Brasil e Uruguai assinam acordo de livre-comércio no setor automotivo

Brasil e Uruguai assinaram na quarta-feira, 9, um acordo de livre-comércio para produtos do setor automotivo. Ele começará a vigorar a partir de 1º de janeiro e prevê 100% de preferencia tarifária para automóveis, comerciais leves, ônibus, caminhões, máquinas agrícolas, autopeças, chassis e pneus, de acordo com informações do Mdic, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Para o lado brasileiro o livre comércio valerá para produtos que contenham índice de conteúdo regional igual ou superior a 55%. No caso dos produtos uruguaios, o índice – calculado por uma fórmula estipulada pelo Mercosul – deverá ser igual ou superior a 50%.

Em nota, o ministro Armando Monteiro destacou que se trata de um acordo de livre-comércio. “Não se restringe a cotas. Tem uma perspectiva, portanto, de se ter um comércio totalmente livre, fluido, com regras de origem que contemplam as peculiaridades e o estágio de desenvolvimento dos dois países nesta área”.

Há ainda algumas cotas para os produtos que não alcançarem esse índice mínimo, dos dois lados: US$ 650 milhões para o Uruguai e US$ 325 milhões para o Brasil. O acordo estabelece também um programa de integração produtiva para desenvolvimento de fornecedores para veículos e autopeças cuja produção iniciarem no país.

Segundo o Mdic há ainda uma cláusula de salvaguardas para situações de desequilíbrios significativos nos dois países, que prevê a suspensão temporária do livre comércio e uma renegociação do acordo.

No ano passado foram vendidos 56,5 mil veículos no Uruguai, dos quais 14,2 mil importados do Brasil. De janeiro a novembro as exportações brasileira alcançaram 12,5 mil unidades.

De acordo com Monteiro “o acordo com o Uruguai abre uma perspectiva nova para que possamos estabelecer um marco mais amplo de livre comércio e maior integração produtiva”.

Cronograma da obrigatoriedade do ESC sai ainda este mês

A obrigatoriedade do controle de estabilidade eletrônico nos veículos produzidos e vendidos no Brasil será regulamentada ainda este ano. A informação foi divulgada na quarta-feira, 9, pelo presidente da AEA, Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, Edson Orikassa, revelando que “tudo caminha para os acertos finais do projeto ainda em dezembro”.

Conhecido como ESC, da sigla em inglês Electronic Stability Control, o sistema auxilia na correção da trajetória do carro em casos de manobras de emergência e é considerado por especialistas como a maior inovação em segurança automotiva desde o cinto de segurança. A regulamentação será divulgada pelo Contran, Conselho Nacional de Trânsito, a partir de propostas debatidas pelo governo com a AEA, Anfavea e outras entidades do setor.

De acordo com Orikassa, a incorporação do ESC será gradativa, da mesma forma como aconteceu com os freios ABS e os airbags. “Provavelmente o cronograma será iniciado em 2017 para que as montadoras tenham um ano pela frente para se adequar ao projeto”.

Um dos temas que mais gerou discussão no processo de definição das novas normas é o tempo que durará o processo até que 100% dos veículos aqui produzidos saiam com o ESC. O governo queria três anos, mas a AEA defende um prazo de cinco.

“Lá fora foram dez anos para que todos os carros tivessem controle de estabilidade. A indústria brasileira tem a vantagem de já contar com o desenvolvimento externo, mas nossos carros têm peculiaridades que requerem ajustes locais”, explicou Orikassa, que também é gerente de homologação na Toyota.

Citou com exemplo o Corolla, que em relação ao modelo de fora recebeu novo sistema de suspensão, o que exige o desenvolvimento de um controle de estabilidade específico, com nova calibração. Independentemente da legislação, a nova geração do Corolla, segundo Orikassa, já virá com ESC.

O executivo calcula que dos veículos aqui produzidos apenas de 5% a 10% já incorporam o controle de estabilidade.

Com relação ao custo do ESC informou ser algo na faixa de R$ 1 mil a R$ 2 mil, inferior ao do ABS. A variação envolve vários fatores, como o próprio ABS já utilizado no veículo: “No ABS com quatro canais a colocação do controle de estabilidade é mais simples. Já não é possível no ABS com dois canais”.

