Peugeot 308: manutenção de mercado.

A missão do novo Peugeot 308, lançado na noite de quarta-feira, 29, no Guarujá, na Baixada Santista, está longe de ser árdua e ousada. Não está nele depositada as fichas para se intrometer na liderança do segmento de hatches médios, mas de simplesmente garantir e preservar a participação que possui na categoria. Segundo a marca, sua fatia no segmento até outubro era 8%, que representa um volume em torno de 2,4 mil unidades.

De acordo com a nova diretora geral da Peugeot, Ana Theresa Borsari, no  comando da operação brasileira desde 1º de outubro após sete de Europa, “a ambição para ganhar participação no mercado está em outras ferramentas”, se referindo aos modelos 208 e 2008. “Temos esse objetivo e acreditamos em nossa capacidade para isso.”

A expectativa de venda da Peugeot para o 308 é de 250 a 300 unidades/mês para o novo modelo em um mercado por volta de 44 mil carros até o fim de 2016. Das três versões, Allure 1.6, Allure 2.0 e Allure THP, estima 50% das vendas do mais simples, 20% da versão intermediaria e os outros 30%  do modelo equipado com motor turbo.

A Peugeot avisa ainda que a linha 308 ainda será acrescida com o modelo europeu, baseado em outra plataforma. “O processo já está em homologação”, afirma a diretora geral. “Esperamos somente um momento mais adequado para o lançamento.”

De acordo com Ana Theresa Borsari, a decisão de apenas renovar o 308 em vez de passar a produzir na Argentina, na fábrica de El Palomar, o modelo europeu, passa tanto por questões econômicas quanto de mercado. “Houve uma clara migração do consumidor de hatch médio para as novas ofertas de crossovers. Em 2015 a queda do segmento chega a 60%, com isso a conta não fecharia com o investimento necessário para produzir o modelo a partir de uma nova plataforma. O 308 importado atenderá um consumidor específico, um nicho dentro do segmento.”

Pelas contas de Borsari a Peugeot deve encerrar esse ano com 1,1% de participação no mercado. Acha difícil, no entanto, planejar o que será o ano que vem em virtude da deterioração da economia e das quedas nas vendas de veículos.

Peugeot 308 renovado por dentro e por fora

Sob o discurso da estratégia de estabelecer um novo posicionamento no mercado nacional, como vem ocorrendo nos últimos anos, a Peugeot lançou na noite de quarta, 28, o 308 renovado – do visual à introdução de novos equipamentos e recursos de série.

“Estamos construindo uma nova imagem da marca baseados em uma aliança de exigências na qual alguns pilares são a obsessão na coerência e o rigor na execução”, assegura Ana Theresa Borsari, nova diretora geral da fabricante no Brasil. “A gama de produtos passa por isso. Com o novo 308, a Peugeot passa a ter a mais recente e moderna linha de produtos de sua história no País.”

O lançamento da Peugeot representa a primeira grande atualização do 308 desde que foi introduzido no País, no início de 2012, para substituir o 307. De acordo com o Frederico Battaglia, diretor de marketing, a nova aparência traz elementos visuais de recentes carros conceitos apresentados pela marca, como o Exalt e o Onyx – contornos dos faróis e vincos da carroceria. “Queremos ser uma marca cada vez mais emocional, que entregue não só estilo, mas também uma experiência de condução rica.”

Salvo a conversa marqueteira, o novo 308 realmente traz uma sólida lista de conteúdo de série desde a versão de entrada, embalada em um acabamento cuidadoso, onde estão presentes couro e revestimento de material emborrachado no painel. “Para levar emoção não podemos deixar de lado a qualidade superior, mesmo que isso custe mais caro”, destaca a diretora geral. “A maior entrega de equipamentos foi uma escolha para a construção da uma nova imagem da marca.”

