A míngua oferta de veículos 0 KM com preços inferiores a R$ 30 mil nas concessionárias brasileiras tem ampla contribuição para a retração de 20,4% nos licenciamentos de automóveis e comerciais leves de janeiro a agosto na comparação com o mesmo período do ano passado: a maior parte dos clientes dessa faixa de preço migrou para o segmento de veículos seminovos e usados.
Nos primeiros oito meses do ano o mercado de veículos de segunda mão seguiu a contramão da indústria – e da economia em geral – e apresentou avanço de 3,8% no mesmo comparativo. Enquanto as vendas de novos caíram 432,4 mil unidades, as de usados ganharam incremento de 242,7 mil veículos em igual período.
Somados os dois segmentos a retração chega a apenas 2,2%. De janeiro a agosto do ano passado foram comercializados 8,5 milhões de automóveis e comerciais leves seminovos, usados e 0 KM, enquanto nos primeiros oito meses deste ano o volume chegou a 8,3 milhões.
Dados da Fenabrave indicam que os brasileiros compraram 189,7 mil automóveis e comerciais leves a menos em 2015 comparado com 2014. O volume equivale a menos de um mês de vendas de 0 KM – em agosto os licenciamentos somaram 200 mil unidades.
“Hoje o verdadeiro carro popular brasileiro é o carro usado”, sacramentou Guilherme Afif Domingos, ministro-chefe da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, durante o 25º Congresso Fenabrave.
Já Rafael Marques, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, culpa as montadoras pelo sumiço dos modelos mais baratos do mercado. “Elas não oferecem mais opções nessa faixa de entrada.”
De fato nos últimos anos sumiu dos showrooms das concessionárias a ampla oferta de veículos com preços abaixo de R$ 30 mil. Há dois anos, antes da obrigatoriedade do air bag e dos freios ABS em 100% da frota comercializada, era possível encontrar ao menos um modelo de cada marca com grande volume de vendas por esse valor. Chevrolet Celta, Fiat Uno Mille, Ford Ka da antiga geração e Volkswagen Gol G4 eram alguns exemplos, sempre com bons desempenhos no mercado.
Segundo levantamento da Agência AutoData, com base no preço de tabela do Datafolha Veículos, restaram poucas opções 0 KM abaixo dos R$ 30 mil. Apenas o Palio ainda tem oferta, mas da versão Fire, duas gerações anterior à mais nova. O Celta não é mais produzido, assim como o Mille e o Gol G4 – neste caso o modelo novo parte de R$ 31,2 mil. O Ka de nova geração agora parte de R$ 39,4 mil enquanto o Clio mais acessível é sugerido por R$ 34,9 mil.
Apenas dois modelos chineses podem ser encontrados abaixo da barreira dos R$ 30 mil: o Chery QQ, por R$ 25,6 mil, e o Geely GC2, por R$ 29,9 mil.
As montadoras se defendem e afirmam que os preços dos automóveis são reajustados abaixo da inflação, algo que não ocorre com os custos trabalhistas e produtivos. Alegam também que os modelos ganharam novos componentes obrigatórios, como os ABS e air bag, o que os tornou mais custosos.
Para Luiz Moan, presidente da Anfavea, o preço dos carros voltou ao patamar defendido pelo ex-presidente Itamar Franco há vinte anos. “Voltamos a oferecer carros por US$ 7 mil, mesmo com toda a inflação do período.”
Mas não é só isso: o perfil do consumidor também mudou. Para o brasileiro não basta mais ter o carro ‘pé-de-boi’, como ficaram conhecidos os automóveis sem opcionais. Ar-condicionado, bluetooth e outros itens de conforto e segurança pesam na hora da decisão, segundo o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior.
“Antes tínhamos mais modelos na faixa de R$ 25 mil a R$ 30 mil e hoje os veículos de entrada estão acima de R$ 35 mil. Isso gera uma migração para os seminovos. As montadoras mudaram o perfil de oferta porque o consumidor mudou: ele não quer mais carro pelado.”
A busca por financiamentos também reflete esse cenário. Segundo a Cetip, que opera o Sistema Nacional de Gravames, foram financiados 990,3 mil automóveis e comerciais leves novos de janeiro a agosto, queda de 22,7% com relação ao mesmo período do ano passado, enquanto no segmento de usados houve recuo de apenas 3%, para 1,8 milhão de unidades.
Isolando-se os modelos com quatro a oito anos de uso os financiamentos cresceram 1,5%, para 993,9 mil unidades. Um Toyota Corolla 2007, por exemplo, com muitos itens de segurança e conforto, pode ser encontrado por menos de R$ 30 mil – foi o décimo-segundo usado mais vendido no mercado brasileiro em agosto.
Segundo Marques o consumidor brasileiro não deixou de comprar automóvel. “O mercado [de novos somados com usados] existe e segue praticamente no mesmo tamanho do ano passado”.
O metalúrgico lembra que as vendas de usados caíam enquanto as de 0 KM cresciam até 2012. No ano seguinte os dois mercados ficaram estáveis e desde o ano passado, quando a obrigatoriedade do ABS e do air bag começou a vigorar e alguns modelos foram descontinuados, os desempenhos se inverteram. Neste ano, com o fim do IPI e novo reajuste de preços, a curva dos usados para os novos se distanciou.
O diagnóstico de Marques resume o cenário atual: “O consumidor está aí e não deixou de adquirir veículos. Apenas mudou seu perfil de compra”.


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