As próximas exigências que devem ser adotadas no Brasil na área de segurança é a obrigatoriedade do teste de impacto lateral, que exige reforço da carroceria e airbags, e o sistema de proteção ao pedestre, com suportes para que o capô absorva energia no caso de atropelamento.

O presidente da AEA também falou do Inovar-Auto, comentando que todas as montadoras estão avançando em eficiência energética. Segundo ele, os dados oficiais medidos pela etiquetagem do Inmetro mostram os avanços nessa área.

Com relação ao mercado interno de veículos, Orikassa disse não ver condições de melhorias no curto prazo. “A tendência é piorar. O ano que vem será igual ou pior do que este ano. Acredito que até as próximas eleições presidenciais, em 2018, deveremos ter o mercado retraído.”

O preço justo

A oferta de um produto ou serviço ao mercado, a determinado nível de preço, não é uma mera questão de se fazer a conta a partir dos custos incorridos, ou ainda utilizar um fator multiplicador tendo por base o conceito de mark up. Nem deve o empresário imaginar que é possível simplesmente colocar em prática a margem desejada, sobretudo nos negócios caracterizados por disputa acirrada de concorrentes. No fim das contas se o cliente tiver opções para escolher no meio de vários ofertantes, o preço passa a ser um fator importante no seu processo de tomada de decisão.

Embora seja válido entender o nível dos custos internos para produzir o produto ou serviço, e ainda que se tenha uma expectativa de margem de lucro ideal, levando em conta o valor investido no negócio, o que se observa cada vez mais é que cabe ao mercado – leia-se o cliente – definir o preço que está disposto a pagar. A globalização, a abertura dos mercados e uma geração de pessoas mais engajada colocaram muito mais pressão sobre as empresas quando estas desenham sua política comercial – e aí vai junto o preço.

A relevância da precificação de um produto e/ou serviço está presente tanto nas transações B2C, de vendas da empresa ao consumidor final, como nas de natureza meramente corporativa, as B2B, empresa a empresa. Dentre outras preocupações os empresários devem entender a oferta quanto ao valor percebido pelo cliente/consumidor. Cabem aqui algumas reflexões:

  • está meu potencial cliente disposto a pagar mais devido à confiança na marca, por exemplo?;
  • b) existem serviços agregados que diferenciam minha oferta com relação à concorrência?;
  • c) qual a importância do atendimento no ponto de venda?;
  • d) o desenho, e a tecnologia, que meu produto oferece são diferenciais que permitem definir o preço com margem mais generosa ao meu negócio?; e
  • e) está o cliente/consumidor disposto a pagar mais por tudo isso? Se sim quanto mais?

Outro desafio que as empresas enfrentam na política de preços é como esses devem, ou podem, ser corrigidos ao longo do tempo. Afinal não podemos deixar de considerar que, no ambiente de negócios do Brasil, a inflação de custos provocada por aumento do custo da mão de obra, da taxa de câmbio ou do custo de aquisição de bens e serviços pode rapidamente consumir sua margem.

No setor automotivo brasileiro tanto as montadoras como seus fornecedores enfrentam essas dificuldades e por isso não é permitido descuido dos preços ao longo da vida do produto e/ou serviço.

Levantei alguns dados sobre a evolução de elementos de custo da indústria que em maior ou menor grau merecem vigilância contínua por parte das empresas, ainda que em algumas situações não se possa fazer muito para corrigir o preço da oferta repassando a elevação dos custos internos, pois como vimos ao cliente e/ou consumidor cabe a avaliação final da proposta de valor no mercado. Antes disso convém citar que, conforme dados do Sindipeças, 56% do custo do produto da indústria advêm de matéria prima; 25% é mão de obra e 23% são atribuídos a outros fatores como, por exemplo, energia elétrica.

