AutoData - Projeto Amazon completa 15 anos
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10/07/2017

Projeto Amazon completa 15 anos

Por Bruno de Oliveira

- 10/07/2017

No início dos anos 2000, a Ford, uma das mais antigas fabricantes de veículos no Brasil, enfrentava queda nas vendas e grande perda de mercado. Era preciso reagir. A solução encontrada pela empresa foi reformular toda sua linha de veículos. Foi então que surgiu o Projeto Amazon, um pacote de investimento de US$ 1,9 bilhão que envolvia a construção de uma nova fábrica e o desenvolvimento de um novo veículo. O local escolhido foi a cidade de Camaçari, na Bahia. Tratava-se da primeira fábrica de carros construída no Nordeste. Em 2001, a planta estreou com a fabricação da picape Courier. Mas foi em 2002, com a implantação do chamado projeto Amazon, que a Ford deu seu maior passo. O primeiro fruto do projeto foi o Fiesta. Sob a mesma plataforma, a empresa desenvolveu em seguida o Ecosport, primeiro SUV produzido no Brasil.

A fábrica de Camaçari é emblemática porque representou o ressurgimento da Ford e uma evolução de patamar na produção praticada por aqui. A planta empregava tecnologias de última geração, como o sistema de montagem modular. Foi inovadora ao adotar um modelo de produção no qual os fabricantes estão instalados próximos à linha de montagem. No caso do Amazon, eram vinte e sete empresas sistemistas dentro dos muros do complexo industrial e outras seis nos arredores. “Já que tivemos que construir uma fábrica nova, fizemos a mais moderna do mundo, um modelo para tudo o que surgir daqui para frente”, disse à AutoData, à época, Luc de Ferran, então diretor executivo de manufatura.

DE 13% PARA 6% – A situação da empresa no Brasil, o maior mercado da América Latina, era de incertezas graças, em grande parte, à joint venture tardia de compartilhamento de modelos com a unidade brasileira da Volkswagen de 1987 a 1994, união conhecida como Autolatina. Em 2001, a fatia de mercado da Ford caiu para pouco mais de 6%, em comparação com 13,2% em 1998. Antonio Maciel, executivo brasileiro com experiência em construção, agronegócios e transportes, foi contratado em 1999 para reviver a operação brasileira da Ford, reestruturar a produção de caminhões e preparar a nova fábrica e a introdução do primeiro carro da Amazon.

Após o lançamento do Fiesta, a participação de mercado da Ford começou a subir, atingindo 11% em novembro de 2002 e encerrou o ano em 9,3%. A fábrica de Camaçari começou a trabalhar em dois turnos e alcançou uma produção de 530 unidades por dia, ainda abaixo da capacidade de 850 unidades. As vendas para México, Chile e Argentina ajudaram a empresa a aumentar suas exportações em 20% em 2002 – número impressionante tendo em vista o declínio das vendas externas das outras três grandes brasileiras, Volkswagen, General Motors e Fiat. No primeiro ano do projeto Amazon, a Ford Brasil ganhou 49 concessionárias novas, de 361 para 410.

Com o avanço do Fiesta, a Ford conseguiu pavimentar o caminho para a chegada do EcoSport, que representou a evolução de patamar de um veículo feito no Brasil. O sucesso após seu lançamento foi imediato: foram vendidas 27 mil 237 unidades nos primeiros 12 meses de comercialização. De acordo com levantamento realizado em abril de 2001 pelo site Best Cars, o índice de satisfação dos proprietários foi considerado bom, sendo aprovado por 85% dos proprietários, que apontou como principais pontos positivos o design, espaço interno e dirigibilidade.

O SUV MAIS VENDIDO NO PAÍS – De 2003 para cá foram emplacados 597 mil 403 unidades do modelo, segundo levantamento da Fenabrave, Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores. O volume posiciona o veículo como o mais vendido na categoria mini SUV no Brasil em todos os tempos. Ainda que tenha perdido a liderança no mercado para o Jeep Renegade, modelo produzido na fábrica da FCA em Goiana, PE, desde 2015, o EcoSport trilhou um caminho que jamais nenhum outro veículo brasileiro ousou percorrer.

Para o lançamento da segunda geração do carro, em 2012, a Ford fez melhorias na fábrica e elevou sua capacidade produtiva para 300 mil unidades. No ano anterior, a empresa havia investido R$ 400 milhões na construção de uma planta de motores com capacidade para 210 mil unidades por ano.

No embalo do aumento de 30% nas vendas do EcoSport na Europa, a Ford anunciou em março sua produção na Romênia. Até então, o continente era abastecido pela produção da empresa na Índia e na Rússia. O segmento de utilitários esportivos é o que mais cresce no mercado europeu. Em 2016, suas vendas tiveram um aumento de 23%, enquanto a indústria total avançou 10%.

Desde que assumiu as operações da fábrica de Craiova, na Romênia, em 2008, a Ford já investiu mais de € 1 bilhão na unidade, onde são produzidos o multiuso B-MAX e o motor EcoBoost 1.0. Também desenvolveu negociações com as autoridades e sindicatos para aumentar a competitividade da manufatura local. A Ford anunciou o lançamento de cinco novos utilitários esportivos e crossovers na Europa nos próximos três anos, começando com o novo Edge. A marca espera vender este ano, pela primeira vez, mais de 200 mil SUVs no continente.

Críticas europeias
Projeto totalmente brasileiro, a segunda geração do Ford EcoSport foi lançada em 2013 e passou a fazer parte do plano One Ford, tornando-se um modelo global. Com isso, em 2014, o EcoSport chegou ao mercado europeu como um estranho no ninho: a Ford nunca havia lançado nenhum utilitário compacto por lá. Logo em sua chegada, o EcoSport foi recebido com duras críticas da imprensa especializada. A montagem e os materiais “mais econômicos” do SUV, que chega por lá através da fabricação na Índia, não agradaram aos europeus. Durante as avaliações das publicações locais, as principais deficiências apontadas estavam no comportamento dinâmico do modelo, muito frágil para os britânicos. Outro ponto que não os agradou foi o estepe na tampa do porta-malas. Principal característica do veículo no Brasil, o pneu causou estranheza no Velho Continente. As críticas eram ainda mais afiadas quando o modelo era comparado com seus concorrentes Renault Captur e Mazda CX-3, este último inexistente no mercado brasileiro. A Ford, porém, foi rápida e providenciou as alterações já para a linha 2015.


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