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83 AutoData | Abril 2021 Volvo e Mini se comprometeram a fazer o mesmo até 2030, cinco anos antes e, portanto, daqui nove anos. Porém não exatamente sempre as pro- messas feitas por montadoras acabampor se tornar realidade. Há diversos casos na história recente nos quais os prazos prometidos não foram cumpridos, independente das – por vezes diversas – razões. Um bom exemplo vem da Nissan. Em 2013 a empresa reuniu centenas de jorna- listas do mundo todo em Irvine, Califórnia – dentre eles representante de AutoData –, para ouvir de Andy Palmer, então vice- -presidente, compromisso público de que dali a sete anos, 2020, venderia “de forma massificada e a preços acessíveis” veícu - los 100% autônomos no mercado global. E que, assim, lideraria mundialmente a oferta desta tecnologia. Seis anos depois, em 2019, a Nissan admitiu que não cumpriria o tal compro- misso. Alegou que a tecnologia em si já estava pronta, mas não a infraestrutura das cidades, tampouco a legislação e nem mesmo o consumidor em si. Passou en- tão a falar então em 2022, mas aboliu da nova promessa os termos “em massa” e “acessíveis”. Outro caso global semelhante é o da Volvo Cars. Em 2008 a fabricante de ori- gemsueca lançou o programaVolvoVision 2020, pelo qual estabeleceu que ao fim do prazo, dali a doze anos, não haveria mais nenhum acidente comumveículo da marca que resultasse em feridas graves ou morte de seu motorista ou ocupantes. Ainda que notáveis avanços no campo da segurança veicular tenham ocorrido de lá para cá, notadamente no que se refere aos materiais aplicados nas carrocerias e nas tecnologias tanto para evitar um acidente quanto para mitigar seus efeitos, os números de fatalidades em acidentes com veículos da marca não registraram nenhuma queda abrupta de lá para cá. AVolvo Cars ainda prossegue com seu programa Vision e as mesmas metas, mas deixou de se compromissar comuma data específica para alcançá-las, ainda que as considere “as mais ambiciosas da indústria automotiva”. No Brasil, especificamente, as promes - sas não cumpridas geralmente estão li- gadas à construção de fábricas. Há uma lista enorme, desde Daewoo até Subaru, passando por Kia Motors, Tata Motors, Ma- zda, TVR e até Lamborghini. No caso dos caminhões houve os casos de Sinotruck e Shacman. Os dois exemplos mais lembrados são da Asia Motors e da Jac Motors, coinci- dentemente ambas com promessa de construir fábrica em Camaçari, BA. Sim- bólico ainda é o caso da Óbvio, que por duas vezes anunciou fábrica no Brasil para produzir modelo subcompacto que seria exportado para os Estados Unidos. Na pri- meira oportunidade, em 2005, a empresa garantiu que já tinha fechado um contrato para o embarque de 50 mil unidades. A promessa de fábrica mais recente é da Tatra Trucks, da República Checa, no Paraná. RAZÕES Há justificativas de toda monta para expor os motivos pelos quais as promes- sas feitas por empresas automotivas não são cumpridas. Podem ir de movimentos globais de fusões e aquisições a marés econômicas, passando por temas tão di- versos quanto interesse do consumidor, preço do petróleo ou superestimação da própria capacidade financeira. Há, porém, na maioria dos casos, elementos comuns a essas promessas que, curiosamente, tornam a questão de cumpri-las quase que uma mera eventu- alidade. A principal delas é o marketing: todas as marcas, naturalmente, querem ser reconhecidas como pioneiras, avan- çadas, dinâmicas, inovadoras, futuristas. E muitas vezes, mesmo que não atendam ao prometido, essa impressão permane- ce – especialmente quando são de prazo mais alongado. Outro ponto, neste mesmo caso, é que geralmente o dirigente a fazer a promessa não será o mesmo que terá que explicar, quando e se for o caso, uma eventual

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