Após os primeiros dois meses de vendas bem abaixo das expectativas do seu departamento econômico, a Fenabrave decidiu reduzir suas projeções de vendas para o ano. Na terça-feira, 3, em entrevista coletiva à imprensa, a associação revelou nova estimativa, agora de redução de 10% nos licenciamentos de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus em 2015, passando das 3 milhões 498 mil unidades no ano passado para em torno de 3 milhões 148 mil veículos neste.
Em janeiro, no primeiro encontro com a imprensa no ano, o presidente Alarico Assumpção Júnior divulgara projeção de vendas similares a 2014, com pequena redução de 0,5%.
“Teremos uma visão mais clara do mercado após as vendas de março, com o fechamento do trimestre. Mas nossa projeção é essa, com viés de baixa”, justificou o dirigente, acrescentando que “registramos o pior fevereiro em vendas dos últimos oito anos”.
Conforme antecipado pela Agência AutoData ainda na sexta-feira, 27 de fevereiro, as vendas caíram 28,3% no mês passado na comparação com igual período de 2014. Foram licenciados 185 mil 961 veículos, o menor resultado de vendas para um mês desde novembro de 2008. Comparado com janeiro, mês que registrou também fraco desempenho, a retração foi de 26,7%.
O bimestre acumulou 23,1% de queda nas vendas, com 439,8 mil emplacamentos, o pior desempenho para o período dos últimos seis anos.
O segmento de automóveis e comerciais leves registrou 178 mil 822 licenciamentos, queda de 27,3% na comparação anual e 26,7% na mensal. No bimestre a redução foi de 22,5%, para 422,7 mil unidades.
Em caminhões as 5 mil 171 unidades comercializadas em fevereiro representam o pior resultado para o mês nos últimos vinte anos, de acordo com Assumpção Jr. A queda foi de 50,1% com relação ao mesmo mês de 2014 e 32,6% na comparação com janeiro, também confirmando a projeção da Agência AutoData divulgada com exclusividade na quinta-feira, 26 de fevereiro. Somados os dois primeiros meses o segmento acumulou queda de 39%, com 12,8 mil unidades comercializadas.
As vendas de chassis de ônibus somaram 1 mil 968 unidades, queda de 35,6% na comparação anual e 11,7% na mensal. No bimestre, queda de 19,2%, para 4,2 mil unidades.
No segmento de motocicletas fevereiro registrou 93,8 mil unidades emplacadas, queda de 21,5% com relação ao mesmo mês de 2014 e 13,7% na comparação com janeiro. No acumulado do ano a retração chega a 20%, com 202,4 mil motocicletas comercializadas.
“A economia não cresce, a roda não gira e o País não movimenta”, argumenta o presidente da Fenabrave. “Estamos com dificuldades na economia, uma inflação alta que provoca também aumento na taxa de juros e, por consequência, maior restrição no crédito.”
De acordo com Assumpção Jr. os bancos estão liberando em torno de apenas 30% das fichas de financiamentos. O rigor aumentou devido ao encarecimento do crédito, provocado pelo aumento nas taxas de juros. “A dificuldade maior está nos carros com preços de R$ 20 mil a R$ 40 mil. Nos acima de R$ 40 mil, segmento em que os compradores têm recursos para dar de entrada e um cadastro melhor, o crédito é mais fácil.”
Como os modelos mais baratos representam a maior parcela das vendas do mercado brasileiro, os estoques crescem. Segundo a Fenabrave existem 55 dias de estoques – o equivalente a 300 mil unidades, de acordo com a MB Associados, consultoria parceira da associação.
O cenário desfavorável não significa, entretanto, enxugamento da rede. Assumpção Jr. descartou demissões em massa no segmento de distribuição, mas admitiu possíveis cortes pontuais e até mesmo uma consolidação maior do setor, vez que existem muitas empresas de pequeno porte que poderão ter maior dificuldade em enfrentar a situação de retração do mercado.
O presidente da Fenabrave destacou também que o segmento de usados e seminovos poderá se beneficiar e apresentar novamente crescimento nas vendas, a exemplo do que ocorreu no ano passado.