O preço e a oferta de conteúdo incorporada, no entanto, foram concebidos de maneira a entregar mais por menos na comparação com o que a Peugeot enxerga como concorrentes: Ford Focus, Fiat Bravo, Chevrolet Cruze. São três versões: Allure 1.6 de 122 cv com câmbio manual por R$ 70 mil, a intermediária Allure 2.0 de 151 cv com caixa automática de seis marchas por R$ 76 mil e a topo de linha com motor THP de 173 cv e caixa automática por R$ 83 mil.

Estão presentes em todas as versões teto solar, ar-condicionado bizone, no qual a engenharia retrabalhou potência para ter capacidade para esfriar mais rápido e ser menos ruidoso, sistema de fixação isofix, seis airbags, rodas de liga leve de 17 polegadas e central multimídia touchscreen, com recurso de espelhamento do smartphone na tela do veículo, o Mirror link.

ThyssenKrupp inaugura fábrica em Poços de Caldas

A ThyssenKrupp inaugurou na manhã da quinta-feira, 29, uma moderna fábrica de componentes automotivos em Poços de Caldas, MG. A crise do mercado automotivo nacional, que registra retração superior a 20% este ano, não freou os planos da companhia alemã, embora tenha reduzido pela metade o projeto original.

Desenhada para atender à demanda da Volkswagen, a unidade produz eixos de comando de válvula integrados à tampa do cabeçote do motor. Inicialmente o volume estimado era de 1 milhão de unidades por ano, abrangendo toda a linha de motores produzidos pela montadora em São Carlos, SP. O cenário de demanda reduzida, porém, fez a fábrica encolher: foi inaugurada com capacidade para produzir 500 mil peças.

Nada que assuste Michael Höllermann, CEO da ThyssenKrupp na América do Sul: “O Brasil sabe lidar com altos e baixos do mercado. Acredito que em dois ou três anos a demanda retorne. Só resta saber se será algo rápido ou um crescimento mais orgânico”.

O investimento de R$ 60 milhões foi decidido há cerca de dois anos, na esteira dos planos de modernização dos motores da Volkswagen. A tecnologia empregada no componente, que integra os eixos de comando de válvula à tampa do cabeçote em uma só peça, é inédita no Brasil – e empregada em apenas outros dois mercados pela ThyssenKrupp: Alemanha e China.

“É um conjunto mais leve, forte e eficiente”, explicou Sven Sitte, gerente de projetos e responsável pelo projeto da fábrica no Brasil. A redução no peso chega a 40%, o que colabora para menores consumo de combustível e emissões de poluentes. “A peça ficou também mais compacta. Hoje as montadoras buscam mais espaço, reduzindo o tamanho do motor, e contribuímos com isso.”

Sitte garantiu que muitos componentes são produzidos localmente e outros, embora ainda importados, já estão em desenvolvimento com fornecedores. Não soube precisar a porcentagem de conteúdo nacional, mas garantiu que a busca é por reduzir a importação, até pelo efeito negativo que o câmbio proporciona atualmente.

Por outro lado, o real valorizado pode colaborar para expandir a produção da fábrica. Indagado sobre a possibilidade de exportar para outros mercados, o gerente afirmou: “Seguimos os consumidores. Se acharem que a fábrica brasileira atende melhor as necessidades forneceremos a partir dela”.

Höllermann disse também, sem fornecer pormenores, que negocia com outros potenciais clientes. E citou a localização da fábrica – no Sul de Minas Gerais, próximo ao Interior paulista, não muito distante de Betim e do Rio de Janeiro – como um trunfo na hora de fechar negócio.

Nova revolução industrial – A fábrica de Poços de Caldas foi desenvolvida dentro do novo conceito chamado Indústria 4.0. Segundo Höllerman, trata-se da quarta fase da revolução industrial: a primeira foi a chegada das máquinas a vapor, a segunda a produção em série e a terceira a introdução dos computadores.

Na unidade recém-inaugurada todas as etapas de produção estão conectadas e mapeadas. Cada peça recebe uma identificação própria, uma espécie de QR Code, que é capaz de identificar todos os processos pelo qual ela passou. Cada etapa de produção é monitorada por sensores e a peça só vai para o próximo passo após a aprovação do sistema de controle

Isso significa, na prática, mais qualidade, segundo Sitte: “Caso haja algum problema no processo, paramos a linha na hora”.

