BMW do Brasil terá novo presidente

A BMW do Brasil terá novo presidente a partir de fevereiro do ano que vem. Helder Boavida, executivo português, sucederá a Arturo Piñeiro, transferido para os Estados Unidos na condição de presidente da BMW of Manhattan.

Boavida atualmente é o diretor-geral da BMW no México. Nascido em Lisboa, é formado em administração de empresas pela Universidade local e foi Managing Director do BMW Group Portugal de 2008 a 2014, quando assumiu a operação mexicana. No Brasil ele será o responsável por todas as operações do BMW Group, incluindo as marcas BMW, Mini e BMW Motorrad.

Piñeiro assumiu o posto em 1º. de abril de 2013, em lugar de  Jörg Henning Dorbunsch, vindo justamente dos Estados Unidos. Cerca de um ano e meio depois vivenciou a iniciativa mais importante da história da empresa no País, a inauguração da fábrica de Araquari, em Santa Catarina. Desde então a unidade já produziu mais de dez mil unidades.

GM Argentina – Enquanto isso a General Motors definiu o sucessor de Isela Costantini na presidência das operações na Argentina, Uruguai e Paraguai: é Carlos Zarlenga, atual CFO da GM América do Sul, baseado no Brasil – cargo que manterá, acumulando as novas atividades. Ele foi o representante da montadora em palestra do Congresso AutoData Perspectivas 2016, em outubro.

Zarlenga é nascido na Argentina e fez carreira na General Electric, pela qual já desempenhou diversas posições, sempre na área financeira, em diversas unidades no mundo.

Costantini, brasileira filha de argentinos, assumirá a presidência da Aerolineas Argentinas, empresa estatal, a convite do novo presidente da Argentina, recém-empossado.

 

Autopeças: internacionalização e inovação como base do crescimento.

Em ano em que o setor de autopeças nacional acumula perdas, até setembro, de 13,5% no faturamento líquido, a Fras-le comemora alta de 11%, para R$ 637 milhões. Deste total, 50% têm origem em exportações diretas a partir do Brasil e vendas pelas operações localizadas em outros países. O mercado de reposição, essencialmente de materiais de fricção para veículos pesados, representa 80% da receita. Os dados foram expostos por Pedro Ferro, diretor corporativo de autopeças das Empresas Randon, em painel no Fórum Regional Automotivo do Rio Grande do Sul, realizado pela AutoData Editora na quarta-feira, 9, em Caxias do Sul.

Já as demais marcas do Grupo no segmento de autopeças acumulam perdas de 38%. Como forma de ajustar a produção ao mercado foram fechados em torno de 2 mil postos de trabalho em dois anos, com redução de três para um turno. “Não sabemos se chegamos ao fundo do poço, mas o fundo do poço parece enlameado”, disse o executivo. Também garantiu que há estudos em andamento para que as demais fabricantes de autopeças – Master, Suspensys e Jost – sigam o exemplo da Fras-le, com foco na internacionalização e reposição. “Nossa meta é dobrar estas empresas de tamanho em cinco anos.”

O painel de autopeças também teve a presença de Juliano Mantovani, diretor da Keko Acessórios, que deve fechar o ano com queda de 5% na receita líquida ante uma expectativa inicial de crescimento e de expansão média histórica de 15% a 20%. O recuo deve-se, basicamente, à queda de 27% do mercado de picapes, seu maior comprador.

Ele destacou como fatos positivos do ano o crescimento de 25% em novos projetos no segmento de OEM e o ingresso efetivo em veículos de passeio. Dentre os novos projetos estão acessórios para modelos Fiat, Renault e Honda. Mantovani também explicou que a Keko investe no mercado externo, que ajuda na consolidação de números melhores. A expansão projetada para o ano neste segmento é de 30%.

Outro aspecto em comum é o investimento em produtos inovadores. Na Keko a participação do desenvolvimento de novos produtos na receita é de 30%. A Fras-le, que tem forte presença em mercados desenvolvidos como Estados Unidos e a Europa, investe em inovações de forma permanente. Outra ação adotada nas Empresas Randon foi a concentração da base de fornecedores, que caiu de 550 para 100, assim como a centralização da área de compras.

Em relação a 2016 Mantovani assegura que a Keko está preparada para enfrentar situação ainda pior que a atual se ela vier. Tem como projeção a produção de 2 milhões de unidades, mas acredita em leve crescimento na empresa em razão dos novos projetos.

