AutoData - Melhor providenciar curativo para os pulsos
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17/07/2015

Melhor providenciar curativo para os pulsos

Por S Stéfani

- 17/07/2015

Passado o susto inicial da divulgação, neste junho, da nova revisão para baixo da projeção da Anfavea para este ano, agora para queda de 20%, a poeira começa a baixar e, assim, permite visualizar sensíveis e importantes diferenças da crise atual em relação a outras vividas pelo setor. E, felizmente, diferenças para melhor.

Tão para melhor que, embora estejamos, ainda, bem no olho do furacão – com férias coletivas e montadoras recorrendo até a milagres para reduzir estoques –, na área de autopeças e de insumos, pelo menos, há empresas que já consideram ser esta mais uma página virada.

Conforme mostra a matéria de capa da edição de junho da revista AutoData, não são poucas as empresas destes segmentos que já projetam crescimento de faturamento e lucro no ano. Algumas já se preparam, inclusive, para a retomada do mercado. A aposta é de que os números de 2014 estarão de volta em até dois anos e, em cinco ou seis, os de 2013, o pico de produção e vendas de veículos produzidos localmente.

Não é pouco. Trata-se de projeção de crescimento médio anual de 5% a 10% ao longo de todo este período.

Na área da distribuição o quadro não é diferente. Matéria que esta sendo preparada para a edição de julho da revista AutoData mostrará que hoje, com novo perfil apoiado em grandes grupos econômicos, quase todos multimarcas, este é outro segmento cujas empresas, ao menos no que se refere a automóveis e comerciais leves, têm também boas chances de fechar o ano com faturamento maior e lucro.

É bem verdade que, segundo a Fenabrave, centenas de lojas de veículos fecharam neste ano. Todavia, conforme apurou a editora Alzira Rodrigues, a maior parte é do segmento específico de motos. Há também casos de grupos que estão reduzindo pontos de vendas sem, contudo, abandonar o setor. E outros ainda que, por serem multimarcas, estão fechando lojas de marca que está perdendo terreno para abrir ponto de venda de outra que está avançando.

Mas o que é, afinal, que faz com que esta atual crise seja diferente? São vários fatores. A começar pelo do fato de que, desta vez, a queda se dá depois de vários anos com produção e vendas anuais em torno de 2,5 milhões de unidades. Nos últimos cinco anos, a frota circulante brasileira saltou de 29,6 milhões para 41,7 milhões de veículos. São, assim,12,1 milhões de novos clientes para a área de serviços das concessionárias.

Novos clientes, por extensão, também das áreas de mercado de reposição dos fabricantes de componentes.

É, além disso, universo que, segundo mostrou esta semana a Agência AutoData, está mantendo o mercado de usados até mais aquecido do que no ano passado. Para deleite dos concessionários e, também, das financeiras, seguradoras, despachantes e todo o restante do mundo automotivo.

Outra diferença: ao contrário de outras crises geradas por crescimento da importação de veículos e componentes em função de valorização da moeda nacional, desta vez o que se verifica é o oposto: agora é a desvalorização da moeda que possibilita que produtos locais ocupem espaços dominados pelos importados. Tanto nas montadoras quanto no mercado de reposição.

Para a área de autopeças, em particular, esta é uma diferença marcante porque se soma à exigência do Inovar-Auto de aumento no índice de nacionalização.

E há que se considerar, ainda, que esta nova relação cambial aumenta a possibilidade de reativar exportações, outra frente deixada em segundo plano nos últimos anos.

Ou seja, ainda que a demanda continue em baixa e, ao mesmo tempo, permaneçam em alta, desalentadora alta, a inflação, os juros, os estoques e até as complicações políticas que retardam o ajuste fiscal, desta vez são varias as portas de saída que podem ser acionadas pelas empresas, em particular pelos concessionários e fabricantes de insumos ou de componentes.

Cabe, assim, forçar o olhar para além da poeira. Exemplo prático da diferença: quem olhar dentro da poeira vai constatar que dados divulgados esta semana pelo Banco Central mostram que quase metade da renda familiar está hoje comprometida por endividamento recorde dos consumidores. Isto deve tornar impossível qualquer reativação em curto prazo da venda de veículos. Melhor, então cortar os pulsos e desistir de vez.

Quem, todavia, focar um pouco além da poeira vai perceber que o comprometimento da renda familiar saltou, de fato, de 27,7% em 2009 para 46,6% neste ano. Mas basicamente em função de credito imobiliário.

Trata-se, assim, na grande maioria dos casos, de mera troca, dentro do orçamento domestico, do aluguel mensal pela prestação da casa própria. Sem maiores reflexos no poder geral de compra.

Excluído o crédito imobiliário, o padrão de endividamento médio das famílias, na verdade, até diminuiu ligeiramente no período, de 27,73% para 27,37%. Melhor, então, talvez seja providenciar, e logo, um bom curativo para os pulsos…