Muito mecanizada – são apenas sessenta funcionários para produzir meio milhão de peças –, a produção conta com robôs de alta precisão e grande flexibilidade.

É a sexta fábrica de componentes automotivos da ThyssenKrupp no Brasil. Além de Poços de Caldas, a companhia produz em Ibirité e Santa Luzia, MG, São José dos Pinhais, PR, Campo Limpo Paulista, SP, e São Paulo, Capital. Segundo Höllermann a companhia manteve seu quadro de funcionários mesmo com a queda na demanda, fazendo uso de jornadas reduzidas e adoção ao PPE – as unidades de Ibirité e São Paulo aprovaram a entrada no plano do governo federal.

Com incentivo, Kia importará Soul elétrico

A Kia Motors comercializará no Brasil a versão elétrica do monovolume Soul. A decisão, anunciada por meio de comunicado à imprensa, era aguardada ao menos desde o fim do ano passado – o modelo foi mostrado ao público brasileiro no Salão do Automóvel, em outubro de 2015, mas à época o representante da montadora aqui, José Luiz Gandini, afirmou que sem algum tipo de benefício específico sua comercialização seria inviável “por conta do preço que teríamos que praticar no mercado”.

Nesta semana a Camex publicou decisão em que eliminou o imposto de importação, até então de 35%, para os modelos 100% elétricos, como é o caso do Soul.

No Salão do Automóvel Gandini defendeu ainda que modelos híbridos e elétricos fossem excluídos da cota de importação do Inovar-Auto, de no máximo 4,8 mil unidades/ano, mas este pleito não foi atendido. Agora, em comunicado, pediu também redução do IPI: “O Soul EV tem chances reais de competitividade ainda maior caso os benefícios se estendam também à redução da alíquota do IPI, hoje de 25%, para 7%, alíquota dos automóveis de entrada de 1 litro, que poluem menos. Assim, podemos contribuir ainda mais com a frota circulante de veículos elétricos no Brasil”.

De qualquer forma o empresário considerou que “temos de parabenizar a Camex porque, agora, nós podemos trazer produtos com alto valor agregado. Do ponto de vista tecnológico e ambiental, o Soul EV traduz uma tendência mundial por automóveis mais limpos”.

De acordo com a fabricante o modelo já está homologado para venda no País, mas não foram divulgadas previsões de preço ou data de início de comercialização.

Pelos cálculos da Kia Motors a autonomia é de 179 quilômetros durante uso em ciclo rodoviário e de 219 quilômetros no urbano. O modelo possui sistema de frenagem regenerativa, que ajuda a alimentar a bateria.

No Salão paulistano a Kia mostrou ainda o sedã Optima em versão híbrida, mas para este não houve divulgação de planos de lançamento.

VW adia metas de 2018 para 2025

O Grupo Volkswagen adiará em pelo menos sete anos seu plano de tornar-se a maior montadora global. Em comunicado o CEO Matthias Müller afirmou que o plano Estratégia 2018, lançado em 2009 com o objetivo de dar esta condição à empresa ao fim do prazo, será transformado em Estratégia 2025. Os termos completos da mudança nos planos da companhia serão revelados em meados do ano que vem.

De acordo com o executivo, na nota, “muita gente fora da VW, mas também alguns de nós, não entenderam que o Estratégia 2018 é sobre algo muito maior do que volumes de produção. O ponto não é vender algo como cem mil unidades a mais que o concorrente mais próximo, mas sim crescer de forma qualitativa”.

Na quarta-feira, 28, o Grupo anunciou os resultados do terceiro trimestre. As previsões para a fraude dos motores diesel, de 6,7 bilhões de Euros, transformaram o resultado em prejuízo de 1,7 bilhão de Euros. No acumulado do ano o resultado é positivo em quase 4 bilhões de euros, redução de 54% ante os 8,7 bilhões de euros de lucro no mesmo período de 2014 – não fosse a fraude, portanto, o lucro da fabricante teria crescido 23%.

