Em julho embarques diminuíram 11,4%, interrompendo bom momento
São Paulo – A Argentina, que já respondeu por 70% das exportações de veículos brasileiros, hoje detém em torno de um terço das encomendas. Apesar da menor fatia, o país vizinho segue como o principal parceiro comercial do setor automotivo. Dessa forma, a crise que tem chacoalhado as estruturas financeiras argentinas, com inflação volátil em níveis astronômicos e a dificuldade em reter dólares, que levou o governo a proibir o pagamento de importações com a moeda, refletem diretamente no mercado brasileiro.
Segundo dados apresentados pela Anfavea na sexta-feira, 5, considerando apenas o mercado de automóveis e comerciais leves argentino, as vendas recuaram 21% em julho, com 29,4 mil unidades, enquanto que as exportações encolheram 28,2%, com 22,9 mil veículos, e a produção diminuiu 9,1%, com 44 mil unidades.
O presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, destacou esses indicadores porque, da mesma maneira, o Brasil também é o principal parceiro comercial do país. “A Argentina é como se fosse o vigésimo-oitavo estado brasileiro e nós somos uma província argentina. Se o mercado interno argentino cai isso impacta o Brasil, porque exportamos para lá. E se a produção deles diminui significa menor disponibilidade de produtos no nosso mercado.”
Leite apontou que as estatísticas acendem luz amarela, uma vez que a entidade considera o volume de 300 mil a 400 mil veículos 0 KM previstos para este ano para serem produzidos na Argentina para atingir a meta de 2 milhões 140 mil veículos a serem emplacados em 2022, o que representará leve alta de 1% frente ao fechamento de 2021, conforme revisão das projeções realizada em julho.
Entretanto, o executivo ponderou que as últimas notícias do país vizinho, com a posse do novo ministro da Economia, Sergio Massa, e o anúncio de medidas para a redução do déficit fiscal e o fortalecimento das reservas de dólares do Banco Central, trazem expectativa de dias melhores.
“Em um primeiro momento não enxergamos risco de colapso da economia argentina”, salientou Leite, ao complementar que as prováveis mudanças ainda estão sendo digeridas e serão acompanhadas de perto.
Estatísticas – O cenário conturbado contribuiu para reduzir as exportações brasileiras em julho e interromper processo de franca recuperação. No mês passado os embarques recuaram 11,4% ante junho, o que representou 5 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus a menos, totalizando 41,9 mil veículos.
Na comparação com julho do ano passado o incremento de 76,3%, quando haviam sido vendidos a outros países 24 mil unidades. No acumulado de 2022 foram escoados 288 mil veículos, alta de 28,7% em relação ao ano passado, que contou com 224 mil exportações.
Em valores o comportamento foi semelhante, pois no mês passado as vendas a outros países renderam US$ 903 milhões, 9,8% a menos do que em junho, mas 61,5% mais do que em julho de 2021, quando foram pagos US$ 559 milhões pelos produtos.
De janeiro a julho entraram nos caixas das montadoras US$ 5,8 bilhões, cifra 37,4% superior ao mesmo intervalo em 2021, com US$ 4,2 milhões, mesmo obtido em 2019.