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71 AutoData | Outubro 2025 SEM DESASTRE À VISTA Para Luís Gambim, diretor comercial da DAF Caminhões, o mercado brasileiro deve manter o ritmo lento em 2026, ainda sob o peso dos juros altos, instabilidade política e tarifas externas: “Hoje o cliente se depara com financiamentos a taxas que podem superar 20% ao ano. Isso trava decisões de renovação de frota”. Mesmo assim Gambim enxerga nichos de oportunidade, como o segmento de semipesados, sustentado pela construção civil e pelo e-commerce: “É um segmento que vem crescendo e no qual vamos ampliar a oferta nos próximos anos”. A DAF, porém, cresceu apenas 2,9% neste mercado, contra 9% da média do setor, por ainda não oferecer modelos em todas as configurações. Já no segmento de pesados, ligado ao agronegócio e à exportação de commodities, as vendas da fábrica de Ponta Grossa, PR, recuaram quase 20% em 2025, devido à queda nos preços de soja, milho, açúcar e algodão. Divulgação/Volvo “ A queda da Selic é um ponto fundamental porque melhora as condições de financiamento.” Alcides Cavalcanti, Volvo O impacto do tarifaço dos Estados Unidos, que elevou tarifas sobre produtos como café, aço, placas solares e autopeças em até 50%, também reduziu a demanda por caminhões no Brasil, pois os exportadores destes produtos sofrem com redução de receitas. No segmento de pesados a DAF caiu 18,5% em 2025, contra recuo de 19,4% do mercado, mostrando alguma resiliência: “A fábrica de Ponta Grossa opera com cerca de 30% de ociosidade, administrável e sem risco de cortes de pessoal. O mercado anda de lado mas não é desastroso. Já enfrentamos momentos piores, como em 2015, quando mal superamos 50 mil unidades. Não há sinais de piora, mas também não há gatilhos claros para uma virada. O Brasil é volátil: tudo pode mudar com velocidade”. AMBIENTE DE INCERTEZAS Para 2026 Alcides Cavalcanti, diretor- -executivo da Volvo Caminhões, enxerga um cenário de oportunidades, mas também de riscos: O ano pode representar um ponto de virada para o mercado de caminhões, embora ainda cercado de incertezas. A queda esperada da taxa de juros surge como principal fator de estímulo à renovação de frota e a novos investimentos. “A queda da Selic é um ponto fundamental porque melhora as condições de financiamento”, afirma o executivo. Ele acrescenta que, em ano de eleições presidenciais, historicamente há aumento de investimentos públicos em obras e infraestrutura, o que também tende a beneficiar o setor de transportes. Apesar dos possíveis estímulos Cavalcanti alerta que o agronegócio ainda atravessa momento delicado, com exportadores altamente endividados e as transportadoras ainda pressionadas pelos fretes baixos. A pergunta que paira sobre o setor é a mesma que origina o título desta reportagem: em marcha lenta até quando? A resposta passa pelo crédito, pela confiança e pela previsibilidade.

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