser pago, a partir disso não é viável economicamente. A questão é que hoje o mercado de usados pode pagar mais do que eu por esse carro. Em outros países existem incentivos à renovação de frota que são um facilitador para pessoas que queiram vender o carro diretamente para reciclagem. Quais são os processos do centro de desmontagem? Internamente brincamos que somos uma desmontadora de carros, é meio antagônico para nós, mas é o que fazemos: desmontamos veículos. Primeiro fazemos testes de algumas partes e funcionalidades, depois descontaminamos o veículo, tirando fluidos e líquidos. Aí ele vai para a linha de desmontagem. Os funcionários são treinados para identificar as peças com segurança e qualidade, dentro do que uma montadora sabe fazer. Cada componente recebe uma classificação, de zero a nove. A peça zero é descartada para reciclagem, enquanto um componente praticamente novo, de um carro com 1 mil quilômetros ou 2 mil quilômetros, pode ser reaproveitado: é etiquetado, identificado e fotografado para ser vendido on-line e em lojas físicas. O cliente que compra pode acessar um QR Code na etiqueta para saber de qual carro a peça veio, qual era a quilometragem e quando foi desmontada. Outras peças “ Brincamos que somos uma desmontadora de carros, [o que ] é meio antagônico para nós, mas é o que fazemos no Centro de Desmontagem Veicular. É um mercado muito grande, que gira perto de R$ 2 bilhões por ano e isto representa só 1,5% da destinação das peças dos veículos em fim de vida. Se multiplicar isso por vinte, trinta ou quarenta vezes, o faturamento chega a R$ 80 bilhões ou R$ 100 bilhões por ano.”

13 AutoData | Setembro 2025

14 FROM THE TOP » PAULO SOLTI, STELLANTIS Setembro 2025 | AutoData são remanufaturadas, como por exemplo uma caixa de direção ou uma bomba d’água. Essas são separadas pelo tempo de utilização e enviadas para um parceiro que faz a remanufatura e coloca na caixa da Circular Autopeças – esse parceiro é auditado, certificado e controlado para produzir a peça exatamente como seria uma nova. É uma peça que vem de um desmonte, mas com a qualidade, atenção e procedência que uma montadora sabe dar. A divisão Circular Autopeças, que está diretamente ligada com a operação de desmontagem de veículos, já tem treze famílias de peças remanufaturadas com garantia da empresa. Como este negócio está evoluindo? Desde 2021, quando começamos com a primeira linha de alternadores remanufaturados, chegamos a treze famílias de componentes que já correspondem a quatrocentos part numbers [referências de peças para diversos veículos] e este número aumenta a cada ano. Adquirimos as peças usadas, fazemos a remanufatura e posicionamos um valor adequado para oferecer ao cliente um produto de qualidade por um bom preço. Porque se não tiver preço, não vende. Mas é uma operação sustentável economicamente que ano-a-ano toma corpo e uma proporção cada vez maior, aumentando sua contribuição para o nosso negócio. Vamos continuar investindo e criando novas referências para atender ao mercado. Qual é o tamanho desse mercado de peças reutilizadas ou remanufaturadas aqui no Brasil? “ Mesmo com o carro elétrico nós vamos continuar reparando, trocando peças, pois ele continua tendo pneus, rodas, amortecedores, para-choque... Em vez de reparar uma bomba d’água será necessário reparar o sistema de arrefecimento das baterias. O que muda é que nós teremos de estar mais treinados, mais habilitados para atender à nova tecnologia.” É um mercado muito grande, que gira perto de R$ 2 bilhões por ano e isto representa só uma fração de 1,5% da destinação das peças dos veículos em fim de vida no País. Então, se a gente multiplicar por dez, ainda vamos destinar só 15%. Ou seja, temos a possibilidade de multiplicar este mercado por vinte, trinta ou quarenta vezes, chegando a R$ 80 bilhões ou R$ 100 bilhões por ano ao longo de um período de tempo. A questão é o quão rápido isso vai acontecer. O importante é que mais e mais os clientes começam a ter um olhar pra esse tipo de produto e pedir para que as empresas deem uma resposta ao que eles querem. Então eu estimo que este negócio vai crescer muito nos próximos anos e estamos prontos para atender à demanda.

