Portões da unidade do bairro Planalto, a primeira fora do Japão, foram cerrados de forma definitiva na quinta-feira, 16
São Paulo – Após 61 anos de funcionamento no bairro Planalto, em São Bernardo do Campo, SP, a Toyota encerrou as atividades, conforme o programado, em novembro de 2023. A última peça foi produzida no sábado, 11, e os portões foram fechados, definitivamente, na quinta-feira, 16, após a realização dos últimos desligamentos.
Os 550 operários que trabalhavam na unidade, de importância histórica para a companhia por ter sido a primeira constituída fora do Japão, foram sendo realocados junto com as linhas produtivas em que operavam, a partir de dezembro de 2022, até agora.
No entanto, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, cerca de 150 trabalhadores, a maior parte lesionados, acabou aderindo ao PDV, Plano de Demissão Voluntária. Quem seguiu para as plantas paulistas de Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz levou dois salários nominais, mais 2,4 vencimentos para quem mudou de endereço, bônus de transferência de R$ 15 mil e estabilidade até novembro de 2026.
Aqueles que não seguiram saíram com 35 salários fixos mais um vencimento por ano trabalhado, considerando a data de saída, doze meses de assistência médica e oferta de cursos profissionalizantes no Senai e no Senac. A eles foi concedido também um bônus que chegou a R$ 24 mil.
A Toyota confirmou, em nota, que finalizou o processo de transferência das operações da fábrica do ABC Paulista para as unidades em Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz: “Com isto a unidade de São Bernardo do Campo deixa de operar a partir desta data”.
A empresa assinalou, também, que valoriza a história da fábrica de São Bernardo e reconhece “a dedicação dos envolvidos por todo legado e crescimento da companhia construídos com a comunidade, os parceiros e os colaboradores ao longo de seis décadas”.
Mais: “A concentração estratégica das operações no Interior de São Paulo oferece oportunidades de crescimento para a Toyota na competitividade da companhia diante dos desafios do mercado brasileiro”.
Toyota foi a quarta montadora a se instalar em São Bernardo
A história da Toyota no Brasil e em São Bernardo teve início em 12 de novembro de 1962 – ou seja, assim que completou 61 anos findou suas atividades. A instalação se deu muito próxima à da Scania, que iniciou sua operação no município naquele mesmo ano, em 8 de dezembro.
Ela juntou-se à planta da Volkswagen, que chegou ali três anos antes, em 18 de novembro de 1959. E também às unidades da Karmann-Ghia, que abriu as portas em 1960, mas, em 2016, teve sua falência decretada, quando só fabricava peças e deixou centenas sem as verbas rescisórias, e da Mercedes-Benz, na cidade há 67 anos, desde 28 de setembro de 1956.
A Ford, que se abrigou na cidade um pouco mais tarde, em 1967, encerrou sua história no local em 2019, após 52 anos. Sua fábrica dará lugar a centro logístico no terreno adquirido pela Construtora São José.
A mais antiga montadora da região é a General Motors, instalada na vizinha São Caetano do Sul desde 1930.
Nas duas últimas décadas de operação no Grande ABC a fábrica produzia peças para motores, como bielas e virabrequins. Crédito: Adônis Guerra/SMABC.
O futuro (aparentemente) promissor da unidade do Grande ABC
Naquele mesmo ano de 1962 teve início a produção do icônico Bandeirante, utilitário 4×4 que continuou em linha pelos 39 anos seguintes, até 2001. E, a partir de então, a unidade passou a focar a fabricação de peças forjadas para motores, como bielas e virabrequins, que à época da decisão de seu fechamento exportava mais de 80% dos itens para Argentina e Estados Unidos, além de abastecer a planta de Porto Feliz, onde são feitos os motores.
Em 2015 a fábrica ganhou sobrevida ao receber a sede administrativa, transferida de São Paulo. Um ano antes havia a expectativa de que o híbrido Prius fosse fabricado ali a partir de 2016, o que nunca aconteceu. Junto com a nova sede investimento de R$ 19 milhões – de um total de R$ 70 milhões em plano de investimento de 2015 a 2017 – instalou segundo turno de produção e o número de funcionários chegou a 1,7 mil.
Ainda em 2015 outro aporte de R$ 5 milhões construiu o primeiro Centro de Visitas da Toyota na América Latina, que abrigava museu com a exposição dos principais modelos produzidos e onde a história da montadora era contada.
Em 2020 o anúncio da mudança da sede para Sorocaba, junto com o Centro de Visitas, foi o primeiro sinal de que algo não ia bem com os planos para a unidade do ABC.
O segundo veio logo na sequência: o Centro de Pesquisa Aplicada também se juntaria à nova sede. Inaugurado em 2016, após consumir R$ 46 milhões, o espaço dedicado ao desenvolvimento de tecnologia, o primeiro a ser erguido na América Latina, tinha o propósito de elevar o índice de nacionalização.
Fruto do Inovar-Auto, antecessor do Rota 2030, o centro tecnológico desenvolveu, em 2018, em parceria com engenheiros do Japão, o primeiro protótipo de híbrido flex.
O sindicato se opôs a todas essas mudanças ao alegar que a unidade era superavitária, e base exportadora, sem falar em sua importância histórica. No entanto, em abril de 2022, foi anunciado o que mais se temia: o fechamento da unidade situada no número 1 024 da Rua Max Mangels Sênior, concluído em 16 de novembro.