Na segunda-feira, 25, Luiz Moan encerra oficialmente seu mandato como o décimo-sétimo presidente da Anfavea e passa a faixa a Antonio Megale, da Volkswagen. Mais do que um movimento simbólico, este fato marcará também uma espécie de despedida do executivo da rotina diária do setor automotivo brasileiro.
Pois pouco mais de um mês depois, 31 de maio, Moan entregará também seu cargo de diretor de assuntos institucionais na General Motors do Brasil, onde bateu ponto pelos últimos 25 anos. E então se dedicará a algo que programa há bom tempo e que usualmente se considera, basicamente, como ‘curtir a vida’.
“Trabalho desde os 11 anos”, argumentou Moan, prestes a completar 61, em entrevista exclusiva à Agência AutoData. “E destes 50 anos, 40 foram no setor automotivo” – ele soma passagens por VW e pela própria Anfavea antes da GM.
Como bom economista Moan já traçara anteriormente plano claro e objetivo para os tempos de aposentadoria: a ideia original era trabalhar por cerca de 45 anos e pelos 20 seguintes aproveitar os benefícios. Mas perto do prazo final surgiu o indicativo de que a presidência da Anfavea estava no horizonte, o que causou atraso de 6 anos no cronograma. “Eu encarei a presidência como uma missão. Me preparei para ela. E, agora, ela está cumprida.”
A prova de que Moan está falando sério é a ausência de seu nome da lista dos vice-presidentes da nova gestão, algo tradicionalíssimo na história da associação que reúne as montadoras do País: em seu lugar a relação traz Marcos Munhoz a ocupar o posto a que a GM tem direito.
Novamente a evocar a veia de economista, Moan prefere considerar que lhe restam 14 dos 20 anos originalmente previstos para as benesses da aposentaria, em lugar de simplesmente empurrar o período de duas décadas pelos anos adiante. A missão número um, de qualquer forma, já está plenamente definida: curtir os dois netos, hoje com 4 e 6 anos.
A missão número dois será viajar – algo que poderia causar estranheza a interlocutor que conhece a rotina de um executivo do setor automotivo dedicado à área institucional, na qual viagens são tão comuns quanto um cafezinho no corredor com os colegas do escritório. “De todos os Estados brasileiros só não estive em Roraima. Pelo mundo estive em inúmeras cidades, de inúmeros países. Posso dizer que conheço esses lugares? Não. Conheço, no máximo, o aeroporto, um hotel e o caminho entre estes dois.”
Ele cita o exemplo do Rio Grande do Sul: “Fiquei muito tempo lá, por ocasião de todo o processo envolvendo a fábrica de Gravataí, mas não conheço o Estado de verdade. Não o visitei com calma, como deve ser”. E assim está desenhada mais uma estratégia para a diversão pós-trabalho duro: “Farei catorze viagens nacionais e catorze internacionais, cada uma delas por ano” – são 14 anos, afinal, lembra-se? O próprio Rio Grande do Sul e Portugal despontam como os primeiros destinos, ainda não confirmados.
Missão número três será adotar uma rotina mais serena, comum: caminhar – novos tênis já providenciados –, “ler os jornais na hora em que eu quiser”, já que hoje o faz por volta de 6h, assim que chegam à porta de casa, e, pasme, dirigir. “Atualmente prefiro nem guiar carros, pois imagine se acontece um acidente: o presidente da Anfavea envolvido em uma colisão de trânsito. Não ficaria bem.”
O período não será de todo moleza, entretanto, admite Moan: desafios mundanos, por assim dizer, o espreitam. Na lista estão aprender a usar um smartphone, sacar dinheiro em caixas eletrônicos, pagar contas, fazer check-in… “por incrível que pareça são coisas que realmente não sei fazer, pois há anos ficam a cargo das secretárias. É algo com o qual terei que me adaptar”.
Mas a racionalidade não se deixa enganar e Moan também tem planos para o caso das necessidades profissionais tão vigentes nos últimos 50 anos continuem a lhe cutucar mesmo neste período de planejada tranquilidade. Nesta hipótese estão serviços rápidos de consultoria, “mas sem envolvimento direto com os contatos que fiz ao longo destes anos”, ajuda técnica e até mesmo financeira a grupo de funcionários que assuma empresa em situação falimentar, não necessariamente do setor automotivo, e o estudo da chamada Lei das Probabilidades.
Sim, é isso mesmo: estudo da Lei das Probabilidades, e em especial sua relação com os prêmios de loterias, como a Mega-Sena. “Sei que não vou encontrar a resposta, mas vou tentar mesmo assim”, assegura Moan. Bem verdade que, para executivo ainda na linha de frente da batalha diária de uma empresa do setor automotivo, alguns anos atrás deste quase ex-presidente da Anfavea na escala profissional, é iniciativa que soa como coisa de quem não tem o que fazer; e pode até ser.
Mas vai que ele descobre a resposta…