15 AutoData | Setembro 2025 paralelo com a DPaschoal. Nós abrimos mais de quinze pontos Eurorepar nos últimos seis meses na Argentina. Vai acontecer esse desenvolvimento também no Chile. Hoje, no Brasil, existem 120 mil reparadores que atendem clientes de todas as marcas, um pequeno pedaço disso são oficinas que têm algum selo. Este é o mercado potencial no qual a Eurorepar tem papel estratégico. O carro elétrico, de fato, requer menos manutenção? Como isso afeta os negócios de pós-vendas? O carro elétrico tem muito menos partes móveis do que um motor a combustão, isto é fato. Mas ele continua tendo pneus, rodas, amortecedores, para-choque... Em vez de reparar uma bomba d’água será necessário reparar o sistema de arrefecimento das baterias. Também haverá trabalho de remanufatura e reciclagem, troca das baterias. Mas acho que é muito cedo para entender o quanto isso pode eventualmente impactar um negócio. Impacta, mas não dá para dizer o quanto isso pode mudar para cima ou para baixo. Até porque, na frota brasileira de 48 milhões de veículos, cerca de 3% são carros elétricos e híbridos. E na Europa, com 300 milhões de veículos, 4% são elétricos e híbridos. Este volume ainda é muito pequeno para causar algum impacto, mudar a natureza do nosso negócio. É certo que mudará, mas será paulatinamente. E nós continuaremos reparando carros, trocando peças. O que muda de fato é que nós teremos de estar mais treinados, mais habilitados para atender à nova tecnologia. Há pouco mais de um ano e meio a Stellantis comprou o controle da DPaschoal, da qual o senhor é o CEO. Trata-se de uma gigante do aftermarket, com 123 oficinas próprias, 120 credenciadas, 28 centros de distribuição de peças, sete recapadores de pneus, dezoito truck centers, uma financeira, centro de treinamento de reparadores e linha de produtos com marca própria. Qual é a participação da DPaschoal nos negócios de aftermarket da Stellantis no Brasil? Todas as nossas operações no aftermarket independente representam 50% do faturamento de peças e serviços da Stellantis. Neste quadro a DPaschoal é importantíssima no nosso negócio, é a operação que tem o maior potencial de crescimento. Já estamos crescendo em diversas áreas. Avançamos bastante na distribuição de peças e na venda de pneus. Há dois anos a DPaschoal vendia poucos pneus pela internet, hoje nós somos o terceiro maior vendedor de pneus via e-commerce do Brasil. O próximo passo é a ampliação da rede, da sua capilaridade. No começo do próximo ano mostraremos qual é o tamanho da nossa ambição para crescer com esta empresa – e ela não é pequena. O senhor também é o CEO da rede de oficinas credenciadas Eurorepar, que foi herdada da PSA pela Stellantis com duzentas oficinas em operação no Brasil, na Argentina e no Chile. Como evolui essa operação? Vai continuar convivendo com a DPaschoal? A Eurorepar é uma iniciativa da época da PSA, de 2017, uma rede de empresas credenciadas. Esta rede já existe e vai continuar sendo desenvolvida em

o SUV mais premiado do país o motor 1.0 turbo mais forte do Brasil(1) novo painel digital de 10” novo openR link de 10.1” com espelhamento sem fio de smartphone 13 sistemas avançados de assistência de direção RENAULT KARDIAN descubra

renault.com.br Renault recomenda (1) afirmação de motor mais forte do Brasil, baseado na unidade Newton metro, com base no Sistema Internacional de Unidade.

18 Setembro 2025 | AutoData MERCADO » DISTRIBUIÇÃO O mercado brasileiro de veículos está longe de seus melhores dias, as vendas avançam a passos lentos, com expansão que não deve passar dos 5% a 6% este ano, mas o País nunca teve tantas concessionárias em operação nem tantas marcas disponíveis: são 8 mil 225 revendas autorizadas, que Por André Barros e Pedro Kutney Recorde de concessionárias com vendas de lado Mercado de veículos avança devagar mas o País nunca teve tantas revendas autorizadas nem tantas marcas disponíveis. Setor de distribuição mostrou seu maior tamanho no 33º Congresso & Expo Fenabrave. geram 370 mil empregos diretos em 951 municípios, representando 58 fabricantes nacionais e importados, somados todos os segmentos – automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, motocicletas, implementos rodoviários e máquinas agrícolas. Apenas no último ano foram abertas 1 mil 125 concessionárias no BraDivulgação/Fenabrave Arcélio Júnior abre o Congresso Fenabrave: recorde de concessionárias no País.