Na série histórica desde o fim de 2008 o IPCA, índice de preços ao consumidor, acumula alta de 54%. Com certeza o salário médio do trabalhador da indústria superou esse índice, pressionando o custo de produção dos fabricantes. Por outro lado a volatilidade da taxa de câmbio, como todos nós sabemos, é um fator de grande influência no desenvolvimento de fornecedores tanto no Brasil como no Exterior. E o que aconteceu desde então? Em dezembro de 2008 a taxa R$/US$ girava ao redor de R$ 2,30, caindo até R$ 1,65 em três anos para depois alçar vôo e hoje lidamos com uma paridade de R$3,80 por US$ 1.

E os metais? Com a exagerada demanda chinesa, sem o devido investimento na expansão das plantas extrativistas, observamos o cobre variando de US$ 3,6 mil/tonelada em 2008 para US$ 8 mil 540 em 2010, e nos dias de hoje cotado a US$ 4 mil 620/tonelada com viés de baixa. Igual cenário é observado em alumínio e também níquel. Já o minério de ferro bruto, que era comercializado a US$ 70/tonelada chegou a valer US$ 169 em 2010 e agora não passa de US$ 47/tonelada. Aqui também a previsão é de continuidade de queda.

A queda dos custos, como no caso dos metais, não é bom para a indústria? Sim, claro que é, porém o que não é bem-vinda é a volatilidade que gera insegurança nos mercados e exige por vezes a utilização de mecanismos de defesa, como o hedge de moedas, perturbando a gestão dos negócios e exigindo esforço para lidar com preços de venda, negociar com fornecedores e entender os movimentos da concorrência.

E como os preços dos veículos novos se comportaram nesse mesmo período, desde o fim de 2008 a dezembro de 2015? Sem identificar marca busquei pelo preço de um carro 1.0 que teria evoluído de R$25 mil para R$ 35 mil, ou seja, 40%, portanto abaixo da inflação oficial do período, o IPCA. Se convertermos esses preços pela taxa de câmbio às épocas teríamos: em 2008 US$ 10 mil 870, ou US$ 9 mil 210 em 2015.

Claro está que precisaríamos comparar, também, as mudanças tecnológicas nesse mesmo espaço de tempo, porém posso afirmar categoricamente que essas alterações também trouxeram melhor proposta de valor ao mercado.

Muita gente dá palpite nos preços de veículos no Brasil, destaca a a suposta ganância das montadoras e ainda critica mudanças tributárias ou de outras naturezas que possam beneficiar o setor, como se o consumidor ou cliente não tivessem importância para o futuro da indústria. De fato é ele – o consumidor – o responsável pela definição do preço contribuindo diretamente para o sucesso ou o fracasso dos fabricantes de automóveis e de toda a cadeia produtiva.

É o livre mercado.

José Rubens Vicari é administrador de empresas pela FGV com pós-graduação em finanças. Atuou por vinte anos como CEO de empresas metalúrgicas no setor de autopeças. Mentor voluntário para empresas startups pela Endeavour. Seu blog é www.senhorgestao.com.br.

 

PST Electronics incrementa negócios na Argentina

Novos negócios na Argentina serão decisivos para que a PST Electronics consiga neste ano, em plena crise do mercado brasileiro, faturamento similar ao do ano passado na América do Sul, algo em torno de R$ 500 milhões. A filial argentina passou a fornecer rádios para a Fiat, a PSA Peugeot Citroën e a Iveco naquele país em agosto e tem planos de montar kits de vidros elétricos para atender as montadoras locais, hoje abastecidas a partir de importação do Brasil.

De acordo com Daniel Ricci, gerente geral da PST Electronics na Argentina, o faturamento local dobrará este ano, chegando a R$ 50 milhões. “Hoje temos uma área de montagem e de estocagem de 700 m², em Dom Torcuato, Província de Buenos Aires, e deveremos dobrar esse espaço no ano que vem, provavelmente em novo prédio, para abrigar a linha dos vidros elétricos.”

Atualmente a filial argentina monta alarmes de rádios que são fornecidos para os fabricantes locais de veículos, além de atender o aftermarket e exportação. A operação do país vizinho recebe a parte eletrônica do Brasil e conta com quinze fornecedores de materiais plásticos, metálicos e de fiação, operando com mais de 50% de nacionalização. “Queremos ampliar nossas operações com os sistemas de vidros elétricos, o que exigirá o desenvolvimento de novos fornecedores locais”, comenta Ricci.

