Inadimplência cresce e chega a 4%

Após nove meses consecutivos de estagnação o índice que mede os atrasos de pagamentos nos financiamentos de veículos para pessoas físicas avançou 0,1 ponto porcentual no mês passado. Segundo dados divulgados pelo Banco Central do Brasil na terça-feira, 27, em setembro a inadimplência do setor automotivo ficou em 4%.

Desde dezembro de 2014 não havia alteração no índice, estacionado nos 3,9%. A última alteração, inclusive, havia sido para baixo, passando de 4,1% em novembro para 3,9% no último mês do ano passado – e seguia uma trajetória descendente.

A última vez que a inadimplência tinha registrado alta de um mês para o outro fora de abril de 2014 para maio, quando os atrasos nos pagamentos superiores a noventa dias por pessoas físicas cresceram de 4,9% para 5%.

Na comparação com um ano atrás a inadimplência registrou recuo de 0,4 ponto porcentual.

A inadimplência geral nas operações de créditos financeiros, superiores a noventa dias, ficou estável em setembro, marcando 3,1% – mas com um crescimento de 0,2 p.p. em doze meses. Houve manutenção dos índices tanto nos créditos para as famílias, em 3,9%, e para as empresas, em 2,4%.

Futuro Civic nacional utilizará tecnologia downsizing

A Honda anunciou na terça-feira, 27, que produzirá a nova geração do Honda Civic, apresentada recentemente nos Estados Unidos, também no Brasil. E mais: que o modelo utilizará motor 1,5 litro VTEC turbo com injeção direta, de 174 cv, quatro cilindros.

Atualmente a gama do Civic nacional oferece versões com motor 1,8 litro, com até 140 cv, e 2 litros, até 155 cv, ambos flex e quatro cilindros.

Desta forma o modelo passará a contar com tecnologia downsizing, utilizando motor com menor litragem porém adicionado de turbocompressor e injeção direta, em nome de redução dos índices de consumo e emissões sem comprometimento do desempenho do veículo.

A fabricante não forneceu outros pormenores, como datas de início de produção e se o motor será nacional ou flexível. Mas aparentemente deixou em aberto a possibilidade de outros motores da linha VTEC turbo, que também conta com opções 1.0 e 2.0, serem aplicados aqui, ao considerar que “os motores foram projetados para equipar automóveis de pequeno e médio porte” e, ainda, adicionar que “as variações de cilindrada 2.0, 1.5 e 1.0 permitem que os motores sejam adotados em modelos globais, de acordo com as características de cada veículo e particularidades do mercado onde é comercializado”.

A gama destes motores foi lançada no Japão, há dois anos. Segundo a montadora, obtêm redução no consumo de 5% a 10% na comparação com os VTEC – de sistema de comando de válvulas com controle eletrônico – aspirados.

O VTEC turbo 1.0 tem três cilindros e potência estimada em 120 cv. E o 2.0, quatro cilindros, alcança 280 cv. O Civic Si atualmente vendido no Brasil, importado, conta com motor 2,4 litros VTEC aspirado com 206 cv.

Scania reajustará preço da sua linha em 10%

A Scania informou por meio de comunicado divulgado na segunda-feira, 26, que promoverá dois reajustes nos preços de todo o seu portfólio de caminhões e chassis de ônibus comercializados no mercado brasileiro. Uma primeira etapa já foi cumprida: o preço dos produtos subiu 3%.

Segundo a companhia outro aumento será feito em janeiro, dessa vez de 7%, somando 10% de correção no valor cobrado pelos produtos da marca. No comunicado a montadora justificou a medida “em razão dos aumentos de custos, consequência da inflação e da desvalorização cambial”.

A fabricante de caminhões e ônibus segue a tendência de seus concorrentes, que, se ainda não promoveram, estão finalizando as contas para realizar os reajustes de preço.

Na semana passada durante o painel sobre veículos comerciais do Congresso AutoData Perspectivas 2016 o diretor comercial da DAF, Luís Gambim, e o da Volvo, Bernardo Fedalto, admitiram que suas linhas teriam preços corrigidos. Na DAF os preços subirão de 8% a 10% em janeiro. Fedalto não revelou de quanto será a correção na tabela da Volvo, nem quando serão promovidos os reajustes.

