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25 AutoData | Fevereiro 2020 Esse paralelo com a indústria eletro- eletrônica, em especial a de celulares, é ideal para entender o quão rápido será o movimento de queda no preço dos carros elétricos, entende Di Si: “E quando isso acontecer vamos exportar nossos veícu- los a combustão interna para quem?”, ele pergunta. Ou seja: ele entende que o momento de equivalência de preços de veículos a combustão versus elétricos se dará bem antes do que se imagina e que, quando isso ocorrer, os mercados ao redor do mundo que eventualmente o Brasil terá como clientes de seus veículos a com- bustão darão preferência aos elétricos produzidos em outros lugares. RotA 40 O que Di Si sugere, com base neste raciocínio, é uma “visão estratégica” que abarque não só o setor automotivo como outros congêneres a exemplo de energia, agronegócio, a sociedade em geral e, cla- ro, as esferas governamentais. Ele exempli ca sua sugestão com o ex: “Foi um desenvolvimento conjunto e padronizado que buscou benefícios ao País. Todas as montadoras utilizam a mes- ma tecnologia, não existe a marca A que tem ex a etanol de cana, a B com ex a etanol de milho, a C a óleo de amendoim, a D a suco de laranja”. Para ele “se cada empresa buscar seu próprio caminho será o m”. Como o Rota 2030 não contempla esse tipo de desen- volvimento tecnológico conjunto, mas sim individual por empresa, o programa não pode ser visto como o estimulador ideal para a busca desta visão estratégica, ainda que Di Si o considere como um “primeiro passo”. Mas, diz, “já precisamos agora de um Rota 2040, 2050”. Ele admite que “o assunto hoje não está na pauta” e que “por uma questão cultural de uma forma geral as pessoas pensam muito apenas no curto prazo”. Mas nem por isso deixa de ser otimista: “É possível fazer. Todo mundo entende que haverá uma mudança radical na indústria automotiva”. O chamado de Di Si encontra rever- beração. Leonardo Cabral e Roberto Fer- reira, sócios do escritório brasileiro da McKinsey&Company, consultoria global com atuação em 130 cidades de 65 países, dizem concordar “plenamente” com o ra - ciocínio do executivo, ainda que elenquem ressalvas em alguns pontos. Ferreira diz que agora “está aberta uma janela de oportunidades” para manter o País atrativo a novos investimentos do setor automotivo em desenvolvimento e avanço tecnológico, e que essa janela não permanecerá assim para sempre. Ele pondera que “a indústria automotiva não vai deixar de existir no País, mas vai mudar bastante de cara”. Para o consultor ummercado interno de 5 milhões de uni- dades sempre será relevante em termos de escala, mesmo que representando te- óricos 5% do total global se este chegar a 100 milhões de unidades/ano. “O Brasil tem características impor- tantes, como logística complicada e uma certa distância geográ ca de outros gran - des mercados mundiais produtores de veículos. Nunca irá importar tudo o que vai consumir.” Ele alerta, porém, para o risco de nos- sas fábricas se tornarem efetivamente apenas montadoras, com pouquíssimo índice de conteúdo local. Cabral acrescenta que “questões téc- nicas impedem nossa frota de se tornar totalmente elétrica, e por temas que vão para além da indústria, como regulatórios e de infraestrutura”. E difere de Di Si no prazo, acreditando que “ainda vai levar muito tempo, dez anos pelo menos, para que os elétricos tenham papel relevante emnossomercado. Haverá umperíodo de transição com forte presença dos híbridos”. E assim o será em países com caracterís- ticas similares ao nosso, acredita. Os consultores também concordam quanto à dificuldade de unir todos os vários participantes e interessados em busca dessa visão estratégica comum, mas aproveitam a chance para sugerir um caminho: “Imposto zero para investimento é o melhor estímulo para gerar renda”.

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