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6 LENTES Julho 2020 | AutoData DOIS REQUERIMENTOS O que fazer se vier a desglobalização?, ouvi outro dia de jovem colega jornalista. Esta é, sim, uma discussão instigante a envolver pessoas ligadas ao setor da produção e venda e manutenção de veículos. Mas há outra pergunta, que me martela a mente: conseguiremos nos manter apesar de nossa reconhecida e indomável falta de competitividade? Em tempos de pandemia, que favorecem leituras e trocas de ideias, que permitem a re exão, talvez fosse hora de consultar os santos e veri car se a estrutura de política econômica do País ampara a existência da indústria de veículos como a conhecemos. Acredito que sucessivas décadas na condição de país do futuro desa aram outros deuses, que ignoram a língua portuguesa, nossos usos e nossos costumes, a alterar uma dinâmica que considerávamos perene: a do país do futuro com um mercado apetitoso e de custos baixos, a começar pelos salários. Há décadas ignoramos pelo menos duas indicações claras das empresas que têm tido o hábito de investir aqui: simpli cação e realismo tributário e infraestrutura decente. Por Vicente Alessi, lho Sugestões, críticas, comentários, ofensas e assemelhados para esta coluna podem ser dirigidos para o e-mail vi@autodata.com.br StockFreedom DOIS REQUERIMENTOS 2 Sucessivos governos não demonstram nenhum interesse especial em desmontar sistemas que parecem herdados do Império. Ou da Primeira República. Parece que se dão melhor no reino da penumbra, no meio- escuro. Mesmo assim há quem ouse sonhar com veículos autônomos como se estivesse na Bélgica, digamos, e que nossa parcela Índia não existisse, casse nas franjas da República. Mas nossa parcela Índia é exatamente aquela que permite, por exemplo, a barafunda tributária e o caos tomar posse, pouco a pouco, da infraestrutura – e que, no nosso meio, a palavra competitividade tenha o sentido de um palavrão. Se é que o mundo mudou – não tanto quanto muitos acreditam mas só um pouco – é preciso ir mais fundo no estudo das consequências que nos legam os novos tempos e de nir o que o País quer. Isso é papel das lideranças.

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