19 AutoData | Setembro 2025 sil, segundo dados da Fenabrave, que representa o setor de distribuição. Na abertura do 33º Congresso & Expo Fenabrave – o maior do setor de distribuição de veículos da América Latina e o segundo maior do mundo – o presidente da entidade, Arcélio Júnior, confirmou que o setor alcançou o maior número de concessionárias abertas de sua história, com faturamento equivalente a 5,8% do PIB nacional. O crescimento foi espelhado pelo tamanho do evento realizado na última semana de agosto, ocupando 25 mil m² no São Paulo Expo com palestras, apresentações e mais de duzentas marcas em exposição – incluindo plataformas digitais de negociação, bancos, fintechs, financeiras de montadoras, seguradoras, empresas de tecnologia e fornecedores de diversos serviços. Foi registrado o recorde de 9 mil visitantes, um aumento de 20% com relação ao evento realizado no ano passado. De acordo com Arcélio Jr a chegada de marcas chinesas – que já se associaram à Fenabrave, como BYD, GWM e GAC – foi a mola propulsora que vem causando a multiplicação de concessionárias de veículos em todo o País. E existem mais empresas interessadas, formando as suas associações de marca, que devem tornar este recorde ainda maior. “Temos atualmente 58 associações de marca no nosso quadro de associados”, afirma o dirigente. “Não fazemos restrições com relação à origem de qualquer marca, o que pedimos apenas é isonomia, para que todos tenham igualdade de competição no mercado.” MERCADO APÁTICO O presidente da Fenabrave reconhece, entretanto, que o mercado brasileiro não cresce na mesma proporção do número de marcas e concessionárias e a que competição está cada vez mais acirrada. Estudos recentes encomendados pela entidade indicam que, se for mantido o ritmo atual de crescimento na casa dos 5% ao ano, o recorde de vendas no País, alcançado em 2012, será igualado apenas em 2032. “Temos um atraso de vinte anos.” Durante seu discurso na abertura do congresso o presidente destacou o trabalho junto ao governo federal para a aprovação do Programa Carro Sustentável, que zerou o IPI e reduziu os preços dos modelos mais baratos do mercado – foram enquadrados carros compactos 1.0 com produção completa no País, emissão de CO2 abaixo de 83 gramas por quilômetro e massa mínima de 80% de materiais recicláveis. Após o lançamento do programa, em meados de julho, houve imediato aumento das vendas dos modelos enquadrados – Fiat Mobi e Argo, Chevrolet Onix, Renault Kwid, Hyundai HB20 e Volkswagen

