AutoData - Olhos cobiçosos no cliente dos outros
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15/06/2015

Olhos cobiçosos no cliente dos outros

Por S Stéfani

- 15/06/2015

Abril marcou mais uma virada de pagina na vida do setor automotivo no Brasil: o fim do lugar marcado no mercado de automóveis e comercias leves. Era movimento que vinha sendo ensaiado desde meados do ano passado, quando Gol, Palio, Uno e o recém-chegado Onix passaram a disputar as primeiras posições do ranking.

Impulsionado pela guerra de ofertas que se seguiu ao desaquecimento das vendas no quadrimestre, este movimento ganhou força em abril. Meras 243 unidades separaram o líder, Palio, do quarto colocado, Strada. Em segundo ficou o Onix e em terceiro o HB20.

E o tradicional líder anterior, o Gol, teve de se contentar, desta vez, com o sétimo lugar. Veio depois do Uno, o quinto, e do Ka, o sexto. E apenas um pouco à frente do oitavo, o Sandero.

A briga pela preferência dos consumidores ficou tão intensa e acirrada que faltando apenas três dias para o fechamento do mês o HB20 liderava, seguido pelo Onix. Assim, caso o mês tivesse um dia a menos de vendas, o ranking possivelmente seria diferente.

Chama a atenção, neste quadro, que, considerados os oito primeiro colocados, nada menos do que cinco montadoras – Fiat, General Motors, Hyundai, Ford e Renault – digladiam-se pela preferência dos consumidores.

E, se a abrangência da amostra for o Top-10, esta lista ganha a presença, também, do Corolla e, por decorrência, de uma sexta montadora, a Toyota. São seis diferentes montadoras disputando os dez primeiro lugares. Cada uma delas com olhos cobiçosos no consumidor da outra.

Trata-se, sem dúvida, de um forte indicativo de que o atual consumidor brasileiro de automóveis passou a ser absolutamente infiel a modelos ou marcas. E, mais que isto, está, sim, disposto a experimentar e eventualmente aderir a novidades, sejam de montadoras tradicionais ou de players relativamente recentes. A bordo de tantas e tão diferentes ofertas que passou a receber no bojo do atual ciclo de baixa nas vendas, o consumidor brasileiro parece ter descoberto, enfim, que agora pode escolher por dezenas de marcas e centenas de modelos.

E há mais um fato que chama a atenção nestes números de abril. Dos quatro modelos mais vendidos dois são da Fiat, que tem forte peso do atacado em suas vendas. E os outros dois são da General Motors e Hyundai, que tem no varejo seu ponto mais forte.

Trata-se, em síntese, de fase de grandes mudanças conceituais e de estratégias. É momento de ocupação de espaços, de dança das cadeiras e, sobretudo, de troca de posições.

É fase de risco para alguns e de oportunidades para outros. De muitos riscos e de muitas oportunidades.

Como muito bem registrou André Barros, subeditor da Agência AutoData, na edição de 9 de maio, consideradas as vendas do quadrimestre, as três maiores montadoras – Fiat, GM e Volkswagen – registraram queda de vendas maior do que a média do mercado. Ou seja, entregaram parte de sua fatia para as demais, varias das quais recém-chegadas.

Na verdade, em toda a cadeia setorial automotiva, ninguém mais pode considerar seu lugar como conquistado e devidamente dominado. Ninguém mais tem lugar marcado neste setor.

Quem se der ao trabalho de pesquisar com mais profundidade os novos polos automotivos, sobretudo os que estão ficando pé no Interior paulista e no Sul do Rio de Janeiro, vai encontrar um bom número de empresas de autopeças recém-chegadas.

Boa parte delas tem sobrenome japonês ou coreano. Mas há também as que vieram como parte integrante da nova geração de veículos das montadoras tradicionais. O sobrenome, neste caso, pode ser alemão, francês, italiano, estadunidense ou sueco.

Muitas delas vieram por solicitação – talvez melhor seria dizer imposição – de montadoras para as quais já fornecem em seus países de origem. Focadas no inicio da produção local, a maior parte nem teve tempo, ainda, de se preocupar em se filiar ao Sindipeças, o que dificulta sua quantificação mais exata.

No entanto, executivos de vários destas empresas que visitaram AutoData em busca de informações gerais sobre o setor automotivo no Brasil disseram o óbvio: com um único cliente não será possível viabilizar sua atuação no País. E, assim, inevitavelmente, passada esta fase inicial de instalação, terão de sair à caça.

Ou seja: é bom dar uma boa polida na marca. De ponta a ponta de todo setor automotivo, tem gente com olhos cobiçosos no cliente dos outros.


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