Outra empresa que fará reajustes nos preços de seus caminhões será a MAN Latin America. Roberto Cortes, presidente, informou aos participantes do Congresso AutoData que uma correção de 2% será feita a partir de novembro e outra de 5,5% ocorrerá em janeiro. Há segundo ele, porém, uma defasagem de 15%, que será corrigida com outros dois aumentos, um no segundo trimestre e outro ao longo da segunda metade de 2016.

PF prende vice-presidente da Anfavea e interroga fundador da Caoa

A segunda-feira 26 de outubro de 2015 ficou marcada como o dia em que a indústria automotiva nacional saiu dos cadernos de economia dos jornais e foi parar na área dedicada à cobertura policial. Isso porque a Polícia Federal iniciou nova fase de investigações da chamada Operação Zelotes, que investiga ações de manipulação do trâmite de processos e no resultado de julgamentos no Carf, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, órgão da Receita Federal.

Segundo comunicado da PF, aproximadamente cem policiais atenderam a 33 mandados judiciais – seis de prisão preventiva, 18 de busca e apreensão e nove de condução coercitiva. A ação ocorreu no Distrito Federal e nos estados de São Paulo, Piauí e Maranhão. De acordo com o órgão, “esta nova etapa da operação aponta que um consórcio de empresas, além de promover a manipulação de processos e julgamentos dentro do Carf, também negociava incentivos fiscais a favor de empresas do setor automobilístico”.

O comunicado da PF afirma que “as provas indicam provável ocorrência de tráfico de influência, extorsão e até mesmo corrupção de agentes públicos para que uma legislação benéfica a essas empresas fosse elaborada e posteriormente aprovada”. As empresas, no caso, são a MMC e o Grupo Caoa, que teriam sido beneficiadas por Medida Provisória que estendeu de 2011 a 2015 os benefícios fiscais válidos para montadoras instaladas nas regiões Centro-Oeste e Nordeste – ambas estão em Goiás, sendo a Mitsubishi em Catalão e a Caoa em Anápolis.

De acordo com os jornais O Globo e O Estado de S. Paulo a PF realizou a prisão preventiva de Mauro Marcondes Machado, vice-presidente da Anfavea, na condição de representante da MMC, a Mitsubishi brasileira. Ele é presidente de uma das empresas investigadas, a Marcondes & Mautoni Empreendimentos. O jornal O Globo afirma que a sócia e esposa de Machado, Cristina Mautoni, também foi presa.

Em nota assinada por Luiz Moan, seu presidente, a Anfavea afirma “tratar-se de casos particulares dos citados”. Mas suspendeu temporariamente Machado de sua diretoria, alegando que a iniciativa ocorre “em defesa da coletividade e dos interesses das associadas”. O comunicado afirma ainda que o prazo de suspensão se dará pelo “período necessário para defesa e conclusão do processo investigativo pelos órgãos institucionais”.

Mauro Marcondes Machado é figura muito conhecida no setor automotivo nacional. Além da Anfavea e da MMC, também atuou por muitos anos na Scania e Volkswagen. A ligação do executivo com o próprio presidente da Anfavea é antiga: a primeira passagem de Moan pela associação partiu justamente de indicação de Machado, à época em que os dois trabalhavam na VW. Quando Machado foi para a Scania, Moan assumiu seu posto de secretário-executivo na associação.

Ainda de acordo com o jornal O Estado de S. Paulo a PF também realizou busca e apreensão de documentos e equipamentos na sede da MMC, em São Paulo.

Além disso o fundador do Grupo Caoa, o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, também foi um dos envolvidos na ação da PF, este em condução coercitiva.

Em nota, o Grupo Caoa confirmou que Andrade, hoje presidente do Conselho, “esteve na PF de São Paulo para prestar depoimento”. Para a empresa, entretanto, este ocorreu “apenas na qualidade de testemunha-informante”. Também de acordo com o Grupo o empresário “cumpriu seu dever de cidadão e atendeu à convocação referida”.

