No ano passado o programa de descontos do governo, que as deixou de fora, causou impacto no volume de veículos comprado, que se manteve estável. Este ano o plano é responder por 30% a 35% do total emplacado no mercado.
São Paulo – Dois fatores reduziram um pouco o apetite das locadoras por veículos 0 KM no ano passado: o programa de descontos do governo, que se estendeu por três meses e as deixou de fora, e a redução das taxas de juros, que fez com que mais clientes buscassem carros novos. Locadoras compraram 590 mil unidades, resultado estável frente a 2022, com variação de 0,1%, o que diminuiu a participação nas compras das montadoras de 30,1% para 27,1%, ou de 2 milhões 180 mil para 1 milhão 960 mil automóveis e comerciais leves. Para este ano, no entanto, a meta é recuperar a participação e ampliar as compras em dois dígitos, garantiu o presidente da Abla, Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis, Marco Aurélio Nazaré.
O plano a ser posto em prática é o de responder por porcentual de 30% a 35% do total de licenciamentos de 2024, o que significaria de 700 mil a 800 mil veículos, com base na projeção da Anfavea de que serão comercializados 2,3 milhões de automóveis e comerciais leves.
“As montadoras geralmente trabalham com 30% das vendas para locadoras. Se não tivéssemos tido o programa de venda de carros incentivada no meio do ano, que dificultou a renovação e a ampliação da frota de aluguel, com certeza teríamos mantido esse porcentual, e até aumentado”, assinalou o dirigente. “Mas, infelizmente, não foi possível, o que contribuiu para que tivéssemos crescimento menor da nossa frota. Conseguimos renová-la, mas não aumentá-la de forma expressiva.”
A frota das locadoras chegou a 1 milhão 570 mil veículos leves ao fim do ano passado, quantidade que aumentou em 9,5% quando comparada a 2022, de 1 milhão 430 mil unidades. E 26,2% acima do volume de 2021.
“Tendo em vista que a frota está renovada vamos ampliá-la este ano. Existe demanda e agora podemos focar um pouco mais no crescimento, ainda trabalhando para reduzir a idade média, mas mais na expansão, porque há procura.”
Frota de locadoras teve idade média reduzida em cinco meses em 2023
A idade média das frotas das locadoras, que terminou 2023 com 18,3 meses, foi reduzida em cinco meses — era de 23,4 meses em 2022. O patamar, no entanto, assemelha-se ao de 2020, de 19,6 meses. Durante a pandemia houve envelhecimento considerável dos veículos a serem alugados, de quase oito meses, quando a idade média chegou a 27,4 meses.
De acordo com Nazaré a ideia é diminui-la para dezessete meses e, numa perspectiva mais otimista, podendo chegar a até quinze, o que retomaria o patamar de 2019, quando a idade média era de 14,9 meses.
A Fiat oferta a maior parte dos veículos para locação, respondendo por 27,2% do total, 426,6 mil veículos, seguido de Volkswagen, com 19,7%, 309 mil, e de General Motors, com 14,8%, 233 mil.
Quanto à transição para a eletrificação dados da Abla mostram que o custo ainda é impeditivo a avanço maior da sua presença na frota. Do total de veículos – o maior volume já registrado pela Abla – 8,4 mil são eletrificados, avanço de 81,6% ante 2022. Destes 3,7 mil foram emplacados em 2023, alta de 36,1%.
Na avaliação de Paulo Miguel Júnior, vice-presidente da Abla, a tendência é a de que os híbridos estejam mais presentes do que os elétricos: “O uso do carro elétrico acaba sendo mais limitado devido às incertezas quanto à recarga, o que o deixa mais focado para pequenas viagens e para o uso urbano. Sua maior presença na frota dependerá exclusivamente da demanda do mercado, uma vez que o custo ainda é elevado”.
Miguel Júnior percebeu que a maior procura é por frotas de empresas que buscam cumprir metas de ESG: “A limitação da circulação de veículos a diesel em São Paulo faz com que o veículo elétrico de médio porte seja opção vantajosa para a logística, uma vez que há vans com autonomia de até 350 quilômetros”.
Receita bruta de locadoras alcança patamar recorde
O faturamento das locadoras, considerando apenas a receita obtida com locação, alcançou valor recorde de R$ 44,9 bilhões, que superou em 22% a cifra de 2022, R$ 36,8 bilhões. A demanda por carro de aluguel continuou crescendo em 2023, garantiu o presidente da Abla: o número de locadoras também cresceu 14% no ano passado, para 20,2 mil estabelecimentos. Segundo Nazaré houve a formalização de muitas empresas do ramo, o que é um sinal de que “investidores estão de olho no negócio”.
Dados da Abla apontam para investimento total de R$ 66 bilhões em 2023, contra R$ 55,3 milhões em 2022. O aporte médio por veículo ficou em R$ 112,6 mil, frente a R$ 93,6 mil do ano anterior: “Temos R$ 19 bilhões a mais de investimento na comparação com a receita obtida com a atividade. Isso demonstra a pré-disposição desse setor”.
O dirigente relatou a procura crescente pelo aluguel de carros, seja para turismo, lazer e para terceirização de frotas, e lembrou que houve dificuldade para atender alguns clientes por falta de carros, uma vez que tiveram de segurar as compras tanto por não poderem comprar veículos com desconto como por causa da depreciação e da redução dos preços dos seminovos, o que teria aumentado os custos das locadoras: “Apesar disto a procura por aluguel de carros é crescente. Não tem mais volta”.