20 Setembro 2025 | AutoData MERCADO » DISTRIBUIÇÃO Polo –, promovidas também por descontos adicionais aplicados pelos fabricantes. É consenso na Fenabrave que essas vendas ajudarão a reverter a tendência de queda do mercado mas que não devem ser suficientes para superar a dificuldade do encarecimento do crédito e alterar para cima a projeção de crescimento de 5% nos emplacamentos de automóveis e comercias leves este ano. A Fenabrave promete revisar em outubro suas projeções para 2025, com provável redução para as vendas de caminhões e carretas, que vêm aprofundando a retração mês a mês – principalmente por causa dos juros altos e preços baixos das commodities agrícolas –, mas deve acontecer alta maior do que a esperada no segmento de motocicletas, que tende a atingir o recorde de 2 milhões de unidades este ano, enquanto o desempenho os demais segmentos deve ficar estável. DEFESA DA LEI FERRARI A defesa da Lei 6 729/89, também conhecida como Lei Renato Ferrari, que regulamenta o relacionamento das montadoras com suas redes franqueadas de distribuição, parece ser uma unanimidade para concessionários e a maioria dos fabricantes instalados no País. Em seus discursos na abertura do Congresso Fenabrave tanto Arcélio Jr como Igor Calvet, presidente executivo da Anfavea, reforçaram a importância da legislação para o setor. A validade da Lei Ferrari está sendo questionada judicialmente no STF, Supremo Tribunal Federal, por meio da ADPF 1 106, sigla para arguição de descumprimento de preceito fundamental. A ação foi proposta pela PGR, Procuradoria Geral da República, e questiona alguns pontos como a cláusula de exclusividade, que impede uma mesma concessionária de vender veículos zero-quilômetro de mais de uma marca franqueada, e a da exclusividade territorial, que estabelece os limites geográficos máximos para a atuação de uma determinada revenda. Para o presidente da Fenabrave a legislação é atual, dinâmica e necessária para regular o setor, pois “traz segurança jurídica e promove a concorrência sadia, que é benéfica aos consumidores brasileiros”. Calvet seguiu a mesma linha e disse defender a manutenção da Lei Ferrari, que existe há quase quarenta anos. Durante a tramitação da ADPF diversas entidades pediram para ingressar no processo no Supremo como amicus curiae, ou amigos da corte, que têm como objetivo colaborar com informações para ajudar o tribunal a tomar a sua decisão. Segundo Arcélio Jr apenas duas entidades até o momento se posicionaram de forma contrária à Lei Ferrari: Conarem, Conselho Nacional de Retífica de Motores, e Sindirepa Brasil, Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Brasil, ambas as organizações ligadas ao setor oficinas independentes. Em recente manifestação até a PGR mudou sua visão a favor da legislação, de acordo com o presidente da Fenabrave: “Temos Presidência da República, MDIC, AGU, Senado Federal, Câmara dos Deputados com manifestações favoráveis. Acreditamos na análise da Justiça, mas o processo ainda está lá”. A ADPF está sob a relatoria do ministro Édson Fachin e não há previsão de julgamento ou arquivamento. Fachin assumirá, no fim de setembro, a presidência do STF, e deve transferir o processo para outro ministro, o que poderá retardar o julgamento.

21 AutoData | Setembro 2025 O 1º Workshop AutoData & Mirow de Planejamento Estratégico Empresarial reunirá, em um único dia, análises de mercado, experiências de líderes do setor e exercícios práticos para ajudar empresas a antecipar tendências, direcionar investimentos e tomar decisões assertivas em um cenário de rápidas transformações no setor automotivo, marcado pela entrada de novos players, mudanças regulatórias, avanços tecnológicos e novas formas de consumo. AutoData Seminários + Mirow & Co. Informação, estratégia e networking de alto nível para transformar decisões em resultados. WORKSHOP AUTODATA & MIROW PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EMPRESARIAL 7 de outubro | Espaço Cidade Jardim Eventos, São Paulo – SP PROGRAMA 09h00 Welcome coffee e credenciamento 09h30 Abertura oficial 09h45 Perspectivas do setor automotivo 2025-2026 (Márcio Stéfani e Leandro Alves, respectivamente Publisher e Diretor de Redação da AutoData) 10h30 Planejamento estratégico para empresas de médio porte (Nils Tarnow – Mirow) 11h30 Painel: Tendências estratégicas do setor automotivo (Com Philipp Schiemer e Roberto Leoncini, exlíderes da Mercedes-Benz do Brasil - Moderação: Mirow & AutoData) 12h30 Almoço 14h00 Dinâmica: Desafios estratégicos na cadeia automotiva (Atividade em grupos com todos os parcipantes) 15h30 Apresentação e discussão dos resultados práticos da dinâmica (Condução: Mirow) 16h30 Palavras finais dos organizadores e encerramento Vagas limitadas Evento presencial para apenas 100 executivos. Noin90650/shutterstock

22 Setembro 2025 | AutoData INDÚSTRIA » INVESTIMENTO A Toyota apresentou a evolução das obras de sua nova fábrica localizada no mesmo complexo industrial de Sorocaba, SP, inaugurado em 2012. A construção é parte fundamental do ciclo de R$ 11,5 bilhões em investimentos que a companhia está realizando no Brasil. A unidade entrará em operação no segundo semestre de 2026 e substituirá a planta de Indaiatuba, a poucos quilômetros de distância, que será fechada após a transferência da produção do sedã Corolla para a nova linha. Por Márcio Stéfani, de Sorocaba, SP Toyota prepara seu futuro no Brasil Fabricante confirma investimentos e apresenta evolução da construção da nova fábrica que quase dobrará capacidade de produção em Sorocaba A nova fábrica é completa, agrega todas as operações industriais de produção de veículos, e terá operação independente da outra planta bem ao lado, que atualmente produz os Yaris hatch e sedã somente para exportação e o SUV Corolla Cross – e até o fim deste ano produzirá o SUV compacto Yaris Cross. Com a expansão a capacidade do complexo cresce em 100 mil veículos por ano, passando a 260 mil unidades anuais. A decisão de ampliar a produção no Brasil ocorre em momento de transforA nova fábrica da Toyota em Sorocaba: construção bem ao lado da planta já existente, à direita da foto