Outro projeto da PST é o de transferir a linha de alarmes residenciais de sua fábrica de Manaus, AM, para a Argentina, onde a demanda por esse tipo de produto é maior do que no Brasil. Segundo o diretor comercial da PST Electronics, Celso dos Santos, a operação argentina apresenta alto grau de produtividade e o projeto é concentrar lá novas exportações da empresa para a América do Sul:

“A Argentina tem a expertise de venda de alarmes para outros  países da América do Sul e, por isso, decidimos centralizar lá a exportação dos rádios que fazemos em nossa fábrica de Manaus. Esse ano as vendas para o Exterior vão crescer perto de 30%, atingindo US$ 2 milhões ante cerca de US$ 1,5 milhão em 2014. O ano que vem queremos expandir ainda mais nossos negócios externos”.

Na Argentina a PST tem 60% do mercado de alarmes automotivos, fornecendo para a Volkswagen, Ford, Renault, Toyota e General Motors, além de ter forte atuação também no varejo. Seu objetivo agora é crescer na área de áudio.  Ricci informa que a previsão para 2016 é entregar 50 mil rádios para a Fiat, PSA e Iveco e vender mais cerca de 30 mil a 40 mil no aftermarket [concessionárias], lojas especializadas e de departamento e para países vizinhos.

O diretor comercial da empresa comenta que PST exporta para o o Paraguai, Chile, Uruguai, Pero, Equador e Colômbia:

“Pensamos globalmente, mas agimos localmente”, destaca  Santos. “Temos 55 engenheiros no Brasil na área de desenvolvimento de produtos e avaliamos as características de cada mercado. Na Argentina, por exemplo, a preferência ainda é por rádio com bandeja, aquele que a gente retira a frente quando sai do carro.”

Dentre os diferenciais da empresa Santos cita a garantia de dois anos da linha de áudio e os investimentos constantes em inovação. Este ano a empresa está completando plano de cinco anos de aporte de R$ 150 milhões na América do Sul.  De acordo com Santos também no Brasil a empresa está procurando novos negócios OEM:

“Após um ano e meio de desenvolvimento passamos a fornecer sensores de ré para a Toyota e Honda aqui no Brasil. E há três anos fornecemos rádio para a Fiat. Temos condições de crescer a partir de novos negócios com as montadoras locais”.

Terry Hill deixará a Jaguar Land Rover

A poucos meses de inaugurar a fábrica da Jaguar Land Rover em Itatiaia, RJ – a primeira com montagem completa fora da Grã-Bretanha –, Terry Hill, diretor-presidente para a América Latina e Caribe, anunciou que deixará a empresa e a indústria em 2016. Segundo comunicado o executivo se dedicará a projetos pessoais na China a partir de fevereiro do ano que vem, sem revelar pormenores.

Há mais de trinta anos no setor automotivo, Hill passou por diversos cargos dentro da Jaguar Land Rover até se tornar, em 2013, presidente da subsidiária latino-americana, no lugar do brasileiro Flávio Padovan.

O executivo britânico assumiu a operação  meses após o anúncio da construção da fábrica brasileira. Deixará a companhia momentos antes da inauguração da unidade, que tem confirmada a produção de Land Rover Evoque e Discovery Sport, com capacidade para até 24 mil veículos por ano, a partir do primeiro trimestre.

Caberá provavelmente a Frank Wittemann, sucessor de Hill, a responsabilidade de cortar a fita inaugural na linha de produção fluminense. O executivo, que foi diretor-presidente da JLR Rússia por mais de quatro anos, trocará o atual cargo interino de diretor de vendas na China pela presidência da JLR na América Latina e Caribe a partir de 1º de fevereiro.

Montadoras: ajustes ainda serão necessários.

Quem projetava que a atividade produtiva tivesse alcançado seu patamar mínimo em outubro ficou perplexo com o desempenho de novembro, com queda acima de 50% na comparação com igual mês do ano passado. O fato aumentou a preocupação com relação ao início de 2016 e gerou o sentimento de que novos ajustes se farão necessários.

