Anfavea, MDIC e Sindipeças debateram a política industrial no Seminário Megatendências 2024
São Paulo – Ainda em fase de regulamentação o programa Mover, Mobilidade Verde e Inovação, atraiu, segundo a Anfavea, R$ 66 bilhões em novos investimentos pelas montadoras somente este ano. O valor chega a R$ 117 bilhões quando somados todos os anúncios desde 2021, e descontados os aportes que virão de toda a cadeia, incluindo a indústria de autopeças.
O programa industrial foi o tema de debate em painel com Margarete Gandini, diretora do Departamento de Desenvolvimento da Indústria de Alta-Média Complexidade Tecnológica do MDIC, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Igor Calvet, diretor executivo da Anfavea, e George Rugitsky, diretor de Economia e Mercados do Sindipeças no Seminário Megatendências 2024, organizado por AutoData de 19 a 20 de março, em São Paulo.
A regulamentação do Mover esperada para depois do carnaval pode ir para além da páscoa. Aguardada para fevereiro e agora para o fim de março está em fase de discussão, segundo Gandini. “Estamos conversando com indústria, trabalhadores e acadêmicos. É uma etapa que demanda mais tempo, mas evita que fique descolada da realidade. Há divergências em métricas e estamos em discussões”.
Em outros programas, disse a diretora, a regulamentação saiu junto com a aprovação da medida provisória, mas a expectativa é que agora saia antes – a MP vigora até o fim de abril. Gandini questionou se o novo ciclo de investimentos, a busca por novas tecnologias e novas metas serão suficientes para consolidar a indústria automotiva instalada. Ela reforçou que é preciso uma mudança de visão dos competidores, de não apenas olhar para dentro mas também para fora.
A representante do MDIC disse que os créditos financeiros a projetos só serão gerados após a habilitação das empresas: “Os investimentos em P&D e os projetos de investimentos têm que ter o fato gerador após a habilitação. Será retroativo ao primeiro dia do mês após pleitear a habilitação”.
Exemplo internacional
Para Igor Calvet, diretor executivo da Anfavea, os novos ciclos de investimentos anunciados pelas montadoras não visam à ampliação da capacidade produtiva instalada, hoje calculada em 4 milhões de unidades, mas agregar novos produtos e novos processos. As exportações são fundamentais para ampliar a produção e aproveitar essa capacidade instalada que ainda está bastante ociosa, com novos mercados e novas macrorregiões.
Calvet reforçou a ideia de que medidas macroeconômicas que levam à redução das taxas de juros e ao controle da inflação compõem um quadro de otimismo que deverá levar ao crescimento do consumo interno de veículos.
Quanto as veículos produzidos no Brasil ele avaliou que já são um case mundial em sustentabilidade. Por isto a briga é internacionalizar e consolidar o setor com todas estas tecnologias com outras matrizes: “A tecnologia é um meio e a descabornização o fim. Cada empresa adotará plano próprio”.
Para o diretor da Anfavea já existe no Brasil um ecossistema que conta ainda com universidades e a qualidade de mais de 12 mil engenheiros. Com a regulamentação do Mover e incentivos haverá ainda mais investimentos.
Engenharia competitiva
George Rugitsky, do Sindipeças, destacou que o Mover chega em um momento fundamental na indústria mundial, com muitas rotas, mas sem saber qual será vencedora e a velocidade em que se consolidará: “Os investimentos anunciados pelas montadoras logo na sequência da MP do Mover demonstram que a indústria entendeu que é preciso levá-la para um próximo passo. A indústria de autopeças também investirá”.
Rugitsky observou, ainda, sobre os resultados da elevada competência da engenharia brasileira, que está muito competitiva. Um caso analisado por estudo do Sindipeças indicou que uma empresa conseguiu reembolso de 17% de seu investimento em P&D, ou seja, que o País é um potencial para atrair investimentos de fora.