O CEO elencou mais quatro temas que deverão balizar a companhia nos próximos anos: apoio aos consumidores que têm veículos envolvidos na fraude dos motores diesel, conclusão de investigação completa sobre o caso – “os responsáveis sofrerão severas consequências” –, descentralização de decisões, o que inclui rever a linha de produtos para cada mercado, e ainda mudança no comportamento cultural e de administração.

 

Governo afrouxa regras do Inovar-Auto

Três anos depois do nascimento do Inovar-Auto o governo federal decidiu mudar parte das regras do programa, afrouxando parte das exigências. O decreto 8 544, de 21 de outubro, foi publicado no Diário Oficial da União e já está em vigor.

Umas das principais alterações diz respeito à evolução da eficiência energética, um dos pilares do regime automotivo. Três tipos de veículos receberam tratamento diferenciado, beneficiando as montadoras que os produzem ou importam: “alta performance, com tração 4×4 e picapes não derivadas de automóveis”, segundo o texto.

De acordo com o decreto, o MDIC definirá “critérios, termos e condições” para definição da melhoria da eficiência energética para estes tipos de veículos, que, assim, não estarão mais sob as rígidas regras do Inovar-Auto, que devem ser atendidas até 2017.

Como exemplos, os veículos considerados de alta performance são aqueles superesportivos, tais como Ferrari, Porsche e afins – nestes dois casos citados as respectivas importadoras estão habilitadas ao programa federal. Os 4×4 são os do tipo de Agrale Marruá e Troller T4, enquanto as picapes não derivadas de automóveis são, a princípio, as médias, como VW Amarok e Ford Ranger. Aqui ainda há uma discussão se Chevrolet S10 e Toyota Hilux possam ser enquadradas neste quesito, vez que suas derivações TrailBlazer e SW4 são consideradas atualmente como automóveis, mesmo que o modelo picape tenha sido lançado antes da variação SUV. De qualquer forma as picapes leves, como VW Saveiro, Fiat Strada e outras, são consideradas derivadas de automóveis e assim estão fora da exceção criada agora.

Outro tema do decreto é a possibilidade das empresas habilitadas – e nesse caso em especial as exclusivamente importadoras – utilizarem neste ano o saldo da cota de veículos importados sem IPI majorado, de no máximo 4,8 mil unidades ano, que tenha restado do ano passado. Até então este tipo de transferência era proibido.

Na prática a iniciativa representa um aumento das cotas de 2015 para as empresas que tenham algum saldo restante de cotas do ano passado, algo defendido com insistência pela Abeifa. Procurada pela reportagem, entretanto, a associação não retornou solicitação de entrevista com seu presidente, Marcel Visconde.

Para Luiz Moan, presidente da Anfavea, “a publicação deste novo decreto é extremamente positiva e fundamental, pois sacramenta os últimos pontos do Inovar-Auto que demandavam regulamentação. Com este instrumento, as empresas e o governo incrementam a segurança jurídica para seguir com todos os esforços para o desenvolvimento do programa”.

Outra definição que estava pendente diz respeito à autorização para que os gastos com desenvolvimento de motores flex com relação de 75% ou mais para o etanol ante a gasolina sejam incluídos nos custos que dão direito ao desconto do IPI, ou seja, teriam peso nas contas similar ao da compra de peças locais. Anteriormente, entretanto, falava-se em conceder desconto extra de IPI de um ou dois pontos para os modelos que consigam atingir tal índice. As condições exatas também serão definidas apenas futuramente pelo MDIC.

Para Alfred Szwarc, consultor de emissões e tecnologia da Unica, associação que representa a indústria da cana-de-açúcar, “a publicação do decreto é positiva e abre oportunidade para saltos tecnológicos que possibilitam um melhor aproveitamento energético do etanol”. Ele espera, entretanto, a rápida definição do ministério quanto aos pormenores da medida.

Finalmente o decreto limitou ainda a aplicação de investimento em ferramental no cálculo de compras locais no caso de produção sob encomenda – duas empresas habilitadas não podem se utilizar de um mesmo aporte, brecha até então existente na regulamentação.