Ferro antecipa que se a situação piorar medidas ainda mais drásticas se tornarão necessárias. Mantendo-se o quadro atual, as empresas já estão preparadas – mas o diretor vê sinais de melhora em razão dos estoques estarem mais baixos.

AGCO investe em plataformas globais

A crise de confiança instalada no País será fator determinante para que a economia se mantenha, em 2016, em situação semelhante à atual. O entendimento é de Eduardo Souza, gerente de produto tratores da AGCO, em palestra no Fórum Automotivo Regional do Rio Grande do Sul, realizado pela AutoData Editora na quarta-feira, 9, em Caxias do Sul.

Para o executivo, em tratores os números devem se manter, mas em colheitadeiras a tendência é de declínio. Os segmentos canavieiro e florestal mostram capacidade para uma reação tímida.

Souza, no entanto, acredita que a crise pode criar oportunidades para o Brasil participar mais ativamente do mercado mundial. Citou o caso da AGCO, que está desenvolvendo plataformas globais para seus produtos. Segundo ele, a estratégia pode criar oportunidades de exportação para os fornecedores e ganhos de espaço na cadeia de suprimentos. Mas para alcançar os resultados é preciso adequação às demandas globais, competitividade sustentável e estar preparado para a retomada do mercado brasileiro.  “Em algum momento a reação virá.”

O palestrante destacou que, atualmente, o índice de nacionalização dos produtos da marca é de 80%. Com plataformas globais deverá cair para 65%, criando oportunidades aos fornecedores.

Dentre as razões para o incremento da mecanização no campo citou o crescimento da população e migração para os centros urbanos, a escassez de mão de obra na zona rural, a demanda por alimentos e bioenergia, maior uso de fertilizantes e defensivos por meio de máquinas específicas e necessidade de renovação da frota, que tem 60% dos tratores e colheitadeiras com mais de 10 anos de uso.

Apesar dos problemas de mercado, a AGCO manteve por meio de suas duas principais marcas – Massey Ferguson e Valtra – participação de 45% no Brasil e 42% na América do Sul. No entanto, perdeu representação no faturamento global: de 17%, em 2014, para 14% até setembro de 2015. No ano passado o grupo faturou US$ 9,7 bilhões e, até setembro passado, US$ 5,5 bilhões.

Neste ano a montadora priorizou investimentos de R$ 18 milhões na expansão da GSI, de silos para armazenagem, e de R$ 35 milhões em novo laboratório para controle de emissões em Mogi das Cruzes, SP. A rede é formada por 685 concessionárias, sendo 399 no Brasil, 105 na Argentina e 190 em outros países.

Crise reduz faturamento da cadeia em R$ 38 bilhões

A cadeia de suprimentos do setor automotivo terá perdas estimadas em R$ 38 bilhões neste ano em função da queda na produção de veículos. O número foi indicado por Christian Murayama, sócio da KPMG, em palestra no Fórum Automotivo Regional do Rio Grande do Sul, realizado pela AutoData Editora na quarta-feira, 9, em Caxias do Sul.

Ele destacou que empresas do segmento, que historicamente tinham Ebitda positivo na casa de 5% a 7%, apresentarão índice negativo de 7%. Mas assinalou que existem ações capazes de reverter esta situação e alcançar margem positiva de até 8%. Não podem, no entanto, ficar restritas a aspectos operacionais, financeiros e de planejamento: “É preciso tratar questões estruturais e, inclusive, discutir o modelo de negócio. Se trabalha pouco a maximização do valor, que pode levar a resultados positivos”.

Também destacou como fundamental a adoção da governança como forma de transmitir mais transparência e estar mais próximo ao mercado.

Para Murayama, o gestor precisa visualizar a cadeia de suprimentos e, até mesmo, imaginar os próprios concorrentes como possíveis parceiros – ele entende que o momento é adequado para a organização da força de trabalho na empresa com vistas a uma possível e necessária reestruturação.

Em sua apresentação, Murayama considerou que “a crise desafia a pensar o modelo da organização”.

O sócio da KPMG salientou que a maior dificuldade existente é o tempo demandado entre a crise e a tomada de decisão. Segundo ele a decisão, costumeiramente, é adotada depois do tempo devido.

Agrale estima novas quedas em 2016

“Manter o navio flutuando até 2017. De um jeito ou de outro.” A manifestação foi feita em palestra no Fórum Regional Automotivo do Rio Grande do Sul, realizado pela AutoData Editora na quarta-feira, 9, em Caxias do Sul, por Edson Martins, diretor de suprimentos e vendas da Agrale, que aguarda mares menos hostis em 2017.