O comunicado prossegue afirmando que a empresa “jamais contratou qualquer pessoa física ou jurídica ou pagou qualquer importância para a aprovação de Medidas Provisórias. Ressalta, também, que nos dois Recursos que impetrou junto ao Carf obteve resultados negativos, ou seja, esses recursos não foram acolhidos, por decisão unânime, o que significa que ali não obteve qualquer decisão que lhe favorecesse”.

 

Reflex & Allen começa a produzir mangueiras para a reposição

As linhas da antiga fábrica da Sabó, no bairro da Lapa, em São Paulo, começaram a produzir este mês mangueiras de borracha para o mercado de reposição. A multinacional italiana Reflex & Allen, dona de uma parte do espaço desde abril, pretende lançar os produtos até o fim do ano – serão mais de 250 códigos, que cobrirão mais de 80% do mercado.

Os produtos manterão as características dos originais – a Reflex & Allen será, portanto, a única fornecedora de mangueiras de borracha que atenderá os dois segmentos, OEM e reposição. Os italianos investirão US$ 6 milhões em dois anos para reorganizar a fábrica de 8 mil m², que emprega 160 trabalhadores, grande parte oriunda da Sabó.

Segundo Alex Fabbroni, CEO da empresa no País, o objetivo é crescer 50% o faturamento no ano que vem, comparado com o resultado deste ano. “Temos a melhor linha de mangueiras de borracha para o mercado original e o de reposição. Montamos a melhor equipe para produzir esses produtos e nos tornaremos os únicos fornecedores OEM a abastecer também o aftermarket, com a mesma qualidade e garantia”.

A Reflex & Allen ocupa o prédio que abrigava a divisão de mangueiras da Sabó, que em abril resolveu vender o negócio para se dedicar a outros produtos. No espaço funcionam oito extrusoras, dezesseis vulcanizadoras, cinco injetoras e trinta células de montagem. Dentre seus clientes estão montadoras, como Fiat, General Motors, Honda e Volkswagen, e fabricantes de motores como Cummins e MWM.

Honda é a Empresa do Ano do Prêmio AutoData 2015

Cerca de duzentos convidados presenciaram a revelação dos vencedores do Prêmio AutoData 2015 – Os Melhores do Setor Automotivo, em cerimônia realizada no início da noite da quarta-feira, 25, no Milenium Centro de Convenções, na Zona Sul de São Paulo.

A Honda sagrou-se como a maior vencedora daquela que já é a décima-quinta edição do Prêmio AutoData: abocanhou o título de Empresa do Ano, nomeada dentre todas as vencedoras das dezesseis categorias empresariais por um conselho de notáveis formado por Alencar Burti, André Beer, Luiz Carlos Mello e Francisco Bueno.

A montadora levou para casa ainda os troféus das categorias Montadora de Automóveis e Comerciais Leves e Sustentabilidade.

A categoria Personalidade do Ano foi vencida por Stefan Ketter, da FCA Fiat Chrysler Automobiles – que também comemorou a vitória do Jeep Renegade na categoria Veículo Automóvel.

Durante o evento os realizadores do Prêmio AutoData também renderam suas homenagens a Waldey Sanchez. Dono de uma carreira brilhante no setor automotivo brasileiro, ele deixou em meados do ano o posto de presidente e CEO da Navistar International no Mercosul.

O Prêmio AutoData é um dos mais importantes e disputados reconhecimentos aos esforços das empresas e pessoas do setor automotivo nacional, realizado anualmente de forma pioneira e ininterrupta desde 2000. É reconhecido informalmente no meio automotivo como o Oscar do setor no País. Os eleitores foram os próprios assinantes da Revista AutoData, da Agência AutoData de Notícias e os participantes do Congresso AutoData Perspectivas 2016, realizado no mês passado em São Paulo.

Ferrari estreia em Wall Street

A tradicional fabricante italiana de esportivos de luxo Ferrari colocou a disposição dos investidores e de seus fãs 10% de suas ações. Desde a quarta-feira, 21, os papéis da companhia estão sendo negociados na Bolsa de Wall Street, em Nova York – e a estreia foi boa: cada ação que valia US$ 52 na abertura do pregão fechou a US$ 55, valorização de quase 6%.

Com isso a FCA, Fiat Chrysler Automobiles, que ainda detém 80% da companhia – os outros 10% estão em posse da família – lucrou mais de US$ 900 milhões com a abertura de capital, valor que será usado para financiar seu plano industrial, segundo informações de agências internacionais.