23 AutoData | Setembro 2025 Evandro Maggio, presidente da Toyota do Brasil, apresenta as obras da nova fábrica: papel estratégico. Nova fábrica terá capacidade de 100 mil unidades/ano com processo produtivo completo: estamparia, funilaria, pintura, montagem final e controle de qualidade. mações no setor automotivo global e nacional, marcado pelo avanço da eletrificação, pela pressão por soluções mais sustentáveis e pela busca por maior competitividade na América Latina. Neste contexto a Toyota, que em 2025 completa 67 anos de presença no País, reafirma com o projeto da nova unidade industrial seu compromisso de longo prazo com o País, consolidando sua base local como um dos principais polos de engenharia e produção da empresa fora do Japão. AVANÇO PRODUTIVO Instalada em um terreno de 400 mil m² dentro do complexo de Sorocaba, dos quais 160 mil m² serão de área construída, a nova fábrica foi projetada para incorporar modernas tecnologias industriais de automação e sustentabilidade. Os pavilhões em construção vão replicar todas as operações da atual unidade, com prédios interligados divididos em cinco áreas: estamparia, funilaria, pintura, montagem final e controle de qualidade. A principal diferença da nova fábrica para a que já está em operação é o nível de modernização tecnológica: a funilaria contará com até 250 robôs de solda, atingindo 95% de automação; a pintura, equipada com trinta robôs, utilizará um sistema inovador sem consumo de água, com filtragem em papelão reciclável que permitirá o reaproveitamento quase total dos resíduos; já na montagem final é dispensado o uso das esteiras tradicionais pois os carros em produção serão transportados por AGVs, Automated Guided Vehicles, autônomos. O projeto prevê a criação de 2 mil empregos diretos, metade deles destinados a mulheres. A nova unidade produzirá o

24 Setembro 2025 | AutoData INDÚSTRIA » INVESTIMENTO sedã Corolla e um novo modelo ainda não revelado, também com versões híbridas flex – até o momento as especulações apontam que será uma picape média- -compacta. A fábrica atual, que também terá a capacidade aumentada de 155 mil para 168 mil unidades/ano – seguirá responsável pela produção Corolla Cross e pelo Yaris Cross, ambos com versões eletrificadas. A engenharia das obras das novas instalações impressiona pela escala. Foram movimentados 2 milhões de metros cúbicos de terra, o equivalente a 2 mil caminhões por dia, durante seis meses. Todo o material foi reaproveitado no próprio terreno, transformando um vale com 16 metros de profundidade em plataforma para a instalação da nova unidade. “Na prática desmontamos um morro e o transportamos para fazer a terraplanagem”, esclarece Márcio Piazzi, gerente de logística da fábrica de Sorocaba e responsável pela construção. A etapa de construção dos novos pavilhões deve ser concluída até o fim deste ano. A instalação dos equipamentos e os treinamentos de operação ocorrerão ao longo do primeiro semestre de 2026, preparando o início da produção no segundo semestre. PAPEL ESTRATÉGICO DA REGIÃO Mais do que ampliar a produção, a nova planta será peça-chave na transição tecnológica da marca. Segundo Evandro Maggio, presidente da Toyota do Brasil, a unidade brasileira terá um papel estratégico cada vez maior de agora em diante no desenvolvimento de soluções que combinem eficiência energética, biocombustíveis e eletrificação: “A tecnologia híbrida flex, por exemplo, concebida localmente, já é vista como potencial plataforma de exportação”. A Toyota reforça sua confiança no potencial da América Latina, mesmo diante de do atual cenário econômico e geopolítico desafiador. Segundo Rafael Chang, CEO da companhia para a América Latina e Caribe, o plano é expandir presença em todos os mercados da região, com produtos que atendam às diferentes demandas dos consumidores. “Nossas fábricas estão operando hoje em três turnos, tanto no Brasil como na Argentina, e queremos ver nossa participação continuar crescendo em todos os países da América Latina onde atuamos. A expectativa é de comercializar cerca de 500 mil veículos neste ano na região, dos quais 400 mil serão fabricados no Brasil e na Argentina”, prevê Chang. “Entendemos que precisamos oferecer todos os tipos de opções para os nossos clientes na região, por isso seguimos com nossa estratégia de híbridos flex e combustão eficiente.” Chang informou também que, no início de 2026, chegará ao mercado brasileiro um novo veículo elétrico da marca, importado. Além do fortalecimento da produção local a montadora também continua apostando na exportação de motores produzidos no Brasil, na fábrica de Porto Feliz, SP, como parte de sua estratégia global. Atualmente a capacidade instalada da planta ultrapassa 200 mil unidades por ano e, somente para os Estados Unidos, a expectativa é embarcar 27 mil motores até o fim de 2025. “Mesmo com o tarifaço mantivemos nossas exportações em linha com o planejado até este momento”, afirmou Chang. Rafael Chang: expectativa de produzir 400 mil veículos por ano no Brasil e na Argentina.

