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35 AutoData | Outubro 2019 a predisposição de dançar conforme a música, seja ela lá qual for. Adota-se, em síntese, uma projeção como parâmetro básico mas mantém-se a máquina pronta para acelerar ou reduzir o ritmo caso a realidade assim o torne necessário. Postura por certo mais do que justifi- cada à medida que os executivos de pra- ticamente todas as montadoras, sejam de automóveis ou de veículos comerciais, garantem ter boas e concretas razões para considerar que sua empresa, emparticular, crescerá acima média do mercado – qual- quer que venha a ser. E, assim, tomará para si parte da fatia hoje dominada pelas concorrentes. “Este ano estamos crescendo acima do mercado”, diz, por exemplo, Antonio Filosa, CEO da FCA. “E queremos continuar desta forma no ano que vem.” Outra característica importante des- te período: tanto os otimistas quanto os pessimistas, e também os que ficam no meio do caminho, que são a maioria, com projeção de crescimento na faixa de 5 a 7 pontos porcentuais, apresentam, dessa vez, sólidas e concretas razões para de- fender seus respectivos pontos de vista. Da mesma forma, aliás, que todos aqueles que garantemque crescerãomais do que a concorrência. Todos tiram da manga polpudos leques de programas de lançamento. E alguns até puxam do bolso do colete razoável expansão da rede de concessionários. Afinal, conforme define MárcioAlfonso, presidente da Caoa Chery, “não há como aumentar a oferta se o raio de ação no mercado for limitado”. É obvio que tão diferentes realidades separadas por até dez pontos porcentuais não têm como ocorrer ao mesmo tempo em ummesmo lugar. Mas é inegável que, apoiados em tão sólidos argumentos, to- dos, desta vez, podem efetivamente ter razão na visão de futuro que agora pro- jetam para o próximo ano. Omais curioso é que tanto os mais oti- mistas quanto os mais pessimistas partem, a rigor, de ummesmo quadro macroeco- nômico para o próximo ano: crescimento do PIB em torno de 2%, inflação na faixa de 4% a 5%, dólar de R$ 3,80 a R$ 3,90 e Selic de 4% a 6%, na dependência da maior ou menor pressão inflacionária. Tudo isto resultando na continuidade de alguma retomada do nível de emprego formal e da ocupação remunerada informal. Todos tambémgarantem acreditar que as reformas da Previdência, tributária e fiscal serão levadas adiante. Da mesma forma que o programa de privatização, sobretudo na área de infraestrutura. O que diferencia as projeções feitas a partir deste mesmo quadro básico são as apostas no que se refere à velocidade e à profundidade com as quais estas mu- danças se darão. As turras que hoje marcam as relações dos três poderes da República justificam tais preocupações. Vale lembrar que a reforma da Previdência, a mais adiantada, era esperada para o primeiro trimestre deste ano, logo no início do atual governo, e viu setembro chegar ainda sem nada acontecer. Demanda reprimida Este prazo das reformas faz, de fato, toda diferença: há consenso de que a cri- se que nos primeiros anos desta década derrubou as vendas do setor quase que pela metade – ou em até 70% no caso dos veículos comerciais – deixou como herança considerável demanda reprimida pronta para explodir a qualquer momento. Demanda reprimida que mesmo de- pois de dois anos seguidos de crescimento na faixa de 10% está longe de ser equa- cionada: o total a ser comercializado este ano, próximo de 2,8 milhões de unidades, ainda será o equivalente ao registrado em 2008. Assim há nada menos do que uma década a capacidade ociosa da maior par- te das montadoras ainda permanece em pelo menos 30%. E há que se considerar também que neste ano emparticular, conforme ressalta Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford, o crescimento registrado, ao menos no que se refere a automóveis e comerciais leves, deveu-se não às vendas no varejo, que

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