O executivo projeta um 2016 parecido com este 2015 no mercado interno: vendas de 38 mil tratores de rodas, 65 mil caminhões e 10 mil a 15 mil ônibus, volume dependente das licitações públicas das prefeituras. Ainda há fatores externos que podem agravar a situação: possível aumento de juros nos Estados Unidos, com reflexos na variação cambial, que poderia chegar a R$ 4,50, e novo rebaixamento da nota do Brasil por agências internacionais.

Martins destacou que o mês de novembro tornou-se um fosso para o segmento automotivo brasileiro, com recuos próximos a 50% sobre igual mês do ano passado e também com relação a outubro. O fato, de acordo com executivo, tem relação direta com a falta de liberação de recursos públicos e privados para o financiamento dos veículos. “Com taxa Selic na casa dos 15% os bancos, que não querem assumir riscos, preferem emprestar para o governo. No BNDES está difícil aprovar contratos.”

Há, no entendimento de Martins, um ambiente de crise política e ética, que gera incertezas no mercado. “Não se sabe o que fazer no futuro.”

O resultado está na queda das vendas e no faturamento das empresas em 2015. O da Agrale, segundo o palestrante, recuará cinco anos, a valores de 2010. Mesmo com o uso sistemático da redução de jornada, a empresa reduziu seu quadro para 1 mil 326 funcionários – em 2011 empregava 2,4 mil pessoas.

Nem por isso a Agrale deixou de investir em lançamentos neste ano. Dentre eles a linha de caminhões A, que trouxe como uma das novidades a cabine de aço, de peso menor, que permite elevar a capacidade de carga. Também lançou a segunda geração do utilitário Marruá e novos tratores.

A montadora tem capacidade instalada para 6 mil tratores, 24 mil motores e 23,7 mil veículos, dentre caminhões e chassis de ônibus. Desde sua fundação entregou 114 mil 789 veículos, 86 mil tratores, 98 mil motos, hoje fora de linha, e 395 mil motores.

Inadimplência começa a preocupar a Anef

A inadimplência nos financiamentos de veículos subiu em outubro, fato que preocupa o presidente da Anef, Décio Carbonari. Segundo dados da associação os atrasos superiores a noventa dias por pessoas físicas cresceram 0,2 ponto porcentual em outubro, comparado com o mesmo mês do ano passado alcançando 5,8% do total da carteira do setor. Para pessoas jurídicas o aumento foi mais expressivo, de 0,7 ponto porcentual, representando 4,3% dos contratos.

Em comunicado o executivo afirmou que o índice demorou a subir, com base nas projeções da Anef do começo do ano, mas agora é uma realidade. “Infelizmente a realidade macroeconômica é pior do que os economistas previam e o impacto é ainda pior no setor automotivo. A inadimplência demorou, mas veio, de forma que não é possível projetar uma retomada até que o desemprego estabilize e o mercado volte a ter poder de compra”.

Até outubro recursos liberados pelos bancos das montadoras caíram 20% na comparação com o mesmo período do ano passado, para R$ 77 bilhões. Carbonari culpa a recessão da economia e acredita que o cenário tende a se agravar, uma vez que a taxa de desemprego tem tendência de alta e a renda média do brasileiro de baixa. “Esses dois índices não devem se estabilizar antes de meados de 2016”.

Em outubro o saldo da carteira chegou a R$ 188,1 bilhões, queda de 1,1% na comparação com setembro e de 7,2% com relação ao mesmo mês de 2014.

A Anef projeta queda de 19,5% no saldo das carteiras de financiamento e de 20% na liberação de recursos, para R$ 89,1 bilhões.

Scania já exporta mais do que vende internamente

A participação das vendas externas da Scania em seus negócios totais chegou a 60% este ano, o dobro do índice registrado em 2014. Sem citar volumes, o diretor-geral da Scania do Brasil, Mathias Carlbaum, informou na quinta-feira, 10, que a empresa conquistou novos mercados em 2015, atendendo hoje um total de vinte, e negocia com clientes no Irã e Índia, dentre outros.

Para reforçar ainda mais sua posição lá fora Carlbaum revelou que a Scania do Brasil lançará a tecnologia Euro 6 já no ano que vem: “Alguns países da América do Sul que estavam sendo atendidos por outras filiais passaram a receber produtos nossos. E com o Euro 6 no ano que vem teremos capacidade de exportar para qualquer mercado, oferecendo a partir do Brasil o que a marca tem de mais avançado mundialmente”.