25 AutoData | Setembro 2025 QUEM TEM VIRA FÃ. ECONOMIA, CONFORTO, ROBUSTEZ E CONECTIVIDADE. Tudo para a operação não parar e sua rentabilidade aumentar. Paulo Dias MVP Transportes Alexandre Budel Budel Transportes Adriano Bissoni Grupo Botuverá

Setembro 2025 | AutoData 26 Por Leandro Alves A saga para chegar ao Brasil O roteiro de idas e vindas da GMW para se tornar uma fabricante nacional foi escrito ao longo de mais de uma década Apesar de a Great Wall Motor ser uma empresa genuinamente chinesa, forjada inicialmente com apoio governamental para reproduzir produtos e projetos das fabricantes tradicionais do mercado global, esta chinesa difere, e muito, daquilo que o mundo ocidental recentemente tem acompanhado sobre a invasão dos veículos produzidos na China em vários mercados. Quando se trata da evolução de seus produtos a GMW tem a mesma velocidade e agilidade das compatriotas. Mas o ritmo de tomar decisões é mais cadenciado e parecido com o da indústria global. O seu projeto de internacionalização, que culminou com a chegada ao Brasil, para se tornar a mais nova fabricante nacional, comprova ser um plano de pequenos e bem pensados passos adiante. Engana-se quem imagina que a GWM escolheu o Brasil apenas no início desta década, com a compra da fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis, SP, GWM NO BRASIL » PLANO PASSO A PASSO Divulgação/GWM Alckmin, Lula e o CEO global Mu Feng fazem o acionamento simbólico da produção da GWM no Brasil: ápice de um plano passo a passo.

