São Paulo – A aparente interminável crise dos semicondutores está prestes a ganhar um novo, mas positivo, capítulo. Após embates com o governo e argumentações em torno da importância de se reduzir a dependência externa dos chips e estimular produção local, um Plano Nacional de Semicondutores deverá ser apresentado em sessenta a noventa dias.
Essa é a estimativa do deputado federal Vitor Lippi, que reeditou a Lei do Padis, Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores, que expiraria em janeiro. Criado em 2008, o programa estimulou a atuação de vinte indústrias dedicadas à produção de semicondutores.
Essas empresas fabricam, de acordo com o parlamentar, o equivalente a 10% do que é consumido no Brasil. Os outros 90% são importados. “Mas é quase que só memória, o que é direcionado a computadores e celulares. Embora sejam áreas muito importantes, não fazemos nada para carro, caminhão, trator nem eletroeletrônicos. E estamos entre os maiores fabricantes desses produtos.”
Pormenores do plano não foram antecipados, mas Lippi afirmou que a ideia é ampliar a oferta de incentivos fiscais e de capacitação, o que poderá envolver bolsas de estudo, além de facilitar a importação de maquinário essencial para essa produção:
“Só os Estados Unidos estão investindo US$ 52 bilhões e aqui a nossa lei de semicondutores prevê incentivo de R$ 700 milhões. Não dá para comparar. Precisamos ampliar isso. Até porque essa indústria ainda é muito cara”.
Vitor Lippi
Grupo de trabalho que conta com integrantes dos ministérios da Economia e da Ciência e Tecnologia, além de Abisemi, Associação Brasileira de Produtores de Semicondutores, e Anfavea, está trabalhando na elaboração do plano. O governo estima que o faturamento dessa indústria deverá saltar dos atuais US$ 1 bilhão para US$ 5 bilhões em 2026. E para US$ 12 bilhões em 2031 e US$ 24 bilhões em 2036, correspondendo a 4% do faturamento global.
“Nós temos um mercado muito forte, por isso ele se justifica. A Abisemi acredita que o mais importante numa indústria como essa é ter escala, produzir aqui e vender para o resto do mundo. Mas isso vai demorar, porque são indústrias altamente sofisticadas e que requerem mão de obra altamente capacitadas. É preciso muita inteligência para fazer isso. A ideia é que o plano seja um vetor do desenvolvimento tecnológico no Brasil. Trata-se de uma janela de oportunidades e elemento de atração de investimento.”
O deputado falou da importância da Lei do Padis, reeditada por mais cinco anos, e da inclusão de energia solar no programa. E lembrou que inicialmente o parecer do Ministério da Economia era contrário a dar continuidade a ele.
“Eu mesmo falei com o ministro [da Economia] Paulo Guedes, pessoalmente, para destacar a importância desse assunto. Disse que nós somos o principal exportador de silício do mundo, assim como de cristais, por R$ 10 o quilo e importávamos depois por R$ 35 mil o chip já pronto. Quer dizer, é um escândalo. Além disso, ficamos dependendo totalmente da Ásia, e agora está faltando semicondutor porque todo mundo está usando e as indústrias que existem não estão dando conta.”
Lippi citou como reflexo o aumento no preço dos veículos em quase 30%, até porque hoje, segundo ele, quase um terço do custo dos veículos são semicondutores. Outro impacto é a interrupção na produção das fábricas, como exemplos recentes de férias coletivas na Mercedes-Benz e na Volkswagen, além de paradas na Scania.
“Hoje um carro, em média, tem quatrocentos a seiscentos semicondutores, mas os elétricos têm mais de 1 mil, chegando a 2 mil cada um. Tudo usa semicondutores: geladeira, televisão, computador. No celular, tirando plástico e metal, tudo é semicondutor. Vamos usar cada vez mais. E o 5G vai multiplicar a necessidade. É um caminho sem volta.”
Vitor Lippi