Um dos pontos mais controversos da primeira semana útil deste 2015 foi o telefonema que o ministro do Trabalho, Manoel Dias, fez para executivos da Volkswagen na terça-feira, 6, para cobrar explicações sobre as oitocentas demissões que a empresa anunciou que faria em fevereiro para ajustar sua equipe produtiva na fábrica de São Bernardo do Campo, SP, à nova realidade.
Ora, senhor ministro, a explicação é elementar e até previsível. Refere-se diretamente à queda de 15,3% na produção brasileira de veículos em 2014 com relação ao ano anterior e que, ao menos em teoria, foi provocada, em grande parte, pela insegurança que a população demonstrou ao longo do o ano passado com relação ao futuro econômico do País.
No lado prático do balcão a realidade funciona mais ou menos assim: a população, insegura, foge das compras, a produção diminui em função disto e os trabalhadores das fábricas, sejam de qual setor da economia forem, ficam sem ter o que fazer nas linhas de produção e são dispensados. Simples assim! É cruel, mas é assim que acontece no mundo todo, não existindo nenhuma razão para ser diferente aqui.
E, neste caso da Volkswagen, a análise da situação é ainda um pouco mais complicada em razão de a empresa ter descontinuado, no ano passado, em São Bernardo, a produção do Gol geração 4 e da Kombi, dois importantes modelos que até agora não encontraram substitutos, nem nas linhas de produção nem no mercado.
De qualquer forma estes oitocentos trabalhadores, apesar de já estarem avisados, ainda não foram efetivamente demitidos e estão em regime de licença remunerada até o fim deste mês, o que abre espaço considerável para uma boa partida de xadrez que fatalmente será jogada pelo sindicato e pela empresa nas próximas semanas. A própria Anfavea chamou a atenção para isto na semana passada.
A posição do tabuleiro, hoje, é a seguinte: o sindicato afirma que a empresa desrespeitou acordo que previa estabilidade até 2016, acordo que tornou viável a produção do Polo destinado à exportação em São Bernardo do Campo. E a Volkswagen diz que aquele acordo foi assinado em outro ambiente de mercado, diz que hoje precisa equalizar seus custos e que as demissões somente estão ocorrendo em razão dos próprios operários terem recusado, em assembleia realizada em dezembro, um novo acordo negociado com o sindicato que previa novas regras, como PDV e congelamento de salários.
Se a pressão psicológica que será exercida de agora até o fim de janeiro é válida ou não é assunto para outra análise. Que isto é cruel, principalmente para as famílias envolvidas, ninguém pode questionar, mas também é inquestionável que as portas ainda estão todas totalmente abertas neste caso.
Mais preocupante, porém, do que estas primeiras demissões de 2015 é o fato de que, também de acordo com a Anfavea, o nível de emprego do setor automotivo caiu 8,9% numa comparação direta de 2014 com 2013. Ou seja: ao todo a indústria de veículos já enxugou de seus quadros mais de 14 mil trabalhadores ao longo do ano passado. E se somarmos estas oitocentas novas dispensas que poderão ocorrer na Volkswagen e mais as 160 já realizadas desde 2 de janeiro na Mercedes-Benz, também em São Bernardo do Campo, isto significa que quase 15 mil pessoas já perderam ou estão em vias de perder seus empregos no setor ao longo dos últimos treze meses.
E não para por aí. A própria Anfavea analisa que ainda existe excesso de contingente nas empresas montadoras de veículos. E como a projeção de produção mais provável para este ano é de empate com relação à de 2014, corremos o sério risco de ainda termos mais demissões ao longo deste ano.
Mais isto não é problema que afeta só o setor automotivo. Vejamos o caso do negócio jornalístico, por exemplo, no qual várias empresas – O Globo, O Estado de S. Paulo, Diário do Comércio, Folha de S. Paulo, Estado de Minas, TV Cultura e Editora Abril – vêm enxugando suas estruturas em algumas centenas de pessoas ao longo do último mês. A própria AutoData Editora foi obrigada a encerrar as atividades de sua sucursal no Rio Grande do Sul.
Outras atividades, principalmente no ramo industrial, estão encarando a mesma situação, fruto da queda generalizada da atividade econômica verificada ao longo dos últimos anos. Mas isto já é outro pepino para ser descascado pela nova equipe governamental para tentar honrar as promessas feitas durante a campanha eleitoral…