O chairman do Grupo FCA, John Elkann, neto de Gianni Agnelli, e o Sergio Marchionne, chairman da Ferrari, tocaram o tradicional sino que marca a abertura da bolsa estadunidense para celebrar o início das negociações dos papéis da empresa, que têm a sigla RACE. A fachada da Bolsa de Wall Street recebeu enfeites com os símbolos da marca do cavalo.

Na tarde de sexta-feira, 23, as ações da companhia de Maranello estavam sendo negociadas por US$ 57,3.

NNG chega ao Brasil e quer 50% do mercado de reposição

Ao oficialmente fincar seus pés no mercado nacional com a abertura de um escritório em São Paulo, a desenvolvedora de softwares para navegação NNG, de origem húngara, traçou uma meta nada modesta: colocar seus mapas em 50% do mercado de reposição em dois anos.

Sem mencionar o quanto isso significa em volume, o gerente geral de vendas da NNG Brasil, Fernando Goto, contou que a bagagem da NNG no Exterior ajudará a alcançar esses objetivos, mesmo diante da crise econômica do País. Segundo ele os maiores índices de crescimento da companhia foram alcançados em 2008, quando a Europa passava por crise.

“Nosso crescimento global chega a 40% ao ano”.

A NNG, dona da marca iGO, fornece os mapas e configurações de sistemas de navegação para montadoras, sistemistas e fabricantes de aparelhos de GPS, embora estes ultimamente tenham perdido espaço no mercado. Seus softwares já são conhecidos dos brasileiros – equipam modelos Hyundai, Renault e Toyota, por exemplo.

Embora esteja com foco definido na reposição, onde o potencial de crescimento é enorme devido ao tamanho da frota e a crescente busca por multimídia pelos consumidores, a NNG trabalha com projetos para o segmento OEM, globais ou locais. Maior proximidade do cliente foi um dos pontos fundamentais por decidir abrir seu escritório da América Latina, com sede em São Paulo – e que atenderá da Argentina ao México.

“Queremos fortalecer nossas relações com parceiros e clientes por meio do contato direto. Com o atendimento local conseguiremos também entender e atender os requisitos específicos da região”.

Chegar ao Brasil em meio à queda de mais de 20% nas vendas de veículos 0km não assusta a companhia, que vê um aumento na demanda por modelos com a sua tecnologia. “O segmento de SUVs compactos, por exemplo, é um dos que segue a trajetória oposta e cresce no mercado. Nele quase 100% dos veículos saem de linha equipados com sistemas de navegação”.

Celulares – À primeira vista os smartphones e seus aplicativos de navegação gratuitos podem ser encarados como concorrentes da NNG. Mas a empresa não enxerga o cenário dessa maneira.

“Não consideramos os celulares concorrentes. Nossos produtos conseguem oferecer o melhor dos dois mundos”.

Goto explicou que a principal desvantagem do uso dos aplicativos, a necessidade de sinal de internet, é corrigida com os seus navegadores. “Ao sair de casa ou do trabalho o consumidor traça a sua rota em seu celular e, ao entrar no carro, sincroniza essa rota com o navegador do automóvel. Assim ele consegue navegar desconectado e tem sempre os mapas atualizados”.

Essa sincronização pode ser feita por meio de tecnologia bluetooth ou cabo USB. Mas para ter informações do trânsito em tempo real, por exemplo, ainda é necessária a conexão com a internet. A vantagem, no caso, será poder acompanhar a navegação pela tela do sistema multimídia do veiculo.

Brasil ainda é maior que todos os países da América do Sul e Central somados

O Brasil se mantém com folga como o maior e mais importante mercado da América do Sul e Central em 2015 – e, assim, um dos mais relevantes do mundo – mesmo com a retração nos negócios verificada neste exercício. Levantamento da Agência AutoData com base em dados divulgados pela Oica, a associação mundial das fabricantes, aponta que o mercado local ainda é muito maior que a soma de todos os demais 24 países da América do Sul e Central.