O entendimento foi compartilhado por Paulo Corso, diretor de operações da Marcopolo, Alexandre Gazzi, diretor corporativo de implementos e veículos da Randon, e João Herrmann, gerente de marketing de produto da MAN, durante painel no Fórum Automotivo Regional do Rio Grande do Sul, realizado por AutoData Editora, na quarta-feira, 9, em Caxias do Sul.

Segundo Corso, que também representou a Fabus, Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus, não há ainda a certeza de que a economia bateu no fundo poço. Disse que nunca o setor começou um ano tão ruim como se projeta o de 2016. Destacou que com PIB negativo o segmento de fretamento, que responde por 30% das vendas, parou de comprar em função da crise na indústria em geral. A atividade urbana depende das negociações de reajuste de tarifa com as prefeituras, situação complicada em ano eleitoral.

Nos rodoviários o alento vem da nova regulamentação, homologada pela ANTT, Agência Nacional de Transportes Terrestres, de exploração das linhas interestaduais e internacionais por autorização e não mais por concessão. A efetivação das compras, no entanto, depende de recursos que não existem.

“Precisa programa de financiamento para o setor de mexer, mas os bancos estão restringindo crédito e o BNDES demora na aprovação dos contratos. Teríamos carteira até fevereiro, mas sem recursos fica tudo parado”.

Com base nesta situação, Corso admite que sejam necessários ajustes após o retorno das férias, o que deve ocorrer ao longo da segunda quinzena de janeiro.

Ao longo de 2015, a empresa teve 10 meses de redução de jornada e demissões, além de cortes nas demais áreas. O diretor observou que a maioria dos setores da empresa terá férias de 30 dias na virada do ano, pois não há carteira de pedidos. Apenas a linha de urbanos funcionará em Caxias do Sul para atender pedido de 230 novos ônibus para o transporte coletivo de Porto Alegre, que deverão ser entregues até o fim de janeiro.

O diretor da Marcopolo estimou o mercado interno de ônibus neste ano em torno de 13,5 mil ônibus, volume 45% inferior ao de 2014. Avalia que para 2016 a situação deve ser muito parecida.

Para Alexandre Gazzi, novos ajustes terão de ser feitos no início de 2016. Destacou que, a partir de agora, os clientes farão contas antes de decidirem comprar bens de capital, como os implementos rodoviários. “Antes, com juro fixado, o transportador sabia qual era o valor mensal a ser pago. Agora, com TJLP, não tem mais esta referência. Além disso, 75% das vendas de veículos pesados dependem de Finame”.

Gazzi destacou que a produção de veículos rebocados cairá na ordem de 50%, neste ano, para algo como 30 mil unidades. “Em 2013 chegamos a 75 mil, com média de 60 mil nos últimos anos”.

Lembrou que atualmente o setor tem capacidade instalada para 90 mil veículos rebocados e estimou em 25% a ociosidade na frota atual em circulação. A Randon, de acordo com Gazzi, evitou demissões em grandes números, mas não repôs saídas voluntárias, e fez uso do expediente da jornada reduzida por seis meses.

Já a MAN, de acordo com o gerente João Herrmann, projeta que a situação não deve piorar além de 2015, ano em que a montadora terá seu primeiro balanço no vermelho desde que chegou ao Brasil em 1981. Para fazer frente à situação atual, a montadora cortou dois turnos de trabalho e adotou mecanismos como layoff. A produção média ficou na casa de 60 a 70 unidades por dia dentre chassis de ônibus e caminhões. “Devemos fechar com recuo de 45% nos volumes sobre 2014, que já foi um ano ruim.”

De acordo com Herrmann, a MAN já previa esta situação desde o início do ano, o que motivou os ajustes aos volumes estimados de mercado. “Tentamos evitar ao máximo as demissões, mas responsabilidade social tem seus limites para o acionista, principalmente para o que está lá fora”.

Para o gerente, os níveis deste ano são os mínimos aceitáveis. Abaixo disso, em sua opinião, será um colapso e a paralisação do setor. A MAN, de acordo com Herrmann, tem estoque para atender a demanda de mercado pelos próximos quatro meses.