AutoData | Setembro 2025 27 em 2021. Ainda em 2010 a GWM já tinha interesse firme de fincar raízes na América do Latina, tornando o Brasil sua base produtiva na região. Uma série de fatores corroboraram para esta ideia inicial. Em primeiro lugar o mercado interno brasileiro havia atingido pela primeira vez as 3 milhões de unidades, em 2009, tornando-se mais atrativo. No ano seguinte a GWM abriu seu capital na Bolsa de Valores de Xangai e lançou seu primeiro modelo que não era uma cópia de produtos ocidentais já existentes, o Haval H6. A experiência e o sucesso das exportações para Europa e outros países, inclusive os da América do Sul voltados para o Oceano Pacífico, a partir de 2006, demonstraram para a GMW que havia oportunidades fora do seu quintal, que a esta altura já era o maior mercado do planeta. SEM PRESSA Com as vendas no Brasil atingindo 3,8 milhões de veículos, em 2012, parecia ser o momento certo para desembarcar no País. Mas por causa do expressivo aumento das importações de carros nesta mesma época, para proteger a produção nacional o governo baixou o Inovar-Auto, programa de metas e incentivos à produção nacional que, dentre outras medidas, sobretaxou em 30 pontos porcentuais o IPI dos veículos importados de fora do Mercosul e México, o que tornou inviável o plano da GWM, que queria iniciar sua operação importando da China alguns dos seus modelos. Logo em seguida, de 2015 a 2019, a GWM realizou na Rússia o maior investimento externo da indústria automotiva chinesa, inaugurando ali sua primeira fábrica fora da China. A segunda operação internacional teve início em 2021, na Tailândia. A terceira, este ano, no Brasil. É importante revisitar essa trajetória para compreender como a GWM vem estruturando seus negócios globalmente. O chairman Jack Wei, que assumiu o negócio da família na década de 1990 e transformou a GWM na primeira empresa automotiva chinesa de capital aberto, raciocina como os executivos ocidentais quando precisa tomar uma decisão que envolve outros mercados. Durante o Salão de Xangai, em abril, ele deu exemplos de como as decisões são tomadas considerando a realidade econômica e social de países e regiões. Citou o exemplo da Áustria, que tem pouca atividade da indústria automotiva e, portanto, abriu seu mercado às importações de veículos – algo parecido com o Chile, que já recebe há anos veículos GMW. Já a Austrália, mesmo sem fábricas atualmente, criou regras específicas para a importação que tributam alguns modelos e isentam outros. “Temos de observar com cuidado cada mercado e não há pressa nisso”, diz Wei. “Na África está claro que teremos de construir uma rede de produção integrada para satisfazer aqueles mercados regionais. Quando se chega a um certo volume, não é mais possível exportar da China para outros países. Por isto temos produção na Tailândia para distribuir para aquela região e por isto estamos indo agora para o Brasil.” Segundo Ricardo Bastos, diretor de relações institucionais e governamentais da GWM no Brasil, a empresa demorou uma década estudando, refletindo e acompanhando o crescimento e depois a retração do mercado brasileiro e suas nuances antes de dar o passo seguinte, A fábrica da GWM em Iracemápolis, no Interior paulista: aquisição da planta da Mercedes-Benz, em 2021, foi só o começo de plano desenhado dez anos antes.

Setembro 2025 | AutoData 28 que foi estruturar um projeto para começar a operar no País: “Desde o primeiro momento foi um plano de investimento de longo prazo, de produção nacional. Então a GWM decidiu que era necessário se inserir no Brasil e participar da formulação das políticas públicas. É compreensível que as coisas demorem um tempo para acontecer levando em conta toda essa complexidade”. Bastos, experiente executivo brasileiro que já passou por outras fabricantes do setor – a última foi a Toyota – aborda com tranquilidade e até certa familiaridade os processos decisórios que os chineses da GWM estão tomando com relação ao Brasil. Isto porque, principalmente Jack Wei mas todos os outros executivos da GWM, falam abertamente da referência que a Toyota é para eles. Um exemplo: a Deer, primeira picape feita pela GWM na gestão Jack Wei, reproduziu todas as características da Hilux. A Poer segue a receita até hoje e os métodos de produção e definições estratégicas da Toyota são elogiadas e, em certa medida, utilizadas pela GWM: “Temos modelos 100% elétricos como o Ora, veículos híbridos na linha Haval e também produtos com motores a combustão interna. Assim como a Toyota acreditamos que o cliente tem o poder de escolher, por isto vamos continuar oferecendo todas as opções”, disse Wei no Salão de Xangai. CHINESA COM CÉREBRO BRASILEIRO Em 2021 não duraram muito tempo as especulações em torno da chegada da Great Wall Motor ao Brasil. Em agosto saiu o anúncio sobre a aquisição da fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis, no Interior de São Paulo, um terreno de 1,2 milhão de m2 com galpões e maquinário inclusos na negociação. O valor não foi revelado. Logo em seguida teve início a formação da equipe, e talvez este tenha sido um dos grandes ativos conquistados no início da trajetória no País. O foco foi buscar pessoas com experiência no setor automotivo nacional. Muitos ex-funcionários da Ford passaram a ocupar posições estratégicas, mas também profissionais de outras empresas formaram o núcleo central, que continua dessa forma: Ricardo Bastos, ex-Toyota, o COO Diego Fernandes, ex-Honda, o diretor de marketing de produto André Leite, ex-Ford, o diretor de planejamento e produto Guilherme Teles, outro ex-Ford, e o diretor de produção Márcio Alfonso, ex-CaoaChery e também ex-Ford, são alguns dos muitos exemplos dessa decisão que contribui até agora na construção e posicionamento de marca que tem obtido sucesso no mercado nacional. “Sempre houve atenção muito grande para encontrar as pessoas-chave para nossa organização. Demorou um tempo para estruturar esta equipe. Muitas empresas começam sua história no País faturando veículos, mas nós fomos vender o primeiro carro praticamente um ano e meio depois [do estabelecimento da empresa]”, conta Ricardo Bastos. IDAS E VINDAS Em janeiro de 2022, antes mesmo de iniciar a operação comercial, a GWM anunciou um programa de investimento de mais de R$ 10 bilhões até 2032, dinheiro aportado no Brasil pela matriz. Para o primeiro ciclo, de 2022 a 2025, seriam [ou foram] aplicados R$ 4,4 bilhões para a preparação da produção nacional, ampliando a capacidade da fábrica de 20 mil para 50 mil unidades por ano, além Alckmin e o chairman Jack Wei encaminham negócios: inspiração na Toyota e agilidade chinesa para internacionalizar a GWM. GWM NO BRASIL » PLANO PASSO A PASSO