Os números, relativos ao primeiro semestre deste ano, compreendem a venda total de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. De janeiro a junho o Brasil respondeu pela comercialização de 1 milhão 319 mil unidades, enquanto que a soma das vendas na Argentina, Bahamas, Belize, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, Guadalupe, Guatemala, Guiana, Honduras, Jamaica, Martinica, Nicarágua, Paraguai, Peru, Porto Rico, República Dominicana, Trindade e Tobago, Uruguai e Venezuela no mesmo período foi de 970 mil unidades.

Ou seja: mesmo com a redução de 21% na comparação com o mesmo período de 2014, o Brasil ainda vendeu quase 350 mil unidades a mais que a soma de todos os países da região. Para se ter uma ideia do que isso significa, nenhum dos demais 24 mercados têm volume que chegue sequer a esta diferença. O mais próximo é a Argentina, com 312 mil unidades no período, segundo os cálculos da Oica. O terceiro maior mercado da região foi a Colômbia, com 149 mil, seguido pelo Chile, 137 mil, e Peru, 87 mil, fechando os cinco primeiros.

Assim, a magnitude brasileira pode ser comparada a outras regiões do mundo: o mercado local é maior do que o do Leste Europeu, formado por 13 países, com 596 mil, e também que a soma de todos os 27 mercados da África, de 772 mil, e empata com a região Rússia-Turquia, formada por 10 países, com 1,3 milhão.

Mas a baixa do mercado nacional registrada desde o ano passado mudou um dos comparativos globais de vendas. Até o ano passado o Brasil não só era maior que toda América do Sul e Central mas também superava a soma da América Latina, incluindo no cálculo o México. Mas neste ano, combinando uma queda de dois dígitos no Brasil e alta de dois dígitos do mercado mexicano, esse fenômeno não se repete mais. A soma de toda América Latina, excluindo-se o Brasil, chega neste primeiro semestre a 1 milhão 590 mil.

Ainda de acordo com os dados da Oica o primeiro semestre deste ano terminou com vendas totais no mundo de 44,5 milhões de autoveículos, crescimento de 1% ante o mesmo período do ano passado, de 44,3 milhões.

Exportações oferecem saídas. Mas improviso não tem lugar.

Definitivamente o modelo de negócios das empresas brasileiras não dá a devida importância à expansão em mercados fora do País. Na verdade a saída para as exportações, na maior parte das vezes, é um caminho alternativo que o empresário brasileiro tenta utilizar quando se instala a crise de demanda.

A lista de queixas empresariais sobre a falta de competitividade do produto brasileiro é grande e vai da taxa de câmbio, passa pela excessiva carga tributária, pelo alto custo da mão de obra com todos seus encargos, pela infraestrutura de logística acanhada e por outros fatores que geram o custo Brasil. Os gestores citam também a ausência de políticas públicas consistentes de apoio à exportação.

Não deixam ter suas razões esses empresários, mas o fato é que pouco se faz nas companhias para encarar o desafio de exportar. E digo mais: na grande maioria das empresas o mercado no Exterior não faz parte do planejamento estratégico de crescimento e de lucro.

Segundo dados disponíveis no site da europeia OCDE, Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento, no ano passado o Brasil, com seus US$ 225 bilhões em exportações, ficou no modesto décimo-oitavo lugar no mundo. Em primeiro lugar, lógico, veio a China com US$ 2,3 trilhões, em seguida os Estados Unidos com US$ 1,6 trilhão, depois a Alemanha com US$ 1,5 trilhão. Ficamos atrás de Rússia, US$ 498 bilhões, Bélgica, US$ 471 bi, México, US$ 397 bilhões, e Índia, US$ 322 bilhões.

Esses dados mostram com clareza nosso modo de fazer negócios, sobretudo nas empresas manufatureiras e de serviços: “extrema dependência do mercado interno” – e aí, quando vem uma crise econômica como a que agora atravessamos, boa parte do empresariado começa a discutir a viabilidade de exportar.

Na exportação, assim como nas vendas locais, não existe lugar para improvisação se de fato uma empresa quiser jogar o jogo para ganhar. É preciso muito estudo, análise e conhecimento de mercado para, de modo estruturado, desenvolver um plano estratégico de atuação em outros países. Mais importante: é necessário desejo, determinação e engajamento de toda a liderança do negócio na execução da estratégia.