Desativação temporária – Daniela Kraemer, responsável pela área de relações públicas e governamentais do Complexo Automotivo da General Motors de Gravataí, confirmou a suspensão, por cinco meses, a partir de 1º de dezembro, do terceiro turno de produção. A fábrica da montadora emprega 9,5 mil pessoas.

O complexo completou 15 anos de atividades, tendo produzido 2,9 milhões de unidades dos modelos agora fora de linha Celta e do Prisma e Ônix. Com capacidade para montagem de 358 mil veículos por ano, a unidade responde por 40% dos volumes da marca no Brasil.

Segundo Daniela, o complexo tem investido fortemente na área de sustentabilidade, o que a tornou a 2ª fábrica da marca no mundo com menor consumo de água por veículo e 3ª em economia de energia. Recente pesquisa indicou que a unidade tem 92% de engajamento dos seus funcionários, enquanto a média mundial é de 65%.

Segunda ela a montadora projeta para este ano produção nacional de 2,4 milhões de unidades, com queda para 2 milhões no ano que vem. Mesmo com esta redução, Daniela observou que a diretoria manteve os investimentos programados para o Brasil, na ordem de R$ 13 bilhões até 2019, para renovação de produtos e lançamento de nova família.

Kia projeta crescer 31% no Brasil em 2016

Se 2015 não deixará saudade para a maioria das empresas do setor automotivo, muito menos deixará para José Luiz Gandini, presidente da Kia Motors do Brasil. Em almoço com a imprensa, na terça-feira, 8, ainda com cerca de quinze dias úteis de vendas pela frente, o executivo já dava como certo que a empresa encerrará o ano com cerca de 16 mil veículos negociados, um fração diminuta para quem chegou a vendar 71, 2 mil unidades em 2011.

O mercado interno deprimido e, sobretudo, os 30 pontos porcentuais de IPI para veículos vendidos além da cota anual de 4,8 mil unidades – mais até do que a disparada o dólar ao longo do ano – são apontados por Gandini como os principais vilões para a acentuada queda dos 23,8 mil veículos Kia emplacados em 2014 no Brasil.

O presidente da Kia, contudo, está mais animado para 2016. “Tudo indica que teremos uma pequena recuperação. Projetamos para o próximo ano 21 mil unidades, crescimento de 31%, voltando a ter participação acima de 1%”, disse o empresário, que não vê recuperação para o mercado interno e estima vendas totais da ordem de 2 milhões de unidades, abaixo até da projeção da Fenabrave, que calcula vendas na casa de 2,3 milhões.

A recuperação das vendas da Kia se deverá, portanto, muito mais a fatores internos, em especial à chegada de produtos sem cargas adicionais de impostos. Dos quatro lançamentos previstos para 2016, dois deles – New Cerato, em junho, e o Rio, em novembro – virão do México sem os 35% de imposto de importação, dentro do acordo comercial com o Brasil. A empresa trará ainda antes deles os novos Sportage e Optima, importados da Coreia, ambos no final do primeiro trimestre.

A Kia, porém, tentará lançar o Rio antes, em julho, mas na versão coreana.  A ideia é aproveitar os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro como palco. Uma curiosidade: o evento esportivo tem como patrocinador oficial a Nissan.

A empresa investirá cerca de R$ 35 milhões em laboratório de certificação de emissões veiculares em Salto, SP, que deverá ser inaugurado no último fim de 2016, e segue em sua batalha para que o governo reveja as penalidades impostas para veículos importados, sejam alíquotas maiores ou as cotas diminutas. Gandini vislumbra ao menos boa vontade para o pleito e deixa um indicativo do que espera para o transcorrer de 2016:

“Já estivemos com o ministro Armando Monteiro, do MDIC, que está sensibilizado com a própria sobrevivência do setor. A proposição da retirada do teto máximo de 4, 8 mil veículos, utilizando a média dos três anos para as importações sem os 30 pontos porcentuais, poderá ser uma saída aos importados”.

Abraciclo projeta estabilidade para 2016

A queda de 15% nas vendas para o atacado e na produção de motocicletas de janeiro a novembro surpreendeu os executivos da Abraciclo, associação que representa o setor de duas rodas. O presidente Marcos Fermanian projetava no mínimo empatar com os números de 2014 – que já não foram nada animadores.