AutoData | Setembro 2025 29 Powercoat é destaque e recebe prêmio The One de melhor fornecedor Pós Venda da VW do Brasil. (31) 3592.7402 | (31) 3592.7276 comercial@powercoat.com.br www.powercoat.com.br (11) 91145.2350 POWERCOAT INICIA PRODUÇÃO EM LOUVEIRA | SP Nova planta integra projeto de expansão do Grupo Powercoat

Setembro 2025 | AutoData 30 do desenvolvimento de toda a estrutura comercial para a chegada dos primeiros modelos importados. No início da operação comercial dava a impressão de que a característica chinesa de acelerar os negócios tinha sido acionada e estava sendo imprimida no Brasil. Mas só em 2023, após uma meticulosa adaptação dos veículos ao gosto nacional e estabelecimento da rede de concessionárias, começaram as vendas do SUV Haval H6, importado em três versões com preços competitivos para modelos dotados da tecnologia híbrida plug-in com grande autonomia elétrica, de 170 quilômetros, e ainda mais, com preços fixos em todo o território nacional. Pouco antes disto, no fim de 2022, a GWM anunciou que seu primeiro veículo feito aqui seria uma picape híbrida Poer, a ser montada a partir de 2024. Coube ao vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, apresentar dentro do que ainda era apenas um galpão vazio o que seria o primeiro GWM nacional, a picape Poer híbrida, afirmando que em 1º de maio de 2024 teria início a produção nacional, com a contratação de 2 mil funcionários. Em menos de um ano a GWM desenvolveria a tecnologia híbrido flex para dois modelos nacionais: a Poer e um SUV da grife Tank ainda inédito. James Yang, presidente da GWM para as Américas à época disse que “esta picape híbrida flex será a nossa primeira contribuição para a reindustrialização que o Brasil almeja. Queremos substituir nossos veículos importados por modelos fabricados aqui”. De abril a setembro de 2023, além das três versões do Haval H6, a GWM importou o Ora, veículo 100% elétrico de entrada, vendido por R$ 150 mil. Com este portfólio a empresa vendeu mais de 5 mil unidades no País, consolidando o H6 como o líder dos SUVs híbridos. Mas o plano não seguiu o roteiro original e a GWM mudou sua estratégia de localização. As discussões em torno do Programa Mover e à medida em que os negócios iam se desenvolvendo a fabricante chinesa percebeu que havia melhores oportunidades não apenas no Brasil mas também na região. O sucesso do Haval – por causa das suas qualidades e, também, porque o segmento estava carente de competidores com a mesma combinação de preço e tecnologia – foi um dos sinais de que era preciso repensar os planos. Além disso, ao longo de 2023, havia o avanço nas discussões sobre o Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, principalmente no capítulo dos benefícios em produzir desenvolvendo novas tecnologias de propulsão no Brasil, como recorda Ricardo Bastos, naquele momento já envolvido diretamente no grupo empresarial que participou das negociações com o governo: “Os sistemas de bonificaRicardo Bastos: “Atenção muito grande para encontrar as pessoaschave para nossa organização”. Linha de produção em Iracemápolis: Brasil poderá ser o segundo maior fabricante de veículos GWM do mundo.

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