A exportação foi apenas um dos caminhos trilhados pela fabricante de caminhões e ônibus para driblar, ao menos em parte, a crise do mercado interno. A empresa adotou uma série de ações para buscar maior proximidade com os clientes, dentre as quais a Caravana Vou de Scania e Scania Experience.

“Lançamos, por exemplo, pacotes de manutenção individualizados, e fomos atrás de novos clientes. No segmento de caminhões, 20% das nossas vendas foram destinadas a empresas e autônomos com as quais ainda não tínhamos contato, índice que chega a 30% no caso dos ônibus.”

Ajuste – A Scania, segundo Carlbaum, está melhor preparada para enfrentar 2016: “Vamos entrar no novo ano com a produção ajustada. Um dos problemas do início deste ano foi o excesso de estoque no mercado, cerca de 20 mil caminhões. Nós estávamos mais ajustados mas até setembro ainda tinha marca vendendo modelo produzido em 2014”.

No segmento no qual atua, acima de 16 toneladas [semipesados e pesados], a Scania tem participação no acumulado deste ano de 12,5%. A previsão para o mercado total de caminhões dessa faixa é a de atingir 41 mil unidades no ano, uma queda de 55% com relação a 2014. O diretor-geral da Scania acredita que o ano que vem as vendas continuarão em queda e só haverá estabilidade em 2017.

Pelos seus cálculos o mercado cairá de 13% a 15% em 2016, baixando para um patamar de 35 mil a 36 mil unidades. O PIB em queda e a falta de confiança do consumidor são os principais fatores que impedirão, na sua opinião, uma retomada do mercado a curto prazo.

Quanto ao fim do PSI, Carlbaum disse que o mercado terá de se acostumar com essa nova realidade: “As vendas não podem ser eternamente sustentadas por subsídios. Podemos viver o PSI”.

Aproveitando o fim dessa modalidade de venda o Banco Scania lançará em janeiro um novo leasing. O cliente dará 10% de entrada, como uma espécie de caução, e ao final do contrato terá esse dinheiro de volta corrigido e com a opção de comprar o caminhão pelo valor de mercado.

No varejo a Scania tem ajudado concessionários em dificuldades financeiras assumindo operações com risco de fechamento. Na semana passada, por exemplo, assumiu sete concessionárias do Grupo Battistella em Santa Catarina, negócio que envolveu R$ 100 milhões. A empresa já havia adotado esta postura no Rio de Janeiro e parte de São Paulo, em investimentos de outros R$ 100 milhões.

Sua rede hoje tem 122 concessionárias, concentradas em dezesseis grupos, dos quais três agora estão nas mãos da Scania.

Cresce a receita com exportações

A forte retração no mercado interno e a desvalorização do real estão consolidando novos patamares de exportação para as indústrias automotivas de Caxias do Sul. De acordo com o Simecs, Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico, de janeiro a outubro, as vendas externas somaram R$ 1 bilhão 954 milhões, em alta de 19% sobre igual período do ano passado.

A participação na receita total, que fora de 11%, subiu para 17,5% em 2015. Os indicadores foram pormenorizados no Fórum Automotivo Regional do Rio Grande do Sul, realizado por AutoData Editora nesta quarta-feira, 9, em Caxias do Sul.

Na avaliação de Getulio Fonseca, presidente da associação, há mercados potenciais que precisam ser mais bem trabalhados pelo setor. Visando mostrar estas oportunidades, o Simecs tem realizado missões empresariais, principalmente para o continente africano. “Tem países crescendo mais de 6% ao ano e precisando de tudo”.

Exemplificou com Quênia, país onde 16 empresas de Caxias do Sul fecharam contrato com lote inicial de US$ 40 milhões, com recursos do BNDES.

De acordo com Alexandre Gazzi, da Randon, a empresa nunca abandonou o mercado externo, que se concentra, no segmento de veículos rebocados, em países da América do Sul e África, tradicionalmente de moeda fraca, o que torna mais difícil a conquista de mercados em função da forte concorrência de outros produtores, em especial chineses. A Randon tem como uma de sua estratégias a adoção de parcerias em alguns países para a montagem dos implementos. De acordo com seu relatório financeiro, nos primeiros nove meses, o segmento de veículos exportou o equivalente a US$ 46,5 milhões, declínio de 15%.