Sim. Temos lá nossas dificuldades internas: baixa produtividade da indústria, burocracia excessiva, alta carga tributária, incerteza na taxa de câmbio, acanhada inovação tecnológica e ainda a barreira da língua, pois poucos dos brasileiros dominam um idioma estrangeiro.

Afinal por que a exportação é importante para uma empresa? A participação de uma companhia no mercado exterior traz muitos benefícios: a) protege o negócio das flutuações na demanda interna; b) aumenta a escala de produção ajudando na melhor absorção dos custos fixos e ainda diminui custo de compras; c) pode alongar a vida de produtos que no mercado interno possam estar no fim; d) exige constante foco na qualidade de produto e de entrega; e e) desenvolve capacidade interna nas áreas de marketing e vendas.

No caso do setor automotivo, nesse momento, discute-se intensamente o que fazer com a enorme capacidade ociosa provocada pela demanda mais baixa e também por investimentos excessivos na expansão de plantas industriais e, ainda, pela vinda recente de novos fabricantes. Dados recentes indicam ociosidade superior a 50% tanto no segmento de veículos leves como nos comerciais pesados. E essa situação não deve mudar substantivamente no médio prazo, até 2018…, caso continuemos dependentes tão somente do mercado interno. Isso foi exposto pelos diversos líderes da indústria que participaram do mais recente Congresso Perspectivas promovido pela AutoData Editora.

Na verdade nós pouco evoluímos na mudança de patamar de exportações, tanto nas montadoras, cujo valor total exportado fica abaixo de 10% do faturamento total, enquanto em autopeças, em 2014, a cifra total atingiu US$ 9 bilhões, com queda de quase 15% comparativamente a 2010, por exemplo.

Há ainda uma questão desafiadora quando observamos o mix de exportação quanto aos países servidos, pois as montadoras brasileiras entregam mais de 70% do total na Argentina, vindo em sequência como destino o México, com 11%, e a África do Sul, com 4,6%. A situação é mais equilibrada para as autopeças, de cujo total exportado em 2014 33% foram destinados à Argentina, 19% à União Europeia, 16% aos Estados Unidos, ficando o México em quarto lugar de destino com 9%. Isso é bom porque mitiga impactos em volume que possam ser ocasionados por fraco desempenho de uma ou outra região.

Está a favor de uma expansão de negócios no Exterior o atual nível de taxa de câmbio e também a enorme ociosidade do parque industrial do setor. Acredito, por outro lado, que as entidades representativas das fabricantes de veículos, como também do setor de autopeças, tenham claro na agenda o apoio às empresas associadas incluindo aí o engajamento de autoridades do governo para acelerar acordos comerciais, como o recentemente anunciado com a Colômbia.

Como disse anteriormente não se deve improvisar na estratégia de alavancar as vendas ao Exterior e isso é recomendável principalmente para as empresas nacionais de pequeno e médio porte. Um plano tem de ser desenhado para que a iniciativa resulte em negócios consistentes por longo espaço de tempo. O plano deve conter:

  • estudo profundo das condições do mercado no país envolvendo preços praticados, concorrência e também as leis de comércio e cultura do lugar;
  • análise sobre o portfólio de produtos, conteúdo tecnológico e determinação depreço;
  • avaliação da infraestrutura de distribuição e de como usualmente é servido o mercado;
  • definição, onde aplicável, dos meios de comunicação e divulgação do produto e da marca;
  • análise para a construção de eventuais parcerias com empresas já estabelecidas naquele mercado;
  • definição de mecanismos para prestar serviços de assistência técnica e de garantia; e
  • modelo financeiro robusto que mitigue flutuações da moeda. Internamente a empresa precisa dispor de um grupo de funcionários totalmente voltado para suprir as exigências das exportações com habilidades e conhecimento para manutenção relacionamento de alto nível com empresas no estrangeiro.

De fato precisamos em nosso País de mais empresários dispostos a atender mercados de outras regiões de modo estruturado e não tão somente quando a crise do mercado interno se instala. As exportações podem fazer enorme diferença no crescimento dos negócios e no aumento da lucratividade, além de trazerem enorme aprendizado para toda a organização.