O segmento de luxo, que antes destoava do mercado geral, fechou o primeiro bimestre em retração nas vendas no País. Os modelos Audi, BMW, Jaguar Land Rover e Mercedes-Benz, as quatro fabricantes que investem em fábricas no País, registraram licenciamentos 6,2% inferiores na soma de janeiro e fevereiro na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados da Abeifa e da Anfavea.
Segundo Renato Fabrini, gerente sênior de vendas da BMW do Brasil, a instabilidade do dólar refletiu no desempenho do segmento. “As vendas dos dois primeiros meses estão abaixo de nossas previsões.”
Embora a montadora use o euro como base de cálculo para precificação de seus produtos – e esta moeda esteja mais estável em comparação ao dólar –, o executivo afirmou que acompanha de perto as tendências na economia. “De qualquer maneira, em longo prazo ainda vislumbramos perspectivas de negócio positivas no segmento de automóveis premium no Brasil.”
A BMW iniciou sua produção local em Araquari, SC, há pouco mais de cinco meses. A unidade produz por enquanto apenas dois modelos, o Série 3 e X1. Fabrini argumenta que o volume de importações ainda é alto, tanto de componentes para a produção quanto de modelos que compõem a gama.
Ainda assim o executivo assegura que “não está prevista mudança nos preços praticados atualmente”. O portfólio vendido no Brasil é importado de Alemanha, Estados Unidos e Inglaterra, no caso dos veículos da marca Mini.
Fabrini ressalta que a produção de Araquari contempla apenas o mercado interno, inicialmente. “Em uma segunda fase a exportação para o Mercosul poderá ser considerada, após avaliarmos todos os requisitos necessários para tal. E, em um terceiro momento, dependendo da nossa capacidade competitiva, poderemos cogitar outros mercados.”
Ruben Barbosa, diretor de operações da Jaguar Land Rover no Brasil, espera que o câmbio fique mais estável até o fim do ano. A montadora iniciará sua produção local em 2016, na cidade de Itatiaia, RJ. “Torcemos para que a taxa esteja oscilando menos quando inauguramos a fábrica.”
Apesar dos veículos comercializados pela marca no Brasil serem importados do Reino Unido e balizados em libra, Barbosa recorda a relevância da cotação do dólar dentro do planejamento da companhia. “O cenário é observado como um todo. Cada parte importa na elaboração de nossa estratégia.”
Ao menos neste momento a JLR, assim como a BMW, não pretende elevar o preço da gama comercializada no Brasil.
Barbosa destaca ainda que os planos da companhia vislumbram o longo prazo e que a montadora acredita no potencial de crescimento do segmento de luxo no País. “A indústria premium representa apenas 1,6% do mercado brasileiro atualmente. Em mercados como Estados Unidos e Rússia esse porcentual chega a 6% e 10%, respectivamente. Ainda há muito espaço para crescermos.”
A Audi afirmou, por meio de porta-voz, que está atenta aos movimentos do mercado. A empresa acredita que a volatilidade das taxas de câmbio traz tanto oportunidades quanto riscos para as atividades de fornecimento e para as vendas. Por isso, a companhia aplica uma política de hedging natural, para ajudar a reduzir o risco.
“Outro ponto é que iniciaremos a produção local do A3 Sedan no segundo semestre de 2015 e, com maior conteúdo local, reduziremos ainda mais o risco cambial para o nosso negócio. Mas é importante destacar que os riscos cambiais relativos aos fornecimentos e vendas não podem ser completamente eliminados devido às variações naturais dos fluxos cambiais. Apesar das flutuações estamos confiantes no Brasil e em nosso investimento aqui, de longo prazo.”
Embora o presidente da Anfavea, Luiz Moan, considere positiva a superação da barreira dos R$ 3 pelo dólar, a desvalorização do real ainda não foi bem digerida pelas montadoras. Nenhuma das empresas que retornaram às solicitações de entrevista da Agência AutoData observou aspectos positivos na recente escalada da moeda estadunidense – ao contrário: Chery, Fiat, Honda, Mercedes-Benz e PSA Peugeot Citroën entendem que a situação desfavorece a indústria e a própria economia.
A taxa do dólar alcançou, superou e, ao menos nos últimos dias, se estabilizou acima dos R$ 3. Devido o seu recente histórico, é arriscado dizer que a cotação da moeda estadunidense alcançou um novo patamar definitivo e que a indústria precisa se adaptar à nova realidade: em 26 de janeiro sua cotação estava em R$ 2,57. Na quarta-feira, 11, menos de 45 dias depois, fechou em R$ 3,12.
ATÉ ONDE VAI? – A escalada de 20% do dólar em apenas seis semanas prejudica muito mais o planejamento das empresas, sejam montadoras ou importadoras, do que a estabilidade da moeda em qualquer patamar. Visconde, da Abeifa, reclama da volatilidade.
O pragmatismo do doutor Rupert Stadler, chairman da Audi AG, é enternecedor e reflete o andamento dos negócios da companhia e sua promessa de investir 24 bilhões de euro até 2019: “Tenho profundo orgulho pelo fato de o nosso perfil de capacitações e de competências mudar dia a dia”. Isso reflete nos resultados, anunciados na terça-feira, 10, em Ingolstadt, Alemanha, pertinho de Munique, e revelam os esforços desenvolvidos pelas equipes no ano passado: