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19/03/2015

Jeep começa a produzir Renagade na fábrica da Fiat em Goiana

Por André Barros

- 19/03/2015

No apagar das luzes do governo de Luís Inácio Lula da Silva, o ex-presidente pernambucano fechou acordo com Cledorvino Belini, à época presidente da Fiat Automóveis do Brasil, e presenteou seu Estado natal com uma fábrica de automóveis. Ali, próximo ao porto de Suape, em 28 de dezembro de 2010, assentou-se a pedra fundamental da futura unidade. Na ocasião não se sabia o local exato, planejava-se produzir um subcompacto da marca e esperava-se que os primeiros modelos sairiam das linhas menos de três anos depois.

A Jeep anunciou que na quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015, começou a produção comercial do seu utilitário esportivo compacto Renegade na fábrica da Fiat Chrysler em Goiana. O modelo inaugura a linha de produção nordestina da unidade, a primeira pós-fusão do Grupo, e deverá chegar às revendas no próximo trimestre.

Muita coisa mudou nos 1 mil 514 dias que separam o assentamento da pedra fundamental da fábrica pernambucana da Fiat, no Porto de Suape, até o início da produção do Jeep Renegade em Goiana, no norte do Estado. A começar, é claro, pela aparente divergência nas informações fornecidas nos dois primeiros parágrafos: falamos, sim, do mesmo assunto!

O projeto que começou subcompacto Fiat deu forma a um utilitário esportivo Jeep, em reviravolta que há quatro anos ninguém imaginaria. De lá para cá Fiat e Chrysler uniram esforços, se fundiram e viraram FCA, Fiat Chrysler Automobiles, mudaram a sede da companhia para a Holanda e abriram capital na bolsa de Nova York, nos Estados Unidos, em cerimônia que contou com uma bandeira do país, da Itália e do Brasil.

Sergio Marchionne e Cledorvino Belini, que seguem como presidente global e da subsidiária da América Latina, respectivamente, mudaram totalmente os planos da unidade brasileira, também devido às nuances do mercado local.

Em 2010 o cenário era o oposto ao enfrentado atualmente: as vendas naquele ano cresceram 12%, para 3,5 milhões de unidades – exatamente o volume projetado pela Anfavea para 2015, em igualdade ao resultado do ano passado. As vendas da Fiat caíram 8,2% de 2010 a 2014, de 760,5 mil veículos para 698,1 mil unidades. A participação da ainda líder do mercado cedeu de 22,8% para 21%, ou 1,8 ponto porcentual a menos.

Goiana, onde está a fábrica e o parque com dezesseis fornecedores – existe um segundo parque em construção, segundo Belini, que em outubro do ano passado convocou os interessados a lá se instalar, durante o Congresso AutoData Perspectivas 2015 – surgiu na história apenas em agosto de 2011, sete meses depois do assentamento da pedra fundamental. O anúncio da mudança de endereço, embalado ao som de Alceu Valença, Mastruz com Leite e Saia Rodada, parou a pequena cidade que esperava ansiosa pela confirmação do empreendimento de R$ 4 bilhões, que ocupa terreno de 14 milhões de m2 – doado pelo governo estadual – e gerou mais de 3 mil empregos.

Pouco mais de um ano depois começaram as obras civis. Aí os planos de Marchionne de começar a produzir no fim de 2013 já foram por água abaixo: a diretoria já trabalhava com a previsão de inauguração para o segundo semestre de 2014. No fim do ano Belini confirmou uma fábrica de motores no empreendimento.

Durante esses mais de quatro anos a Fiat solicitou nada menos do que quatro linhas de financiamento a bancos públicos, somando mais de R$ 6 bilhões. Só o BNDES liberou mais de R$ 3 bilhões à companhia, que ainda abriu linhas com o FNDE, Fundo de Desenvolvimento do Nordeste, controlado pela Sudene, e com o Banco do Nordeste.

A última linha de crédito, de R$ 840 bilhões, veio justificada: os veículos inicialmente planejados para a fábrica em 2010 não seriam os mesmos que sairiam das linhas. Tratava-se de uma nova gama de produtos, mais evoluída.

Apenas no ano passado, após a fusão da Fiat com a Chrysler, a diretoria da companhia passou a tratar a fábrica como uma unidade Jeep e confirmou a produção do Renegade no local. Também em 2014 um centro de engenharia foi anunciado pela montadora, em Recife, em cerimônia com o então governador Eduardo Campos, falecido em acidente aéreo em agosto, quando era candidato a presidente da República.

A inauguração oficial da fábrica está agendada para 28 de abril, uma terça-feira. Acrescente-se, portanto, mais 68 dias aos 1 mil 514 e, caso desejado, mais 14 à conta, se a referência for o anúncio oficial. Serão ao todo, então 1 mil 596 dias para a terceira fábrica automotiva nordestina sair efetivamente do papel – há as unidades Ford em Camaçari, BA, e Horizonte, CE, esta dedicada à Troller.


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