
Em um cenário de queda nas vendas, produção menor, afastamento de funcionários e até mesmo demissões, o segmento de ônibus urbanos espera por um alento – que pode vir da Prefeitura de São Paulo. Há dois anos a cidade mais populosa do País ensaia uma renovação da frota de ônibus e a promessa pode sair do papel no segundo semestre.
Durante o Workshop AutoData de Tendências Setoriais – Ônibus, realizado na segunda-feira, 29, no Milenium Centro de Convenções em São Paulo, representantes das montadoras MAN Latin America, Mercedes-Benz e Scania e das encarroçadoras Marcopolo e Caio discutiram o segmento de ônibus urbanos.
Em meio aos maus resultados das vendas de ônibus no primeiro semestre – que devem registrar queda de até 50% nas vendas em relação ao mesmo período de 2014 – os executivos afirmaram que a renovação de frota de São Paulo pode amenizar a retração no segmento de urbanos.
De acordo com Walter Barbosa, diretor de vendas da divisão de ônibus da Mercedes-Benz, cerca de 1,3 mil ônibus deverão ser adquiridos pelo município – atualmente há 15 mil ônibus em circulação na cidade. “O anúncio dessa compra já era para ter acontecido em maio, mas nada foi divulgado. Esperamos que haja novidade durante o segundo semestre.”
Paulo Corso, diretor de operações de comércio de ônibus da Marcopolo, é menos otimista. “Estimo que esta renovação deva acontecer apenas no ano que vem. Várias outras prefeituras devem anunciar renovação, ainda que em escala menor, em 2016, no intuito de dar visibilidade aos prefeitos que tem intenção de se reeleger.” – este é movimento tradicionalmente cíclico do segmento de urbanos.
Apesar de não existir ainda um fato concreto, a possibilidade de renovação de frota é uma das únicas esperanças do segmento. Maurício Lourenço da Cunha, diretor industrial da Caio, afirmou que o mercado não deve apresentar reação no segundo semestre. “Começamos o ano com projeções, que viraram estimativas, que passaram a ser expectativas e que agora são somente esperança.”
Antonio Cammarosano, diretor de vendas da MAN Latina America, também não acredita em uma melhora no curto prazo. “Vivemos um dos piores momentos da indústria. A elevação dos custos e as dificuldades para obter financiamento não devem passar tão rápido. Hoje um comprador paga em média R$ 800 a mais em cada parcela de um financiamento de ônibus, devido ao aumento dos juros. Imagine isso em uma compra de 100 unidades. É insustentável.”
Na Scania, que viu suas vendas de ônibus caírem 76% no acumulado do ano até maio, para apenas 86 unidades, a meta é pensar no longo prazo. Em tom de brincadeira, Silvio Munhoz, diretor de vendas de ônibus da Scania, afirmou: “A boa notícia é que vendemos tão pouco que daqui para frente só pode melhorar”. O executivo afirmou ainda que a empresa planeja lançamentos de olho nos próximos cinco anos. “Estamos olhando para a frente.”
Caminho da Escola – Um dos grandes problemas do segmento de ônibus urbanos neste ano é a falta de compras governamentais. O programa Caminho da Escola já comercializou cerca de 50 mil unidades desde 2007 e acabou criando um sub-segmento dentro da categoria de urbanos.
Em 2013 foram vendidos 10 mil ônibus para o programa, enquanto que no ano passado o volume passou para 5 mil e neste ano foram apenas 750. “Praticamente perdemos um segmento. Além disso, o governo federal ainda deve cerca de R$ 500 milhões deste programa aos fabricantes do segmento, em atraso que já beira um ano”, afirmou Corso, da Marcopolo.
Se extraídas as vendas para o programa federal o segmento de urbanos é um dos menos afetados, com vendas aproximadamente 3% menores no acumulado do ano. “Ainda há cerca de 340 mil ônibus com idade média acima de 17 anos no Brasil e isso significa que o mercado será promissor nos próximos dez anos”, avaliou Barbosa, da Mercedes-Benz.
O ajuste fiscal promovido pelo governo federal está demorando mais do que o previsto. É o entendimento de Luiz Carlos Moraes, vice-presidente da Anfavea, que usa de curiosa analogia para definir o momento: “É como um esparadrapo colado à pele: pensamos que seria retirado de uma só vez, para que a dor fosse forte mas imediata, e logo passasse. Mas o que vemos é que, por razões políticas, há uma demora muito grande, que só vai prolongando a dor.”

O quadro de funcionários da indústria automotiva brasileira foi reduzido em 21,4 mil postos de trabalho em prazo de um ano e meio, baixando de 159,6 mil empregados em outubro de 2013 para 138,2 mil em maio. Só neste ano perderam o emprego 6,3 mil trabalhadores. E o excedente ainda é grande.
Em relação ao atual sistema de lay-off, uma das vantagens do PPE é o não afastamento de 100% dos empregados por uma período pré-determinado. De acordo com Moan, a dificuldade pode ser apenas em uma linha, sem necessidade de parada total – daí a necessidade de flexibilização.
As negociações envolvendo a venda da divisão brasileira da Affinia, fabricante de autopeças com atuação exclusiva no mercado de reposição, foram protagonizadas por um dos mais tradicionais grupos empresariais do setor automotivo brasileiro, o Comolatti. A companhia adquiriu 100% das ações da Pellegrino, uma das principais distribuidoras de autopeças nacionais, e ficou com 20% da operação industrial com fábricas em Diadema e Osasco, no Estado de São Paulo.
A Marcopolo anunciou, após reunião do seu Conselho de Administração na manhã de quinta-feira, 25, nomeação de Francisco Gomes Neto como diretor-geral da companhia a partir de 3 de agosto.