São Paulo – A crise decorrente do coronavírus causou impactos distintos sobre os setores produtivos. No caso da cadeia de autopeças, que em um primeiro momento foi prejudicada porque, diante da falta de semicondutores, as montadoras paralisaram suas linhas por diversos momentos, agora se vê uma oportunidade.
Principalmente porque frente à guerra na Ucrânia as condições de fabricação de componentes e de transporte desses itens até os diferentes países de destino, como o Brasil, foram agravadas. Dessa forma os olhares se voltam aos fornecedores de suprimentos locais, a fim de tentar suprir lacuna dos importados.
Foi o que avaliou o novo presidente do Sindipeças, Cláudio Sahad, durante a abertura do Seminário Compras Automotivas 2022, realizado de forma online até quarta-feira, 25, pela AutoData Editora.
“Vivemos um movimento de disrupção nunca antes visto em nossa história. A pandemia, somada ao conflito no Leste Europeu, trouxe oportunidades para as fabricantes estabelecidas no País. O pensamento das empresas no mundo todo está mudando com relação à localização: tem havido movimentos de contra-globalização. Teremos de rever o conceito em que a ideia era privilegiar grandes polos produtores com baixo custo de produção em detrimento de um fornecimento local.”
Sahad ponderou, entretanto, que para que as fornecedoras de autopeças possam fazer frente a essa demanda reprimida, considerando que no ano passado deixaram de ser fabricados só no Brasil 350 mil veículos e, neste ano, até abril, em torno de 100 mil, há o desafio enorme de tornar a cadeia mais competitiva.
Embora no ramo de semicondutores a produção local seja inexpressiva o governo está preparando o Plano Nacional de Semicondutores, que deverá ser apresentado até o início de agosto a fim de tentar fomentar essa indústria local. Porém, como destacou o presidente do Sindipeças, o problema de fornecimento não é restrito aos chips. E é aí que os fabricantes nacionais entram.
“Nossa cadeia de fornecedores tem que estar preparada para atender a essas futuras características dos veículos, que serão cada vez mais conectados, autônomos, compartilhados e acreditamos que sua propulsão, inexoravelmente, será cada vez mais elétrica.”
O presidente do Sindipeças destacou que, a despeito do que ainda não é produzido localmente, o que fica de lição de casa para um futuro próximo a fim de começar a trabalhar para reduzir as importações é a grande dependência em muitos outros componentes que hoje vêm de fora e que poderiam ser fabricados no País, a exemplo do câmbio automático, que com subfornecimentos daria oportunidade a muitas empresas fabricantes.
“Nossa indústria não está parada só por causa de semicondutores mas, sim, por uma série de componentes. E faço a ressalva de que as empresas brasileiras não têm participação nenhuma nessa falta de peças. Apesar das dificuldades elas têm sido muito fortes nessa crise. Temos produzido e entregado.”
Para aumentar a competitividade frente às importações, contudo, Sahad propôs como necessárias iniciativas da porta da fábrica para dentro e para fora. Internamente é preciso melhorar continuamente os processos por meio da modernização das plantas, capacitar profissionais e investir em pesquisa e tecnologia.
De forma estrutural citou a necessidade de estabelecer ambiente de negócios amigável, com a redução do custo Brasil, desburocratização, oferta de linhas de financiamento a juros baixos e busca por novos acordos comerciais a fim de facilitar o aumento das exportações.
O dirigente lembrou que a capacidade produtiva das empresas fabricantes de veículos instaladas no País é de 4,5 milhões de veículos/ano, mas ponderou que devemos chegar a 3 milhões em 2025 – o que retornaria ao patamar de 2019.
Mesmo assim disse que há um campo enorme para crescer: “Precisamos trabalhar para ocupar essa capacidade instalada. No mundo foram produzidos 80,1 milhões de veículos em 2021, e 82,6 milhões foram vendidos. Desse montante o Brasil detém apenas 2,5%”.