Reed Exhibitions desiste de realizar a Automec Pesados & Comerciais

A Reed Exhibitions Alcantara Machado desistiu de manter a realização da feira Automec Pesados&Comerciais, destinada às fabricantes de autopeças e correlatos para este segmento. A mostra, que teve sua primeira edição realizada em 2008, como subproduto da Automec, jamais obteve números expressivos de participação de empresas ou público. Sua quarta e última edição, em 2014, por exemplo, dividiu o espaço do Pavilhão de Exposições do Parque Anhembi com a Christmas Fair, voltada ao mercado de artigos natalinos.

O anúncio ocorreu via comunicado à imprensa divulgado pela Reed na quarta-feira, 28, que não cita que a edição 2016 da Automec Pesados & Comerciais já estava agendada para acontecer no Anhembi de 12 a 16 de abril. A baixíssima adesão de montadoras de caminhões à Fenatran, que acontecerá de 9 a 13 de novembro – apenas Volvo e DAF lá estarão – ajuda a explicar a decisão.

Segundo a nota, o segmento de comerciais volta a participar da Automec tradicional, agora agendada para acontecer de 25 a 29 de abril de 2017.

O anúncio serviu ainda para a Reed Exhibitions Alcantara Machado admitir, mesmo que apenas em parte, suas negociações com a GL Events, arrendatária do São Paulo Expo, antigo Centro de Exposições Imigrantes: este será o local da Automec 2017, transferida do Anhembi. No início de setembro a Agência AutoData revelou com absoluta exclusividade e em primeiríssima mão a mudança de endereço do Salão do Automóvel 2016, que também sai do Anhembi e vai para o São Paulo Expo – iniciativa que a Reed Exhibitions ainda não tornou oficial, o que deverá ocorrer em novembro.

Carros conectados: uma revolução na indústria automotiva.

A indústria automotiva global está no limiar de uma mudança muito radical. A transformação do automóvel em um poderoso computador capaz de se conectar com outros objetos – e não falamos somente do telefone celular – mexerá com todos os alicerces da indústria. Alguns competidores sobreviverão, até mais fortes. Outros fatalmente ficarão pelo caminho. Surgirão, também, novos atores.

A única conclusão concreta de Ricardo Bacellar, diretor da KPMG especializado no setor automotivo, é que as coisas vão mudar. “A indústria automotiva não anda mais sozinha. Ela está abraçada com a de tecnologia e de telecomunicações.”

As alterações se darão em praticamente todos os elos da cadeia: na relação da montadora com consumidores, fornecedores, setor de distribuição e trabalhistas, na velocidade do desenvolvimento de produtos e até mesmo nas legislações.

“Atualmente a relação da montadora com o consumidor está mais focada no momento da compra. Este acaba ficando desassistido após o fechamento do negócio, apesar dos crescentes investimentos em pós-venda. Com o carro conectado a interação será cada vez mais frequente, sem ser presencial.”

O diretor explicou que a quantidade de dados gerados com a conectividade dos carros será imensa, gerando um banco de dados de valor inestimável. Citou como exemplo a possibilidade de uso de publicidade direta com o motorista, uma vez que todos os seus hábitos estarão armazenados no veículo – os lugares que frequenta, a quantidade de vezes que vai a determinado local…

“As montadoras têm que decidir se querem ser apenas uma mera fornecedora de automóveis, deixando o gerenciamento desses dados nas mãos de outras empresas, ou se tomarão posição de liderança nessa revolução.”

Bacellar ressaltou que haverá também mudança na relação com fornecedores, pois as companhias terão que negociar com novas empresas, que, hoje, fazem parte da cadeia de tecnologia. Será um aprendizado de via dupla, pois esses fornecedores atualmente não estão acostumados a tratar com o setor automotivo.

