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19/03/2015

Prepare-se: o carnaval de 2014 vem aí.

Por Marcos Rozen

- 19/03/2015

Senhoras e senhores, estejam preparados: fecharemos este fevereiro em nova queda de mais de 20% nas vendas. E este índice se repetirá no resultado do primeiro bimestre. Em alguns segmentos, como de caminhões, a retração será ainda maior. Sim, é isso mesmo.

Pronto: agora que você já se desesperou, vamos ao que de fato significam esses números.

A gigantesca maioria dos executivos do setor automotivo, em consultas realizadas por AutoData sobre 2015, indicou que neste ano estávamos livres de três eventos excepcionais registrados em 2014: carnaval em março – portanto tardio –, copa do mundo e eleições. E sim, este é um fato. Mas também é fato que não nos livraremos deles assim, de uma vez por todas, pois há que se recordar seus efeitos nos comparativos anuais.

O que equivale dizer que neste fevereiro vamos comparar as vendas em um mês com carnaval, portanto de praticamente uma semana morta de comercialização em um mês curto, com um fevereiro sem carnaval, o de 2014.

E esse fevereiro ao qual vamos comparar o nosso fevereiro, de 2015, registrou o segundo melhor resultado para o mês da história, com quase 260 mil emplacamentos, puxado por estoque de modelos sem a primeira majoração do IPI nem air bags e freios ABS – oferecidos nas redes, portanto, com excelentes descontos.

Acontece que a grande mídia, como os canais de televisão aberta, as rádios, os grandes jornais e portais de internet, não quer saber disso. O que ela quer é audiência, e manchetes de queda drástica nas vendas de veículos dão muita audiência. Expressões como ‘despenca’ e ‘desaba’ serão largamente aplicadas junto às parceiras ‘crise’ e ‘demissões’ quando os resultados de fevereiro forem divulgados, no início de março. E a lembrança de que o índice carrega uma distorção carnavalesca talvez nem chegue a ser citada por estes veículos de comunicação.

Mas nós, que atuamos diretamente no setor automotivo, precisamos, inclusive por obrigação profissional, ter consciência deste quadro e desta importante variável, para o bem dos nossos próprios negócios e também para explicar aos nossos familiares e vizinhos que vierem comentar conosco ‘como a coisa está feia’. Não vivemos o melhor dos momentos da indústria, é verdade, mas é necessário saber e entender exatamente qual é o tamanho da encrenca – e as estatísticas, pelo menos as do primeiro bimestre, não mostrarão isso.

Da mesma forma que os números de março, junho-julho e outubro também trarão comparação distorcida, e dessa vez provavelmente positiva para 2015, já que a base de 2014, nestes meses, foi prejudicada. Mas este fato certamente não será manchete da grande mídia e, assim como os resultados deste fevereiro, também deve ser analisado com todo cuidado.

Algumas outras referências relevantes para entender o quadro de forma mais realista: o primeiro bimestre de 2014 foi o melhor da história em vendas, com 572 mil unidades, alta de quase 5% ante o mesmo período de 2013, de carnaval em fevereiro, assim como agora. Só que com março e seu carnaval tardio o índice do primeiro trimestre do ano passado inverteu para queda de 2%, com 813 mil unidades. Em março de 2014 foram vendidos 241 mil autoveículos, queda de 15% ante mesmo mês de 2013. Provavelmente, portanto, março deste ano será superior ao do ano passado, o que não necessariamente indicará uma recuperação automática da indústria.

A saída, portanto, é analisar os índices de um distanciamento um pouco maior: no mínimo o trimestre, quiçá o semestre, os últimos três, quatro, cinco anos de um determinado período objeto de análise. Apenas estes mostrarão um quadro mais real. Quem fechar o foco em análise muito restrita, de curtíssimo prazo, e tender a se contaminar pelas manchetes da grande imprensa, corre grande e sério risco de tomar decisões equivocadas – e, portanto, se arrepender logo adiante.


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