Um misto de restrição dos financiamentos, em que apenas duas a cada dez fichas são aprovadas pelos bancos, e a falta de confiança do consumidor na economia provocaram essa retração, que pouco deverá se alterar em dezembro, mês em que as montadoras costumam conceder férias coletivas aos trabalhadores da Zona Franca de Manaus, AM.

“Foi um ano difícil”, afirmou Fermanian, em entrevista coletiva à imprensa na terça-feira, 8, em São Paulo. “Pensávamos em igualar 2014, não imaginávamos uma nova queda. Mas não vamos ficar chorando pelos cantos ou jogar a toalha. Temos que trabalhar bastante para manter esse resultado em 2016”.

De janeiro a novembro foram produzidas 1,2 milhão de motocicletas, das quais 1,1 milhão comercializadas no mercado doméstico. Em novembro o ritmo das linhas de Manaus caiu 38,4% na comparação com o mesmo período do ano passado para o menor nível do ano, 75 mil unidades, movimento que, segundo Fermanian, serviu para ajustar os estoques. As vendas no atacado seguiram a mesma trajetória e encolheram 41,2%, para 70,4 mil motocicletas.

O presidente da Abraciclo afirmou que ainda há necessidade de reduzir o volume de motocicletas nos pátios das fabricantes e concessionárias. “A produção no primeiro trimestre deverá sofrer um ajuste intenso para adequar o estoque ao tamanho do mercado”.

Segundo as projeções divulgadas pela associação, em 2016 a produção e as vendas no atacado deverão crescer em torno de 10 mil unidades cada, praticamente estáveis com relação a este ano. Projeta-se 1 milhão 280 mil motocicletas produzidas e 1 milhão 220 mil faturadas à rede.

Os licenciamentos agora sofrem o impacto de uma nova lei: desde o mês passado os ciclomotores, como são conhecidas as motocicletas com motor inferior a 50cm³, têm o registro obrigatório nos Detrans. Esse fato provocou um crescimento de 18,4% nas vendas de novembro, comparado com o mês anterior, para 105,4 mil unidades. Os licenciamentos desses modelos cresceram 287% no mesmo período, passando de 4,7 mil unidades para 18,2 mil emplacamentos.

Para 2016 a Abraciclo projeta leve incremento de 0,5% nos licenciamentos, para 1 milhão 260 mil unidades.

Exportações – A valorização cambial, que poderia ser uma aliada para compensar parte da queda na produção, sofre com outro entrave: o mercado argentino e sua politica de restrição de dólares.

Com o principal cliente dos produtos manauaras prejudicado, as exportações recuaram 23% de janeiro a novembro, para 63,1 mil unidades. O resultado dos dois últimos meses, porém, chegam a animar, com avanço de 54,2% em outubro e 87,7% em novembro, na comparação anual.

“As perspectivas para o mercado argentino são positivas, mas temos o mercado latino-americano também, que é muito maior que o brasileiro e atualmente abastecido com produtos asiáticos. Tem um potencial enorme de crescimento, mas para isso precisamos destravar alguns fatores que atrapalham as exportações, como a burocracia e as questões logísticas”.

Como estes fatores que ajudariam a tornar o produto brasileiro competitivo não são resolvidos da noite para o dia, a projeção de exportações para 2016 é de leve alta: 2,7%, para 75 mil unidades.

MAN e Mercedes-Benz: apenas quatrocentas unidades de diferença.

Apenas 388 unidades separam a líder em vendas no mercado brasileiro de caminhões, MAN, da segunda colocada, Mercedes-Benz, a um mês do fechamento do ano. Em teoria a briga pela liderança está em aberto, mas muito dificilmente haverá alguma alteração nas posições, dado o baixo volume de vendas do segmento em todo o ano.

O mercado encolheu 46,5% de janeiro a novembro, para 65,8 mil unidades. Destas, 18 mil foram de caminhões MAN, volume 44,8% inferior na comparação dos períodos, e 17,7 mil Mercedes-Benz, queda de 45% na mesma base de comparação.

