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45 AutoData | Junho 2022 ramento das atividades da Ford em São Bernardo do Campo – a fábrica que fun- cionou no bairro do Taboão por 65 anos, comprada da Willys pela Ford em 1967, foi demolida e está sendo transformada em centro logístico pela Construtora São José – e mais recentemente com o anún- cio de fechamento da planta da Toyota na mesma cidade, onde inaugurou sua primeira unidade industrial fora do Japão, em 1962. As duas ocorrências, no entanto, são apenas a ponta de um iceberg, pois mui- tas outras empresas do setor automotivo fecharam as portas noABC nesse proces- so incontido de derretimento industrial da região. Estudos apontam para a perda de fontes geradoras de receitas, encolhimento do emprego e ociosidade de galpões. OCIOSIDADE E PERDA DE VALOR Levantamento da economista, pesqui- sadora e doutoranda pela Universidade São Judas Tadeu, GiseleYamauchi, mostra o tamanho do êxodo industrial nas sete cidades do ABC: ela catalogou até 2019 o total de 308 áreas ociosas, com tamanhos que variam de 5 mil m2 a 1 milhão de m2. São galpões, depósitos e armazéns vazios que já abrigaram atividades industriais na região e vêm sendo abandonados desde 1989. É provável que o número deles te- nha aumentado ainda mais após 2020 em consequência dos efeitos da pandemia de covid-19. “O número de galpões vazios é um re- trato territorial da falta de planejamento industrial do País”, avalia a pesquisadora. “Quando não há a priorização do setor o que sevê é a fuga e o fechamento de empresas. Ocorre que desde o início da globalização, nos anos 1990, com o movimento de ter- ceirização que fragmentou a indústria, o Brasil não consegue se posicionar.” De acordo com estudo elaborada pelo Decomtec, Departamento de Competi- tividade e Tecnologia, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Fiesp, de 2010 a 2019 o setor automotivo no ABC teve seuValor da Transformação Industrial, VTI – índice equivalente ao PIB do segmen- to – reduzido em quase dois terços, de R$ 35,4 bilhões para R$ 12,4 bilhões, perda de R$ 23 bilhões, ou 65%. O setor, que ainda representa 30,5% do VTI do ABC, também responde pelas maiores perdas, 74% da redução de R$ 30,9 bilhões que a indústria da região sofreu no mesmo período de dez anos– lembrando que quase todas as empresas noABC são afetadas diretamente pelo desempenho negativo das fábricas de veículos e au- topeças. A perda de geração de valor do setor está diretamente relacionada coma queda de renda da população do ABC, via redu- ção de empregos na indústria e na cadeia relacionada à produção de veículos, por- que são postos mais qualificados e que remunerammelhor. Pesquisa realizada pelo Dieese em 2020 aponta que o rendimento Indústria de Veículos e Autopeças no ABC Valor da Transformação Industrial (VTI) R$ bilhões 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Fonte: Pesquisa Industrial Anual/IBGE - Elaboração Decomtec/Fiesp 35,4 33,8 28,7 25,9 21,1 14 10,6 12,8 13,5 12,4 -65 % Variação 2010-2019 (-R$ 23 bilhões)

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