Quem projetava que a atividade produtiva tivesse alcançado seu patamar mínimo em outubro ficou perplexo com o desempenho de novembro, com queda acima de 50% na comparação com igual mês do ano passado. O fato aumentou a preocupação com relação ao início de 2016 e gerou o sentimento de que novos ajustes se farão necessários.
O entendimento foi compartilhado por Paulo Corso, diretor de operações da Marcopolo, Alexandre Gazzi, diretor corporativo de implementos e veículos da Randon, e João Herrmann, gerente de marketing de produto da MAN, durante painel no Fórum Automotivo Regional do Rio Grande do Sul, realizado por AutoData Editora, na quarta-feira, 9, em Caxias do Sul.
Segundo Corso, que também representou a Fabus, Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus, não há ainda a certeza de que a economia bateu no fundo poço. Disse que nunca o setor começou um ano tão ruim como se projeta o de 2016. Destacou que com PIB negativo o segmento de fretamento, que responde por 30% das vendas, parou de comprar em função da crise na indústria em geral. A atividade urbana depende das negociações de reajuste de tarifa com as prefeituras, situação complicada em ano eleitoral.
Nos rodoviários o alento vem da nova regulamentação, homologada pela ANTT, Agência Nacional de Transportes Terrestres, de exploração das linhas interestaduais e internacionais por autorização e não mais por concessão. A efetivação das compras, no entanto, depende de recursos que não existem.
“Precisa programa de financiamento para o setor de mexer, mas os bancos estão restringindo crédito e o BNDES demora na aprovação dos contratos. Teríamos carteira até fevereiro, mas sem recursos fica tudo parado”.
Com base nesta situação, Corso admite que sejam necessários ajustes após o retorno das férias, o que deve ocorrer ao longo da segunda quinzena de janeiro.
Ao longo de 2015, a empresa teve 10 meses de redução de jornada e demissões, além de cortes nas demais áreas. O diretor observou que a maioria dos setores da empresa terá férias de 30 dias na virada do ano, pois não há carteira de pedidos. Apenas a linha de urbanos funcionará em Caxias do Sul para atender pedido de 230 novos ônibus para o transporte coletivo de Porto Alegre, que deverão ser entregues até o fim de janeiro.
O diretor da Marcopolo estimou o mercado interno de ônibus neste ano em torno de 13,5 mil ônibus, volume 45% inferior ao de 2014. Avalia que para 2016 a situação deve ser muito parecida.
Para Alexandre Gazzi, novos ajustes terão de ser feitos no início de 2016. Destacou que, a partir de agora, os clientes farão contas antes de decidirem comprar bens de capital, como os implementos rodoviários. “Antes, com juro fixado, o transportador sabia qual era o valor mensal a ser pago. Agora, com TJLP, não tem mais esta referência. Além disso, 75% das vendas de veículos pesados dependem de Finame”.
Gazzi destacou que a produção de veículos rebocados cairá na ordem de 50%, neste ano, para algo como 30 mil unidades. “Em 2013 chegamos a 75 mil, com média de 60 mil nos últimos anos”.
Lembrou que atualmente o setor tem capacidade instalada para 90 mil veículos rebocados e estimou em 25% a ociosidade na frota atual em circulação. A Randon, de acordo com Gazzi, evitou demissões em grandes números, mas não repôs saídas voluntárias, e fez uso do expediente da jornada reduzida por seis meses.
Já a MAN, de acordo com o gerente João Herrmann, projeta que a situação não deve piorar além de 2015, ano em que a montadora terá seu primeiro balanço no vermelho desde que chegou ao Brasil em 1981. Para fazer frente à situação atual, a montadora cortou dois turnos de trabalho e adotou mecanismos como layoff. A produção média ficou na casa de 60 a 70 unidades por dia dentre chassis de ônibus e caminhões. “Devemos fechar com recuo de 45% nos volumes sobre 2014, que já foi um ano ruim.”
De acordo com Herrmann, a MAN já previa esta situação desde o início do ano, o que motivou os ajustes aos volumes estimados de mercado. “Tentamos evitar ao máximo as demissões, mas responsabilidade social tem seus limites para o acionista, principalmente para o que está lá fora”.
Para o gerente, os níveis deste ano são os mínimos aceitáveis. Abaixo disso, em sua opinião, será um colapso e a paralisação do setor. A MAN, de acordo com Herrmann, tem estoque para atender a demanda de mercado pelos próximos quatro meses.
Desativação temporária – Daniela Kraemer, responsável pela área de relações públicas e governamentais do Complexo Automotivo da General Motors de Gravataí, confirmou a suspensão, por cinco meses, a partir de 1º de dezembro, do terceiro turno de produção. A fábrica da montadora emprega 9,5 mil pessoas.
O complexo completou 15 anos de atividades, tendo produzido 2,9 milhões de unidades dos modelos agora fora de linha Celta e do Prisma e Ônix. Com capacidade para montagem de 358 mil veículos por ano, a unidade responde por 40% dos volumes da marca no Brasil.
Segundo Daniela, o complexo tem investido fortemente na área de sustentabilidade, o que a tornou a 2ª fábrica da marca no mundo com menor consumo de água por veículo e 3ª em economia de energia. Recente pesquisa indicou que a unidade tem 92% de engajamento dos seus funcionários, enquanto a média mundial é de 65%.
Segunda ela a montadora projeta para este ano produção nacional de 2,4 milhões de unidades, com queda para 2 milhões no ano que vem. Mesmo com esta redução, Daniela observou que a diretoria manteve os investimentos programados para o Brasil, na ordem de R$ 13 bilhões até 2019, para renovação de produtos e lançamento de nova família.