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15 AutoData | Março 2021 A GM anunciou recentemente que até 2035 encerrará a produção de veículos a combustão no mundo. O que senhor pensa disso? A GM tem hoje 34 produtos em oferta nos Estados Unidos, considerando todas as marcas, e não se consegue converter todos esses programas de gasolina para elétrico em cinco anos. Não há como. É muito trabalho, muita engenharia, muita mudança envolvida. Ou seja: é preciso começar antes. Então, se você quer ser 100% zero emissões em 2035, não dá para começar em 2030. Vamos assumir que acreditamos na promessa de Mary Barra e que até 2035 ela não estará apo- sentada, tomando caipirinhas em algu- ma praia, e que ninguém dirá “ops, não conseguimos, nos desculpem”: para isso o trabalho terá que começar em 2024. Isso leva a uma segunda questão: qual produto será convertido primeiro? Qual será aquele que quando o consumidor chegar à concessionária você dirá “oh, lamento, não fazemosmais essemodelo a gasolina, só elétrico”? Se você fizer isso com o Equinox, por exemplo, o cliente responderá “ah, ok, então vou dar uma olhada na loja da Ford mais ali à frente, obrigado”. Não estou falando demodelos de nicho, específicos, estou falando de modelos de volume. E qual seria a resposta? Dentro desses 34 modelos alguns estão se aproximando de seus ciclos finais de vida, o que ocorrerá por volta de 2023, 2024. E é quando terá que começar a transformação para os elétricos para atin- gir a meta de 2035. A decisão que a GM precisou tomar, então, foi converter tudo, começando nesta etapa, ou esperarmais para ver o que acontecia comomercado. Mas você acha que a GM vai começar coma linha de picapes grandes, de onde ela tira sua maior lucratividade? E o Brasil, como fica nesse cenário? O Brasil está em uma situação parecida com a do México. Lá eles também es- tão preocupados: o que faremos, o que venderemos? Vejo uma oportunidade. Pode ocorrer de o México não produzir tantos elétricos se a administração Biden diferenciar incentivos para os modelos produzidos noMéxico e nos Estados Uni- dos, mas caso isso não ocorra o Brasil poderia se tornar exportador demodelos a gasolina para lá. Mas é preciso planejar. Oque o senhor pensa da decisão da Ford de encerrar a produção no Brasil? A Ford perdeu a sua competitividade no Brasil muito antes de 2019. O meu entendimento é o de que se você não consegue ser lucrativo em ummercado de 3 milhões de unidades precisa trocar a liderança da empresa. Não há muitos mercados globais com esse tamanho, que oferecem tantas oportunidades. Mas todos os presidentes de montado - ras daqui dizem que não fazem lucro no Brasil, e há vários anos. Vou contar uma história. No fimdos anos 80, começo dos 90, a GM vendia cerca de 170 mil unidades por ano no Brasil. E perdia dinheiro todo ano. Em 1991 o Rick Wagoner foi nomeado presidente. Era um líder diferente, com outro estilo. Ele me chamou e disse, anotando em um papel: aqui vendemos Chevette, Monza, Opala, D20. Fez um X em todos. “Vamos modernizar a linha inteira, vamos trazer os “ Qual será o primeiro produto que quando o consumidor chegar à concessionária você dirá ‘oh, lamento, não fazemos mais esse modelo a gasolina, só elétrico’ ”?

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