Nas relações com o setor de distribuição poderá haver até mudanças históricas, como na lei Renato Ferrari. Hoje quem vende o carro para o consumidor é a concessionária – e é com ela que estão todos os dados dele. “De um lado a montadora pode requerer este dado. De outro, a concessionária não tem condições financeiras de fazer um grande investimento em big data. Uma hora os dois precisarão sentar para ver como essa relação caminhará.”

Historicamente baseada na engenharia, as montadoras agora precisarão abrir as portas para especialistas da área de tecnologia. Nesse caso, Bacellar prevê um choque de culturas: de um lado, montadoras com sua estrutura engessada, ternos e gravatas e suas paredes cinza. De outro, profissionais de tecnologia, com conceito de trabalho mais flexível, bermudas e camisetas e escritórios mais coloridos.

Outro ponto que as montadoras deverão mexer – e rápido – é a velocidade do desenvolvimento. “Há alguns dias a Tesla atualizou o software de todos os seus veículos. Esse tipo de ação será cada vez mais comum dentro do setor. Os produtos ficarão obsoletos em uma velocidade maior, assim como acontece com os smartphones.”

Leis e segurança – O setor público também terá papel importante nessa revolução do setor automotivo. As legislações que hoje conhecemos, por exemplo, serão forçadas a sofrerem alterações. Bacellar citou como exemplo o Uber, aplicativo de caronas que faz papel semelhante aos táxis. Em todo o mundo a chegada do Uber provocou mudanças nas legislações de grandes cidades. “A tecnologia cria essa demanda”.

Um dos pontos que mais críticas recebe nessa grande mudança na indústria, a segurança, será reforçada com investimentos e proteção. O diretor da KPMG não acredita que seja um entrave para a conectividade dos carros: “Há alguns anos questionávamos se faríamos transações bancárias pela internet. Essa discussão ficou no caminho, assim como a segurança nos automóveis ficará”.

Bacellar coordenará na manhã de quinta-feira, 29, o painel O Fascinante Mundo dos Carros Conectados Revolucionando o Mercado Automotivo na Futurecom, feira voltada aos setores de tecnologia e telecomunicação. Terá a companhia de representantes da Bosch, Delphi, FCA Fiat Chrysler, General Motors, PSA Peugeot Citroën, Qualcomm e Telefônica Vivo.  Pela primeira vez os automóveis ganharam um espaço no evento, que ocorre todos os anos em São Paulo.

No painel será apresentado um estudo da KPMG ainda inédito por aqui. Foi mostrado pela primeira vez no Salão de Frankfurt, na Alemanha, e em alemão. O título, provocativo, dá uma pequena ideia do que o futuro reserva ao setor – Operárias ou Donas do Jogo: A Indústria Automotiva está na Encruzilhada de uma Era Altamente Digitalizada.

Governo reduz tributos para elétricos, híbridos e movidos a células de hidrogênio

A produção e comercialização de veículos elétricos, híbridos e movidos a células de hidrogênio recebeu um incentivo do governo na terça-feira, 27, ao terem reduzidos seus impostos de importação, sejam modelos montados ou desmontados. Uma portaria da Camex, Câmara de Comércio Exterior, publicada no Diário Oficial da União chega a zerar o II de veículos elétricos e a hidrogênio, em que antes incidia tarifa cheia de 35%.

No caso dos híbridos, movidos com um motor a combustão e outro elétrico, as tarifas podem chegar a 7%, dependendo da potência do propulsor e a eficiência energética. Estes modelos já haviam sido beneficiados com a medida há um ano, mas os modelos chamados plug-in, que vêm com uma tomada que pode ser ligada à rede elétrica, ficaram de fora.

Agora todos foram contemplados: híbridos, de motor 1 litro até 3 litros, dependendo do grau de eficiência energética tiveram o imposto zerado ou reduzido até 7%, tendo ou não a tomada. Elétricos e a hidrogênio não têm mais incidência de imposto de importação – foram zerados.

No ano passado, quando o governo concedeu o desconto tributário aos híbridos, os elétricos ficaram de fora por causa da iminente crise elétrica: segundo fontes afirmaram à reportagem, o governo calculou que incentivos a modelos elétricos poderiam gerar desconforto na opinião pública.

