Prestes a fechar o décimo-terceiro ano consecutivo na liderança do mercado brasileiro a MAN Latin America busca, agora, avançar em outros mercados da região. Um objetivo claro e definido pelo seu presidente, Roberto Cortes, é o país vizinho: o executivo almeja ser líder em vendas de caminhões na Argentina.
O caminho a ser percorrido é longo. Estatísticas da Acara, associação que representa o setor de distribuição na Argentina, colocam a marca como a quarta mais vendida de veículos pesados – o resultado divulgado soma caminhões e chassis de ônibus –, atrás de Mercedes-Benz, Iveco e Ford. Em caminhões, isoladamente, a Iveco é líder e a MAN fica atrás da Ford, de acordo com Cortes.
Iveco e Mercedes-Benz, as duas mais vendidas do mercado, contam com uma vantagem: os financiamentos subsidiados. Para adquirir um caminhão por meio de linhas do Banco de la Nación, que oferece taxas semelhantes ao BNDES brasileiro, é preciso que ele tenha conteúdo local, algo que apenas as líderes do mercado argentino oferecem – a Iveco produz caminhões na Argentina e a Mercedes-Benz tem uma fábrica com operação CKD para alguns modelos.
Cortes não confirmou se fará algo semelhante às concorrentes, mas impôs um certo tom de mistério em suas palavras:
“Queremos ser líderes em vendas na Argentina. E para liderar aquele mercado precisamos fazer o que precisa ser feito”.
O presidente da MAN admitiu, porém, que existem planos e algumas alternativas já foram estudadas. Dentre elas aproveitar as duas fábricas da Volkswagen naquele país: em Pacheco, onde é fabricada a picape Amarok, ou Córdoba, que produz transmissões. Caso o plano avance a produção poderia ser feita no processo de Consórcio Modular, como em Resende, RJ, no México e na África do Sul.
A eleição de Maurício Macri, que assume a presidência da Argentina na quinta-feira, 10, colaborou para que os planos da companhia avançassem. Cortes admitiu que teve conversas com o novo governante, sem citar o teor.
Brasil – Por aqui a liderança em 2015 está quase garantida. Restando alguns poucos dias para o fechamento do ano a MAN segue à frente da Mercedes-Benz, mesmo com a estratégia comercial da concorrente que, nas palavras de Cortes, foram bem agressivas em 2015.
Não existe, porém, muito clima para comemoração. Há um ano a expectativa do executivo era de igualar ou cair um pouco com relação a 2013, que já não fora um ano muito bom. A queda de quase 50% não era aguardada nem pelo mais pessimista dos analistas de mercado.
“Antevendo um momento difícil eu sentei com o sindicato no fim do ano passado e acertei a redução de jornada e de salários de 10%. Se eu soubesse que o mercado se comportaria dessa maneira teria ampliado esse porcentual.”
Para o presidente da MAN Latin America é preciso atravessar a crise com preocupação, serenidade e comemoração das conquistas. A celebração é da liderança do mercado e do ganho de participação, pois sua queda nas vendas será inferior à do mercado em geral.
“A preocupação existe. O nível de atividade da indústria de caminhões retroagiu aos níveis de quinze anos atrás e vamos registrar prejuízo pela primeira vez em vinte anos de atividade no Brasil. Se nós, que temos uma estrutura enxuta, estamos perdendo dinheiro, imagina nossos concorrentes.”
O executivo ressaltou que, mesmo produzindo apenas 24 mil unidades em 2015 em uma fábrica com capacidade para 100 mil caminhões e ônibus anuais, não foram feitos cortes no quadro de trabalhadores: “Usamos férias, feriados prolongados, todos os artifícios possíveis para preservar o emprego. Mas até quando poderemos aguentar? Até quando vai essa crise?”.
Sem perspectiva de melhora, uma vez que o cenário político que alimenta a crise econômica não dá sinais de alteração, o executivo aderiu ao PPE, dessa vez oficialmente, em 2016, com aprovação de 100% dos trabalhadores. A redução na jornada de trabalho será de 20%, com metade da diminuição do salário bancada pelo governo e a outra metade pela própria companhia, que não aplicou correção da inflação nos salários desse ano.
Todos esses problemas têm que ser enfrentados com serenidade, conta Cortes. Isso ele busca passar para os seus clientes, fornecedores e concessionários, mesmo enfrentando, segundo ele mesmo, a pior crise pela qual já passou: “E olha que já passei por dezessete crises, nenhuma tão profunda quanto essa”.