A atual queda de vendas de veículos encontra suas causas básicas em três problemas simultâneos que, embora distintos, são complementares, o que potencializa seus efeitos e consequências. São eles: crise política, crise econômica e crise de confiança dos consumidores em geral, em particular os de veículos.
Não há muito o que as empresas do setor automotivo, em particular, possam fazer para equacionar qualquer um deles. Daí, aliás, a atual dificuldade para se projetar o futuro de curto prazo do mercado automotivo doméstico, conforme ficou evidenciado no Workshop Tendências Setoriais – Automóveis e Comerciais Leves, promovido pela AutoData Editora na segunda-feira, 25, em São Paulo.
A rigor, dirigentes das montadoras e concessionários presentes ao evento não conseguiram consenso para projetar nem mesmo quais poderiam ser os números finais do mês em curso, já quase no seu final. Quanto mais os de junho. Ou, ainda mais adiante, os do segundo semestre.
Houve certa concordância – talvez o mais correto fosse definir como esperança – de que, tal como costuma acontecer, o segundo semestre deverá ser melhor do que o primeiro. Desta forma, o ano terminaria com vendas um pouco abaixo de 3 milhões de unidades comercializadas: algo em torno de 2,7 milhões a 2,9 milhões.
Todos sempre souberam que este ano deveria ser difícil, fruto da clara necessidade de se promover urgente ajuste fiscal e econômico do País. Mas ninguém esperava que fosse tão difícil.
Na verdade o ponto fora da curva, o dado que ninguém havia projetado, é a envergadura que crise política federal acabou assumindo e seus inesperados efeitos no ajuste da economia.
Há certo consenso de que as medidas que vem sendo tomadas na área da Fazenda estão na direção certa. Com a crise política, todavia, não há como saber se a intensidade será a que seria necessária e, sobretudo, quanto tempo ainda precisaremos para que o ajuste seja feito e a economia do País volte a crescer.
Nas projeções iniciais da maior parte das empresas deste setor, o primeiro trimestre do ano concentraria o grosso das medidas de ajuste e seria, assim, muito difícil. Em algum momento do segundo trimestre, todavia, a curva voltaria a embicar para cima e o segundo semestre se encarregaria de compensar o que fora perdido nos três primeiros meses do ano. Agora já se dá o primeiro semestre inteiro como perdido. Mas ainda se acredita em eventual mudança para cima da orientação da curva em algum momento do segundo semestre.
Em temos práticos, isto significa que enquanto a projeção inicial para este ano indicava empate técnico, no máximo com viés de baixa, agora todos já projetam queda efetiva e significativa neste 2015, com recuperação apenas no próximo ano, talvez até apenas em 2107.
Nem tudo, porém, são espinhos neste cenário. Sérgio Reze, que já presidiu a Fenabrave e hoje lidera a Assobrav, chamou a atenção para o fato de que, apesar dos pesares, o que se venderá neste ano ainda será mais que o dobro que se comercializava há alguns poucos anos. “E todos sobreviviam e ganhavam dinheiro quando se vendia 1,4 milhão de unidades ao ano”, lembrou.
E mais: ainda de acordo com ele, com o aumento da frota que aconteceu nos últimos anos, o mercado de usados e a área de serviços de oficinas, agora chamado de pós-vendas, estão em franca expansão. “A venda de novos está difícil, mas as outras áreas continuam bem”, disse, antecipando o que iria falar para toda sua rede em evento programado para os próximos dias.
De fato, também na área de componentes, o aumento da frota deixa seus frutos: na edição de junho da revista AutoData matéria de Décio Costa mostrará os bons resultados que vem sendo alcançados por empresas que estão redescobrindo o potencial desta área de atuação. Sem fugir ou esconder o tamanho do problema atual que o setor está enfrentando, Antônio Megale, que representou a Anfavea e abriu o evento, também optou por dedicar parte de sua apresentação a focar o olhar um pouco além dos atuais espinhos.
Mostrou as várias mudanças de patamar de vendas domésticas que o setor registrou nos últimos vinte anos, cada uma deles o dobro da anterior, e cravou aposta de que, passada fase atual, desagradável fase atual, ainda haverá bom espaço para novas mudanças de patamar.
Para ele a relação habitante por veiculo ainda é muito baixa no Brasil, o que abre espaço para crescimento constante ao longo dos próximos cinco a dez anos, pelo menos.
Notícias Relacionadas
Últimas notícias