Agora, porém, o governo mudou de ideia. Em comunicado publicado no site do Mdic, a Camex afirmou que “a decisão foi tomada após amplo debate sobre o tema e que a medida busca inserir o Brasil em novas rotas tecnológicas, oferecendo ao consumidor veículos com alta eficiência energética, baixo consumo de combustíveis e reduzida emissão de poluentes”.

Segundo a Camex, essas medidas fazem parte da política de fomento para novas tecnologias de propulsão e atração de novos investimentos para a produção nacional dos veículos elétricos, híbridos ou movidos a célula de hidrogênio.

Para Luiz Moan, presidente da Anfavea, a resolução representa um grande avanço para o Brasil. “Ela possibilita ao consumidor acesso ao que há de mais moderno em tecnologia no mundo e abra espaço também para a ampliação do desenvolvimento local de novas tecnologias, inserindo a engenharia brasileira nas principais rotas tecnológicas globais, inclusive com a oportunidade de criar soluções que utilizem o etanol”.

A presença dos elétricos ainda é tímida no mercado nacional: de janeiro a setembro foram emplacadas 664 unidades, uma participação marginal no mercado. Em todo 2014 as vendas somaram 855 unidades.

Ainda tem IPI – Cabe ressaltar que apenas o imposto de importação foi reduzido. A todos os modelos incide o IPI e, no caso daqueles que ultrapassem a cota do Inovar-Auto da montadora, os trinta pontos porcentuais deste tributo. Como não há projeto de modelos elétricos aprovados pelo Mdic, não há exceções.

Mas já há movimentação dentro do Congresso para alterar esse cenário. Há uma semana foi aprovado um projeto de lei que isenta por até dez anos o IPI para elétricos e híbridos de fabricação nacional na Comissão do Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado Federal. Suspende também, por igual período, a cobrança de IPI nos equipamentos de recara de baterias usadas nesses veículos.

Não para por aí: o projeto do senador Eduardo Braga prevê isenção de imposto de importação para partes e acessórios sem similar nacional, desde que sejam usados para fabricação de veículos e recargas de bateria.

A matéria foi encaminhada à Comissão de Assuntos Econômicos da casa.

Resil demite e Sindicato do ABC protesta contra Denatran

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC abriu guerra contra a decisão do Denatran de colocar fim à obrigatoriedade dos extintores de incêndio em automóveis e comerciais leves no País. Para a entidade, a iniciativa representará cortes de postos de trabalho – na segunda-feira, 26, a Resil, fabricante do produto, demitiu 350 trabalhadores, segundo o Sindicato. Em protesto cerca de 500 metalúrgicos, também de acordo com os representantes dos funcionários, interromperam o trânsito no início da Rodovia dos Imigrantes na manhã da terça-feira, 27.

Os metalúrgicos prometem ainda rumar a Brasília, DF, para pressionar por os deputados do Congresso Nacional para que aprovem Projeto de Decreto Legislativo que susta os efeitos da medida, apresentado por deputado por Pernambuco e que recebeu requerimento de urgência.

Para o presidente do sindicato, Rafael Marques, em nota, a decisão do Contran foi um erro. “É um crime contra o trabalhador fazer uma mudança desse porte sem uma discussão profunda. Quem toma uma decisão como essa sabe que ela causará demissões”, afirmou em comunicado.

Para ele, ainda na nota, “falta procedimento ao Contran. Em nenhum momento houve qualquer sinalização de que a obrigatoriedade seria extinta, ao contrário. Eles vinham aumentando as exigências em relação aos extintores, o governo fazia pressão para que o setor aumentasse a oferta do produto e, de repente, deram esse cavalo de pau”.

Em setembro o Contran anunciou o fim da obrigatoriedade do uso dos extintores para veículos leves, medida que já durava 45 anos e que tinha no Brasil o único grande mercado com tal exigência. O órgão, ligado ao Ministério das Cidades, alegou que as fabricantes não conseguiram adequar a produção à demanda pelo tipo ABC, mesmo com sua regulamentação estabelecida há dez anos.