Paulo Corso, da Marcopolo, observa que a empresa sempre manteve atendimento aos mercados tradicionais da América Latina e África. Na situação atual, segundo ele, percebeu-se que era possível fazer mais e passou a investir em países em que já esteve no passado, como no Oriente Médio, e abertura de novos. “O produto chinês ficou mais caro, a variação cambial nos favoreceu e a qualidade do produto brasileiro é melhor”.

Nos nove meses deste ano, a empresa exportou 1 mil 276 unidades, alta de 6% na comparação com igual período de 2014. O volume correspondeu a 15% das vendas totais, alta de seis pontos porcentuais.

João Herrmann assinalou que a MAN tem na Argentina seu principal mercado no Exterior, mas que apresentou recuo nos últimos anos. Observou que as vendas externas já foram melhores em épocas com o real valorizado. Destacou que exportações exigem, antes de qualquer ação, projeto consistente de longo prazo.

Edson Martins, diretor de suprimentos e vendas da Agrale – que está presente em mais de trinta países, com 62 postos de venda – salienta que as exportações são alternativa para as empresas melhorarem seus resultados, mas adverte que não é tarefa simples, que esteja relacionada exclusivamente com a variação cambial.

“Um negócio pode levar até dois anos para ser concretizado. É trabalho árduo a ser feito, mas que ajuda a manter o navio flutuando”.

Faturamento da indústria de Caxias do Sul recua 10 anos

A indústria automotiva de Caxias do Sul, RS, acumula, de janeiro a outubro, recuo de 31% em seu faturamento, que totaliza pouco mais de R$ 7,9 bilhões, na comparação com igual período do ano passado. O setor representa 71,5% da receita gerada pela atividade metalmecânica na cidade, que foi, no mesmo período, de R$ 11,1 bilhões, em queda de 27%, e o menor valor desde 2006.

O declínio impactou de forma severa o mercado de trabalho. Nos 10 meses do ano foram fechados 7 mil 363 postos formais nos três setores que compõem o segmento metalmecânico. A expectativa é que mais 1,5 mil dispensas ocorram no último bimestre reduzindo, para 37 mil o número total de empregados, que era de 55,4 mil no início de 2014.

O cenário foi apresentado por Getulio Fonseca, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico, o Simecs, na abertura do Fórum Automotivo Regional do Rio Grande do Sul, promovido por AutoData Editora nesta quarta-feira, 9, em Caxias do Sul. De acordo com o dirigente sindical, mesmo com a retomada da atividade econômica, as vagas fechadas não serão reabertas, pois o setor está investindo na automação industrial como forma de melhorar a competitividade. Também destacou que a média de salários na cidade teve recuo de 30% neste ano.

Para Fonseca, o ano que vem continuará sendo de retração forte em função da falta de perspectivas de mudanças na condução política e econômica do País. Cita que, além dos problemas atuais continuarem, como PIB negativo, inflação e taxas de juros altas, o cenário se agravará com o previsível retorno da cobrança da CPMF e do aumento geral na carga de impostos. “Números iguais aos de 2010, quando chegamos aos R$ 23 bilhões, somente serão possíveis lá por 2022”.

Logística cara – Um agravante na crise local é o custo da logística de transporte, que participa com 18% a 20% na composição dos preços dos produtos. Getulio Fonseca expôs que a cidade consome em torno de 650 mil toneladas anuais de aço plano, volume que tem origem, quase que total, no Centro do País e para onde volta manufaturado.

“Caxias do Sul responde por 60% do aço plano que chega ao Rio Grande do Sul, tudo por via rodoviária. Portanto, não é de se estranhar quando as empresas daqui resolvem colocar plantas industriais em outras regiões”.

Pelos dados do Simecs, 65% das vendas das indústrias caxienses são feitas para clientes de outros estados. Apenas 17% ocorrem dentro do Rio Grande do Sul e os 18% restantes têm origem nas exportações.

Como forma de amenizar o custo logístico, o setor trabalha junto a Rumo ALL, detentora da concessão para exploração da malha ferroviária na região, para implantação de terminal rodoferroviário em Vacaria, cidade distante 100 quilômetros de Caxias do Sul.

“O espaço já existe, bastam ajustes para que volte a funcionar. Com isso, poderíamos poupar quase 3 mil quilômetros de transporte rodoviário, o que reduziria o custo de logística.”