Em novembro as duas marcas venderam pouco mais de 1,3 mil unidades cada, com vantagem para a MAN, que registrou 1 mil 393 licenciamentos, ante 1 mil 325 da M-B.

O volume é quase duas vezes superior da terceira colocada, Ford, que teve 713 emplacamentos no mês passado. No acumulado do ano a marca registrou 12,1 mil unidades comercializadas, queda de 29,9% – bem abaixo da média e que permitiu à marca ascender à terceira posição, superando a Volvo.

Volvo, quarta, Scania, quinta e Iveco, sexta, apresentaram queda forte, superior à do mercado. As seguintes – Hyundai e DAF –, ao contrário, registraram crescimento, mas sobre uma base baixa.

Ônibus – No segmento de chassis a história já está resolvida: a M-B lidera novamente o mercado, com 49,8% das vendas, e não será superada pela MAN, vice-líder com 21,6% das vendas.

Destaque para o desempenho da Iveco, com 81,3% de crescimento e agora quarta mais vendida, superando as suecas Scania e Volvo.

Hyundai: aposta de que retomada, quando acontecer, será rápida.

A HMB, Hyundai Motor Brasil, com fábrica em Piracicaba, no Interior paulista, aposta que a retomada do mercado brasileiro, quando ocorrer, acontecerá de forma rápida. E mais: esse novo ciclo de crescimento tende a quebrar recordes de mercado. A opinião é do próprio presidente da fabricante, William Lee, em entrevista exclusiva à Agência AutoData.

O executivo, antes de chegar ao Brasil, em janeiro de 2013, sucedendo o primeiro presidente da fabricante no País, Chang Kyun Han, ficava baseado nos Estados Unidos. E ele vê algumas semelhanças dos dois mercados: “Em 2009, durante o auge da crise financeira internacional, o preço do petróleo aumentou muito e, com isso, as vendas de modelos grandes nos Estados Unidos, como os SUVs e as picapes, caíram muito, pois os compradores passaram a preferir sedãs menores, mais econômicos. Me lembro bem que muitos diziam à época que os SUVs tinham acabado ali. Hoje o que se vê é um provável novo recorde de vendas anuais, com 18 milhões de unidades, puxado justamente por forte demanda por SUVs e picapes”.

Para ele, assim, um movimento semelhante tende a acontecer no Brasil, ainda que o executivo não arrisque nenhum palpite de quando as vendas poderão começar a reagir. “Mas quando acontecer o retorno será rápido, com a economia passando a girar de novo, as riquezas voltando a circular novamente, tudo acontecerá de forma rápida. As pessoas tendem a esquecer o que passaram durante períodos de recessão, como neste caso dos SUVs nos Estados Unidos. É da natureza humana.”

E da mesma forma que acontece hoje nos Estados Unidos, acredita Lee, “a retomada virá com novos recordes de mercado” no Brasil.

A HMB deverá ser a única montadora no País a operar em três turnos em 2016. A unidade de Piracicaba, responsável pela produção da gama HB20, tem capacidade nominal para 180 mil unidades ao ano.

CAOA – O executivo ainda demonstrou muita tranquilidade com relação ao possível envolvimento do sócio-proprietário de seu representante oficial no Brasil, o Grupo Caoa, na Operação Zelotes – Carlos Alberto Oliveira Andrade foi indiciado em investigação pela Polícia Federal, e o caso agora está nas mãos do MPF, o Ministério Público Federal, em Brasília, DF.

De acordo com Lee, que elogiou muito o trabalho do Grupo, em especial em desenvolvimento de mercado e de rede de concessionários, todas as notícias que a Hyundai recebeu a respeito do caso foram as publicadas em órgãos de imprensa. Ele entende que como não há qualquer julgamento ou prova efetiva do envolvimento do empresário no esquema de compra de MPs investigado pela Polícia Federal, não há nenhuma necessidade de qualquer atitude com relação ao parceiro brasileiro neste momento.

O executivo, entretanto, salientou que “qualquer parceiro, em qualquer país do mundo, deve trabalhar dentro do mesmo código de conduta adotado pela Hyundai”.