AutoData - Desnacionalização preocupa mais do que a necessidade de nacionalizar
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16/04/2015

Desnacionalização preocupa mais do que a necessidade de nacionalizar

Por André Barros

- 16/04/2015

Antes de pensar em ampliar a nacionalização de peças e componentes, a indústria automotiva brasileira precisa se preocupar em barrar a cada vez mais crescente desnacionalização de itens. O tema dominou o debate no Painel dos Sistemistas do Seminário AutoData Compras Automotivas 2015, no qual participaram Besaliel Botelho, presidente da Bosch, Luiz Corrallo, presidente da Delphi, Nelson Fonseca, presidente da TruckBus e Tarcísio Costa, diretor de gestão de materiais da ZF.

Para os executivos a desvalorização do real não deve impedir a compra de peças e componentes no Exterior. “O câmbio sozinho não resolve”, afirmou Corrallo. “De 2011 para cá houve desnacionalização da produção e não foi só pelo dólar mais baixo. Os fornecedores dos Tier 2 e 3 estão em dificuldades econômicas e não têm como investir em novas tecnologias, ainda mais com a queda da escala de produção”.

Segundo o presidente da Delphi a porcentagem de compra de peças pela sistemista no Brasil caiu cerca de 10 pontos porcentuais no período e não há sinais de recuperação no curto prazo. Botelho, da Bosch, concordou com Corrallo e disse que a empresa também reduziu, de 5% a 8%, as compras locais nos últimos anos.

“Mesmo com o dólar a R$ 3,20 compensa, em muitos casos, comprar lá fora”, disse Costa, da ZF, acrescentando que a companhia atende as regras do Inovar-Auto e mantém índice de nacionalização superior a 70% em seus produtos.

Para Fonseca, da TruckBus, as empresas dos degraus mais baixos da cadeia precisam de apoio para investir. Cobrou também maior fidelização das montadoras: “O fornecedor pode ter até condições de inovar, mas é importante que haja compromisso de manutenção no longo prazo. Se houver apenas disputa por preços, sem fidelização, ninguém vai investir”.

Credibilidade – Os executivos se queixaram da instabilidade do mercado brasileiro, não apenas em volume, mas também nas questões legais e burocráticas. Isso, segundo eles, desvia possíveis investimentos em fábricas novas, linhas de produto ou ampliações de capacidade para outros mercados.

“A credibilidade da região é baixa”, explicou Botelho. “Há cinco anos tivemos que convencer a matriz de que o Brasil era a bola da vez. Hoje quando chego na Alemanha a palavra decepção. São mudanças na legislação, nas regras do jogo, que afastam novos investimentos”.

Corrallo concordou: “É difícil convencer os acionistas a investir no mercado. Não é câmbio, não é volume, são as mudanças nas regras. A mudança na desoneração da folha de pagamento é um exemplo, a matriz olha para isso e comenta ‘esse é o Brasil, não da para confiar’. E como consequência muitos investimentos vão para o México, para a Ásia”.

Indagados sobre as perspectivas para o fechamento da produção neste ano, Corrallo e Botelho projetaram queda de 10% a 15% em automóveis e comerciais leves. Já Fonseca e Costa, mais focados no segmento de caminhões e ônibus, acreditam em retração de 25% a 30% na área de pesados.


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