MAN quer avançar no mercado argentino

Prestes a fechar o décimo-terceiro ano consecutivo na liderança do mercado brasileiro a MAN Latin America busca, agora, avançar em outros mercados da região. Um objetivo claro e definido pelo seu presidente, Roberto Cortes, é o país vizinho: o executivo almeja ser líder em vendas de caminhões na Argentina.

O caminho a ser percorrido é longo. Estatísticas da Acara, associação que representa o setor de distribuição na Argentina, colocam a marca como a quarta mais vendida de veículos pesados – o resultado divulgado soma caminhões e chassis de ônibus –, atrás de Mercedes-Benz, Iveco e Ford. Em caminhões, isoladamente, a Iveco é líder e a MAN fica atrás da Ford, de acordo com Cortes.

Iveco e Mercedes-Benz, as duas mais vendidas do mercado, contam com uma vantagem: os financiamentos subsidiados. Para adquirir um caminhão por meio de linhas do Banco de la Nación, que oferece taxas semelhantes ao BNDES brasileiro, é preciso que ele tenha conteúdo local, algo que apenas as líderes do mercado argentino oferecem – a Iveco produz caminhões na Argentina e a Mercedes-Benz tem uma fábrica com operação CKD para alguns modelos.

Cortes não confirmou se fará algo semelhante às concorrentes, mas impôs um certo tom de mistério em suas palavras:

“Queremos ser líderes em vendas na Argentina. E para liderar aquele mercado precisamos fazer o que precisa ser feito”.

O presidente da MAN admitiu, porém, que existem planos e algumas alternativas já foram estudadas. Dentre elas aproveitar as duas fábricas da Volkswagen naquele país: em Pacheco, onde é fabricada a picape Amarok, ou Córdoba, que produz transmissões. Caso o plano avance a produção poderia ser feita no processo de Consórcio Modular, como em Resende, RJ, no México e na África do Sul.

A eleição de Maurício Macri, que assume a presidência da Argentina na quinta-feira, 10, colaborou para que os planos da companhia avançassem. Cortes admitiu que teve conversas com o novo governante, sem citar o teor.

Brasil – Por aqui a liderança em 2015 está quase garantida. Restando alguns poucos dias para o fechamento do ano a MAN segue à frente da Mercedes-Benz, mesmo com a estratégia comercial da concorrente que, nas palavras de Cortes, foram bem agressivas em 2015.

Não existe, porém, muito clima para comemoração. Há um ano a expectativa do executivo era de igualar ou cair um pouco com relação a 2013, que já não fora um ano muito bom. A queda de quase 50% não era aguardada nem pelo mais pessimista dos analistas de mercado.

“Antevendo um momento difícil eu sentei com o sindicato no fim do ano passado e acertei a redução de jornada e de salários de 10%. Se eu soubesse que o mercado se comportaria dessa maneira teria ampliado esse porcentual.”

Para o presidente da MAN Latin America é preciso atravessar a crise com preocupação, serenidade e comemoração das conquistas. A celebração é da liderança do mercado e do ganho de participação, pois sua queda nas vendas será inferior à do mercado em geral.

“A preocupação existe. O nível de atividade da indústria de caminhões retroagiu aos níveis de quinze anos atrás e vamos registrar prejuízo pela primeira vez em vinte anos de atividade no Brasil. Se nós, que temos uma estrutura enxuta, estamos perdendo dinheiro, imagina nossos concorrentes.”

O executivo ressaltou que, mesmo produzindo apenas 24 mil unidades em 2015 em uma fábrica com capacidade para 100 mil caminhões e ônibus anuais, não foram feitos cortes no quadro de trabalhadores: “Usamos férias, feriados prolongados, todos os artifícios possíveis para preservar o emprego. Mas até quando poderemos aguentar? Até quando vai essa crise?”.

Sem perspectiva de melhora, uma vez que o cenário político que alimenta a crise econômica não dá sinais de alteração, o executivo aderiu ao PPE, dessa vez oficialmente, em 2016, com aprovação de 100% dos trabalhadores. A redução na jornada de trabalho será de 20%, com metade da diminuição do salário bancada pelo governo e a outra metade pela própria companhia, que não aplicou correção da inflação nos salários desse ano.

Todos esses problemas têm que ser enfrentados com serenidade, conta Cortes. Isso ele busca passar para os seus clientes, fornecedores e concessionários, mesmo enfrentando, segundo ele mesmo, a pior crise pela qual já passou: “E olha que já passei por dezessete crises, nenhuma tão profunda quanto essa”.